INFLUENCE OF SOCIAL MEDIA ON EATING DISORDERS IN ADOLESCENCE
REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/fa10202411032257
Letícia Bezerra de Freitas1,
Orientadora: Francisca Marta Nascimento de Oliveira Freitas2,
Ana Rita Gaia Machado3
RESUMO
O presente artigo evidencia a influência das mídias sociais na vida dos adolescentes e sua correlação com o desenvolvimento de transtornos alimentares, tendo como propósito a conscientização do leitor para que compreenda a importância do tema, bem como as formas de prevenção e a perspectiva do adolescente frente aos padrões estéticos impostos pela globalização. Por isso, o objetivo geral deste artigo é avaliar a influência das mídias sociais na adolescência sobre a percepção distorcida do corpo e insatisfação. A pesquisa foi desenvolvida através do uso de um método de revisão bibliográfica. Os resultados apresentados mostraram que as mídias sociais se tornarem um mecanismo catalisador de transtornos alimentares na adolescência, tendo influência em distorção de imagens e comparações feitas com outros usuários das mídias. No entanto, o estudo conclui-se que é necessário que mais pesquisas sobre essa relação sejam desenvolvidas para que haja maior compreensão sobre essa associação e o mecanismo de influência na saúde mental e nutricional dos adolescentes.
Palavras-chave: Transtornos alimentares; Influência das mídias socias; Adolescência.
ABSTRACT
This article highlights the influence of social media on the lives of adolescents and its correlation with the development of eating disorders, with the purpose of raising awareness among readers so that they understand the importance of this topic, as well as the forms of prevention and the perspective of adolescents regarding the aesthetic standards imposed by globalization. Therefore, the general objective of this article is to evaluate the influence of social media in adolescence on distorted body perception and dissatisfaction. The research was developed through the use of a literature review method. The results presented showed that social media has become a catalyst for eating disorders in adolescence, influencing image distortion and comparisons made with other media users. However, the study concludes that more research on this relationship is needed to achieve a greater understanding of this association and the mechanism of influence on the mental and nutritional health of adolescents.
Keywords: Eating disorders; Influence of social media; Adolescence.
1 INTRODUÇÃO
É notável que nos últimos anos houve um aumento exponencial no processo de globalização, e isso deve-se à facilidade de obtenção de informações por meio de sites, blogs, rede sociais como Youtube, Instagram, Facebook e Tik Tok, televisão, propagandas publicitárias e outras formas que compõe as chamadas mídias sociais (Hohlfeldt; Martino; França, 2001).
O comportamento alimentar faz parte das áreas que recebem bastante influência, onde muitas pessoas, principalmente adolescentes, se tornam adeptas do estilo de vida de influenciadores digitais (Rosen; Neumark-Sztainer, 1998). Sabe-se que os adolescentes estão em processo de mudanças físicas e emocionais, no que muitas vezes enfrentam dificuldades canônicas da fase de desenvolvimento para a vida adulta que podem gerar dificuldade de aceitação própria, tornando-os o grupo mais vulnerável e influenciável (Weinberg, 2019).
Quanto à influência das mídias sociais dirigidas exclusivamente à saúde mental do adolescente e seu convívio social, denota-se o aumento de quadro depressivo entre os jovens nos últimos anos, isto porque nos dias de hoje, estas mídias possuem papel fundamental na formação comportamental do adolescente, que se inspira em modelos de vida (Del Ciampo, 2010) e, por não se considerarem à “altura” destes modelos acabam se frustrando e tendo sua saúde mental e suas relações sociais comprometidas (Vassalo, 2012).
Ocorre que muito destes conteúdos obtidos não correspondem com a realidade, mas sim transmitem uma visão pessoal e frequentemente distorcida que, somada à pressão social pela busca da estética perfeita, resultam em impactos negativos como o desencadeamento de transtornos alimentares (Lofrano-Prado et al., 2011). Além das consequências negativas para a saúde física, percebe-se também prejuízo à saúde mental e à convivência social do adolescente, estando ambas diretamente ligadas e sendo decorrentes da falta de autopercepção corporal, que é fator determinante na formação de identidade (Valença; Germano, 2009).
Os transtornos alimentares possuem diversas causas, como fatores genéticos e biológicos (Duchesne, 2001), no entanto, sob o ponto de vista de transtornos desenvolvidos a partir de influência externa, merecem destaque a anorexia nervosa (AN) e a bulimia nervosa (BN), pois apesar de terem como característica problemas psicológicos, também se verifica a presença de problemas socioculturais (Coelho; Russo, 2020).
