REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/cs10202511302302
Calebe Silva Martins Santos
Orientador(a): Prof. Me. Chrys Morett Carvalho de Freitas
RESUMO
A implantodontia constitui um dos maiores avanços da odontologia moderna, proporcionando reabilitação funcional e estética eficaz. Apesar das elevadas taxas de sucesso dos implantes dentários, superiores a 90%, sua longevidade está diretamente relacionada à manutenção periódica e à higiene oral adequada. A negligência desses cuidados favorece o acúmulo de biofilme bacteriano, levando ao desenvolvimento de mucosite e peri-implantite, que comprometem a durabilidade e a estética, especialmente em regiões anteriores. O presente estudo teve como objetivo analisar a influência da higiene e da manutenção na longevidade dos implantes dentários instalados em áreas estéticas, ressaltando a importância desses fatores para a saúde peri-implantar e previsibilidade dos resultados. Trata-se de uma revisão narrativa da literatura, realizada nas bases PubMed/MEDLINE, SciELO, BVS, Scopus e Web of Science, incluindo publicações entre 2010 e 2025, nos idiomas português, inglês e espanhol. Foram selecionados 26 artigos, incluindo ensaios clínicos, revisões sistemáticas e estudos longitudinais que relacionassem higiene oral, manutenção e durabilidade de implantes em áreas estéticas. Os resultados demonstraram que pacientes submetidos a consultas periódicas e orientados quanto às técnicas corretas de higienização — como o uso de escovas interdentais, fios específicos e irrigadores orais — apresentam menor incidência de complicações peri-implantares. Protocolos de acompanhamento clínico e radiográfico a cada três a seis meses mostraram-se essenciais para a detecção precoce de alterações ósseas e inflamatórias. Conclui-se que a longevidade dos implantes estéticos depende não apenas da técnica cirúrgica, mas de uma abordagem integrada baseada na manutenção profissional, no autocuidado e em protocolos individualizados.
Palavras-chave: Implantes dentários. Higiene bucal. Estética dentária.
ABSTRACT
Implant dentistry represents one of the greatest advancements in modern dentistry, providing effective functional and esthetic rehabilitation. Despite the high success rates of dental implants, exceeding 90%, their longevity is directly related to periodic maintenance and proper oral hygiene. Neglecting these care measures favors the accumulation of bacterial biofilm, leading to mucositis and peri-implantitis, which compromise durability and esthetics, especially in anterior regions. The present study aimed to analyze the influence of hygiene and maintenance on the longevity of dental implants placed in esthetic areas, emphasizing the importance of these factors for peri-implant health and result predictability. This narrative literature review was conducted using the PubMed/MEDLINE, SciELO, BVS, Scopus, and Web of Science databases, including publications from 2010 to 2025 in Portuguese, English, and Spanish. A total of 26 articles were selected, including clinical trials, systematic reviews, and longitudinal studies addressing oral hygiene, maintenance, and implant durability in esthetic areas. The results demonstrated that patients who attend periodic follow-up visits and receive guidance on proper hygiene techniques—such as the use of interdental brushes, specialized dental floss, and oral irrigators—show a lower incidence of peri-implant complications. Clinical and radiographic monitoring protocols every three to six months proved essential for the early detection of bone and inflammatory changes. It is concluded that the longevity of esthetic implants depends not only on surgical technique, but on an integrated approach based on professional maintenance, patient self-care, and individualized protocols.
Keywords: Dental implants; Oral hygiene; Aesthetic dentistry.
1. INTRODUÇÃO
Os implantes dentários são amplamente utilizados na reabilitação oral, promovendo tanto a restauração da função mastigatória quanto benefícios estéticos. No entanto, sua durabilidade depende diretamente da correta manutenção e da higiene oral adequada por parte dos pacientes. A falta desses cuidados pode resultar no acúmulo de biofilme bacteriano, o que favorece o desenvolvimento de inflamações ao redor do implante, como mucosite e peri-implantite, podendo comprometer sua estabilidade e, em casos mais graves, levar à falha do tratamento (Straumann, 2023).
