INFLUÊNCIAS DO USO DE PLANTAS MEDICINAIS NA REDUÇÃO DA RESISTÊNCIA À INSULINA: UMA REVISÃO INTEGRATIVA

REGISTRO DOI:10.5281/zenodo.10516092


Isabella Virgínia Dornelas1
Karine Siqueira Cabral Rocha2
Juliana Lilis da Silva2
Natália de Fátima Gonçalves Amâncio 2


Resumo: O diabetes mellitus (DM) é caracterizado como uma desordem metabólica, com etiologia diversa, que acomete pessoas de diferentes faixas etárias em uma prevalência substancial em todo o mundo. Tal patologia é classificada em três tipos principais, o DM tipo 1, tipo 2 e gestacional. Para além da conjuntura hodierna, a incidência dessa doença era evidenciada na antiguidade, em um período em que a administração de extratos vegetais era realizada como meio terapêutico. De forma símile à abordagem terapêutica utilizada historicamente, a ingestão de chás, infusões e extratos vegetais permanecem na contemporaneidade sob a forma de tratamento alternativo associado. Todavia, as plantas utilizadas com intuito de reduzir os níveis glicêmicos não são, em sua totalidade, hipoglicemiantes. Em vista desse contexto, dentre as setenta e uma espécies vegetais com potencial terapêutico, sete espécies têm comprovação do potencial antidiabético ratificado por pesquisas realizadas pela Anvisa. Diante disso, o presente estudo teve como escopo a análise da influência do uso de plantas medicinais para a redução da resistência à insulina. Para tanto, uma pesquisa bibliográfica foi realizada por meio de artigos científicos dissertações e teses, disponíveis nas bases de dados eletrônicas: Google Scholar; Biblioteca Virtual de Saúde (BVS), Scientif Eletronic Library Online (SciELO), National Library of Medicine (PubMed) e Literatura Latino-Americana e do Caribe em Ciências da Saúde (LILACS). Mediante à análise bibliográfica, esta pesquisa identificou uma associação significativa e benéfica da utilização de espécies vegetais quando intrínsecas ao tratamento farmacológico convencional. Entretanto, identificou-se que a prática de tal terapia alternativa não deve ser realizada de forma isolada e sem acompanhamento médico. Sob esse âmbito, apesar da utilização de espécies fitoquímicas possuírem um aspecto natural, o monitoramento dessa prática por meio de profissionais de saúde é imprescindível para seguridade do uso dessas substâncias aos aspectos tangíveis à terapêutica alternativa utilizada.

Palavras-Chaves: Diabetes Mellitus, Plantas Medicinais, Redução da resistência à insulina.

Abstract: Diabetes mellitus is a metabolic disorder with a diverse etiology that affects people of all ages with a substantial prevalence worldwide. This pathology is classified into three main types: type 1 diabetes, type 2 diabetes, and gestational diabetes. In addition to the current situation, the incidence of this disease was evident in antiquity, in a period when the administration of plant extracts was performed as a therapeutic means. In a similar way to the therapeutic approach used historically, the intake of teas, infusions, and plant extracts remain in contemporary times as a form of associated alternative treatment. However, the plants used with the aim of reducing glycemic levels are not all hypoglycemic. In view of this context, among the seventy-one plant species with therapeutic potential, seven species have proven anti-diabetic potential ratified by research carried out by Anvisa. In view of this, the present study aimed to analyze the influence of the use of medicinal plants for the reduction of insulin resistance. For this purpose, a bibliographic research was carried out through scientific articles, dissertations and theses, available in the electronic databases: Google Scholar, Virtual Health Library (BVS), Scientifc Eletronic Library Online SciELO, National Library of Medicine PubMed and Latin American and Caribbean Health Sciences Literature LILACS. Through bibliographic analysis, this research identified a significant and beneficial association of the use of plant species when intrinsic to conventional pharmacological treatment. However, it was identified that the practice of such alternative therapy should not be carried out in isolation and without medical supervision. Under this scope, despite the use of phytochemical species having a natural aspect, the monitoring of this practice through health professionals is essential for the safety of the use of these substances to the tangible aspects of the alternative therapy used.

