REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.12788578
B. M. Calado1,2,
A. C. Da S. Dantas2,
N. Coelho3
RESUMO
Este estudo investiga o impacto das condições ambientais e das características dos agregados finos nas propriedades mecânicas e durabilidade das argamassas de cimento Portland. Realizado sob diversas condições, incluindo exposição em câmara úmida e solo natural, a pesquisa foca em como diferentes tipos de agregados finos afetam o desempenho da argamassa ao longo do tempo. O programa experimental envolveu ensaios de resistência à compressão e análise microestrutural detalhada utilizando Microscopia Eletrônica de Varredura (MEV) com Espectroscopia de Raios X por Dispersão de Energia (EDS). Os resultados revelaram que amostras de argamassa com diferentes tipos de agregados finos apresentaram variações significativas na perda de resistência ao longo do tempo. Argamassas feitas com areia Tipo 1 mostraram resistência relativamente estável após 30 dias, enquanto aquelas com areia Tipo 2 experimentaram quedas significativas na resistência a partir de 60 dias. A análise microestrutural indicou que a expansão dos cristais desempenharam papel crucial nessas mudanças. As imagens de MEV demonstraram aumento na concentração de silicatos e diminuição do cálcio, associados a alterações nos produtos de hidratação e degradação estrutural. O estudo confirma que as condições ambientais e as propriedades dos agregados influenciam significativamente a durabilidade das argamassas. A ausência de efeitos de lixiviação e carbonatação sugere que a formação alterada de silicato de cálcio hidratado (C-S-H) foi um fator primário na perda de resistência. Os achados destacam a importância da seleção apropriada de materiais e do controle das condições de exposição para garantir o desempenho a longo prazo dos materiais cimentícios. Esta pesquisa oferece insights valiosos sobre os mecanismos de degradação das argamassas de cimento Portland e fornece orientações para melhorar a seleção de materiais e práticas de construção, visando aumentar a longevidade das construções.
Palavras Chave: Construção Civil, Argamassa, Microscópio Eletrônico de Varredura (MEV), Sais Solúveis.
ABSTRACT
This study investigates the impact of environmental exposure and aggregate characteristics on the mechanical properties and durability of Portland cement mortars. Conducted over various conditions, including wet chamber and natural soil exposure, the research focuses on how different fine aggregates affect mortar performance over time. The experimental program involved compressive strength tests and detailed microstructural analysis using Scanning Electron Microscopy (SEM) with Energy Dispersive X-ray Spectroscopy (EDS). The results revealed that mortar samples with different types of fine aggregates exhibited varying degrees of resistance loss over time. Mortars made with Type 1 sand showed relatively stable resistance after 30 days, while those with Type 2 sand experienced significant declines in strength starting from 60 days. Microstructural analysis indicated that crystal expansion played crucial roles in these changes. SEM images demonstrated increased silicate and decreased calcium concentrations, linked to altered hydration products and structural degradation. The study confirms that the environmental conditions and aggregate properties significantly influence mortar durability. The absence of leaching and carbonation effects suggests that altered calcium silicate hydrate (C-S-H) formation was a primary factor in resistance loss. The findings underscore the importance of selecting appropriate materials and controlling exposure conditions to ensure the long-term performance of cementitious materials. This research provides valuable insights into the degradation mechanisms of Portland cement mortars and offers guidance for improving material selection and construction practices to enhance building longevity.
Key words: Civil Construction, Mortar, Scanning Electron Microscopy (SEM), Soluble Salts.
INTRODUÇÃO
A composição química das argamassas e as consequências de sua alteração por agentes químicos nocivos têm causado muitos problemas na construção civil, resultando em danos físicos e perda de propriedades essenciais que reduzem a vida útil da argamassa. A busca por soluções empíricas, muitas vezes conduzida por profissionais sem conhecimento técnico e baseada em dados de experiências sem comprovação de sucesso, agrava o problema, gerando desperdício de recursos financeiros e riscos à sociedade.
A salinidade do solo, ocorre devido às condições climáticas desfavoráveis, como alto grau de evaporação, baixa infiltração, ventos contínuos e baixa precipitação, comuns em regiões áridas e semiáridas (Menezes, et al, 2006).
