INFLUENCE OF REGULAR USE OF BODY TREMOR INDUCTION TECHNIQUE IN THE MANAGEMENTE OF PSYCHOSOMATIC DISEASES: A SYSTEMATIC REVIEW
REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.10423937
Maria Rayane Felix Araújo de Brito1;
Geraldo Magella Teixeira2;
Magnucia de Lima Leite3
RESUMO
Introdução: Conflitos emocionais reprimidos e não resolvidos podem se manifestar fisicamente como sintomas psicossomáticos. Concernente ao tratamento, pode-se destacar o TRE® -Tension and Trauma Releasing Exercises. Tal técnica, mostra-se como estratégia relevante de intervenção em favor da recuperação do bem-estar global do indivíduo. Objetivo: Descrever, a partir da literatura, qual a influência do uso regular da técnica de indução de tremores corporais no manejo das doenças psicossomáticas. Método: Estudo de revisão sistemática, incluindo artigos sem restrição de idioma. A pesquisa foi realizada entre dezembro de 2022 e novembro de 2023 nas bases de dados Saúde BVS, PubMed, Medline, Scielo, Cochrane Library. Além disso, foi realizada uma busca na literatura cinzenta: Google Acadêmico e BERCELI, D. Exercícios para libertação do trauma. 2ª ed. Pernambuco: Libertas Editora, 2009.. Após seleção dos textos, foram selecionados 6 artigos, para leitura na íntegra. Resultados: Os resultados obtidos em relação aos grupos de mulheres evidenciaram que a aplicação de TRE às participantes do Grupo Intervenção contribuiu não apenas para a redução dos sintomas de estresse, como para a ampliação da consciência corporal e situacional. A análise do risco de viés permitiu a compreensão de que há risco de viés considerável, visto que a maioria dos estudos apresentam dados limitados. Conclusão: Essa abordagem se revela eficaz em reduzir as respostas não voluntárias ao estresse. Os impactos positivos alcançados, como a melhoria da autopercepção, a conexão aprimorada com o corpo e a liberação do fluxo de energia corporal, não apenas refletem benefícios individuais, mas também apresentam relevância no âmbito terapêutico em geral. Portanto, outros estudos podem ser realizados para a condução de pesquisas adicionais que demandem uma investigação mais aprofundada sobre o tema
PALAVRAS CHAVE: Exercícios de liberação de traumas, Doenças psicossomáticas
Abstract
Introduction: Repressed and unresolved emotional conflicts can manifest physically as psychosomatic symptoms. Regarding treatment, the TRE® – Tension and Trauma Releasing Exercises can be highlighted. This technique proves to be a relevant intervention strategy in favor of the overall well-being recovery of the individual. Objective: To describe, from the literature, the influence of regular use of the body tremor induction technique in the management of psychosomatic diseases. Method: A systematic review study, including articles without language restrictions. The research was conducted between December 2022 and November 2023 on the databases Health BVS, PubMed, Medline, Scielo, Cochrane Library. In addition, a search in grey literature was performed: Google Scholar and BERCELI, D. Exercises for trauma release. 2nd ed. Pernambuco: Libertas Editora, 2009. After text selection, 6 articles were chosen for full reading. Results: The results obtained in relation to women’s groups showed that the application of TRE to Intervention Group participants contributed not only to the reduction of stress symptoms but also to the expansion of body and situational awareness. Bias risk analysis allowed understanding that there is a considerable risk of bias since most studies present limited data. Conclusion: This approach proves to be effective in reducing involuntary stress responses. The positive impacts achieved, such as improved self-perception, enhanced body connection, and the release of body energy flow, not only reflect individual benefits but also have relevance in the overall therapeutic context. Therefore, further studies can be conducted for additional research that requires a more in-depth investigation on the topic.
KEY-WORDS: Trauma Release Exercises, Psychosomatic diseases.
