INFESTAÇÃO POR VARROA DESTRUCTOR EM APIS MELLIFERA EM APIÁRIOS EM DOURADOS-MS, NO PERÍODO DE 8 MESES

REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/cl10202509101140


Lucas Seikichi Nascimento Oshiro


RESUMO

O presente trabalho tem como objetivo investigar e monitorar a presença do parasita Varroa destructor em colônias de abelhas Apis mellifera no município de Dourados-MS, durante o período de dezembro de 2024 a julho de 2025. Foram acompanhados dois apiários distintos, totalizando 20 colônias. O monitoramento foi realizado por meio de coletas mensais, com análise de porcentagem de infestação de ácaros, Taxa de infestação em abelhas adultas (%) = (Número de ácaros/Número de abelhas adultas) x 100. Os resultados demonstraram variação dos índices de infestação ao longo dos meses, com maior intensidade no inverno e mortalidade de algumas colônias. O Apiário 2 apresentou níveis mais críticos de infestação quando comparado ao Apiário 1, destacando a importância do manejo integrado e do monitoramento constante para minimizar os prejuízos à apicultura.

Palavras-chave: Apicultura. Varroa destructor. Infestação. Manejo.

ABSTRACT

This study aims to investigate and monitor the presence of the Varroa destructor parasite in Apis mellifera colonies in the municipality of Dourados-MS, Brazil, during the period from December 2024 to July 2025. Two distinct apiaries were monitored, totaling 20 colonies. The monitoring was performed through monthly collections, with the analysis of the mite infestation percentage. The infestation rate in adult bees (%) was calculated as follows: (Number of mites / Number of adult bees) x 100. The results demonstrated a variation in infestation rates over the months, with a higher intensity during winter and the mortality of some colonies. Apiary 2 showed more critical infestation levels compared to Apiary 1, highlighting the importance of integrated management and constant monitoring to minimize beekeeping losses.

Keywords: Beekeeping. Varroa destructor. Infestation. Management.

INTRODUÇÃO

Segundo dados disponibilizados pela Associação brasileira dos exportadores de mel (ABEMEL., 2024) em 2019 o BRASIL se encontrava como o 6º maior exportador de mel, posição que pode ser melhorada com o aumento da produtividade das colônias brasileiras. Porém a produção pode ser prejudicada pelas muitas pragas e doenças que acometem a apicultura brasileira. Entre as pragas que acometem colônias de apis melífera estão o Acaro Varroa Destructor.

O parasitismo provoca indesejáveis perdas de colônias em diversas partes do mundo, estas podem ser resultado da exposição crônica a estes patógenos que muitas das vezes por suas características de baixa letalidade é silenciosa e permanente, que implicam na redução numérica das abelhas adultas e a sobrevivência das crias novas, consequentemente, perda da colônia (ZHU; YAO; WANG, 2022). Segundo Rosenkranz, Aumeier e Ziegelmann (2010), os danos provocados pela varroatose podem ocorrer de forma direta, como desnutrição, diminuição da longevidade e redução da produtividade, ou de forma indireta, como a disseminação de patógenos e maior suscetibilidade a fungos.

O ciclo de vida do Varroa destructor começa com a fêmea adulta, que se alimenta da hemolinfa das abelhas Apis melíferas. Após a alimentação, a fêmea deposita seus ovos dentro das células de cria das abelhas, geralmente em células de crias de operárias ou zangões. Os ovos eclodem em larvas, que se alimentam da hemolinfa da pupa em desenvolvimento, o que dificulta o desenvolvimento sadio ou até mesmo o nascimento desta cria parasitada. À medida que as larvas se desenvolvem, elas passam por várias mudas até se tornarem adultos. Os ácaros adultos emergem das células de cria junto com as abelhas recém-nascidas e começam a se alimentar da hemolinfa das abelhas adultas. As fêmeas adultas do ácaro podem viver por várias semanas, durante as quais continuam a se alimentar e a se reproduzir, perpetuando o ciclo de vida do parasita. Esse ciclo de vida é intimamente ligado ao ciclo de desenvolvimento das abelhas, o que torna o controle do Varroa destructor um desafio para os apicultores (ROSENKRANZ; AUMEIER; ZIEGELMANN, 2010).