Para que ocorra o depósito de sais minerais nos materiais de construção, é necessária a presença de água, que serve como transporte desses sais. Sais solúveis em água, expostos a condições climáticas e ambientais desfavoráveis, promovem a percolação e evaporação da água, deixando os sais solúveis em forma residual na argamassa.
A presença de salinidade pode variar dependendo dos tipos e da concentração dos sais envolvidos. As características mais comuns de sua presença incluem eflorescência, facilmente identificável; destacamento de placas, que frequentemente remove todo o revestimento do material base; e, nos casos mais graves, fissuras ou desintegração progressiva, que causam deficiência estrutural na construção e comprometem sua vida útil.
Os ensaios são essenciais para identificar a composição das argamassas de Cimento Portland, permitindo uma análise detalhada das propriedades químicas e físicas dos componentes. Técnica como a Microscopia Eletrônica de Varredura (MEV) possibilita identificar a composição química e outros compostos que afetam a durabilidade e resistência da argamassa. Esse teste ajuda a detectar a formação de produtos de hidratação e a entender um pouco os mecanismos de degradação ao longo do tempo. O ensaio de compressão é igualmente importante para avaliar a resistência mecânica da argamassa em função da composição dos materiais. Com essas informações, é possível otimizar formulações, selecionar materiais adequados e desenvolver estratégias de prevenção e mitigação de patologias, garantindo a longevidade e a integridade das construções.
Essa análise revelou alterações significativas na composição da argamassa, evidenciando uma modificação química na mistura. Essas mudanças podem justificar a deterioração da estrutura cristalina do material, resultando em uma perda de resistência. A transformação na composição pode levar à formação de compostos secundários, que causam expansão interna e contribuem para a desintegração progressiva da argamassa. Compreender essas alterações é crucial para desenvolver métodos eficazes de prevenção e reparo, assegurando a durabilidade e a integridade estrutural das construções.
No contexto das normas brasileiras, a NBR 15.575 (ABNT, 2013), conhecida como Norma de Desempenho de Edificações Habitacionais, estabelece critérios para a durabilidade, segurança e conforto das construções, incluindo requisitos para a vida útil dos sistemas construtivos e materiais. A norma enfatiza a importância do controle de qualidade, especialmente no monitoramento de sais solúveis nos agregados miúdos, para evitar danos estruturais e estéticos. Este trabalho busca contribuir com estudos focados na proteção das construções contra umidade e sais solúveis, preservando sua integridade ao longo do tempo. Através de análises químicas e microscópicas, será possível identificar os fatores que influenciam a alteração da estrutura cristalina e seu impacto na resistência mecânica da argamassa, garantindo a sustentabilidade e longevidade das construções.
MATERIAIS E MÉTODOS
O objetivo deste estudo experimental é investigar os efeitos da exposição de argamassas a diferentes condições ambientais, tanto em câmara úmida quanto em solo natural, utilizando dois tipos de agregados, nas propriedades mecânicas e microestruturais ao longo do tempo. Especificamente, busca-se compreender se a variação das propriedades dos agregados miúdos utilizados na fabricação das argamassas afeta sua resistência e durabilidade, bem como analisar os possíveis efeitos químicos.
Para analisar o comportamento das argamassas, foram utilizados agregados miúdos caracterizados por Coelho (2010). Amostras das jazidas foram coletadas, considerando as variações de sais em sua origem, conforme demonstrado na Tabela 1.
A caracterização das propriedades físicas dos agregados miúdos utilizados na fabricação das amostras teve como objetivo investigar se a massa é comprometida pela variação das propriedades dos grãos, mesmo quando expostos ao solo natural. As amostras foram divididas em dois grupos: 30 amostras submetidas à exposição em câmara úmida e 30 amostras enterradas em solo natural, sujeitas às intempéries ambientais. Posteriormente, foram analisadas quanto à variação das propriedades mecânicas e aos aspectos microestruturais ao longo do tempo, replicando condições reais de campo para avaliar a perda de resistência ao longo do tempo.
Foi utilizado Cimento Portland pozolânico (CP II Z-32), que contém cinza volante como adição de material pozolânico e é amplamente utilizado na construção civil. Este cimento é adequado para diversas aplicações, incluindo estruturas de concreto armado e argamassas de assentamento e revestimento. Com uma composição que inclui de 6 a 14% de pozolana e até 10% de material carbonático, o CP II-Z-32 foi homogeneizado mecanicamente antes de ser utilizado para garantir consistência na mistura.