1 INTRODUÇÃO

O Diabetes Mellitus (DM) é uma doença causada por uma deficiência nos mecanismos de redução dos níveis glicêmicos, seja por uma produção insuficiente de insulina, seja por uma resistência ou má absorção insulínica no organismo de alguns indivíduos. A insulina é um hormônio que possui capacidade de controle dos níveis sanguíneos de glicose, determinando a quebra ou armazenamento de tal molécula (BRASIL, 2023). Existem três tipos  principais de DM: o DM tipo 1 (DM1), que é causado pela destruição das células produtoras de insulina em decorrência de um defeito no sistema imunológico; o DM tipo 2, que resulta de uma resistência ou de uma deficiência na secreção insulinogênica; e o DM gestacional, caracterizado por uma intolerância à glicose com início ou reconhecimento durante a gravidez, podendo ou não persistir após o parto (BRASIL, 2023).

De acordo com a Sociedade Brasileira de Diabetes (SBD), existem, em 2023, mais de 13 milhões de pessoas vivendo com a doença, o que representa cerca de 6,9% da população nacional. Além disso, segundo dados da International Diabetes Federation (IDF),  a prevalência mundial de DM atingiu, em 2022,  9,3% da população global, o que representa cerca de 463 milhões de pessoas. Diante do exposto, torna-se claro que o DM confere uma expressiva prevalência nacional, fato o qual remonta a necessidade de medidas para a atenuação da ocorrência e para a melhoria da qualidade de vida de portadores desta doença crônica em níveis nacionais e internacionais (ASCHENER et al., 2019).

Ademais, cabe ressaltar que cerca de noventa por cento dos casos de DM na população brasileira estão enquadrados no tipo 2, o qual possui, como tratamento tradicional, o uso de medicamentos sintéticos administrados por via oral, como Metformina e Sulfonilureias entre outros, além de tratamentos por via injetável, como insulinas e análogos da Glucagon-Like Pepetite-1 (SBD, 2023). O modo de ação dos medicamentos é variável, desde redução da resistência insulínica por meio do aumento da proteinocinase dependente de AMP (AMPK), que, consequentemente, estimula a captação de ácidos graxos e amplifica a captação de glicose (GONÇALVES; SOUZA, 2021) até o aumento da liberação de insulina pelas células beta pancreáticas e da ligação de insulina com os seus tecidos-alvo e os seus receptores (SILVA; RIBEIRO; GONÇALVES, 2021). Todavia, apesar de serem eficientes no plano terapêutico tradicional, tais substâncias químicas podem ocasionar efeitos colaterais, como: problemas hepáticos, diarreia, náuseas, distúrbios do sono e inquietação (SOUZA, 2022). Em decorrência desse processo, indivíduos, frequentemente, optam por uma associação de formas não farmacológicas para o controle glicêmico, com intuito de amenizar esses efeitos.

Como medida terapêutica alternativa, grande parcela da população recorre à fitoterapia e ao uso de chás advindos de espécies vegetais que possuem efeitos hipoglicemiantes para promover o controle dos níveis glicêmicos. O uso de plantas medicinais sempre teve notabilidade no território brasileiro devido à grande extensão geográfica e à presença de diversas culturas. A utilização de plantas, como terapia, pode ser realizada através de chás, pós, medicamentos, pastas, e de forma tonalizada ou parcial da molécula, utilizando o conhecimento popular sobre suas propriedades (MOREIRA et. al., 2021). As plantas medicinais correspondem a todas as espécies vegetais que apresentam em uma ou mais partes, substâncias químicas capazes de desempenhar alguma atividade farmacológica (OMS, 2019). Contudo, o uso de espécies vegetais de forma indiscriminada e desprovida de orientação pode trazer riscos, como uma possível toxicidade (CARVALHO; OLIVEIRA; SIQUEIRA, 2021). Sob esse âmbito, a orientação dos profissionais de saúde torna-se imprescindível para a efetivação de tal terapia alternativa (LACERDA et.al, 2023).

