REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/ar10202505310839
Camille Nascimento Lopes¹
Camilla Cardoso Barros²
Alline Jesuino de Oliveira³
RESUMO
A cárie dentária precoce é uma das doenças crônicas mais prevalentes na infância, representando um sério problema de saúde pública por comprometer o bem-estar e o desenvolvimento das crianças. Em bebês, a condição pode surgir de forma acelerada, afetando a dentição decídua e ocasionando dor, dificuldades alimentares, prejuízos na fala e necessidade de intervenções odontológicas precoces. Diante desse cenário, este estudo teve como objetivo analisar, por meio de uma revisão integrativa da literatura, como o consumo de açúcar, o uso de medicamentos açucarados e os hábitos de higiene oral influenciam a prevalência de cárie em bebês. A metodologia envolveu a busca de artigos nas bases SciELO, PubMed, LILACS e Google Scholar, utilizando os descritores “cárie dentária”, “educação em saúde”, “fatores de risco” e “higiene bucal”. Foram incluídos estudos publicados entre 2019 e 2025, nos idiomas português e inglês, com recorte em crianças de 0 a 3 anos. Os resultados evidenciaram que a combinação de dieta rica em açúcares, uso frequente de medicamentos líquidos com sacarose e ausência de práticas de higiene oral adequadas contribui significativamente para o surgimento da cárie precoce. A discussão apontou que esses fatores atuam de forma interdependente, exigindo uma abordagem multidisciplinar para ações preventivas e educativas junto às famílias e cuidadores. Conclui-se que a prevenção da cárie em bebês depende de estratégias integradas de saúde pública, com foco na orientação familiar, na capacitação profissional e na articulação entre diferentes áreas da atenção primária para promover saúde bucal desde os primeiros meses de vida.
Palavras-chave: Cárie Dentária; Educação em Saúde; Fatores de Risco; Higiene Bucal.
INTRODUÇÃO
A cárie dentária é considerada uma das doenças crônicas mais comuns na infância, sendo um problema de saúde pública que afeta significativamente a qualidade de vida das crianças e de suas famílias. A chamada cárie precoce na infância, que acomete crianças com menos de três anos, pode comprometer a dentição decídua, gerar dor, desconforto, dificuldade de alimentação, prejuízo no desenvolvimento da fala e até necessidade de intervenções invasivas. Embora seja uma condição evitável, diversos fatores comportamentais, dietéticos e ambientais contribuem para sua ocorrência e agravamento, sobretudo nos primeiros anos de vida (Mendonça; Parente; Neves, 2023).
Entre os principais fatores de risco associados à cárie em bebês, destacam-se o consumo frequente de alimentos e bebidas açucaradas, o uso contínuo de medicamentos pediátricos com adição de açúcar e a ausência ou inadequação dos cuidados com a higiene oral. A introdução precoce e frequente de açúcares na dieta da criança, muitas vezes, associada à falta de orientação dos cuidadores, cria um ambiente favorável ao desenvolvimento de micro-organismos cariogênicos. Da mesma forma, medicamentos líquidos adocicados, administrados sem o devido cuidado com a limpeza da cavidade oral, intensificam esse risco. Ademais, a escassez de práticas preventivas adequadas, como a higienização da boca desde os primeiros meses de vida, agrava ainda mais o quadro (Amarante; Gonçalves, 2024).
A vulnerabilidade dos dentes decíduos, aliada à imaturidade do sistema imunológico dos bebês e à dependência dos cuidadores para a realização da higiene oral, faz com que essa população seja ainda mais suscetível à cárie. O acúmulo de placa bacteriana, resultante da falta de escovação adequada, potencializa os efeitos nocivos dos açúcares fermentáveis presentes na dieta e nos medicamentos, acelerando o processo de desmineralização do esmalte dentário. Esse cenário é agravado por práticas culturais e hábitos consolidados no seio familiar, como o compartilhamento de utensílios, a oferta de mamadeiras com conteúdo açucarado antes de dormir e o desconhecimento sobre a necessidade de cuidados com a saúde bucal mesmo antes da erupção dos primeiros dentes (Santos et al., 2023).
