INFLUÊNCIA DO TREINAMENTO DE FORÇA NA QUALIDADE DE VIDA DOS PACIENTES COM DPOC: REVISÃO INTEGRATIVA

REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.7505898


Bárbara Pires Corveloni¹
Laura Beatriz Gouveia Silva¹
Paula Gabriela Ferreira Barbosa²
Patrícia Leão da Silva Agostinho³


RESUMO: A doença pulmonar obstrutiva crônica (DPOC) é uma doença caracterizada por sintomas respiratórios persistentes com limitação do fluxo aéreo devido a anormalidades das vias aéreas inferiores. No entanto, com a sua progressão, outros sistemas podem ser afetados, principalmente o musculoesquelético, comprometendo a realização das atividades de vida diária (AVDs) e consequentemente, levando a redução da qualidade de vida (QV) destes pacientes. A reabilitação pulmonar (RP), por meio da prática do exercício físico, tem por objetivo minimizar os sintomas e melhorar a QV. Desta forma, o presente estudo buscou avaliar a influência do treinamento de força na qualidade de vida dos pacientes com DPOC. Para isso foi realizada uma revisão integrativa nos últimos cinco anos, em que os estudos tinham como um dos seus desfechos a avaliação da QV, com a utilização de questionários validados, a partir de uma RP com treinamento de força em pacientes com diagnóstico de DPOC. As buscas foram realizadas nas bases de dados Biblioteca Virtual de Saúde (BVS) e Cochrane Library, em que foram utilizados os Descritores em Ciências da Saúde (DeCs): “doença pulmonar obstrutiva crônica”, “qualidade de vida”, “treinamento de força” em suas versões em português e inglês, e os operadores booleanos AND e OR. A partir da pesquisa, foram encontrados 98 artigos, sendo que foram selecionados cinco artigos para fazer parte dos resultados desta revisão. A maioria dos estudos analisados apresentou impacto positivo e significativo do treinamento de força muscular, na RP, sobre a QV dos pacientes. 

Palavras-chave: Doença Pulmonar Obstrutiva Crônica; Qualidade de Vida; Treinamento de Força.

1. Introdução

A Global Initiative for Chronic Obstructive Lung Disease (GOLD) define a Doença Pulmonar Obstrutiva Crônica (DPOC) como uma patologia comum, tratável e prevenível, caracterizada por sintomas respiratórios persistentes com limitação do fluxo aéreo devido a anormalidades das vias aéreas e/ou alveolares geralmente causadas por exposição significativa a partículas nocivas (GOLD, 2022).

Apesar da DPOC ser primariamente uma doença de acometimento respiratório, com a sua progressão outros sistemas podem ser impactados, como o sistema cardiovascular e musculoesquelético. Desta forma, uma das principais manifestações clínicas é a intolerância ao exercício, a qual pode ser explicada tanto pela limitação do fluxo aéreo, quanto pela disfunção muscular esquelética, causada pelo descondicionamento crônico (MANGABEIRA; MACEDO, 2012; LOTTERMANN; SOUSA; LIZ, 2017).

De acordo com os dados da Organização Mundial de Saúde (OMS), no ano de 2019 a DPOC foi a terceira principal causa de morte e estava entre as 10 principais causas de incapacidade ajustada à idade no mundo (OMS, 2019). Essa incapacidade pode ser explicada pelo fato de que com o agravamento dos sintomas, como a fraqueza muscular periférica, ocorre o comprometimento na realização das atividades de vida diárias (AVDs) pelo indivíduo (SANTOS et.al, 2015).

A limitação gerada pela DPOC na execução das atividades do paciente, reflete diretamente na sua qualidade de vida relacionado à saúde (QVRS). A QV é definida como o estado de bem-estar pessoal que envolve diversos aspectos, como capacidade funcional, nível socioeconômico, interação social, estado de saúde e autocuidado (SANTOS et.al, 2015; TEIXEIRA et al, 2014).