Nesse viés, o panorama evidenciado nas pesquisas e na observação empírica da ressurgência hodierna do uso de plantas medicinais como método terapêutico justifica a abordagem deste estudo, haja vista que algumas espécies vêm sendo avaliadas farmacologicamente e têm demonstrado resultados positivos na atenuação da resistência insulínica (LEAL et.al., 2021). Somado a isso, a amplitude de abordagem dos estudos realizados sobre a temática respalda a necessidade desta revisão devido ao caráter difuso e múltiplo das informações acerca desse conteúdo.

Assim, o presente estudo teve como escopo, sintetizar resultados obtidos em pesquisas sobre o uso de plantas medicinais como estratégia fitoterápica não medicamentosa para a redução da resistência insulínica em pacientes portadores de DM2. Como objetivo, este trabalho visa o relato dos principais achados bibliográficos acerca do uso de espécies vegetais que promovem a redução insulínica em pacientes portadores de DM2.

2 METODOLOGIA

O presente estudo consiste de uma revisão exploratória integrativa de literatura. A revisão integrativa foi realizada em seis etapas: 1) identificação do tema e seleção da questão norteadora da pesquisa; 2) estabelecimento de critérios para inclusão e exclusão de estudos e busca na literatura; 3) definição das informações a serem extraídas dos estudos selecionados; 4) categorização dos estudos; 5) avaliação dos estudos incluídos na revisão integrativa e interpretação e 6) apresentação da revisão.

Na etapa inicial, para definição da questão de pesquisa utilizou-se da estratégia PICO (Acrômio para Patient, Intervention, Comparation e Outcome). Assim, definiu-se a seguinte questão central que orientou o estudo: “Quais são as influências das plantas medicinais na redução da resistência à insulina em pacientes portadores de diabetes mellitus tipo 2 em uso farmacológico convencional ?” . Nela, observa-se o P: pacientes portadores de diabetes tipo 2; O: identificar a relevância efetiva da utilização de compostos provenientes de plantas medicinais na redução da resistência à insulina em pacientes DM2.

 Para responder a esta pergunta, foi realizada a busca de artigos envolvendo o desfecho pretendido utilizando as terminologias cadastradas nos Descritores em Ciências da Saúde (DeCs) criados pela Biblioteca Virtual em Saúde desenvolvido a partir do Medical Subject Headings da U.S. National Library of Medcine, que permite o uso da terminologia comum em português, inglês e espanhol. Os descritores utilizados foram: Plantas Medicinais; Plantas Medicinales; Plants, Medicinal; Diabetes Mellitus. Para o cruzamento das palavras chaves utilizou-se os operadores booleanos “and” e “or”.

Realizou-se um levantamento bibliográfico por meio de buscas eletrônicas nas seguintes bases de dados: Google Scholar; Biblioteca Virtual de Saúde (BVS), Scientif Eletronic Library Online (SciELO), National Library of Medicine (PubMed) e Literatura Latino-Americana e do Caribe em Ciências da Saúde (LILACS).

A busca foi realizada no mês de abril de 2023. Como critérios de inclusão, limitou-se a artigos escritos em inglês, português e espanhol, publicados nos últimos cinco anos (2018 a 2023), que abordassem o tema pesquisado e que estivem disponíveis eletronicamente em seu formato integral, foram excluídos os artigos em que o título e resumo não estivessem relacionados ao tema de pesquisa e pesquisas que não tiverem metodologia bem clara.

Após a etapa de levantamento das publicações, encontrou 54 artigos, dos quais foram realizados a leitura do título e resumo das publicações considerando o critério de inclusão e exclusão definidos. Em seguida, realizou a leitura na íntegra das publicações pré-selecionadas, atentando-se novamente aos critérios de inclusão e exclusão, sendo que 32 artigos não foram utilizados devido aos critérios de exclusão. Foram selecionados 22 artigos para análise final e construção da revisão.

Posteriormente a seleção dos artigos, realizou um fichamento das obras selecionadas afim de selecionar a coleta e análise dos dados. Os dados coletados foram disponibilizados em um quadro, possibilitando ao leitor a avaliação da aplicabilidade da revisão integrativa elaborada, de forma a atingir o objetivo desse método.