Além disso, a ausência de políticas públicas eficazes voltadas para a educação em saúde bucal na primeira infância e a pouca articulação entre os profissionais da atenção primária em saúde contribuem para a manutenção de um panorama preocupante. A carência de ações intersetoriais, campanhas educativas e capacitação dos cuidadores impede a identificação precoce de comportamentos de risco, dificultando a adoção de medidas preventivas eficazes. Assim, torna-se imprescindível o desenvolvimento de estratégias integradas, que envolvam diferentes áreas da saúde e que contemplem o contexto familiar e social no qual a criança está inserida, a fim de minimizar a incidência de cárie dentária nos primeiros anos de vida (Negreiros Júnior; Oliveira; Farias, 2024).
A escolha por estudar essa temática se justifica pela necessidade urgente de ações preventivas e de promoção da saúde bucal infantil desde os primeiros anos de vida. A análise integrada desses fatores permite compreender como interagem entre si, reforçando a importância de uma abordagem multidisciplinar envolvendo profissionais da odontologia, pediatria, enfermagem e nutrição. A educação em saúde direcionada às famílias e cuidadores é essencial para reduzir a prevalência de cárie precoce e promover um desenvolvimento mais saudável e livre de agravos orais.
Dessa forma, este estudo tem como objetivo analisar, por meio de uma revisão integrativa da literatura, como o consumo de açúcar, o uso de medicamentos açucarados e os hábitos de higiene oral influenciam, de forma isolada e interativa, a prevalência de cárie dentária em bebês.
METODOLOGIA
Este estudo trata-se de uma revisão integrativa da literatura, uma metodologia que permite a síntese de resultados de pesquisas anteriores sobre um determinado tema, com o objetivo de reunir e analisar criticamente os conhecimentos produzidos, oferecendo subsídios para a prática baseada em evidências. A revisão integrativa possibilita a incorporação de estudos com diferentes abordagens metodológicas, proporcionando uma compreensão ampla sobre o fenômeno investigado (Sousa; Bezerra; Egypto, 2023).
A questão norteadora que guiou a elaboração desta revisão foi: “Como o consumo de açúcar, o uso de medicamentos açucarados e os hábitos de higiene oral influenciam a prevalência de cárie em bebês?”.
A busca pelos estudos foi realizada nas seguintes bases de dados eletrônicas: Scientific Electronic Library Online (SciELO), PubMed, Literatura Latino-Americana e do Caribe em Ciências da Saúde (LILACS) e Google Scholar. Para a estratégia de busca, foram utilizados os descritores controlados e não controlados, combinados por meio dos operadores booleanos “AND” e “OR”, conforme a necessidade de cada base. As palavras-chave utilizadas foram: “Cárie Dentária”, “Educação em Saúde”, “Fatores de Risco” e “Higiene Bucal”.
Foram adotados os seguintes critérios de inclusão: artigos disponíveis na íntegra, publicados em português ou inglês, no período de 2019 a 2025; estudos com recorte populacional em crianças de 0 a 3 anos de idade; pesquisas que abordassem, de forma direta, pelo menos um dos fatores de risco em questão, açúcar, medicamentos ou higiene oral, relacionados à cárie dentária; e publicações com metodologia qualitativa, quantitativa ou mista.
Os critérios de exclusão compreenderam: estudos duplicados, revisões que não apresentassem resultados originais, artigos de opinião, editoriais, além de estudos que não respondessem à questão norteadora ou não tivessem relação com a temática específica desta revisão.