INTRODUÇÃO/ REFERENCIAL TEÓRICO
No final do século XIX e início do século XX, a teoria psicanalítica de Sigmund Freud surgiu a fim de compreender a mente humana, o comportamento e a formação de personalidade, a qual sugeriu que conflitos emocionais reprimidos e não resolvidos podem se manifestar fisicamente como sintomas psicossomáticos. De acordo com Freud (1987), a energia psíquica ligada a esses conflitos é convertida em sintomas físicos como uma forma de expressão indireta das emoções reprimidas.
Nesse contexto, surgem as doenças psicossomáticas, que são dores e problemas físicos no corpo causados por sofrimento emocional, representando essa ligação direta entre a saúde emocional e a física. Ou seja, quando há um sofrimento psicológico, ele pode de alguma forma, acabar causando ou agravando uma doença física (SELYE, 1956).
Segundo a Sociedade Brasileira de Inteligência Emocional (2020), todas as emoções têm algum impacto no corpo, pois funcionam como uma interface entre o cérebro e o corpo físico. Isso ocorre por diversas questões, especialmente àquelas ligadas a experiências ruins e traumas não superados. O estresse gerado por essas emoções negativas afeta a capacidade de coordenação cerebral, o que impede a liberação das substâncias importantes para o necessário ajuste da fisiologia do organismo.
A manifestação desses fatores, que envolvem tanto aspectos emocionais quanto físicos, em forma de somatização cria um ciclo prejudicial. Esse ciclo se reflete por meio de dores e o surgimento de várias condições físicas. Caso não recebam o tratamento adequado, essas complicações podem progredir gradualmente e ter um impacto cada vez mais severo na saúde do indivíduo (ÁVILA, 2012).
É válido ressaltar que as doenças psicossomáticas apresentam uma complexidade multifacetada. Dentro desse contexto, o tratamento comumente requer uma abordagem multidisciplinar que reúne diversas terapias em conjunto. O apoio emocional e a habilidade de lidar com o estresse também desempenham um papel de extrema importância na gestão dessas condições. Portanto, é fundamental compreender quais são os elementos desencadeadores a fim de evitar sua ocorrência no cotidiano (ÁVILA, 2012).
Concernente ao tratamento, pode-se destacar o TRE® -Tension and Trauma Releasing Exercises. Tal técnica, mostra-se como estratégia relevante de intervenção em favor da recuperação do bem-estar global do indivíduo e compreende uma sequência de exercícios, alongamentos e posturas que ativam tremores espontâneos em certos músculos do corpo. Sendo um recurso natural para descarregar os níveis de ativação do sistema nervoso central, aliviar tensões e trazer o organismo de volta a um estado de equilíbrio (BERCELI, 2011).
Nesse sentido, essa técnica desempenha um papel crucial na diminuição do estresse, no relaxamento do corpo e na regulação das emoções. Quando a tensão é aliviada em qualquer parte do corpo, o cérebro registra uma diminuição nos sinais de dor e começa a produzir novos hormônios que promovem a sensação de relaxamento e bem-estar. Isso não apenas ajuda a identificar padrões de estresse, mas também reduz a quantidade de hormônios e a acumulação de substâncias químicas prejudiciais, restaurando o corpo ao seu estado de equilíbrio natural e a uma condição estável (BERCELI, 2011).
As técnicas que envolvem os tremores corporais fisiológicos têm a capacidade de regular o sistema nervoso autônomo, induzindo um estado profundo de relaxamento, tanto no aspecto físico quanto mental. Esse estado favorece a obtenção de diversos benefícios para a saúde. Ao adotar regularmente essa técnica, é possível aliviar uma ampla gama de sintomas relacionados a questões físicas, emocionais e comportamentais. Portanto, trata-se de uma ferramenta valiosa de autocuidado que, uma vez aprendida, pode ser utilizada para promover a saúde, melhorar a qualidade de vida e enfrentar situações de estresse com eficácia (BERCELI, 2011).
Diante do acima exposto justifica-se a realização de um estudo que se propõe analisar a literatura atual acerca do uso regular da técnica de indução de tremores corporais no manejo de doenças psicossomáticas.
OBJETIVOS
Descrever, a partir da literatura, qual a influência do uso regular da técnica de indução de tremores corporais no manejo das doenças psicossomáticas.
