REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.10160710
Bárbara Martins rodrigues Bandeira1
Ayla Emanuelle Rodrigues Felipe2
João de Sousa Pinheiro Barbosa3
Resumo
A música é uma das formas mais antigas de tratamento não medicamentoso que existe notórias personalidade da área da enfermagem, tais como Florence Nightingale e Isa Maud Ilsen utilizaram em seus cuidados, deixando o ambiente de cuidado um local mais humanizado. O presente artigo visa identificar na literatura científica como a musicoterapia pode influenciar para a melhora nos cuidados dos pacientes e na diminuição de alguns fármacos dentro de uma Unidade de Terapia Intensiva, além de aprimorar essa prática na assistência de enfermagem. Foi realizada uma pesquisa nas bases de dados PubMed, Medline e Cochrane e entre os critérios de inclusão e exclusão foram selecionados 20 artigos científicos que atendiam os objetivos deste estudo. Contudo, foi possível observar a necessidade de mais estudos sobre a musicoterapia em terapia intensiva, visto que ainda há uma carência de pesquisas nessa área e a indispensabilidade de orientar os profissionais sobre a realização da mesma com terapeuta não licenciado, o que pode causar malefícios ao paciente.
Palavras-chave: Musicoterapia; Unidades de Terapia Intensiva; Enfermagem; Saúde; Música.
Abstract
Music is one of the oldest forms of non-pharmacological treatment that notable personalities in the nursing field, such as Florence Nightingale and Isa Maud Ilsen, used in their care, leaving the care environment a more humanized place. This article aims to identify in the scientific literature how music therapy can influence the improvement of patient care and the reduction of some drugs within an Intensive Care Unit, in addition to improving this practice in nursing care. A search was carried out in the PubMed, Medline and Cochrane databases and among the inclusion and exclusion criteria, 20 scientific articles were selected that met the objectives of this study. However, it was possible to observe the need for more studies on music therapy in intensive therapy, given that there is still a lack of research in this area and the indispensability of guiding professionals on carrying it out with an unlicensed therapist, which can cause harm to the patient.
Keywords: Music therapy; Intensive Care Units; Nursing; Health; Music.
1 INTRODUÇÃO
A Unidade de Terapia Intensiva (UTI) é uma área no hospital de alta complexidade que atua com abordagem intensiva para pacientes em estado crítico e que requer constante monitoramento (AUSTIN, 2010). Composta por uma equipe especializada e multidisciplinar de profissionais capacitados a atenderem seus clientes complexos e individualizados em estado grave (RODRIGUES et al., 2006).
O ambiente de uma Unidade de Terapia Intensiva costuma ser estressante e desconfortável para pacientes, devido a, além do estado de saúde dos pacientes, também há a falta de privacidade, a grande demanda de equipamentos cujo estão em funcionamento constante emitindo sons desconfortantes e ainda pelos profissionais trabalhando, vagando (AUSTIN, 2010).
É estimado que parte dos pacientes adquiram estresse pós-traumático em seguida a alta e a doença crítica psicológica, também pode haver efeitos duradouros sob os pacientes internados sendo a ansiedade o que atinge mais da metade dos que estão em estadia por mais de 15 dias na UTI, sendo eles em especial os que passam pelo processo da ventilação mecânica (BRADT; DILEO, 2014).
Havendo essa preocupação, a equipe de tratamento reconhece o impacto, e sendo limitado às opções de intervenções, é recorrido a medicação sendo ela uma interferência com inúmeras reações adversas ao tratamento e maiores riscos podendo causar dependência e alergias por exemplo (NILSSON, 2008).
Os tratamentos não-farmacológicos, como a musicoterapia, vêm sendo amplamente reconhecidos e aderidos, beneficiando muitos dos pacientes e possuindo resultados quase nulos de efeitos adversos empregados aos diversos tipos de métodos implantados, procurando atender a uma melhor qualidade de vida reduzindo a quantidade de drogas a serem consumidas diariamente, trazendo assim indícios de atenuação de danos ao organismo do ser humano (KHAN et al., 2020).