ASSOCIAÇÃO ENTRE O CONSUMO DE AÇÚCAR E O DESENVOLVIMENTO DE CÁRIE DENTÁRIA EM BEBÊS
O consumo frequente de açúcar apresenta associação significativa com o desenvolvimento de cárie dentária em bebês. A introdução precoce de alimentos e bebidas açucaradas, como fórmulas infantis adoçadas, sucos artificiais, chás adoçados e produtos ultraprocessados, tem se mostrado um fator de risco determinante para a ocorrência da cárie precoce da infância. Essa condição caracteriza-se pelo surgimento de lesões cariosas em dentes decíduos nos primeiros anos de vida, podendo causar prejuízos significativos à saúde bucal, à nutrição e ao bem-estar da criança. A vulnerabilidade dentária nesta faixa etária está relacionada não apenas à imaturidade do esmalte dos dentes decíduos, mas também aos hábitos alimentares e de higiene oral ainda em formação (Amarante; Gonçalves, 2024).
O açúcar presente na dieta atua como substrato para microrganismos cariogênicos, como o Streptococcus mutans e o Lactobacillus spp., que metabolizam esse açúcar e produzem ácidos orgânicos capazes de reduzir o pH bucal. Esse ambiente ácido favorece a desmineralização do esmalte dentário, especialmente, quando a exposição ao açúcar é frequente e prolongada. Diferentemente do que se possa imaginar, não é apenas a quantidade total de açúcar ingerida que influencia no risco de cárie, mas, principalmente, a frequência com que ele é consumido ao longo do dia. Bebidas açucaradas oferecidas em mamadeiras ou copos durante a noite são particularmente prejudiciais, pois a salivação é reduzida durante o sono, dificultando a neutralização dos ácidos e a remoção dos resíduos alimentares (Mendonça; Parente; Neves, 2023).
A introdução de alimentos ricos em açúcar na dieta do bebê frequentemente ocorre antes dos dois anos de idade, contrariando as diretrizes de instituições como a Organização Mundial da Saúde (OMS) e o Ministério da Saúde do Brasil, que recomendam evitar o açúcar até os 24 meses. Essa antecipação alimentar, muitas vezes motivada por desconhecimento, tradições culturais ou influência de campanhas publicitárias, contribui para a colonização precoce da cavidade bucal por bactérias patogênicas e para a instalação de hábitos alimentares inadequados, que podem perdurar por toda a infância e vida adulta (Paula et al., 2019).
Ademais, o consumo de açúcar na primeira infância está, frequentemente, associado a outros fatores comportamentais e socioeconômicos, como baixa escolaridade dos responsáveis, falta de acesso a informações sobre alimentação saudável e ausência de acompanhamento odontológico precoce. Famílias de baixa renda, em especial, estão mais expostas à oferta de alimentos ultraprocessados com alto teor de açúcar, muitas vezes, por serem mais acessíveis economicamente, apesar de nutricionalmente pobres (Fonseca et al., 2023).
Neste contexto, a cárie dentária em bebês não pode ser considerada apenas como uma consequência de práticas alimentares isoladas, mas sim como um reflexo de um conjunto de fatores que envolvem educação em saúde, condições sociais e políticas públicas de orientação nutricional e promoção de saúde bucal. A prevenção, portanto, deve começar antes mesmo da erupção dos primeiros dentes, com ações voltadas para a educação alimentar dos pais e cuidadores, o incentivo ao aleitamento materno exclusivo até os seis meses e a introdução de alimentos naturais, livres de açúcares adicionados, de forma gradual e consciente (Santos et al., 2023).
É imprescindível, ainda, que profissionais da saúde, incluindo pediatras, odontopediatras, enfermeiros e agentes comunitários, atuem de forma integrada na orientação precoce das famílias, fornecendo informações claras sobre os riscos do açúcar para a saúde bucal infantil e promovendo intervenções educativas eficazes. O estímulo à criação de políticas públicas que limitem a publicidade de produtos açucarados voltados ao público infantil e que incentivem a rotulagem clara dos alimentos também se apresenta como uma estratégia relevante no enfrentamento da cárie na primeira infância (Negreiros Júnior; Oliveira; Farias, 2024).