METODOLOGIA
Trata-se de um estudo de revisão sistemática da literatura, com a finalidade de analisar acerca das técnicas de tremores corporais fisiológicos induzidos no manejo das doenças psicossomáticas, partindo de uma busca inicial na literatura, para obtenção do levantamento bibliográfico relacionado ao tema.
O problema em questão que conduziu o estudo foi: “O que a literatura sugere acerca da influência do uso regular da indução de tremores corporais no manejo das doenças psicossomáticas?” A partir disso foi construída a estratégia PICO:
● P- Doenças psicossomáticas;
● I- Indução de tremores corporais;
● C- Não se aplica;
● O- Influência no manejo das doenças psicossomáticas.
Foram utilizadas fontes de artigos publicados nos bancos de dados das plataformas Saúde BVS, PubMed, Medline, Scielo, Cochrane Library. Além disso, foi realizada uma busca na literatura cinzenta: Google Acadêmico e BERCELI, D. Exercícios para libertação do trauma. 2ª ed. Pernambuco: Libertas Editora, 2009. Para a realização da busca foram utilizados os seguintes termos: exercícios de liberação de traumas, trauma releasing exercises, tremores neurogênicos, doenças psicossomáticas, medicina psicossomática, psychosomatic medicine. A pesquisa foi realizada entre dezembro de 2022 e novembro de 2023 sem restrições de idioma. As listas de referência de todos os estudos foram analisadas individualmente para identificar estudos adicionais para inclusão.
A estratégia de busca eletrônica completa foi a seguinte: ((exercícios de liberação de traumas) OR (trauma releasing exercises) OR (tremores neurogênicos) AND (doenças psicossomáticas) OR (medicina psicossomática) OR (psychosomatic medicine)).
Para a extração de dados, realizou-se a seleção e categorização dos estudos por meio da leitura completa dos textos. Foi elaborado um fichamento para cada artigo escolhido, seguido por uma síntese geral que abordava questões relacionadas a informações, procedimentos, etapas e contribuições dos artigos para a revisão. A análise dos dados foi realizada de maneira descritiva, organizada, resumida e descreve os aspectos relevantes. A abordagem comparativa foi empregada para identificar as unidades de discussão, e a crítica foi realizada por meio da leitura, fichamento e integração de todos os artigos selecionados.
RESULTADOS
Foram encontrados na plataforma BVS 125 artigos, sendo selecionados 08 por título, na PUBMED 123 artigos, 02 selecionados por título, na Medline 12 artigos, selecionado 01 por título, na Scielo e Cochrane Library nenhum artigo foi encontrado. Na plataforma do google acadêmico, foram encontrados 4.370 resultados, foi aplicado os filtros de: últimos 10 anos, reduzindo os resultados para 2.510, mas apenas 13 foram selecionados por título.
Foi realizada a busca nos bancos eletrônicos de dados, em que foram extraídas as informações. Foram lidos os títulos e resumos de todos os artigos como triagem inicial e, foram selecionados a partir dos critérios de inclusão: artigos publicados entre os últimos dez anos, artigos, livros e revisões sistemáticas que tratassem sobre a temática e, após utilizar como critérios de exclusão os artigos duplicados, cartas ao editor, estudos sem desfecho e os artigos não disponíveis na íntegra, os artigos restantes foram analisados.
Portanto, 06 artigos foram incluídos, desses foram coletadas as informações dos estudos, tais como: autor, ano e desfechos relacionados à pesquisa: benefícios e resultados encontrados. O fluxograma descrevendo o processo por etapas da seleção está apresentado na Figura 1.
Figura 1: Diagrama de seleção bibliográfica, 2023
Fonte: Dados da pesquisa, 2023
Foi realizada avaliação do Risco de Viés dos artigos selecionados através da escala de Avaliação de Risco de Viés da Cochrane (Figura 2). Foram incluídos os estudos (BARROS; OLIVEIRA, 2014; MACEDO, 2013; CUNHA; FONSECA, 2020; LYNNING, 2021; PINTO, 2022; LEMOS, 2021).