O objetivo da música como terapia busca encontrar conforto ao paciente em agonia, apoio em adotar forças para cura e ainda motivação para indagar evolução da patologia e diminuição da dor, contribuindo a um olhar biopsicossocial (KEMPER, 2005).
Esse tipo de tratamento de baixa densidade tecnológica, já utilizado por Florence Nightingale durante a guerra em 1800 para alívio das dores dos soldados feridos, também em 1926 por Isa Maud Ilsen a qual criou nos Estados Unidos a Associação Nacional de Música em Hospitais, observando o ritmo como um elemento terapêutico, é utilizado para melhorar a estadia do cliente na UTI e detém inúmeros benefícios para alívio dos dias de cura a se seguirem no setor e podendo ser nulo o prejuízo do tratamento (DELABARY, 2006; NILSSON, 2008; UYAR e KORHAN, 2011).
Entre os benefícios da musicoterapia na UTI, temos a prática de comunicação tanto entre paciente e profissionais, quanto aos familiares em seus tempos de visitas em cada leito. Podendo também, o paciente usuário da terapia se beneficiar clinicamente, sendo reduzido seu nível de estresse, logo seus Sinais Vitais (SSVV) estabilizados sem os efeitos colaterais comumente associados aos medicamentos (GOLINO et al., 2019).
Todavia, o cuidado com a escolha de música utilizada em cada paciente deve ser minuciosa, devido ao efeito reverso ao objetivo do tratamento, podendo causar ainda mais irritação e inquietação ao paciente, por isso, apesar de ser um tratamento mais seguro, necessita de cuidados meticulosos (GOLINO et al., 2019). Desse modo, existem inúmeros estudos que apoiam a sensação analgésica da música, porém ainda faltam estudos para determinar efetivamente as propriedades musicais ideais para que ocorra a atenuação da dor (SAAVEDRA et al., 2018). Com isso, o objetivo do trabalho é identificar na literatura científica como a musicoterapia pode influenciar para a melhora nos cuidados dos pacientes e na diminuição de alguns fármacos dentro de uma Unidade de Terapia Intensiva.
2 REFERENCIAL TEÓRICO
A prática de musicoterapia é aplicada há décadas em diversas áreas e tem mostrado bons resultados na prática da assistência à saúde e nos cuidados de enfermagem.
2.1. Musicoterapia aplicada ao serviço de saúde
A Unidade de Terapia Intensiva é um ambiente estressor tanto para os pacientes quanto para os profissionais que ali trabalham. Visto isso, os pacientes normalmente apresentam ansiedade, depressão, transtorno de estresse pós-traumático, comprometimento cognitivo e declínio no seu bem-estar geral, o que pode levar ao aumento dos sinais vitais e assim dificultar o andamento de seu tratamento (GOLINO et al., 2019).
De acordo com Chahraoui (2015), ao menos 25% dos pacientes em UTI adquiriram no mínimo uma comorbidade psicológica, especialmente àqueles que recebem ventilação mecânica, esses também correm um alto risco de desenvolver delírio já que são tratados com altas doses de sedativo o que é um fator de risco para a síndrome (GOLINO et al., 2019; KHAN et al., 2020).
Devido ao grande estresse gerado nesse ambiente hospitalar, de diversas maneiras, a terapia não medicamentosa tem crescido nesse meio para diminuir os efeitos adversos das drogas utilizadas, uma dessas terapias é a musicoterapia onde estudos mostram ser um método eficaz na redução da gravidade da dor e do nível de ansiedade de pacientes de terapia intensiva (UYAR e KORHAN, 2011) e além de possuir baixo risco também possui baixo custo ao tratamento padrão.