A anorexia nervosa (AN) é caracterizada pela distorção de imagem de si mesmo, onde o indivíduo desenvolve um distúrbio alimentar no qual busca constantemente o emagrecimento, mesmo quando já se encontra abaixo do peso (Castilho, 2001). Por outro lado, a bulimia nervosa é o transtorno alimentar compulsivo cuja característica é a ingestão excessiva de alimentos seguida de práticas compensatórias para reversão do excesso (Fairburn, 1995).
O objetivo desta pesquisa é avaliar a influência das mídias sociais na adolescência sobre a percepção distorcida do corpo e insatisfação, abordar a influência das mídias sociais no desenvolvimento de transtornos alimentares na adolescência, conscientizar o leitor sobre os transtornos alimentares em adolescentes e evidenciar estratégias para reduzir o impacto das mídias sociais na saúde do adolescente.
2 METODOLOGIA
2.1 Tipo de estudo
O presente estudo trata-se de uma pesquisa exploratória com abordagem de revisão de literatura.
2.2 Coleta de dados
Para o levantamento de dados foram selecionados estudos relacionados a transtornos alimentares, influência das mídias sociais nos adolescentes, percepção e insatisfação corporal do adolescente, puberdade e seus impactos sociais e psicológicos.
Por meio de consultas em base de dados de Periódicos CAPES, Pub Med, Google Acadêmico e Scientific Electronic Library Online (SciELO). Os critérios de elegibilidade utilizados para seleção dos dados foram: data de publicação mínima de 2015, estudo com idioma português e inglês, pesquisas que apresentaram resultados relevantes. Já os critérios de inelegibilidade utilizados foram: estudos não disponíveis de forma integral; estudos com necessidades de pagamento para liberação da leitura; resumos e resenhas de livros e pesquisas não publicadas de forma oficial.
2.3 Análise de dados Os dados analisados foram selecionados a partir de três pontos de vista, sendo eles: ponto de vista social, na qual foi observada a pressão imposta pela sociedade como fator determinante para o desenvolvimento de TA, uma vez que estipula padrões de beleza; ponto de vista biológico, onde são abordadas as mudanças corporais e hormonais e como contribuem para os transtornos alimentares no adolescente devido à dificuldade de aceitação e compreensão de si próprio; ponto de vista psicológico, que abrange tanto o social como o biológico, visto que a combinação de ambos afeta diretamente a saúde psicológica do adolescente; e por fim, o ponto de vista teórico, que teve como principal objetivo retratar e expor a perspectiva de pesquisadores, escritores e cientistas que dissertam sobre transtornos alimentares em adolescentes.
3 RESULTADOS E DISCUSSÃO
Inicialmente, importante pontuar que ninguém nasce odiando o próprio corpo, isso ocorre através de influências externas adquiridas por meio de costumes, culturas e mídias sociais que fazem parte de uma sociedade e impactam diretamente a vida do ser humano ao longo dos anos (Frois; Moreira; Stengel, 2011).
De acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS), a adolescência é caracterizada por alterações físicas, emocionais e sociais, que representam o período de transição entre a infância e a idade adulta (OMS, 2019). Esta fase é marcada pelo processo de puberdade que é a responsável pelas mudanças hormonais e pela transformação corporal (Calligaris, 2000).
Devido ao processo de desenvolvimento biológico, percebe-se também que os adolescentes possuem uma tendência maior à mudança de comportamentos, o que pode ser uma etapa crítica na vida de um indivíduo, pois nela identifica-se um período de vulnerabilidade física, psicológica e social que demandam atenção e cuidados (Vozes, 2006).
Segundo Peres e Resenburg (1998) a significação da adolescência como uma fase de crise é sustentada, segundo Peres e Rosenburg, pela concepção da ciência positiva, que permite dar a ideia de desarranjo, pois a harmonia é pressuposta como sendo de direito (Brêtas et al., 2020). Na concepção de adolescência esta leitura faz sentido, na medida em que, dentro da evolução referida, a crise é apresentada como um desvio ou um perigo do curso natural do desenvolvimento, que deve ser cuidado para a retomada da ordem natural (Farias et al., 2017).
Boa parte dos adolescentes enfrentam um misto de emoções, pois lidam com a pressão imposta pela sociedade que surge a partir de uma necessidade/obrigatoriedade de pertencimento a um grupo, acreditando que somente assim será considerado “normal”, pois “faz parte de uma trama de significados do cotidiano em que o ser humano vive e no qual se encontra quase sempre cativo” (Freitas et al., 2012, p.36).