As pesquisas incluídas nesta revisão sistemática permitiram a compreensão de que há risco de viés considerável na literatura sobre o tema em estudo, especialmente, pela escassez de literatura específica sobre a técnica de indução de tremores corporais. Além disso, a maioria destes estudos apresenta dados limitados, características que comprometem de forma significativa a qualidade metodológica dos mesmos.
Figura 2: Diagrama de risco de viés dos estudos selecionados
Fonte: Dados da pesquisa, 2023
A tabela 1 apresenta o título, autores, ano de publicação e principais resultados dos artigos selecionados neste estudo.
Tabela 1: Descrição do Título, Autor(es), Ano de Publicação e Resultados dos artigos selecionados.
| TÍTULO | AUTORES | ANO | RESULTADOS |
| Exercícios de liberação de tensão e trauma para pessoas com esclerose múltipla – Um estudo piloto exploratório | LYNNING, M. et al | 2021 | Foram observadas diminuições nas pontuações médias de todos os nove sintomas diários auto-relatados, bem como no nível de estresse, enquanto a pontuação média da qualidade do sono aumentou. As análises de LME mostraram que todas as alterações foram estatisticamente significativas, exceto uma (disfunção intestinal). O nível médio de fadiga medido pelo MFIS diminuiu significativamente de uma pontuação de 43,7 (DP = 13,6) para uma pontuação de 22,0 (DP = 12,3). Nenhuma mudança significativa foi relatada no nível de espasticidade medido pelo PSAD. O estudo indica possíveis efeitos do TRE na PwMS em várias medidas de resultados autorrelatados. Estudos maiores e randomizados devem ser realizados para explorar ainda mais os resultados. |
| EXERCÍCIOS PARA LIBERAÇÃO DA TENSÃO E DO TRAUMA (TRE): APLICAÇÃO A SITUAÇÕES DE VIOLÊNCIA CONJUGAL | MACEDO, Danielle Soares de | 2013 | A técnica TRE mostrou-se adequada e eficaz como ferramenta interventiva nos casos de violência contra a mulher. As mulheres e os homens que receberam a intervenção demonstraram menos sinais de anestesia emocional, ampliaram sua capacidade de percepção de sinais corporais de estresse, fizeram uma avaliação mais acurada dos riscos de reincidência da violência e da tensão e estresse relacional e passaram a adotar estratégias mais ativas de prevenção a novos episódios de violência. A continuidade da prática regular do TRE mostrou-se fundamental para manutenção, consolidação e ampliação dos benefícios da técnica para todos os casos. |
| De corpo e alma: a Análise Bioenergética na Promoção da Saúde do Paciente Oncológico | BARROS, Adriano de Souza, OLIVEIRA, Silvana Maria | 2014 | Promover a saúde do paciente oncológico, através da potencialização do contato com suas emoções, vencendo as tensões crônicas do choque/trauma da doença, seria uma importante contribuição do TRE. Lembrando que cada sujeito terá reações mais ou menos intensas, conforme sua entrega ao trabalho de corpo, a conexão psíquico-emocional ocorre no tempo de cada um, porém, o efeito é cumulativo conforme prática, sendo uma importante ferramenta de integração, alívio e elaboração das dores psicossomáticas do choque/trauma. |
| A influência das condições emocionais no desencadeamento de doenças psicossomáticas | CUNHA, ECM; FONSECA, BR | 2020 | A somatização é demonstrada, pela literatura, como uma reação comum às respostas à dor psíquica do ser humano, pois o corpo adoecido impacta fortemente a mente o que pode desencadear reações fisiológicas em diversas áreas dos processos mentais. E que a técnica a ser escolhida pelo psicanalista, depende de diversas variáveis devido a pluralidade das representações singular das psicossomatizações, como os referenciais teóricos exercidos pelo psicanalista, as representações dos sintomas e o processo transferencial e contratransferencial. |
| Psicossomática e trauma: o sujeito frente ao irrepresentável | LEMOS, Suziani de Cássia Almeida; CHATELARD, Daniela Scheinkman; TAROUQUELLA, Katia Cristina. | 2021 | As construções teóricas a respeito dos fenômenos psicossomáticos e do trauma permitem pensar a articulação desses conceitos a partir de vias de interação recíproca. Ou seja, ao analisarmos desencadeantes de adoecimentos psicossomáticos, o trauma surge como um importante elemento presente na formação dos sintomas, uma vez que provoca o esmagamento do psiquismo nascente da criança e o consequente comprometimento à sua constituição psíquica. A fragilidade simbólica instaurada pelo traumático impossibilitaria a metabolização ou representação das vivências, operando formações sintomáticas marcadas pelo aprisionamento dessas experiências no próprio corpo do sujeito. |
| A importância da psicanálise nos fenômenos psicossomáticos | Pinto, A. T. B., & Soriano, S. | 2022 | Foi possível reconhecer a influência das concepções hipocráticas na sustentação dos conceitos freudianos, partindo do princípio de que o sujeito está para além das manifestações puramente orgânicas, sendo muitas vezes, o corpo uma forma de expressão. |
Fonte: Dados da pesquisa, 2023.