2.1.1. A música como terapia
A música é presente em todas as culturas e ouvida por pessoas de todas as raças, etnias e idades. A musicoterapia é um dos métodos de tratamento mais antigos que existe, no século VI o filósofo – considerado o fundador da musicoterapia e geometria – Pitágoras, acreditava que a música era de grande importância para a saúde, ele prescrevia música e dieta para manter e restaurar a harmonia do corpo e da alma (NILSSON, 2008). Dito isso, de acordo com Campos e Nakasu (2016):
“Segundo Blasco (1999), da Pré-História à Idade Antiga, o uso terapêutico da música se baseava em uma modalidade de pensamento mágico, ou seja, o tipo de pensamento causal que buscava correlações entre os fenômenos da natureza e as doenças. Um dos princípios fundamentais sobre os quais se embasavam as práticas de cura desse período era a crença de que a música era um dom dos deuses capaz de restabelecer a harmonia do corpo enfermo desarmonizado. A música teria a capacidade de aplacar a fúria dos deuses diante do pecado do homem, favorecendo a cura por meio da expulsão do espírito maligno causador da doença. ́ ́
De acordo com Nilsson (2008), no ano de 1800 a matriarca da enfermagem Florence Nightingale, durante a guerra, reconheceu o poder da música para auxílio da cura dos soldados feridos, a mesma observou os efeitos de diferentes tipos de música e concluiu que obras com instrumentos de sopro e som contínuo tinha efeito benéfico para os pacientes.
Em 1926, a enfermeira Isa Maud Ilsen, criou nos Estados Unidos a Associação Nacional de Música em Hospitais, identificando o ritmo como um elemento terapêutico na música, ela defendeu a implementação de prescrições musicais específicas ou como regimes de tratamento. Com a invenção do gravador de disco, na primeira metade do século XX, a música começou a ser utilizada em ambiente hospitalar para analgesia e anestesia (NILSSON, 2008; UYAR e KORHAN, 2011).
Ultimamente a intervenção musical tem sido uma das terapias não medicamentosas mais utilizadas, mostrando ser capaz de reduzir o estresse, dor, ansiedade e sentimentos de isolamento em pacientes de terapia intensiva. Além da diminuição dos transtornos citados, a musicoterapia pode ser associada a menores frequências cardíacas, pressão arterial e níveis séricos de cortisol (GOLINO et al., 2011; KHAN et al., 2020).
2.1.2. A música e o seu estímulo no cérebro humano
O estímulo auditivo é percebido como um movimento em série, começando com a compressão das moléculas de ar no canal auditivo que atinge a membrana timpânica e enfim passa pela cóclea alcançando os nervos da região somatossensorial (UYAR e KORHAN, 2011).
Segundo Chen et al. (2022), o impacto da música está ligado à capacidade de
envolver múltiplos sistemas neurais do cérebro. É um processo complexo que abarca componentes envolvidos no processamento cognitivo, sensório-motor e emocional que implica uma ativação de uma rede bilateral de regiões temporal, frontal parietal e límbica, as quais estão relacionadas à excitação, atenção, processamento, memórias e emoções (FORSBLOM et al., 2009).
A música afeta o hemisfério direito do cérebro, responsável pela diferenciação do timbre e da melodia, esse provoca respostas psicofisiológicas do sistema límbico, o que causa liberação de encefalina e endorfina resultando na diminuição da dor e pelo aumento da pressão nos neurotransmissores, as mudanças de humor ocorrem e há a diminuição da ansiedade (UYAR e KORHAN, 2011).
Utilizamos a música em ambientes clínicos para controle da dor, relaxamento e para psicoterapia, por exemplo. De acordo com Chanda e Levitin (2016), a música influencia a saúde por meio de alterações neuroquímicas de quatro domínios, sendo eles recompensa, motivação e prazer; estresse e excitação; imunidade; e filiação social, esses domínios são paralelos respectivamente aos sistemas neuroquímicos de dopamina e opióides; cortisol, hormônio liberador de corticotrofina e hormônio adrenocorticotrófico; serotonina e os derivados peptídicos da proopiomelanocortina; e ocitocina.
