INFLUÊNCIA DA SAÚDE MENTAL NO ESTADO NUTRICIONAL E CONSUMO ALIMENTAR EM TEMPOS DE COVID-19 NO BRASIL

REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/ma1020250429


Vanessa de Lana Melo Barreto1
Caroline Luiza Codonho Castro2
Sérgio Girão Barrodo3


RESUMO 

A pandemia de COVID-19 levou à adoção global de medidas de distanciamento social e quarentena. Este estudo avaliou possíveis impactos do distanciamento social, durante tempos de COVID-19, relacionados a condições socioeconômicas, psicológicas e hábitos alimentares acerca do consumo alimentar e estado nutricional em amostra da população brasileira. Participantes selecionados aleatoriamente, via canais online, forneceram dados sobre características sociodemográficas, psicológicas, hábitos alimentares e estado nutricional. A análise foi realizada no RStudio®(versãoR4.2.3). A amostra incluiu 152 brasileiros com média de idade 39,1( ±11,4). A renda obtida foi acima da média nacional. Os participantes do presente, em sua maioria, possuíam sintomas relacionados à depressão (75% pelo PHQ-9) e a ansiedade (72% pelo GAD-7). Considerando hábitos alimentares, os indivíduos amostrados apresentaram, em sua maioria, alto consumo de alimentos com diversidade alimentar. Contudo, tal fato não se apresentou suficiente para influenciar o estado nutricional durante o período pandêmico. Onde a maior distribuição dos participantes (34,9%) ficou na faixa de sobrepeso. Ademais, quanto maiores os sintomas depressivos maior o sobrepeso, durante a pandemia, entre mulheres (p=0,039). E a ansiedade moderada esteve associada a menor diversidade alimentar, também, entre mulheres (p=0,025). A nova rotina imposta pelas necessidades sanitárias, portanto, ocasionaram alterações socioeconômicas, psicológicas e em hábitos alimentares ao serem relacionados ao consumo alimentar.  

Palavras-Chave: COVID-19; Saúde mental; Consumo alimentar.  

ABSTRACT 

The COVID-19 pandemic has led to the global adoption of social distancing and quarantine measures. This study evaluated the possible impacts of social distancing during COVID-19 pandemic, related to socioeconomic, psychological conditions and eating habits on food consumption and nutritional status in a sample of the Brazilian population. Randomly selected participants, via online channels, provided sociodemographic, psychological, eating habits and nutritional status datas. The analysis was performed in RStudio® (version R4.2.3). The sample included 152 Brazilians with a mean age of 39.1 (± 11.4). The income obtained was above the national average. Most of the participants presented symptoms related to depression (75% by PHQ-9) and anxiety (72% by GAD-7). Considering eating habits, the sampled participants mostly had high consumption of foods with dietary diversity. However, this fact was not enough to influence nutritional status during the pandemic period. The largest distribution of participants (34.9%) was in the overweight range. Furthermore, the greater the depressive symptoms, the greater the overweight, during the pandemic, among women (p=0.039). And moderate anxiety was associated with less dietary diversity, also, among women (p=0.025). The new routine imposed by health needs, therefore, caused socioeconomic, psychological and eating habit changes when related to food consumption. 

Keywords: COVID-19; Mental health; Food consumption.  

INTRODUÇÃO  

Os coronavírus são vírus de ribonucleic acid (RNA), não segmentados que pertencem à família Coronaviridae e à ordem Nidovirales. De acordo com publicações oficiais da Organização Mundial da Saúde (OMS), a maioria das infecções em humanos por coronavírus são consideradas leves (1,2). 

Contudo, marcando um novo ciclo de eventos zoonóticos, em dezembro de 2019 surgiram na China (Wuhan) diversos casos de pneumonia de origem até então desconhecida. Através de análise laboratorial e sequenciamento de amostras do trato respiratório, descobriu-se que se tratava de um novo coronavírus (COVID-19), uma infecção viral altamente transmissível e patogênica causada por Coronavírus tipo II da Síndrome Respiratória Aguda Grave (SARS-COV-2) (3). Com a transformação da epidemia em uma pandemia, diversos países passaram a tomar medidas de contenção (4,5). Até julho de 2024, o vírus já havia matado mais de sete milhões de pessoas e infectado cerca de 700 milhões, somando diferentes países e territórios (6).  