O Centro Nacional de Informação sobre Biotecnologia (2021) descreve a terapia mente-corpo como
“métodos ou técnicas de tratamento que se baseiam no conhecimento das interações entre mente e corpo. Essas técnicas podem ser utilizadas para reduzir a sensação de tensão e o efeito do estresse, e para melhorar o bem-estar fisiológico e psicológico de um indivíduo”.
O rompimento com a visão dualista de tradição cartesiana mente-corpo, associado à superação do modelo biomédico de saúde como ausência de doença, nos ajuda a trazer o sujeito da patologia para o centro do processo, valorizando-o como indivíduo para além do quadro sintomatológico (BARROS; OLIVEIRA, 2014).
Um fato ou situação estressora é aquela que exige adaptação do organismo além de seus limites, ou seja, mudanças nas formas habituais de lidar com eventos. Quanto maior a necessidade de adaptação, maior será a necessidade de utilização, pela pessoa, de suas reservas de energia adaptativa, o que pode levar a um enfraquecimento físico e mental (MACEDO, 2013).
Além disso, este quadro de adoecimento causa mudanças químicas no sistema nervoso central. Os efeitos cumulativos dessas mudanças químicas aumentam o risco de hipertensão, deficiência imunológica e perturbações na percepção da dor (BERCELI, 2007).
O fenômeno psicossomático é conhecido, sobretudo, pelos processos de somatização que consiste nos movimentos do aparelho psíquico que podem desencadear ou agravar a evolução de doenças físicas (CUNHA; FONSECA, 2020).
Os exercícios da bioenergética, desenvolvidos por Lowen e os Exercícios de Liberação do Trauma de Berceli, entram como importante ferramenta de desbloqueio das contrações vegetativas, melhoramento da respiração e favorecimento grounding no enfrentamento da doença, o que proporciona a redução da ansiedade e dos sintomas do tratamento agressivo da quimioterapia e da radioterapia (BARROS; OLIVEIRA, 2014).
Posto que, os músculos são programados para contrair em situações de estresse, ansiedade ou trauma, de forma a proteger o corpo de danos. Além disso, há uma liberação de produtos bioquímicos – adrenalina, cortisol e opióides – que permitem ao organismo as respostas naturais de defesa e autopreservação. Cessado o risco, o natural é que o corpo possa descarregar o excesso de tensão muscular e bioquímica. Esse processo possibilita o retorno ao estado de relaxamento e previne o desenvolvimento de dores físicas e danos à saúde (BERCELI, 2006, 2007, 2010).
Segundo Lynning (2021), o TRE é um método de autoajuda que pode ser praticado em casa, uma vez aprendido o método. O TRE consiste em sete exercícios de alongamento projetados para ativar e exaurir os músculos flexores da coxa, o que pode induzir tremores neuromusculares espontâneos ou tremores no corpo. Seis dos sete exercícios são realizados em pé, enquanto o exercício final é realizado deitado de costas, com os pés juntos, os joelhos dobrados para fora e para baixo em direção ao chão. Os tremores são induzidos enquanto você está deitado nesta posição.