Estudos de imagem pesquisados por Chen et al. (2022), revelam que o corpo estriado e outras estruturas relacionadas são ativadas quando há o prazer com a música e suas respostas aumentam de acordo com o grau de prazer do paciente com aquela obra. Também foi visto que essa resposta do corpo estriado foi de origem dopaminérgica ligado ao mecanismo de recompensa, sendo esse constituído por diversas estruturas neurais como o tegmento do mesencéfalo, o estriado no prosencéfalo basal, o córtex ventromedial e orbitofrontal etc (CHEN et al., 2022).
Resultados de pesquisas analisadas sobre a musicoterapia para pacientes em unidade de terapia intensiva por Uyar e Korhan (2011), revelam que a música é uma intervenção eficaz visto que foi efetiva na redução de dor e ansiedade de pacientes internados em unidades de terapia intensiva coronariana, para pacientes que sofreram infarto agudo do miocárdio, os que estão em pré operatório, bem como mostraram que aqueles que tiveram contato com a musicoterapia tiveram tempo de intubação reduzido.
2.1.3. A musicoterapia e a saúde mental
O sistema de recompensa realiza funções em biológicas básicas podendo ser a base da nossa experiência de prazer hedônico. É provável que ele desempenhe papel na modulação da mente, explicando o porque a música desempenha papel na redução de ansiedade e no aumento na sensação de bem-estar de diferentes casos clínicos, como no caso de distúrbios psiquiátricos, AVC, doenças cardíacas, melhora na marcha na doença de Parkinson e demência por exemplo (CHEN et al., 2022).
O estresse eleva os níveis de sinais vitais atingindo principalmente, aumentando os batimentos cardíacos, acelerando o pulso, elevando a pressão arterial e a sensação de mal estar da pessoa. Em hospitais e principalmente na Unidade de Tratamento Intensiva (UTI) gera maior estresse especialmente pelos pacientes não conseguirem se comunicar, por ser impedido de se movimentar normalmente devido a aparelhos e/ou dispositivos conectados em si sendo o principal fator estressante a dor (DIAS et al., 2015).
A musicoterapia, para o paciente hospitalizado, é indicada para redução dos níveis de estresse e desconforto do cliente, assim a ansiedade e os valores fisiológicos elevados provocados pela resposta ao estresse podem ser reduzidos. Podendo ainda controlar os sinais vitais tais como a frequência cardíaca (FC) , frequência respiratória (FR) e pressão arterial (PA). Com o método adequado utilizado é possível observar bons resultados de melhor aderência do tratamento e permitindo que a estadia seja mais confortável conforme o possível (HAMEL, 2001).
A área da saúde mental é a mais beneficiada e estudada com comprovação científica de que a musicoterapia é eficaz. Sendo constante e atual utilizada no âmbito hospitalar para fins de controle de ansiedade, alívio de dor, diminuição do medo e/ou pânico e até mesmo anestésico durante procedimentos. São mais comumente empregadas na Unidade de Terapia Intensiva (UTI), Centro Cirúrgico, pré e pós operatórios, ala oncológica entre outros que invocam tal tratamento quando necessário. Isso ocorre pois a música age diminuindo o cortisol no sangue podendo obter um maior nível de relaxamento, nas áreas, cuja as quais causam maior ansiedade no paciente, como a preparação para uma cirurgia; ao sentir dor e incômodo em algum procedimento ou até mesmo a fobia de entrar em um lugar fechado e que seja necessário para realizar o exame, como o tomógrafo que é, para a grande maioria, o maior causador de aflições (CAMPOS e NAKASU, 2016).
2.1.4. Aplicação da técnica da musicoterapia
Ao contrário do que muitos acham, a musicoterapia deve ser feita por um profissional licenciado, normalmente um enfermeiro ou psicólogo, uma vez que influencia nas respostas fisiológicas como a circulação e a pressão sanguínea (GOLINO et al., 2011).