Os corpos de prova foram produzidos com traço 1:5, sendo uma medida de cimento para cinco medidas de areia, e água numa proporção de 20 litros para cada 50 kg de cimento, correspondendo a uma relação água-cimento de 0,4, seguindo os parâmetros de Coelho (2010). Foram fabricados um total de 150 corpos de prova, divididos em dois grupos de exposição, cada um com 30 corpos de prova, enquanto 90 corpos de prova foram mantidos em exposição para análise posterior.
O experimento simulou duas situações distintas de produção dos corpos de prova, baseadas no tipo de agregado utilizado: Areia Tipo 1 (Draga) e Areia Tipo 2 (Serra da Batateira), e dois locais de exposição: Terreno natural e Câmara úmida a 70%, conforme mostrado nas Figuras 1(a e b). A finalidade foi avaliar o comportamento das argamassas diante das variações de umidade, temperatura e propriedades físicas para cada condição de exposição. Os corpos de prova foram organizados de forma a não entrarem em contato uns com os outros, evitando interferências na transferência de calor e umidade entre eles.
Com o objetivo de verificar as alterações das propriedades mecânicas, foi utilizado o ensaio de compressão, amplamente empregado na indústria da construção civil. Foram avaliados os efeitos do tempo de cura, da composição dos traços com os respectivos materiais e das condições de exposição.
Utilizaram-se fôrmas metálicas com dimensões de 100 mm de altura por 50 mm de diâmetro, devidamente limpas e lubrificadas. A argamassa permaneceu nas fôrmas por um período de 24 a 96 horas para uma cura mínima que permitisse o transporte para exposição. O preenchimento dos moldes foi realizado conforme a NBR 5738 (ABNT, 2015). As bases dos corpos de prova foram lixadas para remover rugosidades superficiais, evitando pontos de concentração de tensões durante o ensaio, como ilustrado na Figura 10.
Os ensaios de compressão foram realizados em períodos de 30, 60 e 90 dias, permitindo a comparação dos resultados obtidos com as imagens do Microscópio Eletrônico de Varredura (MEV) e estendendo o período de exposição ao longo do tempo. Durante todo o período, os corpos de prova ficaram expostos conforme descrito anteriormente, sendo removidos apenas para a execução do ensaio.
Durante os ensaios de compressão, os moldes de argamassa foram submetidos a uma força axial vertical, distribuída uniformemente na superfície de toda a seção transversal do corpo de prova. A tensão de compressão foi calculada pela equação (1).
Os ensaios foram realizados em uma máquina universal de ensaios de acionamento eletromecânico; Prensa hidráulica da marca Time Group, modelo WAW1000C, Classe 1, com capacidade de 1000 kN (100 t). Os ensaios foram conduzidos no Laboratório de Ensaios Mecânicos do Colegiado de Engenharia Civil da Universidade Federal do Vale do São Francisco (UNIVASF). As velocidades de ensaio podem ser configuradas numa faixa de 0,01 a 500,00 mm/min, e utilizou-se a velocidade de 2,00 mm/min para este trabalho, conforme mostrado na Figura 2. A resistência do material foi calculada com base na carga que levou ao rompimento do corpo de prova, conforme a equação (1).
Após os ensaios de resistência à compressão, os corpos de prova foram separados de acordo com as datas de rompimento e fragmentados manualmente com o auxílio de uma espátula metálica.
A etapa posterior da pesquisa consistiu na realização de análise por microscopia eletrônica de varredura (MEV) em amostras pré-selecionadas com base no melhor estado físico após o rompimento, Figura 3, permitindo uma análise microestrutural da superfície dos corpos de prova, além de uma análise química.
O microscópio eletrônico de varredura (MEV) é um equipamento que fornece rapidamente informações sobre a morfologia e a identificação de elementos químicos de uma amostra sólida, conforme descrito por Dedavid et al. (2007). O princípio deste equipamento é utilizar um feixe de elétrons de diâmetro suficientemente pequeno para explorar a superfície da amostra e transmitir o sinal do detector para uma tela. A interação do feixe com a superfície da amostra gera uma imagem que é recebida pelo detector e utilizada para modular o brilho do monitor, permitindo a observação detalhada da morfologia e da composição química da amostra.