A Figura 1 demonstra o processo de seleção dos artigos por meio das palavras-chaves de busca e da aplicação dos critérios de inclusão e exclusão citados na metodologia. O fluxograma leva em consideração os critérios elencados pela estratégia PRISMA (Page et al., 2021).

Figura 1 – Processo de seleção de artigos

Fonte:  Adaptado do Preferred Reporting Items for Systematic review and Meta-Analyses (PRISMA). Page et al., (2021).

3 RESULTADOS

A tabela 1 sintetiza os principais artigos que foram utilizados na presente revisão de literatura, contendo informações relevantes sobre os mesmos, como os autores do estudo, o ano de publicação, o título e os achados relevantes.

Tabela 1: Panorama geral dos estudos incluídos nesta revisão integrativa sobre as influências do uso de plantas medicinais na redução da resistência à insulina

AUTORTÍTULOACHADOS PRINCIPAIS
1. SHI et. al., 2023Identifying potential therapeutic targets of mulberry leaf extract for treatment of type 2 diabetes: a TMT-based quantitative proteomic analysisO extrato de folha de amoreira (MLE) utilizado em ratos demonstrou efeitos positivos na redução da resistência insulínica e no controle glicêmico.
2. HUAI et. al., 2023Systematic evaluation of combined herbal adjuvant therapy for proliferative diabetic retinopathyA combinação da terapia adjuvante da medicina tradicional chinesa por meio de plantas tem bom efeito curativo em pacientes com retinopatia diabética.
3. HANNAN et. al., 2023Acute Anti-hiperglycaemic Activity of five traditional medicinal plants in high fat diet induced obese ratsFitoquímicos como flavanoides, taninos e saponinas  são responsáveis pelas propriedades hipoglicemiantes de algumas plantas, pesquisas adicionais são necessárias para avaliar as fitomoléculas bioativas desses vegetais.
4. LUO et. al., 2023Phytochemicals for the treatment of metabolic diseases: Evidence from clinical studiesO acúmulo de evidencias clínicas mostra que um total de 18 fitoquímicos têm bons efeitos terapêuticos no DM 2, na obesidade e na doença hepática não gordurosa.
5. ANSARI et. al., 2023Protective Effects of Medicinal Plant-Based Foods against Diabetes: A review on pharmacology, phytochemistry, and molecular mechanismsAlguns fitoquímicos possuem atividades  antidiabéticas, como redução dos níveis de glicose no sangue, estimulação da secreção de insulina e alívio das complicações diabéticas.
  6. PERES JÚNIOR et. al., 2022  Plantas medicinais utilizadas por hipertensos e diabéticos em um município da região sul do Brasil  As plantas medicinais apresentam propriedades que auxiliam no cuidado à hipertensão arterial sistêmica (HAS) e ao DM. Entretanto, é preciso que haja um diálogo entre conhecimento popular e científico.
7. FERRARI et. al., 2022Alternativas de controle do diabetesExistem 7 espécies de plantas medicinais, distribuídas pelo Sistema Único de Saúde (SUS), que possuem efeito hipoglicemiante. 
8. BÁEZ et. al., 2022Principales fitoquímicos com potencial terapêutico en el tratamiento de la retinopatia diabética com fitofármacosOs tratamentos com fitoterápicos vem sendo amplamente utilizados como tratamento da retinopatia diabética por serem uma alternativa mais segura, de menor custo e menor toxicidade.
9. OMALE et. al., 2022A systematic analysis of anti-diabetic medicinal plants from cells to clinical trialsUma variedade de plantas possuem mecanismos de ação e sinalização da insulina. A pesquisa também revela ações antidiabéticas eficazes em estudos com animais e um potencial claro evidenciado por ensaios clínicos.
10. FATIMAH et. al., 2022Uses, preparation and phytochemical analysis of anti-diabetic medicinal plants in the rural (Pakistan)A presença de fitoquímicos presentes nas plantas escolhidas pelo estudo conferem legitimidade às propriedades proativas e preventivas de doenças, postulando uma possibilidade de controle do diabetes por meio dessas plantas.