IMPACTO DO USO DE MEDICAMENTOS PEDIÁTRICOS AÇUCARADOS NA SAÚDE BUCAL INFANTIL
O impacto do uso de medicamentos pediátricos adoçados na saúde bucal infantil é um tema frequentemente discutido em pesquisas odontológicas, especialmente, devido ao aumento na prevalência de cáries dentárias em bebês e crianças pequenas. Muitos medicamentos indicados para tratamentos comuns, como resfriados, febre e dor, são formulados com açúcar para melhorar o sabor e facilitar a aceitação pelas crianças. No entanto, esses medicamentos adoçados têm o potencial de causar sérios danos à saúde bucal infantil, uma vez que o açúcar presente neles serve como substrato para as bactérias presentes na cavidade bucal, favorecendo a produção de ácidos que desmineralizam o esmalte dentário (Santos et al., 2023).
A relação entre o uso de medicamentos adoçados e a cárie é particularmente preocupante quando se considera o momento em que esses medicamentos são administrados. Quando os medicamentos são dados antes do sono, as consequências para a saúde bucal podem ser ainda mais graves. Durante o sono, a produção de saliva diminui substancialmente, o que limita a capacidade do corpo de neutralizar os ácidos gerados pelas bactérias cariogênicas. Sem a proteção natural da saliva, os açúcares presentes no medicamento podem permanecer em contato prolongado com os dentes, aumentando a chance de desenvolvimento de cáries, especialmente nas superfícies dentárias das crianças mais novas, cujos dentes ainda estão em processo de mineralização (Amarante; Gonçalves, 2024).
O consumo contínuo e não supervisionado de medicamentos com alto teor de açúcar, sem a devida higiene bucal após a administração, é um dos principais fatores de risco para o desenvolvimento de cáries dentárias precoces em bebês e crianças pequenas. O fato de muitos desses medicamentos serem ministrados com frequência, devido à necessidade de tratar condições como resfriados, febres ou distúrbios digestivos, contribui para a exposição repetida dos dentes ao açúcar. A combinação dessa exposição com a falta de escovação dental regular pode criar um ambiente ideal para a proliferação das bactérias Streptococcus mutans, um microorganismo associado à formação de cáries dentárias, acelerando o processo de desmineralização dental (Mendonça; Parente; Neves, 2023).
Além disso, crianças com doenças crônicas, como asma, alergias ou problemas respiratórios, que, frequentemente, requerem o uso de medicamentos adoçados por longos períodos, estão em maior risco de sofrer com cáries dentárias precoces. Em muitos casos, a administração de medicamentos ocorre em momentos em que a criança está mais vulnerável, como à noite, sem o devido cuidado com a higiene oral posterior. Isso contribui para o agravamento do problema, uma vez que a constante exposição ao açúcar não é acompanhada pela prática de medidas preventivas adequadas, como a escovação dos dentes (Paula et al., 2019).
É importante destacar que a relação entre o uso de medicamentos adoçados e a cárie dentária não se limita apenas ao consumo de xaropes ou suspensões. Outros medicamentos em forma líquida, como vitaminas e remédios para refluxo, também frequentemente contêm açúcares. Muitos pais, por não perceberem o risco potencial desses produtos, acabam administrando-os sem considerar o impacto na saúde bucal da criança. A falta de conscientização sobre a importância de uma higiene bucal adequada após a ingestão desses medicamentos é um dos principais fatores que contribui para o aumento da prevalência de cáries em bebês e crianças pequenas (Negreiros Júnior; Oliveira; Farias, 2024).
A prevenção do impacto dos medicamentos adoçados na saúde bucal infantil deve envolver uma abordagem educacional tanto para os pais quanto para os profissionais de saúde. Informar os pais sobre os riscos do consumo de medicamentos adoçados e orientá-los sobre a importância de escovar os dentes da criança após a administração desses medicamentos são passos essenciais para evitar o desenvolvimento de cáries. Ademais, os profissionais de saúde, como médicos pediatras, devem ser orientados a considerar alternativas sem açúcar para o tratamento de doenças comuns e a promover a conscientização sobre a importância da higiene bucal desde os primeiros anos de vida (Fonseca et al., 2023).