A hiperativação simpaticotômica do músculo psoas, podendo ser acompanhada de encurtamento, provocado por situações traumáticas, promove a chamada tensão crônica, situação que impede o relaxamento natural do corpo com dores secundárias nos ombros e pescoço e tensionamento do diafragma, inviabilizando a experiência de prazer e a capacidade de estabelecer um relacionamento afetivo gratificante no campo amoroso ou laboral (NASCIMENTO; MOURA, 2010).
Um programa TRE de nove semanas foi concluído por nove participantes: cinco eram mulheres, a idade variou de 44 a 66 anos e o tempo desde o diagnóstico variou de 2 a 21 anos. As medidas de resultados incluíram níveis diários auto-relatados de nove sintomas diferentes, bem como qualidade do sono e nível de estresse (LYNNING, 2021).
Foram observadas diminuições nas pontuações médias de todos os nove sintomas diários auto-relatados, bem como no nível de estresse, enquanto a pontuação média da qualidade do sono aumentou. As análises mostraram que todas as alterações foram estatisticamente significativas, exceto uma (disfunção intestinal). O nível médio de fadiga medido pelo MFIS diminuiu significativamente de uma pontuação de 43,7 (DP = 13,6) para uma pontuação de 22,0 (DP = 12,3) (LYNNING, 2021).
As intervenções realizadas em mulheres e homens resultaram na diminuição dos sinais de anestesia emocional. Além disso, observou-se melhoria na capacidade de perceber sinais corporais de estresse, uma avaliação mais precisa dos riscos de reincidência da violência, da tensão e do estresse relacional. Como resultado, os participantes passaram a adotar estratégias mais proativas na prevenção de novos episódios de violência. A continuidade da prática regular do TRE mostrou-se fundamental para manutenção, consolidação e ampliação dos benefícios da técnica para todos os casos (MACEDO, 2013).
As partilhas grupais, logo após as aplicações de TRE, revelaram efeitos unanimemente positivos tanto para as mulheres quanto para os homens que compuseram os Grupos Intervenção. Alívio, relaxamento, ampliação da consciência corporal, redução do estresse e da ansiedade também foram efeitos presentes nas falas de todos os participantes. Esses efeitos não estavam restritos ao momento das sessões, mas estenderam-se a diversas dimensões da vida cotidiana de muitas/os das/os participantes – saúde, autocuidado, relacionamentos conjugais e familiares, vida profissional, sexualidade (MACEDO, 2013).
Os resultados obtidos em relação aos grupos de mulheres evidenciaram que a aplicação de TRE às participantes do Grupo Intervenção contribuiu não apenas para a redução dos sintomas de estresse, como para a ampliação da consciência corporal e situacional (MACEDO, 2013).
DISCUSSÃO
O modelo trifásico do estresse propõe três fases distintas: a fase de alerta, caracterizada pela exposição a um estressor que desencadeia reações do sistema nervoso simpático; a fase de resistência, em que o organismo busca se adaptar ao estresse, utilizando suas reservas de energia; e a fase de exaustão, quando o estressor excede os recursos adaptativos, resultando em consequências psicossomáticas (MACEDO, 2013).
Nessa última fase, há um desequilíbrio energético, induzindo mudanças químicas no sistema nervoso central. Os músculos, programados para contrair em situações de estresse, liberam produtos bioquímicos que possibilitam as respostas de defesa. Para aliviar respostas traumáticas, é crucial o relaxamento do grupo muscular permitindo o retorno ao estado de equilíbrio. (Berceli, 2006, 2007, 2010).
Os tremores representam mecanismos naturais e primitivos de autorregulação do organismo em resposta a eventos estressantes ou traumáticos. Esses tremores permitem a liberação da tensão muscular excedente e de substâncias químicas que sobrecarregam o corpo em momentos de estresse, contribuindo para o retorno a um estado de descanso e relaxamento (BERCELI, 2006, 2007, 2010).