O ácaro varroa foi descoberto por Edward Jacobson na ilha Indonésia de Java no ano de 1904, e posteriormente foi descrita pelo entomologista Anthonie Oudemans como Varroa jacobsonii em homenagem ao seu descobridor (SAMMATARO et al., 2000). A varroa jacobsonii é um parasita natural da abelha oriental Apis cerana, sendo que, as abelhas ocidentais Apis melífera possivelmente pela ação do homem também foram infestadas por estes parasitas.

A partir do estudo de várias amostras de ácaros, Anderson & Trueman, (2000) concluíram através da análise de sequências de DNA que se tratava de mais de uma espécie de ácaro que parasitavam as abelhas. Observou-se que os ácaros encontrados nas espécies Apis cerana e Apis mellifera eram distintos, onde denominaram como sendo a espécie Varroa destructor, o ectoparasita das abelhas A. mellifera que se disseminou por todo o mundo causando grandes prejuízos sendo encontrado em diferentes regiões do mundo.

No mundo, os apicultores aplicam diversas técnicas e práticas para redução ou erradicação dos ácaros, como métodos apícolas biotécnicas, acaricidas sintéticos e acaricidas orgânicos ou suaves. No Brasil, os órgãos de defesa animal preconizam o controle dessa praga através de manejo que se utilize produtos e práticas orgânicas, sendo assim, a utilização de produtos químicos e/ ou industrializados em casos extremos (EPAGRI.,2022). 

Levamos em consideração que a não utilização de métodos químicos visa a manutenção da classificação da qualidade do mel brasileiro perante o mercado consumidor mundial, sendo assim, é de extrema importância o monitoramento e o controle precoce da infestação destes parasitas (ABEMEL.,2024). 

OBJETIVO

O objetivo do trabalho foi investigar e monitorar de forma quantitativa a presença do parasita Varroa Destructor em colônias de abelhas Apis Mellifera no município de Dourados-MS, no período de dezembro de 2024 e julho de 2025.

MATERIAIS E MÉTODOS

O objeto de trabalho foram 20 colônias situadas em dois apiários, sendo 10 colônias em cada apiário, sendo que estes apiários estão em propriedades diferentes com um raio de distância entre estes apiários de 60 quilômetros. Foram classificadas e marcadas como colônias A1,A2,A3,A4,A5,A6,A7,A8,A9,A10 as colônias presentes no apiário 1 que se trata de um apiário creche. As colônias classificadas como B1,B2,B3,B4,B5,B6,B7,B8,B9,B10 estavam presentes no apiário 2 sendo um apiário de produção onde todas as colônias são produtivas, sendo realizado duas colheitas, uma no mês de dezembro e outra no mês de março. 

As colônias número A6,A7,A8,A9 e A10 são resultado de divisão das colônias A1, A2, A3, A4 e A5, realizada no dia da coleta do mês de abril. A colônia número A6 é filha da A1, a colônia número A7 é filha da A2, A colônia A8 é filha da A3, as colônias número A9 e A10 são resultado da divisão das colônias A4 e A5, em que, foram introduzidas rainhas fecundadas compradas, não tendo correlação genética com as demais colônias deste experimento. 