Pesquisas apontam que práticas adequadas de higienização e visitas regulares ao dentista são essenciais para prolongar a vida útil dos implantes. Recomenda-se o uso de escovas dentais específicas, escovas interdentais, fio dental e enxaguantes bucais para evitar o acúmulo de placa bacteriana e reduzir riscos de complicações peri-implantares (Livio; Silva; Poluha, 2022). Além disso, a orientação profissional tem um papel fundamental na adesão dos pacientes a essas práticas, sendo um fator determinante para o sucesso do tratamento (Oliveira et al., 2021).
Embora a implantodontia tenha avançado significativamente, a manutenção inadequada por parte dos pacientes ainda é uma das principais causas de insucesso nos tratamentos. Muitos casos de falha poderiam ser evitados se houvesse maior adesão às orientações de higiene e acompanhamento profissional regular. Pretende-se fornecer embasamento científico para a elaboração de protocolos clínicos mais eficazes, auxiliando os profissionais da odontologia na orientação e no acompanhamento de seus pacientes.
Assim, o objetivo deste trabalho é descrever a influência da higiene e da manutenção na durabilidade dos implantes dentários em regiões estéticas, considerando a importância desses cuidados para a preservação da saúde peri-implantar e dos resultados reabilitadores a longo prazo. De forma específica, pretende-se identificar os principais fatores relacionados à higienização e à manutenção que impactam a longevidade dos implantes, além de propor diretrizes que auxiliem na otimização dos protocolos de cuidado, visando maior durabilidade, estética preservada e satisfação dos pacientes.
2. METODOLOGIA
Este estudo foi desenvolvido por meio de uma revisão narrativa da literatura, com o objetivo de analisar a influência da manutenção periódica e da higiene bucal na longevidade dos implantes dentários instalados em áreas estéticas. A pesquisa reuniu e avaliou publicações científicas que abordam a relação entre cuidados de manutenção e durabilidade dos implantes, considerando seus impactos clínicos e estéticos.
As buscas foram realizadas nas bases PubMed/MEDLINE, SciELO, BVS, Scopus e Web of Science, utilizando descritores padronizados do DeCS — “Implantes Dentários”, “Higiene Bucal” e “Estética Dentária” — combinados com operadores booleanos (AND, OR) para otimizar os resultados.
Foram incluídos estudos publicados entre 2010 e 2025, em português, inglês ou espanhol, que investigaram implantes em áreas estéticas e a influência da manutenção clínica, higiene domiciliar ou controle de placa bacteriana sobre sua longevidade. Aceitaram-se apenas artigos revisados por pares, com metodologia claramente descrita, como ensaios clínicos, estudos longitudinais, revisões sistemáticas e de coorte.
De um total de 48 artigos, excluíram-se duplicatas, estudos sobre implantes em regiões posteriores, pesquisas sem relação direta com o tema, textos com acesso restrito e materiais não científicos, como editoriais, cartas e trabalhos acadêmicos não publicados. A seleção dos artigos ocorreu em duas etapas: leitura de títulos e resumos, seguida da leitura completa dos textos elegíveis. A análise foi conduzida de forma crítica e descritiva, destacando os principais achados sobre a influência da manutenção e da higiene bucal na durabilidade dos implantes em áreas estéticas.
3. REVISÃO DE LITERATURA
A implantodontia representa um dos grandes avanços da Odontologia moderna, oferecendo soluções reabilitadoras eficazes, duradouras e estéticas. Os implantes dentários são dispositivos de titânio, zircônia ou ligas metálicas biocompatíveis, inseridos cirurgicamente no osso alveolar, com o objetivo de substituir dentes perdidos e sustentar próteses fixas ou removíveis (Simonatto et al., 2021; Souto et al., 2024).
Sua indicação abrange desde a perda unitária até reabilitações totais, e os tipos de implantes variam conforme o desenho do corpo, tipo de conexão e superfície. O sucesso dessa terapia está atrelado à adequada osseointegração, processo no qual ocorre a fixação direta entre o implante e o osso sem tecido conjuntivo interposto (Carvalho et al., 2018).