Esses tremores, conhecidos como tremores neurogênicos, são respostas neurológicas involuntárias e produzem relaxamento físico e redução da ansiedade. O reequilíbrio corporal se dá por meio da interrupção do eixo hipotálamo-glândula pituitária-glândula adrenal (HPA), envolvido na fisiologia do estresse. Esse eixo liga o sistema límbico do cérebro às glândulas adrenais, que produzem hormônios em resposta ao estresse físico ou psicológico, preparando o corpo para as respostas de ataque ou fuga (BERCELI, 2007).
Segundo Macedo (2013), a restauração do equilíbrio corporal pode, inclusive, ampliar as possibilidades de sucesso de intervenções verbais. Além disso, a redução dos sinais de traumatização permite a recuperação natural das capacidades de avaliação realista dos danos e riscos.
As abordagens que incidem sobre o campo somático são essenciais para restabelecer o equilíbrio das respostas ao estresse traumático que permanecem aprisionadas nos músculos e tecidos, viabilizando a formação de novas conexões diretas e a alteração de sintomas psicossomáticos. Os Exercícios para Liberação da Tensão e do Trauma (TRE) atuam sobre os processos neurológicos instintivos, independentes da atividade cortical. Os tremores neurogênicos, ativados com o auxílio da técnica, são gerados pelo sistema límbico do cérebro e reduzem automaticamente as respostas não voluntárias ao estresse (BERCELI, 2007).
A técnica TRE tem se mostrado útil e eficaz quando aplicada a pessoas com sintomas de estresse e traumatização. Os efeitos benéficos obtidos são coerentes com o conhecimento acerca dos processos neurofisiológicos envolvidos nas respostas às situações estressoras e dos processos corporais de autorregulação organísmica diante de situações adversas (MACEDO, 2013).
Os resultados e impactos desse trabalho são diversos, incluindo a melhoria da autopercepção e autoexpressão. Podemos destacar: o aumento da conexão com o corpo, melhorando as sensações corporais; a conscientização das lesões corporais crônicas e subsequente desbloqueio; a ampliação e aprofundamento da respiração; a liberação do fluxo de energia corporal, proporcionando um sentimento de maior vitalidade e da capacidade de experimentar prazer. No contexto terapêutico, essa abordagem apresenta aspectos profiláticos e preventivos, auxiliando a psicoterapia na abordagem do que não é expresso verbalmente, mas sim por meio da descarga energética e emocional em direção à espontaneidade (BARROS; OLIVEIRA, 2014).
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Em síntese, com base nas literaturas analisadas neste estudo, a abordagem somática, destacada especialmente na técnica de Exercícios para Liberação da Tensão e do Trauma (TRE), emerge como uma ferramenta fundamental para restabelecer o equilíbrio frente às respostas ao estresse traumático.
Essa abordagem se revela eficaz em reduzir as respostas não voluntárias ao estresse. Os impactos positivos alcançados, como a melhoria da autopercepção, a conexão aprimorada com o corpo e a liberação do fluxo de energia corporal, não apenas refletem benefícios individuais, mas também apresentam relevância no âmbito terapêutico em geral.
Dessa forma, a abordagem somática, e em particular a técnica TRE, revela-se uma ferramenta abrangente e valiosa na promoção da saúde mental, na superação de experiências traumáticas e, consequentemente, no tratamento das doenças físicas.
Portanto, outros estudos podem ser realizados para a condução de pesquisas adicionais que demandem uma investigação mais aprofundada sobre o tema, a fim de ampliar o conhecimento da técnica e direcionar uma análise mais minuciosa à interação entre mente e corpo nas doenças psicossomáticas.
REFERÊNCIAS
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1Graduanda em Fisioterapia da UNCISAL maria.brito@academico.uncisal.edu.br;
2Orientadora e Docente do Curso de Fisioterapia da UNCISAL geraldo.magella@uncisal.edu.br;
3Co-Orientadora e Docente do Curso de Fisioterapia da UNCISAL magnucia.leite@uncisal.edu.br