Durante a análise, alguns sinais são gerados e transmitidos pelo feixe primário, incluindo elétrons secundários (SE), elétrons retroespalhados (BSE) e raios X, que podem ser coletados separadamente, conforme descrito por Melo (2010). Antes de serem submetidas ao MEV, as amostras foram colocadas em uma fita de carbono dupla face e levadas para recobrimento em banho de ouro, utilizando o metalizador Quorum Technologies Q150R.
Após o recobrimento com ouro, as amostras foram posicionadas no local apropriado no microscópio para o início das análises. O MEV utilizado nesta pesquisa foi da marca TESCAN, modelo VEGA3, pertencente ao CPGCM da Univasf.
Para uma exploração visual mais detalhada e para confirmar as alterações químicas na estrutura dos cristais da argamassa, foram utilizadas imagens EDS Layered, fornecidas pelo Microscópio Eletrônico de Varredura (MEV). A técnica de EDS (Energy Dispersive X-ray Spectroscopy) Layered oferece mapas elementares detalhados, permitindo a visualização da distribuição de diferentes elementos químicos em camadas sobrepostas na amostra. Essa abordagem é particularmente eficaz na análise de materiais heterogêneos, como concreto e argamassa, onde a composição pode variar significativamente em pequenas áreas.
RESULTADOS E DISCUSSÕES
A resistência à compressão das argamassas é um parâmetro fundamental para avaliar a qualidade e a conformidade dos materiais com as especificações estabelecidas por normas internacionais. Por exemplo, a norma ASTM C-270 define os requisitos para argamassas de alvenaria, incluindo as proporções de mistura, consistência e a resistência mínima à compressão. Similarmente, a norma BS-5628, uma diretriz britânica, estabelece métodos de teste e requisitos de resistência para alvenaria estrutural.
Essas normas garantem que a argamassa atenda aos padrões necessários para suportar as cargas e tensões a que será submetida, assegurando a durabilidade e a integridade das estruturas. A resistência à compressão é, portanto, crucial para definir os requisitos essenciais para a produção de argamassas e concretos, afetando diretamente sua eficácia e longevidade.
Na Tabela 2, são apresentados os resultados dos ensaios de compressão realizados em 60 corpos de prova, divididos igualmente entre 30 amostras expostas em câmara úmida e 30 amostras enterradas em solo natural. Os valores fornecidos correspondem à média dos ensaios realizados em cinco unidades para cada período de ruptura. Esses dados permitem uma avaliação detalhada do desempenho das argamassas em diferentes condições ambientais, fornecendo informações valiosas sobre sua resistência e adequação às normas estabelecidas.
Os resultados dos ensaios indicam que a resistência das argamassas com diferentes tipos de agregados miúdos (Tipo 1 e Tipo 2) apresenta uma relação consistente entre si, independentemente do tipo de exposição. A argamassa com areia Tipo 1 mostra uma oscilação menor nos valores de resistência após os primeiros 30 dias, enquanto a argamassa com areia Tipo 2 começa a apresentar uma queda linear significativa na resistência após 60 dias.
Após 30 dias de exposição, a variação na resistência da argamassa pode estar associada a mudanças na morfologia dos cristais, um fenômeno que pode impactar a durabilidade e o desempenho do material. Alterações na estrutura cristalina dos materiais constituintes, como o cimento, influenciam diretamente suas propriedades mecânicas. A morfologia dos cristais, especialmente do C-S-H (hidrato de silicato de cálcio), desempenha um papel crucial na microestrutura da argamassa, afetando sua coesão e resistência. Cristais com formatos mais alongados ou agulhados podem criar pontos fracos na matriz de cimento, diminuindo sua capacidade de suportar cargas. Em contraste, uma morfologia cristalina mais compacta e uniforme geralmente resulta em uma argamassa mais resistente e durável.
Esse comportamento pode ser atribuído às condições de exposição, que envolvem variações climáticas e térmicas locais. Segundo Taylor (1997) e referenciado por Melo (2010), as variações térmicas e de umidade estão diretamente relacionadas à expansão dos grãos, o que pode afetar a durabilidade e resistência da argamassa.