3.1 Sucesso e longevidade dos implantes
O conceito de sucesso em implantodontia tem sido constantemente atualizado, acompanhando as exigências estéticas e funcionais da prática clínica moderna. Estudos recentes indicam que o sucesso deve ser entendido não apenas como a permanência do implante em função, mas também como a ausência de dor, infecção, mobilidade clínica e perda óssea marginal excessiva (Alves et al., 2017). Dessa forma, a longevidade está diretamente relacionada ao acompanhamento clínico contínuo e ao controle de fatores de risco, reforçando que a previsibilidade dos implantes depende de múltiplas variáveis sistêmicas, locais e técnicas (Olmedo-Gaya et al., 2016).
A literatura atual mostra que a falha dos implantes ainda ocorre em uma parcela significativa dos casos, mesmo diante dos avanços em design e técnica cirúrgica. Essas falhas podem ser classificadas em precoces, quando associadas ao processo de cicatrização e ausência de osseointegração, ou tardias, quando há perda da integração óssea já estabelecida devido a sobrecarga ou infecção peri-implantar (Buhara & Pehlivan, 2018). Em ambos os casos, a identificação precoce dos fatores predisponentes têm papel decisivo para a manutenção da longevidade do tratamento.
Em síntese, a longevidade dos implantes não pode ser considerada apenas em termos de tempo de permanência, mas também em relação à estabilidade estética e à satisfação do paciente. Estudos apontam que a manutenção periódica e a adesão do paciente às orientações de higiene oral são essenciais para prevenir complicações e garantir resultados previsíveis a longo prazo (Prithyani et al., 2018). Assim, o sucesso dos implantes dentários se estabelece como uma soma entre técnica cirúrgica adequada, controle de fatores de risco e acompanhamento clínico regular.
Entre os principais fatores que influenciam a longevidade dos implantes destacam-se a qualidade e quantidade óssea, a estabilidade primária e a ausência de sobrecarga oclusal. O estudo de Razmara (2015) demonstra que regiões com baixa densidade óssea apresentam maior taxa de falhas, especialmente na maxila posterior, sendo necessário adotar protocolos cirúrgicos específicos e, muitas vezes, procedimentos de enxertia. Já a presença de estabilidade primária adequada é fundamental para permitir a correta osseointegração e reduzir riscos de falha precoce.
Outro aspecto de grande relevância é a sobrecarga mecânica, frequentemente associada a hábitos parafuncionais, como o bruxismo. O excesso de carga pode comprometer não apenas o implante, mas também os componentes protéticos, resultando em perda óssea marginal progressiva e falhas tardias (Kate et al., 2016). Da mesma forma, a inadequação no desenho protético e nos contatos oclusais pode favorecer a ocorrência de microfraturas e micromovimentos deletérios na interface osso-implante.
Fatores sistêmicos e comportamentais também exercem impacto significativo na longevidade dos implantes. Pacientes fumantes, diabéticos descompensados ou com histórico de radioterapia em cabeça e pescoço apresentam maiores taxas de insucesso (Buhara & Pehlivan, 2018). Além disso, a adesão às recomendações de higiene bucal e o comparecimento às consultas de manutenção estão entre os determinantes para o controle do biofilme e prevenção de complicações peri-implantares, o que influencia diretamente os índices de sucesso a longo prazo (Prithyani et al., 2018).
As exigências clínicas variam de acordo com a região da arcada em que o implante é instalado. Em áreas funcionais, como a região posterior, a principal demanda está relacionada à resistência mecânica e ao restabelecimento da função mastigatória. Nessas regiões, fatores como densidade óssea reduzida e proximidade de estruturas anatômicas, como o seio maxilar, aumentam a complexidade do tratamento e a probabilidade de insucesso (Manzano et al., 2016).
Já em áreas estéticas, como a região anterior da maxila, as exigências vão além da função mastigatória, envolvendo a manutenção da arquitetura gengival e da harmonia do sorriso. Pequenas perdas ósseas ou recessões gengivais podem comprometer significativamente o resultado final, mesmo que o implante esteja funcionalmente estável (Buhara & Pehlivan, 2018). Por isso, o planejamento tridimensional preciso e a preservação dos tecidos moles peri-implantares são fundamentais para alcançar resultados satisfatórios.