No Brasil, as medidas de restrição de circulação de pessoas foram tomadas por meio dos estados e municípios, de forma descentralizada (7,8). Em outros países, como Portugal, as medidas ocorreram de forma mais restritivas e centralizadas, o Estado de Emergência Nacional foi decretado pelo Presidente da República em 18 de março de 2020, e medidas legislativas subsequentes tornaram obrigatório o confinamento e o recolhimento domiciliário, possibilitando o trabalho à distância (9). Um grande avanço, realizado em tempo recorde na ciência, foi o desenvolvimento das vacinas para o COVID-19, que tiveram seu início em 17 de janeiro de 2021 no Brasil (10). O que propiciou que em maio de 2023 a OMS declarasse o fim da Emergência de Saúde Pública de Importância Internacional (ESPII) referente à COVID-19 (15). 

Visto que,“o fim da Emergência de Saúde Pública não significava que a COVID-19 tivesse deixado de ser uma ameaça à saúde e sim que era o momento de os países fazerem a transição do modo de emergência para o de manejo da COVID-19”(11). 

Segundo a Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS)/OMS (2020), a quarentena de pessoas foi caracterizada por uma “restrição de atividades ou separação de pessoas que não estão doentes, mas que possam ter sido expostas a uma doença ou agente infeccioso”(12). Enquanto o isolamento “a separação de pessoas doentes ou infectadas dos outros, de modo a evitar a disseminação de infecção ou contaminação”(12). E o distanciamento social foi caracterizado por medidas estatais e/ou institucionais, que visavam desacelerar a disseminação de um vírus, reduzindo o contato entre as pessoas, infectadas ou não (12). Tais medidas têm a vantagem de propiciar que os governos possam organizar seus sistemas de saúde, preparando-se e reunindo recursos para prevenir e tratar a população no combate a um novo vírus (12).  

Embora tenha o grande objetivo de diminuir a frequência de transmissão e promover o achatamento da curva de contágio, o distanciamento social tornou-se também responsável por causar impactos negativos de cunho psicológico na população mundial (12). A sensação de “perda de liberdade” fez com que aumentassem os níveis de medo e de ansiedade, os quais já tendem a se agravar à medida que o número de vítimas fatais cresce (13,14). Observa-se ainda que, a presença de sintomas pós COVID-19, não só físicos como relacionados à saúde mental, acarretam mudanças inesperadas na qualidade de vida (15). 

Nessa condição, a pandemia de COVID-19 trouxe um impacto sem precedentes na saúde mental global, exacerbando desafios preexistentes. No Brasil, a pandemia teve efeito no aumento significativo dos sintomas de ansiedade, depressão e estresse, o que foi observado em todos os segmentos da população, com as pessoas de baixa renda sendo particularmente afetadas (16–18). Ademais, as dificuldades econômicas, o aumento da insegurança alimentar e o colapso dos sistemas de saúde contribuíram para um aumento acentuado nos problemas de saúde mental (19). As desigualdades socioeconômicas existentes foram exacerbadas pela crise, com a população mais vulnerável enfrentando desafios adicionais para acessar suporte psicológico e cuidados de saúde mental adequados (16–18). 

Além disso, padrões alimentares e o estado nutricional das populações a nível global são profundamente influenciados pelas tradições dietéticas e pelo contexto socioeconômico de cada país. As dietas e os dados de Índice de Massa Corporal (IMC) são capazes de refletir não apenas as preferências culturais e hábitos alimentares como também as influências das mudanças sociais e econômicas (20–22).  

No Brasil, o padrão alimentar predominante é caracterizado pelo modelo ocidental de dieta, que é rico em alimentos ultraprocessados, açúcares e gorduras saturadas. A dieta brasileira tem destoado cada vez mais de uma alimentação tradicional baseada em alimentos frescos e naturais para uma dieta mais ocidentalizada (20). Tal fato tem contribuído para uma elevação preocupante dos índices de IMC, refletindo um estado nutricional danoso e um aumento nos riscos de doenças crônicas associadas à alimentação (20). No contexto da importância de uma alimentação balanceada, existem documentos e guias alimentares usados como referência para a população, no Brasil está disponível à população o Guia Alimentar para a População Brasileira (23).  

Apesar de orientações pontuais referentes a prática de uma alimentação saudável em diferentes contextos culturais, já se sabe que durante o período de isolamento houve aumento do consumo de alimentos processados e que crises econômicas passadas enfatizaram o aumento da insegurança alimentar, principalmente nos domicílios com maior privação socioeconômica (24,25). Visando a manutenção de hábitos alimentares saudáveis, a nível mundial, a OMS forneceu aconselhamentos para a “auto-quarentena” (26).  