As coletas das amostras foram realizadas uma vez a cada 30 dias, sendo estas sempre próxima do dia 20 de cada mês. A primeira coleta foi realizada em dezembro de 2024 e a última em julho de 2025. Para o processamento das análises estatísticas dos dados foi utilizado o programa Microsoft Office Excel

O monitoramento da quantidade de ácaros presentes nas abelhas adultas foi analisado segundo metodologia de contagem de ácaros em abelhas adultas, desenvolvida por Ritter e Ruttner (1980), a qual consistiu na captura de aproximadamente 100 abelhas de cada colônia em recipiente de 250ml preenchida com aproximadamente 100 ml de álcool 70%. Cada amostra permaneceu por, no mínimo, 24 horas, tempo suficiente para haver o total desprendimento do ácaro do corpo do hospedeiro. O número total de abelhas capturadas e de ácaros foi contado para o estabelecimento da porcentagem de infestação em cada colônia. 

A taxa de infestação em abelhas adultas, foi baseado na metodologia utilizada por (STORT et. al 1981) obtida pela fórmula: Taxa de infestação em abelhas adultas (%) = (Número de ácaros/Número de abelhas adultas) x 100. 

RESULTADO E DISCUSSÃO

Na Tabela 1 apresenta o índice de infestação do ácaro V. destructor nas colmeias do apiário 1, nos oito períodos de coletas.

TABELA 1 – INDICE DE VARROATOSE APIÁRIO 1

Fonte: Autor

Na Tabela 2 apresenta o índice de infestação do ácaro V. destructor nas colmeias do apiário 2, nos oito períodos de coletas.

TABELA 2 – INDICE DE VARROATOSE APIÁRIO 2

Fonte: Autor

Figura 1 – Apiário 1 (referente à Tabela 1)

Figura 2 – Apiário 2 (referente à Tabela 2)

Os resultados obtidos durante o período de oito meses de monitoramento, conforme apresentado nas Tabelas 1 e 2, evidenciam que, em ambos os apiários, a infestação variou ao longo dos meses, com picos em determinados períodos, demonstrando o comportamento dinâmico da população do parasita.

No Apiário 1, a infestação média inicial em dezembro foi de 2,01%, apresentando valores relativamente baixos até fevereiro (1,06%), com discreto aumento em março (2,58%). O ápice ocorreu em julho, atingindo 4,27%, caracterizando uma tendência de crescimento progressivo ao longo dos meses que caracteriza-se à entressafra na região. Apesar da influência da divisão sobre todas as colônias deste apiário, o índice parasitário não teve pico subsequentemente a este manejo realizado na coleta de abril.

Colônias específicas, como a A1, atingiram índices elevados em junho (10%) e julho (10,79%), acima da média do apiário, o que sugere maior suscetibilidade ou menor eficiência de defesa comportamental dessas colmeias. Além disso, algumas colônias não resistiram,A4,A8 e A10, justamente no mês em que houve maior incidência do parasitismo, indicando possibilidade de mortalidade associada ao ácaro. Algumas colônias se destacam pelo comportamento atípico:

  • A1 apresentou um salto significativo, atingindo 10% e 10,79% em junho.
  • A5 teve aumento abrupto em maio (9,87%), com leve redução no mês seguinte, sugerindo que houve alguma intervenção ou reação natural da colônia.
  • A8 registrou 8,77% em maio e posteriormente morte da colônia, demonstrando a ligação entre altos níveis de infestação e perda da colônia.
  • A4 e A10 também encerraram o período com mortalidade, apesar de apresentarem níveis de infestação inferiores a alguns picos de outras colônias, sugerindo que fatores adicionais (genética, baixa população de abelhas ou doenças concomitantes) possam ter contribuído para as perdas.

No Apiário 2, a infestação iniciou em níveis mais baixos (0,88% em dezembro), porém apresentou maior variação e aumento mais expressivo nos meses finais, com pico médio em julho (13,39%). Esse valor é mais de três vezes superior ao observado no Apiário 1 no mesmo período, evidenciando maior pressão parasitária. Algumas colônias, como a B5 e B7, apresentaram índices críticos, chegando a 22,42% e 64%, respectivamente.