Essa necessidade de fazer parte de um grupo social atinge de forma mais impactante os adolescentes que possuem autoestima baixa, pois estes buscam desenvolver vínculos de amizades para suprir sentimentos básicos relacionados à vivência e assim se sentirem aceitos, independentemente de seus atributos físicos (Benowitz-Fredericks, 2012).
Além disso, a própria sociedade impõe a aparência física como um fator determinante de aceitação, e parte dessa imposição advém justamente dos grandes meios de comunicação, como televisão, cinema e mídias sociais, que criam padrões de forma física ideal (Bittar; Soares, 2020)
Portanto, é evidente que a adolescência é um período de descobertas, desafios e crescimento para a iniciar a fase adulta, por isso é crucial ter bons manejos de comunicação na sociedade pois os adolescentes são os mais suscetíveis a modificações na busca da identidade grupal (Pacheco, 2008).
Na última década com o avanço tecnológico e a expansão dos meios de comunicação, o grau de exposição e vulnerabilidade do adolescente aumentou, consequentemente, mais problemas sociais surgiram (Fitzsimmons-Craft et al., 2014).
Dentre esses problemas, importante destacar aqueles oriundos da autopercepção do processo de transformação corporal, onde os adolescentes ficam insatisfeitos consigo mesmo pois têm a impressão de que são insuficientes por não alcançarem padrões estéticos estipulados pelas mídias sociais (McLean et al., 2015).
Desta forma, o conflito da imagem corporal juntamente com a satisfação/insatisfação pode resultar em distúrbio nutricional (obesidade) e/ou em distúrbios psicológicos como a bulimia e anorexia (Shisslak; Crago, 2001). Concomitante a literatura relata que a imagem corporal sofre alterações no decorrer da vida das pessoas. Sendo que, a sociedade em que vivemos é grande contribuinte para a formação do corpo ideal (Stancke Dutra, 2017).
Atualmente, observa-se que as mídias sociais ditam o comportamento dos adolescentes, que, devido ao seu desejo de aceitação e pertencimento, acabam se tornando alvos fáceis de influenciadores que praticam condutas inapropriadas (Lanzi et al., 2012). Como por exemplo no Instagram, onde os jovens se guiam pelo que está na moda e se submetem à imposição de padrões de beleza, principalmente o gênero feminino (Coimbra, 2001).
Cabe destacar que os adolescentes são os que mais consomem internet e com isso, a indústria alimentícia vem ganhando mais espaço nas mídias sociais promovendo dietas restritivas, jejum intermitente, produtos com baixas calorias e nada nutritivos por indicações de blogueiras e até profissionais da saúde (Silva, 2018).
Foi realizado um estudo com adolescentes do sexo feminino em São Paulo capital e outro em Marília, interior do estado de São Paulo e os resultados apresentaram que 85,8% das participantes tinham insatisfação corporal, e a maioria desejava possuir uma silhueta menor. Observou-se que o acesso diário maior de 10 vezes ao dia ao Facebook e Instagram aumentou a chance de insatisfação em 6,57 e 4,47 vezes, respectivamente (Lira, Ariana Galhardi et al., 2017).
O impacto é tão significativo que somente no Brasil ocorrem cerca de 90 mil cirurgias estéticas mensais, entre jovens até 18 anos (Gomes et al., 2021)
A busca excessiva pela estética e adequação aos padrões de beleza, além de causar danos psicológicos, físicos e sociais, podem contribuir para o desenvolvimento de transtornos alimentares.
Os transtornos alimentares (TA) são doenças desenvolvidas que afetam diretamente os hábitos alimentares a partir de um pressuposto de insatisfação com a imagem corporal (Alves et al., 2008). Como exemplo pode-se mencionar dietas restritivas severas, compulsões alimentares, comportamentos compensatórios inadequados (Souza, 2014).
Os Transtornos de Comportamento Alimentar (TCA) são denominados como distúrbios psiquiátricos de etiologia multifatorial, caracterizados por consumo, padrões e atitudes alimentares extremamente distorcidas e de preocupação exagerada com o peso e a forma corporal (Nunes; Santos; Souza, 2000)
Indubitavelmente, a globalização contribuiu de forma significativa para o aumento do número de casos de pessoas com transtorno alimentares, entretanto, há décadas que o tema vem ganhando destaque internacional por afetar os mais diversos grupos sociais e culturais de outros países, sendo inclusive reconhecido como caso de saúde pública (Morgan, 2002).
O excesso de insatisfação corporal e de busca pela estética pode até resultar em um corpo “satisfatório”, contudo, muitas vezes este alcance ocorre de maneira inadequada e prejudicial à saúde (Wolper, 1990). Pelos adolescentes serem o grupo mais vulnerável de toda essa pressão estética-social, percebe-se que este comportamento é mais frequente entre eles (Tanner, 1962.)