Sendo assim, a avaliação da QVRS se tornou essencial nos estudos da doença, com objetivo mensurar seu impacto sobre os domínios físico e mental. Pode ser mensurada por diversos instrumentos, desde os mais genéricos como a SF-36, para avaliar a QV em geral, aos mais específicos como o Chronic Respiratory Questionnaire, que realiza uma avaliação mais profunda e possibilidade traçar a melhor conduta terapêutica para aquele indivíduo (SANTOS et.al, 2015; LOTTERMANN; SOUSA; LIZ, 2017).

A Reabilitação Pulmonar (RP), principalmente por meio da prática de exercício físico, tem por finalidade melhorar a tolerância ao exercício, a força muscular e consequentemente, a qualidade de vida. O Protocolo Clínico e Diretrizes Terapêuticas da DPOC (2021), traz a Reabilitação Pulmonar como um dos pilares para o tratamento não medicamentoso desta doença. Estudos prévios demonstram que um programa de exercícios promove o recondicionamento físico e cardiovascular (EMMANOUILIDIS et.al, 2016; SAMPAIO, 2016; LOTTERMANN; SOUSA; LIZ, 2017; SANTOS et.al, 2021; MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2021).

Sendo assim, a RP tem como finalidade reduzir os sintomas, otimizar o estado funcional, aumentar a adesão ao tratamento o que, consequentemente, reduz os custos com a saúde por reverter ou ao menos estabilizar os acometimentos sistêmicos da DPOC. Além disso, a prática de exercícios físicos está associada a liberação de neurotransmissores, como serotonina e dopamina, com consequente redução da ansiedade e depressão (FERNANDES, 2009).

Ademais, diversos estudos evidenciam a redução da força muscular periférica como uma das principais manifestações sistêmicas causadas pela DPOC, principalmente relacionada à fraqueza muscular do quadríceps femoral, sendo assim, o treinamento de força para estes pacientes se faz necessário (BUENO et al, 2017; SANTOS et al, 2017).

O estudo de Mangabeira e Macedo (2012), mostrou que o treino de força de membros inferiores teve influência positiva não apenas na força e resistência muscular de quadríceps, mas também apresentou melhora na função pulmonar do indivíduo. Isto posto, o objetivo do presente estudo foi realizar uma revisão integrativa dos últimos cinco anos a fim de observar a influência do treinamento de força sobre a qualidade de vida dos pacientes com DPOC.

2. Materiais e Métodos

Este estudo tem como delineamento a revisão de literatura integrativa, sendo este modelo de pesquisa empregado na área da saúde para contribuir na tomada de decisão clínica (WHITTEMORE; KNAFL, 2005).

A revisão é composta por seis etapas, de acordo com o modelo proposto por Mendes, Silveira e Galvão (2008):

  1. Identificação do tema e seleção da hipótese ou questão de pesquisa para a elaboração da revisão integrativa;
  2. Estabelecimento de critérios para inclusão e exclusão de estudos e busca na literatura;
  3. Definição das informações a serem extraídas dos estudos selecionados;
  1. Avaliação dos estudos incluídos na revisão integrativa;
  1. Interpretação dos resultados;
  1. Apresentação da revisão e síntese do conhecimento.

A. Estratégia de busca

A pesquisa eletrônica foi realizada entre dezembro de 2021 e janeiro de 2022, nas bases de dados científicas: Biblioteca Virtual de Saúde (BVS) e Cochrane Library. Para busca e análise dos estudos foram testados e utilizados os descritores em ciências da saúde (DeCs), apresentados na tabela 1, nas línguas inglês e português, combinados com operadores booleanos OR e AND. Foram delimitados os critérios para a busca dos artigos, limitados nos últimos cinco anos, artigos escritos em português e inglês.

Tabela 1. Descritores utilizados em diferentes línguas.