Assim, a literatura recente evidencia que, enquanto em regiões funcionais o critério principal é a durabilidade do implante sob carga, em áreas estéticas o sucesso depende também da previsibilidade estética e da satisfação subjetiva do paciente. Dessa forma, a implantodontia contemporânea deve integrar planejamento cirúrgico, protético e periodontal, reconhecendo que a exigência clínica é maior em regiões estéticas e que a manutenção periódica tem impacto direto tanto na estética quanto na longevidade (Prithyani et al., 2018).
3.2 Doenças peri-implantares
As doenças peri-implantares compreendem a mucosite e a peri-implantite, que se caracterizam, respectivamente, pela inflamação reversível dos tecidos moles ao redor do implante e pela inflamação associada à perda progressiva do osso de suporte. Estudos recentes destacam que a mucosite apresenta prevalência elevada, podendo acometer mais de 40% dos implantes avaliados em diferentes populações, enquanto a peri-implantite, embora menos frequente, está associada a complicações mais severas, incluindo falhas tardias (Prithyani et al., 2018).
Um dos principais fatores de risco relacionados a essas condições é a deficiência na higiene oral, que favorece o acúmulo de biofilme na superfície do implante e inicia a resposta inflamatória dos tecidos peri-implantares. O biofilme bacteriano é considerado o agente etiológico primário, potencializado por condições sistêmicas, como diabetes descompensada, e por hábitos nocivos, como o tabagismo (Olmedo-Gaya et al., 2016). Dessa forma, a falta de controle adequado do biofilme é vista como a principal causa de progressão da mucosite para peri-implantite.
A mucosite caracteriza-se por inflamação limitada aos tecidos moles, enquanto a peri-implantite envolve perda óssea e pode culminar na falência do implante (Oliveira et al., 2013; Mombelli, 2002). Para evitar tais quadros, torna-se indispensável a remoção mecânica eficaz do biofilme, realizada por meio de escovas macias, escovas interdentais, fio dental com passa-fio e irrigadores orais (Souto et al., 2024; Livio et al., 2019)
As consequências da peri-implantite são significativas tanto para a estabilidade óssea quanto para a estética. A perda óssea marginal compromete a osseointegração e, em áreas estéticas, pode gerar recessão gengival e perda de papila, prejudicando a harmonia do sorriso. Além disso, estudos recentes associam a peri-implantite a maior risco de insucesso tardio, destacando a necessidade de protocolos preventivos rigorosos e acompanhamento contínuo para preservar os resultados funcionais e estéticos (Buhara & Pehlivan, 2018).
A perda óssea causada por peri-implantite pode expor colos metálicos dos implantes, resultando em prejuízo estético significativo. A manutenção adequada, por outro lado, prolongará a integridade dos tecidos peri-implantares e permitirá a longevidade da reabilitação estética (Souto et al., 2024; Lauren, 2014).
A higiene bucal eficaz desempenha um papel crucial na preservação da saúde peri-implantar e na prevenção de complicações como mucosite e peri-implantite (Simonatto et al., 2021; Biachini, 2014). A placa bacteriana pode se acumular ao redor dos componentes protéticos da mesma forma que nos dentes naturais, favorecendo a inflamação dos tecidos peri-implantares.
3.3 Manutenção e acompanhamento
Após a instalação dos implantes, a manutenção periódica é considerada essencial para garantir sua longevidade. Protocolos de acompanhamento clínico e radiográfico são recomendados para detectar precocemente alterações nos tecidos peri-implantares e no nível ósseo marginal. Avaliações periódicas permitem intervir de maneira precoce, evitando a progressão de inflamações locais para quadros de peri-implantite (Razmara et al., 2015).
A manutenção profissional periódica deve incluir medidas como profilaxia mecânica, controle do biofilme e, quando necessário, raspagem das superfícies peri-implantares. Estudos evidenciam que pacientes submetidos a protocolos regulares de acompanhamento apresentam menores taxas de complicações em longo prazo (Prithyani et al., 2018). Além disso, o uso de instrumentos específicos e técnicas minimamente invasivas é indicado para preservar tanto a integridade da superfície do implante quanto a estabilidade dos tecidos moles.