11. LEAL et. al., 2021Uso de fitoterápicos no tratamento do diabetes mellitus: uma revisão de literaturaAs plantas que obtiveram resultados hipoglicemiantes: Bauhinia forficata, Syzygium cumini, Sphagneticola trilobata, Cissus sicyoides L, carqueja, tintura de mororó, Stevia rebaudiana, Chrysobalanus icaco Lin, Myrcia multiflora e epicarpo da romã.
12. GUIMARÃES et. al., 2021Práticas terapêuticas e medicinais para o tratamento do Diabetes MellitusApesar de não haver comprovação científica sobre o efeito hipoglicemiante para todas as plantas medicinais, os estudos demonstram que, em algumas espécies, há uma estimulação efetiva das células beta pancreáticas.
13. CARVALHO; OLIVEIRA; SIQUEIRA, 2021Plantas medicinais utilizadas no tratamento do Diabetes Mellitus: uma revisãoO principal mecanismo de ação das plantas medicinais com efeitos antidiabéticos é a inibição da enzima catalisadora dos açúcares, especialmente pelos compostos químicos quercetina e canferol, com uma consequente redução da glicemia sanguínea.
14. RAHIMI et. al., 2021A combination of herbal compound (STPC) along with exercise or metformin more efficiently alleviated diabetic complications through down-regulation of stress oxidative pathway upon activating Nrf2-Keap1 axis in age rich diet-induced type 2 dibetic miceOs estudos demonstraram um efeito benéfico da suplementação de SPTC combinada ao exercício ou a metformina, constituindo uma abordagem acessível e terapêutica relacionada ao DM.
15. SOUZA et. al., 2020Potential Health Risks of Macro – and Microelements in Commercial Medicinal Plants Used to Treatment of Diabetes   As plantas podem apresentar benefícios quando utilizadas na medicina popular, entretanto, a ingestão através de cápsulas preparadas pode ser prejudicial à saúde dos diabéticos. A prescrição de plantas para o tratamento do DM deve ser realizada com cautela.
16. SINGH et. al., 2020Ethnobotanical survey of medicinal plants used in the management of cancer and diabetesNeste estudo, há a documentação de diversas plantas medicinais que possuem um amplo escopo para o desenvolvimento de um agente anticancerígeno e antidiabético a partir da flora de Mizoram, no nordeste da Índia.
17. RODRIGUES; SOBREIRA, 2020Uso de plantas medicinais por adultos diabéticos e/ ou hipertensos de uma unidade básica de saúde do município de Caucaia-CE, BrsailPlantas medicinais podem resultar em um uso inadequado. Porém, algumas plantas, com a indicação correta, podem auxiliar no tratamento de doenças como o diabetes mellitus.
18. SALEHI et. al., 2019Antidiabetic Potential of Medicinal Plants and Their Active ComponentsMuitas plantas possuem potencial antidiabético e esse é dado pela ação combinada e consertada do perfil de compostos biologicamente ativos de cada matriz vegetal.
19. ALMALKI; ALGHAMDI; AL-ATTAR, 2019Comparative Study on the Influence of Some Medicinal Plants on Diabetes Induced by Streptozotocin in Male RatsRatos em que foram administrados os extratos das plantas medicinais obtevirem mudanças fisiológicas e histopatológicas benéficas à redução da resistência insulínica.
20. XAVIER; NUNES, 2018Tratamento de DM com plantas medicinaisApesar da comprovação científica da eficácia das medicinais no tratamento de doenças crônicas, há a necessidade de incentivo para a realização de mais estudos científicos, principalmente em áreas de maior biodiversidade vegetal.
21. SILVA et. al., 2018Relato sociocultural: o uso de plantas medicinais por pacientes idosos com DM2Dos pacientes que relataram o uso de plantas medicinais, majoritariamente, não realizavam acompanhamento laboratorial para verificar o efeito de tal utilização.
22. VIRGÍNIO et. al., 2018Utilização de plantas medicinais por pacientes hipertensos e diabéticos: estudo transversal no nordeste brasileiroO uso de plantas medicinais é equivocadamente entendido pela população como o emprego da fitoterapia e é frequentemente utilizado como recurso de controle da doença, sem o conhecimento dos médicos assistentes.