Vale ressaltar que não existe um método único que sirva para todos os pacientes e nem uma dosagem recomendada, uma vez que a experiência musical é algo complexo e que a mesma peça musical pode provocar diferentes respostas entre indivíduos da mesma cultura, ou para o mesmo indivíduo com audição repetida ao longo do tempo (CHEN et al., 2022).
O profissional musicoterapeuta deve registrar todos os sinais vitais, níveis de dor e ansiedade antes das sessões e após avaliar a necessidade do paciente selecionar as intervenções musicais que serão utilizadas. Para técnicas de relaxamento, a qual é a mais utilizada diminuindo o estresse; ansiedade e dor, o profissional inicia o andamento, volume e intensidade da música com base na frequência cardíaca e/ou respiratória atual do paciente e, em seguida, altera a música para facilitar uma resposta de relaxamento, esse processo se chama “arrastamento”, que tem por objetivo coordenar os ritmos do corpo com a intensidade da música. (GOLINO et al., 2011; KEMPER e DANHAUER, 2005).
No estudo realizado por Nilsson (2008), vemos alguns resultados em pacientes que tiveram contato com a musicoterapia. Entre elas temos que, em 24 estudos, 12 deles (50%) mostram redução significativa nos níveis de ansiedade e diminuição de sedativos; entre 13 de 22 (59%) mostram um efeito relevante na diminuição da dor; entre 15, 7 (47%) houveram uma redução do consumo de analgésicos; em seis de 22 estudos (27%), os grupos de intervenção musical reduziram significativamente as frequências cardíacas e, em seis estudos (27%), foi relatada uma diminuição significativa na pressão arterial. Uma diminuição significativa na frequência respiratória foi relatada em três de oito estudos (38%).
2 METODOLOGIA
Este estudo é uma revisão integrativa da literatura que é um método que tem como finalidade sintetizar resultados obtidos em pesquisas sobre um tema ou questão, de maneira sistemática, ordenada e abrangente. É denominada integrativa porque fornece informações mais amplas sobre um assunto, constituindo, assim, um corpo de conhecimento. Deste modo, o revisor pode elaborar uma revisão integrativa com diferentes finalidades, podendo ser direcionada para a definição de conceitos, revisão de teorias ou análise metodológica dos estudos incluídos de um tópico particular (GALVÃO, SAWADA E MENDES, 2003).
O desenho do estudo, uma pesquisa não clínica, conforme descrito por Brun, foi integrado aplicando-se a metodologia Problema, Conceito e Contexto (PCC) para nortear a coleta de dados. A estratégia PCC é uma mnemônica que auxilia a identificar os tópicos-chave: Problema (aplicação da musicoterapia em paciente em área crítica), Conceito (melhoria da assistência) e Contexto (melhor recuperação do paciente e fluidez da assistência de enfermagem ao paciente).
A pesquisa será realizada através Descritores em Saúde (DeCS)/ Medical Subject Headings (MeSH): combinado com o operador booleano AND e OR: das palavras chaves que foram definidas usando “Musicoterapia”; “Unidades de Terapia Intensiva”; “Enfermagem”; “Saúde”; “Música”. Nas bases de dados: Scientific Electronic Library Online (SciELO), PubMed Central®, Cochrane Library e Scopus.
Para inclusão os seguintes critérios foram utilizados: artigos publicados entre os anos de 2001 até 2022, artigos escritos em língua portuguesa, artigos escritos em inglês, artigos escritos em língua espanhola, artigos publicados em revistas, artigos originais, artigos se enquadra nessa pesquisa, artigos que fala sobre simulação realística aplicada na formação de profissionais de saúde.
Com os critérios para exclusão: artigos de revisão, artigos publicados fora da temporalidade estabelecido, tese de doutorado, dissertação de mestrado, trabalho de conclusão de curso, artigos escritos em outras línguas sem ser a portuguesa, turco e inglês, artigos que não fossem originais, artigos que não abordasse sobre o tema da pesquisa.
Para análises dos artigos serão através de leitura dos resumos e títulos foi importante para excluir os estudos que não atendem objetivo do estudo levando em consideração os critérios de inclusão e exclusão do trabalho.