IMPORTÂNCIA DOS HÁBITOS DE HIGIENE ORAL NA PREVENÇÃO DA CÁRIE EM LACTENTES
A higiene oral desde os primeiros meses de vida é um aspecto fundamental para a prevenção da cárie dentária em lactentes. A boca do bebê, mesmo sem dentes, pode ser colonizada por bactérias que, quando não eliminadas, acabam favorecendo a formação de placas bacterianas. Essas placas, se não removidas, geram os ácidos que desmineralizam o esmalte dentário e iniciam o processo de cárie assim que os dentes começam a nascer. Nesse contexto, a limpeza das gengivas, realizada com um pano limpo e umedecido, é uma prática simples, mas extremamente eficaz. Ao adotar esse cuidado desde os primeiros dias de vida, os pais ajudam a manter a boca do bebê livre de resíduos alimentares e de bactérias, criando um ambiente mais saudável que, no futuro, reduzirá os riscos de cáries e outras doenças bucais (Mendonça; Parente; Neves, 2023).
Quando os primeiros dentes começam a aparecer, a necessidade de cuidados mais específicos aumenta. A escovação dos dentes é um passo fundamental que deve ser iniciado assim que o bebê tiver dentes visíveis. Nesse estágio, é importante que os pais ou responsáveis usem uma escova de dentes com cerdas macias e adequadas para a idade do bebê. A quantidade de creme dental fluoretado deve ser mínima, geralmente uma quantidade do tamanho de um grão de arroz, para garantir a eficácia do flúor sem o risco de ingestão excessiva. O flúor, além de fortalecer o esmalte dentário, tem propriedades que ajudam a remineralizar as áreas do esmalte que possam já estar sofrendo algum tipo de desgaste devido ao impacto ácido das bactérias. A escovação diária, ao menos duas vezes ao dia, é essencial para garantir que os dentes sejam mantidos livres de placas e restos alimentares, criando uma barreira de proteção contra a cárie (Santos et al., 2023).
Além da escovação, o uso adequado de creme dental fluoretado é crucial para a prevenção de cáries em lactentes. Muitos pais ainda têm dúvidas sobre a necessidade do flúor na higiene bucal das crianças pequenas, por medo de que o bebê possa engolir o creme dental. No entanto, as evidências científicas demonstram que o flúor, quando utilizado corretamente, é uma das formas mais eficazes de prevenir a cárie, mesmo em crianças muito pequenas. A quantidade mínima recomendada e o uso da escova para garantir que o bebê aprenda a escovar corretamente são orientações que os pais devem seguir rigorosamente. A educação preventiva é, portanto, um pilar para o sucesso do cuidado bucal infantil (Paula et al., 2019).
O papel dos pais e responsáveis na criação de bons hábitos de higiene oral não pode ser subestimado. A educação sobre a importância da saúde bucal desde a gestação, por meio de orientações médicas e de enfermeiros, deve ser incentivada, para que os pais compreendam a relevância de adotar hábitos saudáveis desde o nascimento do bebê. Além da escovação, é importante que os responsáveis sejam instruídos sobre a importância da alimentação saudável e a redução de alimentos e bebidas açucaradas, que são fatores de risco conhecidos para o desenvolvimento da cárie precoce. O consumo de açúcar, especialmente de sucos artificiais e fórmulas infantis adoçadas, deve ser monitorado com rigor, visto que esses alimentos contribuem para o aumento da carga bacteriana na boca do bebê (Amarante; Gonçalves, 2024).
Ademais, é essencial que os pais saibam da importância de levar seus filhos ao dentista logo após o surgimento dos primeiros dentes, mesmo que ainda não haja queixa de dor ou sinais evidentes de cárie. A visita à odontopediatra permite que os pais recebam orientações especializadas sobre a saúde bucal do bebê e que o profissional faça uma avaliação precoce, identificando possíveis problemas de maneira preventiva. Isso facilita a detecção precoce de quaisquer anomalias, como o desvio no alinhamento dos dentes, a presença de cáries iniciais ou outras condições que possam prejudicar o desenvolvimento bucal da criança (Negreiros Júnior; Oliveira; Farias, 2024).