Fonte: autoria própria, 2023.

4 DISCUSSÃO

O presente estudo avaliou 22 trabalhos acerca do uso de espécies vegetais com o intuito de reduzir a hiperglicemia em pacientes acometidos por DM, nos quais foi evidenciado que, apesar de não haver comprovação científica sobre a ação hipoglicemiante de todas as espécies vegetais utilizadas para esse fim, algumas plantas medicinais, de fato, têm ação na redução da resistência à insulina. Diante disso, pesquisas sugerem que o mecanismo de ação antidiabético de algumas espécies fitoquímicas pode ser exemplificado pelas seguintes características: pelo potencial estimulador de células beta pancreáticas; pela capacidade de ampliar o consumo de glicose pelos tecidos e órgãos; ou, ainda, pela habilidade de enriquecer a sensibilidade dos receptores de insulina (GUIMARÃES et. al., 2021). Sob essa ótica, por vezes, espécies vegetais com efeito hipoglicemiante são amplamente utilizadas, principalmente por apresentarem menos efeitos adversos em relação às terapêuticas farmacológicas convencionais (CARVALHO et. al., 2021).

No Brasil, a utilização de plantas medicinais e de fitoterápicos tem sido incentivada por meio de iniciativas governamentais. Em 2006, foi publicada a Portaria n. 971, a qual fundamenta como proposta de opção terapêutica no Sistema Único de Saúde (SUS) a Política Nacional de Práticas Integrativas e Complementares (PNPIC), que inclui as plantas medicinais, a fitoterapia e a homeopatia (SILVA et.al., 2018). Aliado a esse contexto, em fevereiro de 2009, o Ministério da Saúde (MS) instaurou a Relação Nacional de Plantas Medicinais de Interesse ao SUS (RENISUS), que contém 71 espécies vegetais com potencial terapêutico (XAVIER; NUNES, 2018). Destas, sete espécies apresentam estudos que comprovam o potencial antidiabético e foram aprovadas pela Anvisa, são elas: Bauhinia Forficata (Pata de Vaca); Syzygium Cumini (Jambolão); Annona Muricata (Graviola); Cynara Scolymus (Alcachofra); Momordica Charantia (Melão de São Caetano); Eugenia Uniflora (Pitangueira) e Bacharis Trimera (Carqueja) – tais espécies podem ser utilizadas de forma complementar à terapêutica farmacológica (FERRARI et. al., 2022).

Em uma pesquisa quantitativa, descritiva, exploratória e transversal, realizada em 16 Unidades de Atenção primária à saúde da Regional VI e em um ambulatório especializado do Hospital Universitário Walter Cantídio, circunscrito à região de Fortaleza-CE, em 2015, foram identificados efeitos positivos na associação de plantas medicinais à terapêutica convencional, com uma prevalência benéfica de 75% em relação aos 122 participantes do projeto (VIRGÍNIO et. al., 2018). Em consonância aos resultados evidenciados nessa pesquisa, é imperioso ressaltar que a forma de preparo e produção de chás, xaropes e infusões por meio de espécies que possuem características fitoquímicas hipoglicemiantes interferem na sua eficácia, podendo ampliá-la ou reduzi-la (SALEHI et. al., 2019). Além disso, é válido destacar que, apesar de não serem relatados perfis tóxicos na maioria das espécies vegetais utilizadas na prática medicinal, o ideário corriqueiro pautado na ausência completa de agentes nocivos, em compostos fitoquímicos ou in natura, podem condicionar complicações devido ao excesso de ingestão desses compostos – em primazia, a hipoglicemia acentuada pelo bloqueio beta-adrenérgico, que reduz os níveis glicêmicos na corrente sanguínea (LEAL et. al., 2021).