PortuguêsInglês
DescritoresDoença Pulmonar Obstrutiva
Crônica
Qualidade de Vida
Treinamento de força
Pulmonary Disease, Chronic
Obstructive
Quality of Life
Resistance Training

B. Seleção dos estudos

Para a seleção dos artigos foram aplicados os seguintes critérios de elegibilidade:

Critérios de inclusão: foram selecionados artigos com delineamentos de ensaios clínicos controlados randomizados e estudos de coorte. Sobre os participantes foram inseridas amostras de ambos os sexos e diversas faixas etárias submetidas a treinamento.

Critérios de exclusão: estudos que não estavam disponíveis na íntegra, ou que não tinham como ênfase investigar a influência do treinamento de força sobre a qualidade de vida, estudos que não mensuram o grau da carga no treinamento de força e estudos que não utilizavam instrumento para avaliação da qualidade de vida.

A seleção dos estudos ocorreu a partir da plataforma Rayyan, em que envolveu dois revisores para confirmação dos artigos que seriam incluídos e excluídos de acordo com os critérios abordados.

As informações extraídas nos estudos selecionados foram definidas nos seguintes tópicos: autor/ano, tipo de estudo, população estudada, variáveis estudadas, os procedimentos realizados, os instrumentos e principais desfechos e apontamentos dos autores que serão apresentadas em um quadro na parte de resultados.

3. Resultados

De acordo com a estratégia de busca, foram encontrados 98 artigos (40 na BVS e 58 na Cochrane Library), em que após a exclusão das duplicatas resultaram 82 artigos. A seleção dos estudos consistiu em duas etapas: na primeira, foram excluídos os estudos em que o título não condizia com o tema ou a pesquisa abordada nesta seleção, sendo excluídos 55 artigos, e na segunda, foram excluídos do estudo aqueles que não apresentavam o artigo na íntegra ou abrangiam os demais critérios de exclusão. Desta forma, cinco estudos foram incluídos no presente estudo. O processo de seleção pode ser observado no Fluxograma 01.

Fluxograma 01. Seleção dos Estudos para revisão integrativa.

As informações coletadas foram obtidas a partir da leitura na íntegra dos estudos selecionados, os quais abrangem o treinamento de força, em que foi utilizado carga mensurável, e a qualidade de vida dos pacientes com diagnóstico de DPOC em diversos estágios da doença, avaliada a partir de questionários validados, a caracterização dos estudos estão apresentados na Tabela 2.

Tabela 2. Caracterização dos estudos selecionados.

Autor/anoTipo deEstudoAmostra (n)Intervenção
Berry; Shields; Adair, 2018.Coorte11Treinamento de   Força   e   Treinamento   de Resistência.
Barlow et al, 2020.Coorte3223 Programas de Reabilitação Pulmonar (A, B e C). O grupo A realizou rosca bíceps com carga individualizada e progressiva, grupo B realizou extensão de perna com carga individualizada e progressiva e o grupo C utilizou cargas de treinamento auto selecionadas.
Rinaldo et al, 2017.Ensaio Clínico Randomizado28Grupo educação em atividade física (EDU), com exercícios aeróbicas, vs. grupo treinamento de exercício combinado supervisionado (TC), comexercícios aeróbicos e resistidos.
Silva et al, 2018.Ensaio Clínico Randomizado48Controle vs. Tratamento (Adicionado o  treinamento resistido de membros superiores)
Silva et al, 2018.Ensaio Clínico Randomizado48Grupo de treinamento com banda elástica (EBG) vs Grupo de treinamento com tubo elástico (ETG) vs Grupo de treinamento com aparelhosconvencionais de peso (GC).