Estima-se que cerca de 1 a 5% da população brasileira sofre com algum tipo de distúrbio alimentar, sendo os mais comuns a anorexia e bulimia, que se não receberem o tratamento adequado em tempo hábil, podem levar a óbito (Appolinário, 2000).
Além disso, estudos demonstram que a incidência de transtornos alimentares, embora sejam presentes em ambos os sexos, tem incidência maior no gênero feminino (30%) do que no masculino (17%), e que em sua grande maioria estão associados ao excesso de peso corporal (López-Gil et al., 2023).
A prevenção ao desenvolvimento de transtornos alimentares é essencial para evitar impactos na saúde física e mental do adolescente (Marchi; Cohen, 1990). Pois o tratamento é um processo delicado e necessário que exige condutas nutricionais humanizadas que envolvem realizar uma anamnese do paciente, do histórico da doença e hábitos alimentares. Além de contar com o tratamento psicoterapêutico e medicações. (Dunker et al., 2021).
A necessidade de humanização no tratamento é fundamental não apenas para remediar sintomas, mas também para prevenir o agravamento dos sintomas existentes, visto que a imposição de uma dieta restritiva pode aumentar em 18 vezes a chance de um indivíduo desenvolver um transtorno alimentar (Patton, 1999).
São inúmeras as pessoas que podem se beneficiar com a prevenção ao desenvolvimento de TA, isso porque os tipos de prevenção são dividos em três categorias. Prevenção primária, é mais abrangente pois destina-se a pessoas saudáveis e que não apresentam sintomas onde o foco é a eliminação de fatores de risco que contribuem para apresentação de transtornos (Levine; Piran, 2004).
Prevenção secundária, também conhecida como “prevenção direcionada”, é voltada para pessoas que apresentam sintomas iniciais de TA e o foco é coibir o seu agravamento (Abascal et al., 2004; Stice; Shaw; Marti, 2007). E por fim, prevenção terciária que tem como objetivo a redução de danos e recuperação de pessoas que já apresentam quadro de TA (Levine; Smolak, 2001).
Na prática, existem várias formas de prevenir o desenvolvimento/agravamento dos transtornos alimentares em adolescentes, como por exemplo, o lecionamento em âmbito escolar sobre mudanças corporais da puberdade, controle de fome e peso, incentivo a atividade física saudável (Kater; Rohwer; Londre, 2002), informações acerca da epidemiologia dos TA, sobre a influência da mídia, riscos da restrição alimentar e da obesidade (Stice; Ragan, 2002).
A capacitação dos profissionais da área da educação também é fundamental como meio de prevenção, pois são autoridades na sala de aula e muitas vezes inspiração, logo, caso estejam despreparados, existe a possibilidade de transferirem comportamentos negativos para os alunos, como informações equivocadas sobre aceitação e discriminação corporal, uma vez que os adultos também não estão imunes às influências das mídias sociais (O’dea; Cinelli, 2012).
Portanto, denota-se que a prevenção sobre transtornos alimentares é fundamental para a saúde do adolescente, pois os atos informativos de prevenção transformam o conhecimento em políticas sociais e reiteram a prática da vida saudável pelos adolescentes, evitando futuros problemas com sua autopercepção de imagem corporal e na relação com alimentos (Levine; Smolak, 2001).
4 CONCLUSÃO
Os resultados encontrados no desenvolvimento desta pesquisa mostraram que as mídias sociais são uma ferramenta que podem potencializar distúrbios alimentares em adolescentes. Essa associação não está esclarecida de forma especifica, mas as ultimas pesquisas tem mostrados possíveis evidencias que mostram a potencialização dos transtornos proporcional ao uso das mídias sociais.
Diante disso a conscientização sobre transtornos alimentares na adolescência é fundamental, pois observa-se a que a atenção dos familiares e profissionais da saúde ainda no estágio inicial do desenvolvimento das doenças é a maneira mais eficaz de prevenção, e isto somente pode ser alcançado por meio da educação e tratamentos adequados para a população.
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1Graduanda do Curso de Bacharelado em Nutrição do Centro Universitário FAMETRO. E-mail: leticiabfreitass@hotmail.com
2Orientadora do TCC, Doutora em Biotecnologia pela Universidade Federal do Amazonas. Docente do Curso de Bacharelado em Nutrição do Centro Universitário FAMETRO. E-mail: francisca.freitas@fametro.edu.br
3Co-orientador(a) do TCC, Títulação pela instituição. Docente do Curso de Bacharelado em Nutrição do Centro Universitário FAMETRO. E-mail: ana.machado@fametro.edu.br