O papel do paciente no autocuidado diário é igualmente determinante para o sucesso do tratamento. Orientações claras sobre higiene oral, incluindo o uso de escovas interdentais, fio dental especial e irrigadores orais, são fundamentais para o controle do biofilme. Pacientes que aderem a essas medidas apresentam menores índices de inflamação peri-implantar e maior previsibilidade estética e funcional. Dessa forma, o sucesso dos implantes depende de uma parceria contínua entre o acompanhamento profissional e a colaboração ativa do paciente (Prithyani et al., 2018; Olmedo-Gaya et al., 2016).
A literatura recente enfatiza que a manutenção não deve ser vista apenas como uma medida corretiva, mas sobretudo como uma estratégia preventiva. Revisões sistemáticas apontam que a adesão a programas de manutenção reduz significativamente a incidência de peri-implantite, prolongando a longevidade dos implantes (Olmedo-Gaya et al., 2016). Essa abordagem preventiva inclui consultas regulares, instrução de higiene personalizada e monitoramento constante de fatores de risco individuais.
Outro aspecto relevante é a periodicidade das consultas de manutenção. Embora não haja consenso absoluto, recomenda-se que os retornos ocorram a cada 3 a 6 meses, dependendo do perfil de risco do paciente. Pacientes com histórico de doença periodontal, fumantes ou portadores de condições sistêmicas descontroladas necessitam de acompanhamento mais frequente, uma vez que apresentam maior predisposição a complicações peri-implantares (Buhara & Pehlivan, 2018).
O acompanhamento radiográfico também desempenha papel essencial na detecção precoce de alterações ósseas. Exames de controle permitem avaliar a estabilidade marginal e identificar possíveis reabsorções antes que haja comprometimento clínico evidente. Estudos sugerem que a combinação de avaliação clínica minuciosa e análise radiográfica periódica é a forma mais eficaz de garantir diagnóstico precoce de falhas ou inflamações (Razmara et al., 2015).
A literatura destaca ainda que o sucesso do protocolo de manutenção depende da comunicação eficaz entre profissional e paciente. O cirurgião-dentista deve não apenas realizar o acompanhamento técnico, mas também motivar o paciente a adotar hábitos de higiene adequados e manter a frequência das consultas. A adesão é um fator determinante para que as medidas preventivas surtam efeito em longo prazo (Prithyani et al., 2018).
Por fim, a manutenção em implantodontia deve ser entendida como um processo contínuo e individualizado. Protocolos universais são importantes, mas a adaptação às necessidades específicas de cada paciente garante maior previsibilidade. Dessa forma, a integração entre acompanhamento clínico, controle radiográfico, manutenção profissional periódica e comprometimento do paciente no autocuidado constitui a base para o sucesso e a longevidade dos implantes em qualquer região da cavidade oral (Alves et al., 2017).
A literatura é unânime quanto à importância da educação e orientação do paciente quanto à higiene oral. A técnica de escovação de Bass modificada, uso de fio dental específico (como o Super Floss), cremes dentais não abrasivos e uso controlado de clorexidina 0,12% são estratégias recomendadas (Simonatto et al., 2021; Kracher, 2010 apud Livio, 2019). Além da abordagem domiciliar, o acompanhamento clínico periódico é imprescindível. Consultas de manutenção devem ser realizadas a cada 3 a 6 meses, conforme histórico e condição clínica do paciente, para controle de placa, avaliação de inflamação e perda óssea, e reforço das orientações de higiene (Souto et al., 2024; Simonatto et al., 2021).
A manutenção profissional dos implantes será essencial para prevenir complicações tardias. Protocolos bem estabelecidos incluem remoção do protocolo protético, verificação de adaptação, fraturas, presença de exsudato, reabsorção óssea, sangramento à sondagem e avaliação de estabilidade oclusal (Carvalho et al., 2018; Leite et al., 2015).
O cirurgião-dentista deverá realizar a profilaxia com instrumentos específicos que não danifiquem a superfície do implante ou do componente protético. Além disso, será sua responsabilidade motivar continuamente o paciente e adaptar o plano de manutenção às necessidades individuais.