Para elaboração dos resultados foram avaliadas as seguintes variáveis dos estudos selecionados: Local, Base de dados/Periódico, Autor (es) do artigo/ Ano, objetivo, Nível de Evidência. Para classificação da qualidade metodológica das pesquisas selecionadas foi conforme os seis níveis de categorias da Oxford Centre for Evidence-based Medicine.
3 RESULTADOS E DISCUSSÃO
Tabela 1. Musicoterapia como prática aplicada à reabilitação do paciente crítico em Unidade de Terapia Intensiva.
A prática da musicoterapia tem se intensificado cada vez mais no decorrer dos anos, apresentando diversos benefícios para o paciente em situação crítica. Para ALTENMULLER, E.; SCHLAUG, G., 2013 os efeitos multimodais da produção musical, juntamente com a capacidade da música de explorar a emoção e o sistema de recompensa no cérebro, podem ser usados para facilitar a terapia e a reabilitação de distúrbios neurológicos. Já para AUSTIN, D., 2010 A música tem um grande poder de cura; pode ser usada como meio ansiolítico, método de distração e relaxamento, e também pode promover o sono criando uma atmosfera pacífica. A música afeta o corpo por meio de arrastamento, sendo este um processo pelo qual dois objetos vibrando em frequências semelhantes tendem a sincronizar um com o outro, causando uma redução no controle nervoso simpático e, portanto, uma redução nas taxas cardíaca e respiratória promovendo o relaxamento, no metabolismo, no consumo de oxigênio, na tensão muscular, na atividade gástrica e nas glândulas sudoríparas (ALTENMULLER, E.; SCHLAUG, G., 2013; AUSTIN, D., 2010).
Para BERGOLD, L. B. et al., 2009, os resultados indicaram que a música desempenha um papel fundamental na promoção do bem-estar e na facilitação da integração dos indivíduos e com a escolha musical do paciente que possibilitou lembranças que proporcionaram conforto e prazer. Enquanto BRADT, J.; DILEO, C., 2014, os resultados indicaram que ouvir música pode ser benéfico para a redução da ansiedade em pacientes ventilados mecanicamente. Especificamente, ouvir música resultou, em média, numa redução da ansiedade 1,11 unidades de desvio padrão maior (IC 95% -1,75 a -0,47, P = 0,0006) do que no grupo de tratamento padrão. Este é considerado um efeito grande e clinicamente significativo indicando que ouvir música reduziu consistentemente a frequência respiratória e a pressão arterial sistólica, sugerindo uma resposta de relaxamento(BERGOLD, L. B. et al., 2009, BRADT, J.; DILEO, C., 2014).
Os resultados de CAMPOS, L. F.; NAKASU, M. V., 2016, apontam para respostas positivas às intervenções musicais, como diminuição do nível de ansiedade, redução da frequência cardíaca, redução de pressão arterial e da frequência respiratória, diminuição de dor, e de sintomas depressivos, etc, confirmando a atualidade e pertinência do tema para uso no tratamento e promoção de saúde da população hospitalizada, alertando para a necessidade de maiores investigações relacionadas à prática desta modalidade de intervenção junto a pacientes e profissionais de saúde. CHANDA, M. L.; LEVITIN, D. J., 2013 considerou as evidências promissoras, ainda que preliminares, devido a inúmeras confusões e limitações de muitos estudos realizados até o momento. Observamos que – na maioria dos estudos – os métodos utilizados não se qualificaram como Musicoterapia, na medida em que a intervenção musical não foi administrada aos participantes por um terapeuta licenciado. Para CHEN et al., 2022, estudos de circuitos cerebrais humanos, EEG, MEG e fMRI ajudaram a elucidar as redes neurais envolvidas em MBIs. Muitas das evidências de imagens cerebrais apoiaram o envolvimento de circuitos neurais auditivos, motores e de recompensa/afetivos, alguns dos quais são evidências aprimoradas fornecidas por estudos de estimulação cerebral usando tecnologias, como TMS e dados comportamentais de alta resolução coletados por corte- tecnologias de captura de movimento de ponta (CAMPOS, L. F.; NAKASU, M. V., 2016; CHANDA, M. L.; LEVITIN, D. J., 2013; CHEN et al., 2022).