Ademais, durante uma pesquisa sistemática realizada no noroeste da Índia, nas áreas urbanas e rurais de Mizoram, foram identificadas cerca de 201 espécies vegetais com potencial anticancerígeno e antidiabético, as quais, foram, e continuam sendo amplamente utilizadas por tribos do noroeste da Índia (SINGH et. al., 2020). Diante disso, torna-se perceptível que a utilização dos aspectos naturais estão imersos em uma tradicionalidade compartilhada advinda da exploração dos recursos naturais em um período anterior à fundamentação dos princípios farmacológicos pautados em protocolos terapêuticos (FATIMAH et. al., 2022). Em harmonia ao que foi referido, a troca de saberes populares e conhecimentos científicos se mostra benéfica quando associada a medicina baseada em evidências vinculada a uma adequação dos pensamentos e situações de saúde vivenciadas pelos indivíduos (PERES JÚNIOR et. al., 2022).

Em complementaridade a tais estudos observacionais citados anteriormente, por meio da análise bibliográfica deste estudo, foram identificadas pesquisas experimentais em materiais vivos. Na análise realizada por SHI et. al. (2023), pautada na identificação dos potenciais alvos terapêuticos do extrato de folha de amoreira para o tratamento do DM2, os ratos utilizados na pesquisa obtiveram mudanças nos perfis lipídicos séricos e na conformação proteômica do músculo esquelético, alterações as quais favorecem o controle glicêmico no organismo. Em consonância a esses achados, OMALE et. al. (2023) obteve, como resultado da análise diferencial de células isoladas, uma melhora do transporte de glicose como um dos efeitos da utilização de plantas medicinais e de fitoquímicos com efeito hipoglicemiante. De forma análoga, seis diferentes estudos, realizados em países distintos, por HUAI et. al (2023); LUO et. al. (2023); ANSARI et. al. (2023); HANNAH et. al (2023); RAHMINI et. al (2021) e ALMAKI et. al. (2019), demonstraram efeitos benéficos na associação entre extratos vegetais e a terapêutica farmacológica usualmente utilizada para pacientes acometidos por DM2.

Entretanto, apesar de existirem diversos estudos acerca dos tratamentos associados às espécies vegetais, a utilização desta terapia alternativa é realizada, principalmente, por idosos de forma indiscriminada e sem acompanhamento médico (SOUZA et. al. 2021). Os produtos fitoquímicos provenientes de espécies vegetais possuem um menor custo e uma baixa toxicidade, o que pode contribuir para a promoção do bem-estar de indivíduos acometidos por DM a partir da implementação de uma terapia alternativa que integre tais compostos aos medicamentos convencionais (BAÉZ et. al., 2022). Nesse viés, torna-se perceptível a carência de pesquisas que integrem e possibilitem efetivamente a implementação do uso de plantas medicinais no plano terapêutico nas mais diversas doenças crônicas, precipuamente, nos casos de DM (RODRIGUES; SOBREIRA, 2020).

4 CONCLUSÃO

Conclui-se, a partir deste estudo, que as plantas medicinais podem contribuir no tratamento do DM quando associadas à prática farmacológica convencional, reduzindo a quantidade de medicamentos tradicionais por meio da ação hipoglicemiante possibilitada pelo uso de compostos em que predominam espécies fitoquímicas com essa característica. Todavia, a utilização de espécies vegetais de forma isolada, sem que haja a contribuição de compostos farmacêuticos, não garante que o tratamento seja efetivo, fato o qual demonstra a característica complementar do uso dessas espécies vegetais para a redução dos índices glicêmicos em pacientes acometidos por DM2. Além, disso, apesar de existirem diversas pesquisas acerca deste assunto, mais revisões integrativas e pesquisas experimentais são necessárias para que haja a ampliação do conhecimento e a implementação dessa prática no âmbito de promoção e prevenção à saúde, haja vista que tal terapêutica alternativa possibilita uma aplicação de práticas tradicionais em congruência à medicina baseada em evidências.

REFERÊNCIAS:

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1Discente do curso de Medicina do Centro Universitário de Patos de Minas -UNIPAM.
2Docente do Centro Universitário de Patos de Minas -UNIPAM.