Em áreas estéticas, onde a demanda funcional e visual se combinam, a preservação da arquitetura gengival ganha ainda mais relevância. Papilas interdentais, contorno gengival e cor da mucosa podem ser comprometidos por processos inflamatórios oriundos da má higiene, o que afeta diretamente a satisfação do paciente (Simonatto et al., 2021; Canallaos et al., 2020).
Estudos mostram que pacientes que recebem instruções claras de higiene e comparecem às manutenções periódicas apresentam taxas significativamente menores de complicações peri-implantares e maior longevidade dos implantes (Cheung et al., 2020; Salles et al., 2020).
Assim, conclui-se que a combinação entre higiene bucal rigorosa e manutenção clínica contínua será determinante para o sucesso funcional e estético dos implantes dentários, especialmente nas áreas de maior exigência estética.
4. DISCUSSÃO
A íntima relação entre o periodonto e o suporte protético emerge de forma consensual na literatura: um periodonto saudável fornece a base biológica e biomecânica necessária para a estabilidade das restaurações fixas, ao passo que doenças periodontais comprometem direta e indiretamente a retenção, a adaptação marginal e a longevidade de coroas e pontes. Autores que investigaram a sobrevida de implantes e próteses ressaltam que a mera presença do elemento protético não traduz, por si só, sucesso clínico — condições como mucosite, peri-implantite, inflamação gengival e perda óssea marginal são determinantes do desfecho funcional e estético (Alves et al., 2017; Olmedo-Gaya et al., 2016; Prithyani et al., 2018). Essa posição reforça a necessidade de redefinir “sucesso” em termos que vão além da manutenção mecânica do elemento, incluindo parâmetros biológicos e subjetivos (ausência de inflamação, estabilidade tecidual, conforto e satisfação do paciente).
Do ponto de vista biológico, o acúmulo de biofilme é apontado quase unanimemente como fator inicial e central para o desenvolvimento de inflamação periodontal e peri-implantar (Olmedo-Gaya et al., 2016; Prithyani et al., 2018; Carvalho et al., 2018). A presença de biofilme correlaciona-se com aumento de sinais inflamatórios gengivais, progressão da perda óssea e recessões, condições que reduzem a área de inserção clínica e, consequentemente, a capacidade de suporte dos elementos pilares — situação que repercute diretamente na retenção e na resistência às cargas oclusais das próteses fixas. Assim, autores destacam que a prevenção e o controle do biofilme são pilares para a estabilidade protética a médio e longo prazo (Simonatto et al., 2021; Souto et al., 2024).
A mobilidade dentária, como expressão clínica da perda de inserção, tem impacto previsível sobre a adaptação marginal e a longevidade das restaurações: dentes com mobilidade apresentam risco aumentado de microinfiltração, cementação deficiente e fadiga dos componentes protéticos, resultando em deslocamento, fraturas ou necessidade de substituição (Manzano et al., 2016). Neste contexto, a seleção inadequada de pilares — seja pela escolha de dentes com suporte periodontal insuficiente, seja por falhas de diagnóstico da estabilidade periodontal — constitui um determinante clínico de insucesso. Autores warnam que a avaliação da relação coroa-raiz, do índice clínico de inserção e da distribuição de forças oclusais deve anteceder qualquer planejamento protético definitivo (Buhara & Pehlivan, 2018).
Há um debate relevante sobre a influência de fatores sistêmicos e comportamentais na evolução das complicações. Alguns autores enfatizam o papel preponderante do biofilme controlável pelo paciente e pelo profissional (Carvalho et al., 2018; Simonatto et al., 2021), defendendo que intervenções de higiene domiciliar e protocolos de manutenção podem mitigar a maioria dos eventos adversos. Em contraponto, há quem sublinhe que condições sistêmicas (diabetes mal controlado, tabagismo) e predisposições individuais potencializam a progressão da doença independentemente de medidas locais — argumento que aponta para a necessidade de manejo interdisciplinar e otimização das condições sistêmicas antes da reabilitação (Buhara & Pehlivan, 2018; Prithyani et al., 2018). Essa tensão entre fatores modificáveis locais e determinantes sistêmicos evidencia que etiologia e prognóstico são multifatoriais, exigindo avaliação individualizada.