A criação de um ambiente familiar saudável em termos de hábitos de higiene bucal também envolve a participação ativa dos pais nas rotinas diárias. Eles são modelos para os filhos, e é importante que as crianças vejam os pais se escovando e praticando bons hábitos de higiene bucal. Essa prática não apenas ensina, mas também motiva o bebê a seguir os mesmos comportamentos à medida que cresce. Portanto, a educação em saúde bucal não deve se limitar apenas à ação de limpar os dentes ou gengivas, mas deve incluir uma abordagem ampla que envolva a conscientização sobre alimentação saudável, o controle do consumo de açúcar e a importância da visita regular ao dentista (Fonseca et al., 2023).
INTERAÇÃO ENTRE FATORES DE RISCO: ABORDAGEM INTEGRADA DA ETIOLOGIA DA CÁRIE PRECOCE
A interação entre o consumo de açúcar, o uso de medicamentos açucarados e os hábitos de higiene oral é um conjunto de fatores que, quando não geridos de forma adequada, podem ter um impacto significativo na saúde bucal dos bebês. O consumo excessivo de açúcar, um dos principais fatores de risco para o desenvolvimento de cáries, cria condições ideais para o crescimento de micro-organismos patogênicos na cavidade bucal. Durante o processo de alimentação, as bactérias presentes na boca metabolizam os açúcares, produzindo ácidos que desmineralizam o esmalte dentário. No caso dos bebês, que estão em uma fase de desenvolvimento em que os dentes ainda estão nascendo, esse processo pode ser mais devastador. A ingestão frequente de alimentos e bebidas açucaradas, como sucos, fórmulas lácteas adoçadas e, em alguns casos, a oferta de doces ainda na infância, aumenta consideravelmente o risco de cáries, favorecendo a formação de placas bacterianas e a progressão da doença (Amarante; Gonçalves, 2024).
O uso de medicamentos pediátricos com alto conteúdo de açúcar, especialmente os xaropes e suspensões, também exerce um papel relevante nesse processo. Embora esses medicamentos sejam necessários em várias condições de saúde, como no tratamento de infecções, muitas vezes eles são administrados de forma inadequada, sem a devida orientação sobre a importância da higiene oral após o uso. Em muitos casos, esses medicamentos são dados ao bebê antes de dormir, quando a produção de saliva diminui, o que facilita a permanência dos açúcares na boca por períodos prolongados. Esse ambiente prolongado de alta concentração de açúcares proporciona um cenário favorável para o crescimento de bactérias cariogênicas, aumentando o risco de cárie dentária. A falta de uma higiene oral adequada após o uso desses medicamentos contribui significativamente para o aumento da prevalência de cáries em bebês (Paula et al., 2019).
A higiene oral, quando realizada corretamente desde o nascimento, pode atuar como um fator protetor essencial contra o desenvolvimento de cáries. A prática de limpar as gengivas do bebê, ainda antes do surgimento dos dentes, é uma medida preventiva que impede o acúmulo de resíduos alimentares e de placas bacterianas. A introdução da escovação dos dentes logo após o nascimento do primeiro dente é crucial, pois remove as partículas alimentares que se acumulam na superfície dental e previne o início de processos cariogênicos. Contudo, é importante destacar que a eficácia desses cuidados depende da educação dos pais ou responsáveis, que, muitas vezes, não têm o conhecimento necessário sobre as melhores práticas de higiene bucal infantil. A escovação inadequada, o uso de escovas de dentes inapropriadas ou a negligência na limpeza da boca do bebê após a ingestão de alimentos e medicamentos podem comprometer os resultados da prevenção (Negreiros Júnior; Oliveira; Farias, 2024).