Para DIAS; RESENDE; DINIZ, 2015, quando comparado cada fator estressante separadamente, houve diferença estatisticamente significante apenas entre três itens. “Ter a enfermagem constantemente fazendo tarefas ao redor do leito” foi mais estressante para a unidade de terapia intensiva pós-operatória geral do que para a unidade de terapia intensiva coronariana (p = 0,013). Por outro lado, os itens “escutar sons e ruídos desconhecidos” e “ouvir pessoas falando sobre você” foram mais estressantes para a unidade de terapia intensiva coronariana. Concomitante a isso, FORSBLOM, A. et al., 2009, traz resultados que sugerem que ouvir música pode ser usado para relaxar, melhorar o humor e proporcionar ativação física e mental durante os estágios iniciais da recuperação do AVC. E em GOLINO, A. J. et al., 2019, Após a intervenção, foram encontradas diminuições significativas na frequência respiratória, frequência cardíaca e dor autorreferida e níveis de ansiedade e nenhuma mudança significativa no nível de saturação de oxigênio foi observada. Os resultados diferiram entre os dois grupos de intervenção: os pacientes que receberam a intervenção de relaxamento muitas vezes adormeceram (DIAS; RESENDE; DINIZ, 2015; FORSBLOM, A. et al., 2009; GOLINO, A. J. et al., 2019).
Na revisão de HAMEL, W. J., 2001, houve redução estatisticamente significativa da ansiedade apenas no grupo teste e na comparação do grupo teste com o grupo controle. Ao comparar os valores fisiológicos iniciais e de saída, notou-se que tanto a frequência cardíaca quanto a pressão arterial sistólica caíram no grupo teste, mas aumentaram no grupo controle. Enquanto para KEMPER, K. J.; DANHAUER, S. C., 2005 a música reduz efetivamente a ansiedade e melhora o humor de pacientes médicos e cirúrgicos, de pacientes em unidades de terapia intensiva e pacientes submetidos a procedimentos, e de crianças e adultos. Já no ensaio randomizado de KHAN et al., 2020, dos 1.589 pacientes triados, 117 (7,4%) eram elegíveis. Desses, 52 (44,4%) foram randomizados, com taxa de recrutamento de 5 pacientes por mês. A adesão foi maior nos grupos que ouviram música (80% nos grupos PM e STM vs 30% no grupo AC; P = 0,01), e 80% dos pacientes pesquisados classificaram a música como agradável. O número mediano (intervalo interquartil) de dias livres de delirium/coma no dia 7 foi 2 (1-6) para PM, 3 (1-6) para STM e 2 (0-3) para AC (P = 0,32 ) . ). A gravidade média do delirium foi de 5,5 (1-7) para PM, 3,5 (0-7) para STM e 4 (1-6,5) para AC ( P = 0,78) (HAMEL, W. J., 2001; KEMPER, K. J.; DANHAUER, S. C., 2005; KHAN et al., 2020 ).
Na revisão sistemática de ensaios clínicos de MARTIN-SAAVEDRA, J. S. et al., 2018, foram incluídos 85 estudos para análise qualitativa, mas apenas 56,47% descreveram pelo menos uma característica musical. A metanálise geral encontrou um efeito significativo, com alta heterogeneidade, da música no tratamento da dor (SMD -0,59, I2 = 85%). Apenas as características da instrumentação (falta de letra, de percussão ou de sons da natureza) e o andamento de 60-80 bpm foram suficientemente descritos para análise. Todas as três características da instrumentação tiveram efeitos significativos, mas apenas a falta de letras mostrou uma heterogeneidade aceitável. E em NASSIF, S., 2008, de todas as experimentações, a criança vai fixando ou criando um repertório apenas daquelas que tem uma resposta significativa do ambiente, sendo que todos os sons ou complexos sonoros que carecem dessa resposta tendem a desaparecer. Em NILSSON, U., 2008, na prática clínica, a intervenção musical pode ser uma ferramenta para apoiar estas necessidades, criando um ambiente que estimula e mantém o relaxamento, o bem-estar e o conforto. A música pode ser usada como uma técnica de autogestão para reduzir ou controlar o sofrimento (MARTIN-SAAVEDRA, J. S. et al., 2018; NASSIF, S., 2008; NILSSON, U., 2008).