Ainda em resposta à pandemia e às medidas de restrição social, países implementaram auxílios governamentais para mitigar os impactos adversos do isolamento na economia e para apoiar a população durante a crise. No Brasil, o governo lançou o Programa Emergencial de Manutenção do Emprego e da Renda e o Auxílio Emergencial (27,28).  

Não obstante de todos os esforços de organizações, sabe-se que o distanciamento social teve influência direta na alteração de hábitos e consumo alimentares. Assim, as reverberações da pandemia poderiam exacerbar uma mudança no padrão de consumo alimentar. Logo, fazendo-se necessária a elucidação das implicações que a pandemia proporcionaria no estado nutricional. Portanto, o objetivo do trabalho foi avaliar possíveis impactos do distanciamento social, durante tempos de COVID-19, relacionados a condições socioeconômicas, psicológicas e hábitos alimentares acerca do consumo alimentar e estado nutricional em amostra da população brasileira. 

METODOLOGIA 

Obtenção de dados 

O estudo possuiu uma natureza transversal e quantitativa, onde foram administrados um conjunto de instrumentos validados e medidas de autorrelato, coletadas de maneira online, visando avaliar o impacto do distanciamento social pela COVID-19. Foram obtidos dados socioeconômicos, psicológicos e variáveis nutricionais.  

Participantes 

Foram amostrados por conveniência indivíduos do Brasil. Sendo, esses, adultos de acordo com a classificação etária da OMS, de ambos os sexos, que possuíam acesso à internet, fossem alfabetizados e tivessem cumprido medidas de distanciamento social devido a COVID-19 (29,30).   

Tal amostragem foi facilitada pela parceria e divulgação de pesquisadores com a Universidade Federal Fluminense. Critérios de inclusão utilizados foram: estar/ter ficado em distanciamento social; ter conhecimento sobre a COVID-19; ter acesso a internet para o preenchimento do questionário; e ter acuidade visual normal ou corrigida para normal. E os critérios de exclusão foram: ter patologia oftálmica significativa; ter comorbidade psiquiátrica severa que interferisse na participação do estudo; e respostas incompletas e/ou inconclusivas. 

Aplicação do questionário 

O questionário levou em média de 15 a 30 minutos para ser preenchido (conforme testes-piloto efetuados), e o convite para preenchimento do inquérito foi divulgado através de diferentes canais de comunicação online, como redes sociais, listagens universitárias de Email, websites de instituições, entre outros. O recolhimento dos dados foi realizado online, via formulário Google Forms (31). 

Instrumentos de medidas 

Utilizou-se, para a coleta dos dados, instrumentos validados de autorrelato. Sendo eles: o Patient Health Questionnaire (PHQ-9) (32,33); o Generalized Anxiety Disorder (GAD-7) (34); o Questionário Simplificado de Diversidade Alimentar (35); o Questionário de registro de informações sociodemográficas e clínicas relevantes para a investigação, desenvolvido para este efeito; e Questões de autorrelato sobre estado nutricional (estatura, peso e evolução ponderal). 

Princípios éticos e de consentimento informado 

O estudo respeitou os princípios éticos enunciados na Declaração de Helsinki, considerando participação voluntária, consentimento informado e esclarecido, confidencialidade e acesso aos dados, além disso, o presente estudo foi submetido e aprovado pelo Comitê de Ética e Pesquisa com o seguinte nº de registro, 50485421.6.0000.5243 (36). A aceitação quanto à participação no estudo se deu através do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE). 

Procedimentos de Análise de dados 

A análise dos dados foi realizada através do Programa Estatístico Rstudio ® (Versão R 4.2.3), software de livre acesso (37). A distribuição de variáveis quantitativas foi aferida utilizando testes de normalidade adequados. Foram conduzidos testes paramétricos para variáveis com distribuição normal e não-paramétricos para variáveis com distribuição não-normal, quando apropriado. Variáveis categóricas foram comparadas utilizando o teste de Qui-quadrado. Foram realizadas análises com geração de estimativas de risco apropriadas, com intervalos de confiança a 95%. 
Portanto, definiu-se um valor de significância para todos os testes de p=0,050. 

Fomentos 

Dada a natureza online do inquérito, utilizando um formulário gratuito e um conjunto de capacidades instaladas e acessíveis, não se obtiveram despesas financeiras relevantes relacionadas com esta investigação e por isso os encargos foram por conta dos pesquisadores envolvidos. 