Os estudos avaliados utilizaram os seguintes instrumentos para avaliação da qualidade de vida dos voluntários dos estudos: SF-36, Chronic Respiratory Questionnaire (CRQ), Clinical COPD Questionnaire (CCQ), Maugeri Respiratory Failure Questionnaire (MRF 26), Saint George Respiratory Disease Questionnaire, COPD Assessment Test (CAT). Além disso, a duração da intervenção foi de no mínimo 7 semanas e no máximo 28 semanas. A maioria dos estudos analisados observaram impactos positivos sobre a QV dos pacientes, sendo que apenas no estudo de Berry, Shields, Adair, (2018), não observou diferença significativa no treinamento de força sobre a QV (p>0,05). Ademais a investigação de Barlow et al. (2020), o programa A e C promoveram melhora 0,1 abaixo do valor considerado clinicamente importante avaliado por meio do CAT (Tabela 3).

Tabela 3. Metodologia e desfechos dos estudos analisados.

Autor/anoInstrumento QVDuração do EstudoResultados
Berry; Shields, Adair, 2018.SF-36 e CRQ12 semanas de treinamento com duração de uma hora, três vezes por semana.Apenas o grupo de resistência apresentou diferença significativa nos questionários de QV e CRQ (p<0,05) e o grupo de força apresentou tendência de melhora (p>0,05).
Barlow et al, 2020.CCQ e CAT7 semanas de treinamento com duração de uma hora, duas vezes por semana.No CAT apenas o programa B apresentou melhora clinicamente importante.Houve aumento da QV, com mudança de 75% da magnitude considerando o nível de melhora clínica importante utilizando oCCQ (p<0,05).
Rinaldo et al, 2017.MRF 2628 semanas de intervenção e14 semanas de acompanhamento (totalizando 42 semanas).Melhora significativa (p<0,05) na QV em ambos os grupos após a intervenção, com retorno aos valores basais (p<0,05) após acompanhamento.
Silva et al, 2018.Saint George Respiratory Disease Questionnaire8 semanas de treinamento, três vezes por semana com duração de 30 a 60 minutos.Melhora significativa na QV no grupo tratamento, com redução de 10% em todos os domínios do Saint George Respiratory DiseaseQuestionnaire.
Silva et al., 2018.CAT12 semanas de intervenção, três vezes por semana com duração de 60 minutos, e 12 semanas de acompanhamento (totalizando 24 semanas).CAT apresentou decréscimo significativo ao longo das três avaliações (p<0,05).No       acompanhamento       pós-intervenção a QV foi mantida, com p<0,05 observada em EBG e ETG.

4. Discussão

Apesar da DPOC ser uma doença primariamente pulmonar, sua progressão gera impactos em outros locais, como o sistema musculoesquelético e nos aspectos psicossociais deste, causando redução na QVRS. Essas condições decorrentes da evolução da doença, afetam o convívio social e familiar do paciente, por isso torna-se necessário o acompanhamento terapêutico por uma equipe multiprofissional (FARIAS; MARTINS, 2013; LOTTERMANN; SOUSA; LIZ, 2017).

Os membros da Sociedade Americana Torácica (ATS) apresentam a RP como uma estratégia multidisciplinar para o tratamento das doenças respiratórias crônicas, a qual consiste em intervenções personalizadas que incluem, mas não se limitam a programas de exercícios estruturados e supervisionados, programas de educação e comportamento, avaliação e medidas de resultado do paciente, além de orientações para a prática de atividade física (ROCHESTER et.al, 2015).

Os diversos programas de RP são importantes para o indivíduo com DPOC, principalmente nos casos mais graves da doença, pois resultam no aumento da tolerância ao exercício, melhora da força muscular periférica e respiratória e atuam também na melhora da QV deste. Dentre estes programas, o exercício físico e o treinamento de força com carga são descritos na literatura como essenciais para a redução dos impactos do descondicionamento físico (SAMPAIO et al., 2017; BARBIRATO, 2019).