Na revisão sistemática de OLIVEIRA, M. F. et al., 2014, os estudos demonstraram que a musicoterapia proporciona sensações de alegria, felicidade, bem-estar, relaxamento, mudança de rotina, entretenimento, redução de sintomas, recordações positivas, companhia e sensação de passagem mais rápida do tempo, quando aplicada em pacientes terminais e familiares, demonstrou que a utilização da música promove a comunicação e melhora o relacionamento interpessoal entre o doente e sua família. Já na revisão de PANTEV, C.; HERHOLZ, S. C., 2011, os resultados abrem perspectivas para estudos futuros, que também devem responder a questões em aberto que ainda não puderam ser resolvidas. As comparações dos efeitos do treino resultantes do treino musical de curta duração e do treino de longo prazo avaliado em tarefas semelhantes permitirão diferenciar os efeitos do treino laboratorial de uma função específica e os efeitos mais gerais do treino de longo prazo e lançar mais luz sobre o efeitos da “natureza” e “criação” na formação musical. Enquanto UYAR, M.; AKIN KORHAN, E., 2011, relata que estudos mostram que a musicoterapia é um método eficaz na redução da gravidade da dor e do nível de ansiedade de pacientes de terapia intensiva (OLIVEIRA, M. F. et al., 2014; PANTEV, C.; HERHOLZ, S. C., 2011; UYAR, M.; AKIN KORHAN, E., 2011).
4 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Como pudemos observar, a música tem ligação direta e complexa com nosso sistema nervoso, influenciando no mecanismo de recompensa possibilitando experimentar sensações de relaxamento, auxilia na recordação de memórias, na convivência e hospitalidade e na redução da estadia do paciente em internação.
Após a análise dos artigos selecionados para a realização deste trabalho, foi observada a necessidade de mais estudos na abordagem da musicoterapia em Unidades de Terapia Intensivas, bem como a necessidade dos profissionais de enfermagem e musicoterapeutas se especializarem no assunto, visto que é um tratamento com poucos efeitos adversos mas ainda assim com probabilidades, como o estresse, por exemplo.
Além da carência de hospitais desenvolverem estratégias de musicoterapia, visto que é baseado em uma terapia eficaz em diversas áreas da saúde, com baixo valor de custo e não invasiva, que proporciona um vínculo paciente-profissional benéfico podendo reduzir o uso de drogas em terapias e proporcionar melhoria dos sinais vitais.
REFERÊNCIAS
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Agradecimentos
Gostaríamos de agradecer imensamente à nossa família que esteve ao nosso lado nos apoiando, em especial às nossas avós, tão especiais, que nos mostraram como a música pode ser importante em processos de apaziguamento durante momentos de muita angústia e dor. Também ao nosso professor orientador, que em meio às turbulências nos ajudou a construir e realizar um ótimo trabalho.
1Graduanda do Curso de Enfermagem,
do Centro Universitário do Planalto Central Apparecido dos Santos – Uniceplac.
E-mail: barbaramartinsrb@gmail.com.
2 Graduanda do Curso de Enfermagem,
do Centro Universitário do Planalto Central Apparecido dos Santos – Uniceplac.
E-mail: AylaManu14@gmail.com.
3 Professor do Curso de Enfermagem,
do Centro Universitário do Planalto Central Apparecido dos Santos – Uniceplac.
E-mail: joao.barbosa@uniceplac.edu.br.