No plano das estratégias preventivas e de manutenção, a literatura sustenta a efetividade de protocolos periódicos de acompanhamento clínico e radiográfico para diagnóstico precoce e intervenção imediata (Razmara et al., 2015; Prithyani et al., 2018). A combinação de profilaxia profissional, raspagem subgengival quando indicada, verificação da adaptação marginal e orientação contínua de higiene domiciliar (uso de escovas interdentais, fio específico, irrigadores) tem sido associada a menores taxas de peri-implantite e de falhas protéticas (Prithyani et al., 2018; Simonatto et al., 2021; Souto et al., 2024). Tecnologias complementares — superfícies implantárias modificadas, novos materiais cimentantes e dispositivos de higiene interproximal — são apresentadas como avanços promissores, embora autores alertam para a necessidade de evidências longitudinais robustas que sustentem sua eficácia clínica a longo prazo (Salles et al., 2020).
Quanto à evidência sobre taxas de sucesso, estudos comparativos apontam diferenças entre pacientes com periodonto estável e aqueles com histórico de periodontite ativa: a sobrevida mecânica pode ser similar em curtíssimo prazo, mas a taxa de complicações biológicas e de necessidade de retratamento é consistentemente maior quando o controle periodontal é deficiente (Alves et al., 2017; Prithyani et al., 2018). Esses achados reforçam a noção de que sobrevida ≠ sucesso; a manutenção de parâmetros de saúde tecidual e a satisfação estética são essenciais para o resultado global.
Limitações e contrapontos metodológicos dos estudos revisados merecem destaque: muitos são retrospectivos, com seguimentos curtos e heterogeneidade quanto a critérios diagnósticos, protocolos de manutenção e definições de sucesso (Alves et al., 2017; Olmedo-Gaya et al., 2016). Essa variabilidade compromete comparações e generalizações. Ademais, a maioria dos ensaios randomizados com longo acompanhamento é escassa, e intervenções comportamentais (adesão do paciente) são frequentemente avaliadas por autorrelato, sujeito a viés. Autores convergem na necessidade de estudos prospectivos, randomizados e multicêntricos que integrem desfechos clínicos, radiográficos e de qualidade de vida para orientar protocolos individualizados.
Por fim, a integração entre periodontia e prótese surge como estratégia imperativa: o planejamento reabilitador deve ser multidisciplinar, contemplando avaliação periodontal pré-protética, estratégias para otimizar tecido de suporte, seleção criteriosa de pilares e desenho protético que facilite higiene domiciliar. O sucesso protético, portanto, depende tanto da excelência técnica quanto do controle periodontal contínuo e da corresponsabilidade do paciente — um entendimento que reconcilia evidências clínicas com demandas estéticas e funcionais atuais.
Em suma, o debate entre os autores converge quanto à centralidade do controle do biofilme e da manutenção periódica, divergindo na ênfase atribuída a fatores sistêmicos e às tecnologias preventivas; as limitações metodológicas atuais reforçam a necessidade de maior rigor científico para definir protocolos que assegurem sucesso clínico, biológico e estético a longo prazo.
5. CONCLUSÃO
A literatura demonstra que a longevidade dos implantes em áreas estéticas está diretamente relacionada à eficácia da higiene bucal e à regularidade da manutenção clínica, fatores essenciais para garantir ausência de inflamação peri-implantar, preservação óssea marginal e estabilidade estética a longo prazo. Embora os implantes apresentem altas taxas de sobrevivência (>90%), o verdadeiro sucesso depende do controle rigoroso do biofilme e da adesão do paciente às orientações profissionais, prevenindo mucosite e peri-implantite. Protocolos de manutenção periódica, ajustados ao perfil de risco individual, associados ao uso de dispositivos específicos de higiene — como escovas interdentais, fios adaptados e irrigadores orais — aumentam a previsibilidade estética e funcional. Assim, a durabilidade dos implantes resulta de uma abordagem multidimensional que integra prevenção, manutenção e corresponsabilidade do paciente, assegurando resultados estáveis, harmônicos e duradouros.
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