A temperatura também desempenha um papel significativo na variação da quantidade de água presente na amostra. Temperaturas mais elevadas durante o processo de cura promovem uma maior perda de umidade, o que pode inibir a reação de hidratação do cimento e levar à retração da argamassa no estado fresco. As fissuras superficiais e o destacamento causados por choque térmico, conforme descrito por Zuchetti (2015), são resultado de bruscas variações de temperatura às quais o material pode ser exposto. Essas variações térmicas são uma variável crucial que determina a vida útil da argamassa, uma vez que afetam diretamente o processo de cura e a integridade do material.
Para compreender e identificar o processo evolutivo da ação dos sais solúveis, foram realizadas análises por microscopia eletrônica de varredura (MEV) em diferentes etapas de rompimento dos corpos de prova. As imagens obtidas permitiram a visualização detalhada das características microestruturais da argamassa após os ensaios de compressão realizados aos 30, 60 e 90 dias. A extensão do período de exposição das amostras, em comparação com os ensaios de compressão, possibilitou uma investigação mais aprofundada da evolução dos danos.
Essas análises permitiram observar a presença de fissuras e as variações morfológicas nos cristais, que se inicia nos poros da pasta ou na interface pasta-agregado. Os resultados dos ensaios de compressão mostraram que todas as amostras apresentaram uma perda na capacidade de resistência após 60 dias de exposição.
Para analisar as alterações morfológicas na cristalização do material, a análise por MEV foi realizada em cada etapa de exposição das amostras. Essa abordagem possibilitou a comparação entre a variação da resistência à compressão e a estrutura cristalina observada nas amostras. A análise revelou como a presença de sais solúveis e as condições ambientais afetam a morfologia dos cristais e, consequentemente, a resistência e a durabilidade da argamassa. Essa correlação entre os dados mecânicos e as observações microestruturais é crucial para entender o impacto dos sais solúveis na integridade da argamassa e para desenvolver estratégias eficazes de prevenção e mitigação dos danos.
Após 30 dias de exposição das amostras, observam-se oscilações nos valores de resistência à compressão. A Figura 4a, para areia Tipo 1 com 30 dias de exposição, mostra um zoom de 3.000x na área destacada em amarelo, evidenciando a formação de cristais em formato de agulha e a separação entre os grãos. Isso resulta em um aumento nos vazios e uma superfície lisa dos grãos, comprometendo a aderência e a cristalização da massa. Na Figura 4b, com 60 dias de exposição, observa-se uma expansão semelhante dos grãos e o início do agulhamento, além de uma desestruturação cristalina.
Figura 4. Exposição de cura com 30 e 60 dias de exposição em vala natural.
Nas Figuras 4c e 4d, que mostram a areia Tipo 2 após 30 e 60 dias de exposição, respectivamente, é evidente a alteração visual no mesmo campo de visão e nível de zoom. Na Figura 4c, a expansão está mais espalhada, cobrindo uma área maior da amostra, enquanto na Figura 4d, observa-se o grão completamente limpo e o avanço da expansão, evidenciado pelo agulhamento característico da etringita. A formação de novos vazios ao longo do tempo, resultante da expansão dos grãos, indica um ciclo contínuo e confirma a perda de resistência mostrada na Tabela 2 após 30 dias de exposição.
Seguindo a metodologia de monitoramento da alteração química da argamassa e comparando com os resultados da Tabela 2, a Figura 5 mostra imagens após 90 dias de exposição em vala natural. Com aumento de 3.000x a Figura 5a revela a areia Tipo 1 com expansão acentuada dos cristais e início da perda da estrutura cristalina. A Figura 5b mostra a areia Tipo 2 com uma estrutura de cristalização mais afetada devido à maior intensidade de sais. Em ambas as amostras, essas mudanças resultam em alterações na estrutura química e cristalina da argamassa.
De acordo com Mehta e Monteiro (2014), “a diminuição do cálcio e o aumento do silício na argamassa podem ser atribuídos a processos como reações pozolânicas, carbonatação, lixiviação, alterações na composição da argamassa ou reações álcali-sílica. Essas modificações podem impactar significativamente as propriedades físicas e químicas da argamassa, afetando sua resistência, durabilidade e desempenho a longo prazo.”
Na Figura 6, que apresenta o gráfico EDS fornecido pelo MEV para a areia Tipo 2, após 60 dias de exposição em vala natural, observa-se um aumento na concentração de cálcio (Ca) e silício (Si) no eixo Y. O crescimento desses elementos sugere a formação de produtos de hidratação do cimento, especialmente o silicato de cálcio hidratado (C-S-H), que contribui para a resistência e durabilidade da argamassa. No entanto, essas alterações podem também indicar o surgimento de manifestações patológicas na engenharia.