Nos estudos analisados, notou-se uma diferença entre o período de intervenção dos pacientes com DPOC, em que Barlow et al. (2020), apresentou um programa com duração de sete semanas e Rinaldo et al. (2017), com 28 semanas de RP. Segundo a GOLD (2022), os benefícios da RP são alcançados com programas de duração de 6 a 8 semanas, com treinamento físico supervisionado por pelo menos duas vezes por semana, em que não há evidências de melhor desempenho em se estender o programa por mais tempo.

Na RP, o treinamento de resistência tem por objetivo melhorar o condicionamento dos músculos da deambulação e a aptidão cardiorrespiratória, permitindo assim, a redução da dispneia e fadiga na realização da atividade física e consequentemente a melhora da tolerância ao esforço e qualidade de vida. Assim, podem ser utilizados treinamentos de alta intensidade, baixa intensidade ou mesmo treinamento intervalado de acordo com o paciente (SPRUIT et al., 2013).

A investigação de Barlow et al. (2020), demonstrou que independente do protocolo utilizado na RP, os pacientes apresentaram melhora na capacidade de exercício e na força no teste de 01 repetição máxima (1RM). Já os resultados encontrados por Silva et al. (2018), mostraram que o treinamento de força causa melhora na capacidade funcional, força muscular periférica e inspiratória.

Por outro lado, Berry, Shields, Adair (2018), mostraram que apenas o programa com treinamento de resistência apresentou melhora significativa da capacidade física dos indivíduos. Este achado concorda com o estudo de Li et al. (2021), que demonstrou que o treino de resistência apresentou maior impacto sobre o aumento da capacidade máxima de exercício quando comparado ao treinamento de força, apesar de ambos terem efeitos positivos.

As investigações de Rinaldo et al. (2017) e Silva et al (2018), evidenciaram um achado relevante, que apesar dos protocolos propostos levarem ao aumento da capacidade de exercício, os parâmetros analisados voltaram aos valores basais após a suspensão dos protocolos. Esse achado sugere a importância da manutenção da RP e da necessidade de orientações quanto a importância do treinamento prolongado, a fim de evitar o descondicionamento físico que aumenta o risco de exacerbação da doença, debilidades ou até mesmo o óbito precoce (FERNANDES, 2009; BARBIRATO, 2019).

Os resultados encontrados nesta revisão mostraram que a RP, relacionada a prática de exercício físico, traz benefícios na saúde global dos pacientes com DPOC, principalmente com relação a sua capacidade funcionais, e que tais achados corroboram com os estudos encontrados na literatura (MANGABEIRA; MACEDO, 2012; LOTTERMANN; SOUSA; LIZ, 2017; WEHRMEISTER et al, 2011; BARBIRATO, 2019; BUENO et al, 2017; FERNANDES, 2009; SAMPAIO et al, 2017).

Sistematicamente, o treinamento físico, em especial nos indivíduos com doenças respiratórias, pode melhorar o metabolismo aeróbico muscular, aumentar a força e resistência muscular, reduzir os níveis de ácido lático, aumentar o volume sistólico e melhorar a função cardíaca. Tais fatores podem explicar a melhora na tolerância ao exercício e, consequentemente, a melhora na qualidade de vida (WANG; CAI, 2022).

A avaliação da QV por meio de questionários validados para os pacientes com DPOC é essencial, pois permite quantificar os efeitos da RP e a sua resposta ao tratamento. Além disso, é importante o conhecimento do instrumento utilizado, visto que apesar de qualquer melhora na QV deste indivíduo seja importante, a avaliação da diferença mínima clinicamente importante evidencia seus efeitos na prática clínica (TEIXEIRA et al, 2014).

Todos os estudos analisados nessa revisão utilizaram questionários validados para mensurar a QV após a RP, em que apenas Berry; Shields; Adair (2018), utilizou um instrumento genérico para essa avaliação, o SF-36. Este por sua vez é constituído por 36 itens e avalia oito dimensões de saúde, como o desempenho físico, emocional e mental, sendo que quanto mais alta a pontuação melhor o indicativo para a QV (LIMA et al, 2020).