A interação entre o consumo de açúcar, o uso de medicamentos açucarados e os hábitos de higiene oral não é um processo isolado, mas sim uma combinação de fatores que se influenciam mutuamente, criando um ciclo contínuo de risco. Cada um desses fatores pode, isoladamente, aumentar a probabilidade de desenvolvimento de cáries, mas sua interação potencializa o problema. O consumo frequente de açúcar favorece a proliferação de bactérias cariogênicas, enquanto o uso de medicamentos açucarados mantém essas bactérias em um ambiente favorável à sua multiplicação. Ao mesmo tempo, a falta de cuidados adequados com a higiene oral não só agrava a situação, como também impede que o organismo do bebê se defenda de forma eficaz contra esses agentes patológicos (Mendonça; Parente; Neves, 2023).
A importância de uma abordagem integrada e multidisciplinar para a prevenção da cárie precoce é evidente. Para enfrentar esse problema de saúde pública, é essencial que haja uma colaboração entre profissionais de diversas áreas, como pediatras, dentistas, nutricionistas e enfermeiros. Esses profissionais devem trabalhar juntos para fornecer orientações claras e contínuas aos pais e responsáveis sobre a importância de uma dieta balanceada, a utilização de medicamentos sem açúcar sempre que possível, e a implementação de práticas adequadas de higiene oral. Além disso, programas de educação em saúde bucal direcionados a gestantes, mães e cuidadores são fundamentais para garantir que os cuidados bucais comecem de forma precoce e eficaz. A conscientização e o treinamento adequado dos pais podem ser determinantes na redução da prevalência de cáries em bebês, prevenindo complicações futuras que poderiam impactar o desenvolvimento da criança e sua saúde geral (Santos et al., 2023).
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Com base nos achados da presente revisão, é possível concluir que a cárie precoce em bebês resulta da interação de múltiplos fatores de risco, entre os quais se destacam o consumo excessivo de açúcar, o uso prolongado de medicamentos adocicados e a negligência ou inadequação dos hábitos de higiene oral. A ausência de práticas preventivas eficazes nos primeiros anos de vida, somada à falta de orientação adequada aos pais e cuidadores, contribui significativamente para o aumento da prevalência dessa condição. A literatura analisada reforça a necessidade de reconhecimento precoce desses fatores de risco como um passo fundamental para o controle e prevenção da cárie dentária infantil.
Dessa forma, evidencia-se a importância de uma abordagem multidisciplinar na promoção da saúde bucal dos bebês, envolvendo não apenas profissionais da odontologia, mas também da pediatria, enfermagem, nutrição e educação. Estratégias educativas voltadas às famílias, ações de saúde pública e programas intersetoriais devem ser fortalecidos para garantir o acesso à informação, à prevenção e ao cuidado contínuo. Investir na saúde bucal desde os primeiros meses de vida é uma medida essencial para promover o bem-estar da criança, prevenir agravos futuros e reduzir os impactos sociais e econômicos causados por problemas bucais na infância.
REFERÊNCIAS
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MENDONÇA, A. L. F.; PARENTE, I. S. S.; NEVES, A. C. D. Influence of sugar consumption, medication use and oral hygiene on the prevalence of caries in children. Revista FT. v. 27, ed. 128, 2023.
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PAULA, B. A.; FREIRE-MAIA, J.; MARTINS-JÚNIOR, P. A.; FREIRE-MAIA, F. B. Introdução precoce da sacarose está associada à presença de cárie dentária em bebês. Arq Odontol. v. 55, e12, p. 1-7, 2019.
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SOUSA, M. N. A.; BEZERRA, A. L. D.; EGYPTO, I. A. S. Navigating the path of knowledge: the integrative review method for analysis ans synthesis of scientific literature. Revista Observatorio de la Economia Latinoamericana. v. 21, n. 10, p. 18448-18483, 2023.
¹Acadêmica de Odontologia; Unitpac; E-mail: nascimentolopescamille@gmail.com;
²Acadêmica de Odontologia; Unitpac; E-mail: camilla007_@hotmail.com;
³Graduada em Odontologia pelo Centro Universitário de Anápolis – UniEVANGÉLICA; Doutora em Odontopediatria pela Universidade Cruzeiro do Sul, São Paulo – SP; Docente do Curso de Odontologia da Unitpac; E-mail: allinej@uol.com.br.