A alteração cristalina da amostra é confirmada na Figura 7, onde se observa um aumento significativo na intensidade de silício (Si), cerca de 525% em relação ao valor observado após 60 dias de exposição, enquanto o cálcio (Ca) apresenta uma queda acentuada de aproximadamente 240%. Essas variações indicam uma modificação na estrutura da argamassa, potencialmente comprometendo sua resistência e durabilidade, para o mesmo tipo de areia e condições de exposição.
Considerando que, durante a exposição das amostras, não houve contato prolongado com água que pudesse justificar a ocorrência de lixiviação, e dado que não foram observadas características típicas de eflorescência, é possível concluir que a lixiviação não é um fator significativo na perda de resistência das amostras. Além disso, a exposição das amostras em vala natural, com mínima interação com o ambiente externo, reforça a conclusão de que a carbonatação não é a causa da degradação observada. Portanto, essas condições permitem confirmar que a perda de resistência está mais associada à formação de silicatos de cálcio hidratados (C-S-H), cuja alteração na estrutura cristalina pode impactar diretamente a resistência e a durabilidade da argamassa.
CONCLUSÃO
Este trabalho teve como objetivo investigar os efeitos das condições ambientais e das características dos agregados miúdos na resistência e durabilidade das argamassas de cimento Portland. A análise focou na exposição das argamassas a diferentes condições, como câmara úmida e solo natural, e em como essas variáveis influenciam as propriedades mecânicas e microestruturais das amostras ao longo do tempo.
Os ensaios realizados revelaram que a exposição das argamassas a condições ambientais diversas provoca mudanças significativas em suas propriedades. A resistência à compressão das argamassas apresentou variações notáveis com o tempo, dependendo do tipo de agregado e das condições de exposição. As amostras com areia Tipo 1 mantiveram uma oscilação menor na resistência após 30 dias, enquanto as amostras com areia Tipo 2 mostraram uma queda mais acentuada na resistência a partir de 60 dias. Esses resultados indicam que a escolha do tipo de agregado tem um impacto considerável na durabilidade das argamassas.
As análises microestruturais, realizadas por microscopia eletrônica de varredura (MEV), demonstraram que a formação de cristais e a alteração na estrutura cristalina desempenham um papel crucial na degradação das argamassas. Foi observado que a expansão dos cristais contribuem para a perda de resistência das amostras. Essas mudanças na morfologia dos cristais, particularmente do C-S-H (silicato de cálcio hidratado), afetam a coesão e a resistência da argamassa.
Além disso, a análise química das amostras revelou um aumento na concentração de silício e uma diminuição no cálcio, indicando alterações na composição da argamassa que estão associadas a processos de hidratação e formação de produtos secundários. A falta de evidências de lixiviação e carbonatação sugere que essas não foram as causas principais da perda de resistência observada. Em vez disso, a formação de silicatos de cálcio hidratados (C-S-H) alterados foi identificada como a causa predominante.
Os resultados obtidos mostram a importância de considerar as condições ambientais e a composição dos agregados na formulação de argamassas. A escolha adequada dos materiais e o controle rigoroso das condições de exposição são essenciais para garantir a durabilidade e a resistência das construções ao longo do tempo. A pesquisa contribui para uma melhor compreensão dos processos de degradação das argamassas e fornece informações valiosas para o desenvolvimento de estratégias de mitigação e prevenção de falhas em construções.
Em conclusão, este estudo evidencia a complexidade dos fatores que afetam a durabilidade das argamassas e a necessidade de uma abordagem cuidadosa na seleção e controle dos materiais utilizados na construção civil. O início dessas descobertas ressaltam a importância de continuar a pesquisa para aprimorar as práticas e normas que visam garantir a longevidade e a integridade das edificações.
REFERÊNCIAS
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1Universidade Federal do Vale do São Francisco, Pós Graduação Ciência dos Materiais, Petrolina PE.
2Instituto Federal do Sertão Pernambucano, Departamento de Construção, Petrolina PE.
3Universidade Federal do Vale do São Francisco, Dep. Engenharia Civil, Petrolina PE.