Outro instrumento utilizado por Berry; Shields; Adair (2018), foi o CRQ, sendo mais específico para avaliação dos pacientes com DPOC e tem como objetivo analisar mudanças a longo prazo, além de identificar mudanças na gravidade após tratamento de emergência por exacerbações. Possui 20 itens e quatro domínios: dispneia, fadiga, emoção e domínio, sendo que valores mais altos indicam melhor QVRS (CARNEIRO et al, 2018).

O CAT foi utilizado em dois estudos: por Barlow, et al. (2020), e por Silva, et al. (2018), o qual consiste em um questionário autoaplicável, curto e simples para a avaliação e monitorização o acompanhamento a longo prazo dos pacientes com DPOC. É composto de 8 itens, em uma escala de 06 pontos, com uma mudança clinicamente importante de 02 pontos, em que escores mais altos apresentam piores estados de saúde (CARNEIRO et al., 2018).

Já o segundo questionário utilizado por Barlow, et al. (2020), o CCQ é autoaplicável e apresenta 10 itens para a avaliação da QV nos pacientes com DPOC, em que pontuações mais altas indicam pior qualidade de vida, e uma diminuição de pontuação de 0,4 ou mais é considerada clinicamente significativa. Segundo Carneiro, et al. (2018), também pode ser utilizado para avaliação desses indivíduos que estejam tentando parar de fumar, o qual detecta diariamente os estados leves a graves da doença, a partir da medida dos sintomas e capacidades mentais e funcionais.

O MRF-26, questionário utilizado por Rinaldo, et al. (2017), utiliza 26 itens para avaliação da atividade diária, função cognitiva e invalidez nos pacientes com DPOC, em que pontuações mais altas indicam pior estado de saúde deste paciente. Já o Saint George Respiratory Questionnaire, utilizado por Santos et al. (2018), é considerado o padrão ouro para avaliação da QV, sendo este de fácil aplicação e dividido em três domínios: sintomas, atividades e impactos psicossociais, em que a pontuação varia de 0 a 75 pontos e valor >10% em cada domínio refletem melhora (TEIXEIRA et al., 2014; CARNEIRO et al., 2018).

Como visto, todos os estudos observaram impactos positivos sobre a QV dos pacientes após treinamento de força, sendo que apenas no estudo de Berry; Shields; Adair, (2018) não houve diferença significativa (p<0,05) em ambos os questionários avaliados, SF-36 e CRQ, e somente o grupo treinamento resistido apresentou melhora significativa. Este resultado, segundo os autores do trabalho, pode estar relacionado a pequena amostra do estudo.

No trabalho de Barlow et al. (2020), seus resultados mostraram melhora significativa no CCQ em todos os programas, no entanto, pelo CAT apenas o programa B apresentou melhora clinicamente significativa. Este achado pode ser explicado pela melhora da força do quadríceps, visto que estudo prévio demonstrou correlação negativa entre o estado clínico e a força muscular de quadríceps (SANTOS et al., 2015).

Algumas limitações merecem ser citadas no presente estudo, como a não utilização de um instrumento para análise da qualidade dos artigos e a não inclusão de outros idiomas.

5. Conclusão

Os resultados encontrados por esta revisão mostraram que o treinamento de força, como estratégia de exercício no RP para os pacientes com DPOC, traz benefícios sobre a qualidade de vida destes indivíduos. Portanto, programas de RP devem incluir esta modalidade de exercício físico visando a melhora global da saúde do indivíduo.

Referências

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¹ Discente do curso de Fisioterapia da Universidade Federal de Jataí, Jataí, Goiás, Brasil. E-mail: barbarapcorveloni@antonio
² Discente do curso de Pós-graduação em Ciências Aplicadas à Saúde da Universidade Federal de Jataí, Jataí, Goiás, Brasil.
² Doutora, docente do curso de Fisioterapia da Universidade Federal de Jataí, Jataí, Goiás, Brasil.