RESULTADOS 

Caracterização da amostra obtida  

A amostra foi obtida durante o período de maio de 2022 a março de 2023, por conveniência através dos questionários respondidos. As exclusões ocorreram por não atenderem aos critérios de residência no país, idade e respostas incompletas e/ou inconclusivas. Foi obtido integralmente o nº de 161 participantes, com posterior exclusão de nove participantes, e o nº final de 152 participantes.  

Os participantes amostrados foram caracterizados quanto às suas informações socioeconômicas, variáveis psicológicas e variáveis nutricionais. Foi observado maior proporção de mulheres respondendo aos questionários (76,3%) e média etária semelhante entre mulheres e homens, respectivamente, de 39,05 (±11,8) anos e 39,28 (±10,3) anos. Além disso, a maior parte dos participantes (84,9%) não recebeu auxílio do governo durante o período da pandemia considerado. A renda familiar e individual foi predominantemente na faixa de mais de 10 salários mínimos (28,9%) e entre 2 e 4 salários mínimos (23,0%), respectivamente. Vale salientar que o estudo baseou-se na moeda vigente do país, o real, em 2022.  

No que tange às variáveis psicológicas, através do PHQ-9 foi possível observar que 75% dos participantes apresentaram algum tipo de sintoma depressivo. Ainda através do GAD-7 72% dos participantes apresentaram ansiedade leve, moderada ou severa.  

Em relação às características nutricionais, durante a pandemia, 34,9% dos participantes estavam concentrados na faixa de sobrepeso. Além disso, foi observada distribuição das mulheres amostradas entre baixa (10,3%), média (37,1%) e alta (52,6%) diversidade alimentar. Assim como, os homens amostrados que também apresentaram distribuição entre baixa (8,3%), média (33,3%) e alta (58,4%) diversidade alimentar.  

Alteração nos hábitos alimentares e na saúde mental e suas influências no consumo alimentar e no estado nutricional 

Observou-se associação entre os parâmetros de saúde mental e os dados de estado nutricional, onde, quanto maiores os sintomas depressivos maior o sobrepeso, durante a pandemia, entre mulheres (p=0,039) (Figura 1). Ainda, foi possível observar associação entre parâmetros de saúde mental e dados de consumo alimentar, onde a presença de ansiedade moderada esteve associada a menor diversidade alimentar, entre mulheres (p=0,025) (Figura 2). 

Figura 1. Associação entre o Patient Health Questionnaire (PHQ-9) e o Índice de Massa Corporal (IMC) durante o distanciamento social dos participantes amostrados no Brasil, de maio de 2022 a janeiro de 2023.

Intervalo de confiança (IC) a 95% | S.aus: Sintomas ausentes | S.mín: Sintomas mínimos | S.d.m: Sintomas de depressão menor | S.d.ma: Sintomas de depressão maior 

Figura 2. Associação entre o Generalized Anxiety Disorder (GAD-7) e o Questionário Simplificado de Diversidade Alimentar no Brasil, de maio de 2022 a janeiro de 2023. 

Intervalo de confiança (IC) a 95% | A.mín: Ansiedade mínima | A.lev: Ansiedade leve | A.mod: Ansiedade moderada | A.sev: Ansiedade severa

DISCUSSÃO 

 A amostra obtida no Brasil apresentou média de idade aproximada de 39 anos, corroborando com o Censo de 2022, com média de 35 anos (38). Além disso, do total da população residente no país 51,5% era mulheres e 48,5% homens, o que condiz com o percentual maior de participação feminina nas respostas aos questionários (39). 

 Dados oficiais do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) afirmam que cerca de 43% do total de domicílios foram beneficiados durante a pandemia (40). O que difere da maior parte dos participantes da presente amostra (84,9%) que não recebeu auxílio do governo. Além disso, a renda familiar segundo a PNAD de 2015 era de R$ 3.186,00 (41). Já no estudo a concentração da renda familiar foi observada na faixa salarial de mais de 10 salários mínimos para 28,9% dos participantes. Entretanto, a renda individual de 23,0% dos participantes foi observada na faixa salarial entre 2 e 4 salários mínimos, ou seja, entre R$ 2.424,00 e R$ 4.848,00, segundo o salário mínimo vigente no Brasil em 2022. Renda essa que já ultrapassa a renda mensal domiciliar nacional e também supera a renda mensal per capita, segundo a PNAD-C de 2022, que aponta valor mensal de aproximadamente R$1.800,00 (42). 

Em relação à saúde mental, segundo a Pesquisa Nacional de Saúde (PNS) de 2019 e a Secretaria Nacional da Família, no que tange a saúde mental, a prevalência de adultos que reportaram ter recebido diagnóstico de depressão foi de 10,2%, valor acima do encontrado na pesquisa de 2013 (7,6%) (43,44). Estratificando os dados por sexo, mulheres sofreram mais com o diagnóstico (14,7%) quando comparadas aos homens (5,1%). Corroborando numericamente com as pesquisas, os participantes do presente trabalho, em sua maioria, possuíam sintomas relacionados à depressão (75% pelo PHQ-9) e a ansiedade (72% pelo GAD-7). Em relação à ansiedade, a OMS refere que o Brasil é o país com maior número de pessoas ansiosas do mundo, acrescido a isso, os índices de depressão e ansiedade cresceram 25% apenas no primeiro ano de pandemia (45,46). 

Referente ao IMC durante a pandemia, estudos conduzidos no Brasil, com caráter retrospectivo, mostraram que o distanciamento social impactou os hábitos alimentares, consequentemente as refeições e estilo de vida, apresentando relação direta com o ganho de peso entre os indivíduos (47,48). Isto corrobora com os achados do presente estudo, visto que a maior distribuição dos participantes (34,9%) ficou na faixa de sobrepeso.  

Na Pesquisa de Orçamentos Familiares (POF) de 2017-2018 foi demonstrado segundo a Escala Brasileira de Insegurança Alimentar (EBIA) que, quanto maior o grau da insegurança alimentar menor a média mensal da destinação monetária para alimentos contidos no Questionário de Diversidade Alimentar, incluindo principalmente laticínios. Isto levou à redução de alimentos que abrangem uma alimentação saudável e indicada pelo Guia Alimentar para a População Brasileira (23,49). Considerando hábitos alimentares, os indivíduos amostrados apresentaram, em sua maioria, alto consumo de alimentos com diversidade alimentar. Contudo, tal fato não se apresentou suficiente para influenciar o estado nutricional durante o período pandêmico. Achados do presente estudo concordaram com o trabalho de Selvaraj et al. (2022) que, anteriormente à pandemia, já demonstravam associação de depressão e ansiedade com padrões alimentares desordenados (50). Somando-se, Melamed et al. (2022) demonstraram que o ganho de peso foi mais prevalente entre aqueles que experimentaram altos níveis de depressão e ansiedade durante o período pandêmico (51). 

CONCLUSÃO 

 Após o agrupamento de dados de saúde mental, hábitos e consumo alimentar, estado nutricional, e parâmetros socioeconômicos, foi possível verificar as implicações de uma pandemia a nível global. A nova rotina imposta pelas necessidades sanitárias impactou o país, o que foi refletido no estado nutricional por faixas de IMC de sobrepeso durante o distanciamento.  

Não distante, a alteração da rotina impactou diretamente o padrão emocional dos indivíduos, impactados pelo distanciamento social, pela insegurança na saúde e também nos parâmetros financeiros advindos de uma instabilidade econômica. O reflexo disto se deu também na prevalência do sobrepeso. Analisou-se, também, que o período pandêmico desafiou, não só o Brasil, mas todos os países a encontrar maneiras criativas de manter a economia ativa, a saúde mental, padrões alimentares equilibrados dentro de cada cultura, além da população ativa apesar das restrições impostas. 

Estes esforços destacaram a importância de políticas públicas adaptáveis que promovessem a saúde física e mental, mesmo em tempos de crise global. Bem como a implementação de programas de auxílio financeiro, refletindo as prioridades e as condições econômicas de cada país. Portanto, sendo a COVID-19 um evento sem precedentes, acredita-se que esse estudo possa contribuir para gerações futuras com informações relevantes à saúde pública, a novos estudos e aos desfechos decorrentes da pandemia. 

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1Universidade Federal Fluminense (UFF) – Faculdade de Nutrição Emília de Jesus Ferreiro, Niterói, RJ, Brasil nutrivanessadelana@gmail.com
2Universidade Federal Fluminense (UFF) – Faculdade de Nutrição Emília de Jesus Ferreiro, Niterói, RJ, Brasil
3Universidade Federal Fluminense (UFF) – Faculdade de Nutrição Emília de Jesus Ferreiro, Niterói, RJ, Brasil