Comparando os dois apiários, nota-se que:

  • O Apiário 1 apresentou crescimento gradual, com médias mensais mais equilibradas e menor ocorrência de colônias com índices extremos.
  • O Apiário 2, apesar de iniciar com níveis semelhantes ou menores, apresentou maior instabilidade e forte elevação nos meses finais, chegando a valores críticos.
  • A mortalidade de colônias esteve presente em ambos os apiários, mas no Apiário 2 os índices de infestação se mostraram mais severos, indicando condições ambientais ou de manejo(colheita) que podem ter favorecido a proliferação do ácaro.
  • A sazonalidade foi evidente, com menores valores nos meses de verão (dezembro a fevereiro) e aumento progressivo até o inverno (junho/julho), o que corrobora a literatura, na qual o ácaro apresenta maior prevalência em períodos de menor fluxo de néctar(ROSENKRANZ; AUMEIER; ZIEGELMANN, 2010; GARRIDO & NANNETTI, 2019).

Portanto, os resultados indicam que o Apiário 2 esteve em situação mais crítica, com risco elevado de colapso de colônias, enquanto o Apiário 1 manteve níveis mais controlados, embora também tenha apresentado perdas. Estes dados reforçam a necessidade de monitoramento constante, bem como da adoção de práticas de manejo integrado de pragas, a fim de reduzir os prejuízos causados pela infestação de Varroa destructor.

Os resultados corroboram a literatura (ROSENKRANZ; AUMEIER; ZIEGELMANN, 2010; GARRIDO & NANNETTI, 2019), que destaca que a dinâmica populacional de parasitas em abelhas é fortemente influenciada pela sazonalidade e que as perdas de colônias não estão relacionadas apenas ao valor máximo de infestação, mas também à duração da exposição e à interação com outros fatores de estresse.

REFERÊNCIAS

ABEMEL, associação brasileira de exportadores de mel. Dados estatísticos do mercado do mel 2016 a 2019. Brazil Let ‘s Bee, 2024. Disponível em: <https://www.brazilletsbee.com.br/dados%20estat%c3%adsticos%20do%20mercado%20de%20mel_2016_a_2019_11nov2020.pdf>.  Acessado em 18 de dezembro de 2024.

AGRAER, Agência de Desenvolvimento Agrário e Extensão Rural.  Ministério da Agricultura emite nota técnica sobre infestação de colmeia por Aethina túmida em São Paulo. MAPA, Campo Grande, 2016. Disponível em: < https://www.agraer.ms.gov.br/ministerio-da-agricultura-emite-nota-tecnica-sobre-infestacao-de-colmeia-por-aethina-tumida-em-sao-paulo>. Acesso em: 27 de outubro de 2024.

ANDERSON DL.; TRUEMAN JWH. Varroa Jacobsoni is more than one species.Exp Appl Acarol, n.24: p.165-189. 2000.

EPAGRI, Empresa de Pesquisa Agropecuária e Extensão Rural de Santa Catarina. Saiba como controlar a varroa nos apiários com fitas de ácido oxálico. Epagri, 2022. Disponível em:<https://www.epagri.sc.gov.br/index.php/2022/06/30/saiba-como-controlar-a-varroa-nos-apiarios-com-fitas-de-acido-oxalico/> . Acessado em 29 de outubro de 2024

AGENCIA ESTADUAL DE DEFESA SANITÁRIA ANIMAL E VEGETAL DE MATO GROSSO DO SUL. Nota Técnica Nº 002/2023. Campo Grande: IAGRO,2023. Disponivel em: <chrome-extension://efaidnbmnnnibpcajpcglclefindmkaj/https://www.iagro.ms.gov.br/wp-content/uploads/2023/09/Nota_Tecnica_002_23.pdf>. Acesso em: 18 de dezembro de 2024.

GARRIDO, A.; NANETTI, B. Dinâmica populacional de parasitas em colônias de abelhas. Revista Brasileira de Apicultura, São Paulo, v. 12, n. 2, p. 45–58, 2019.

RITTER, W., & RUTTNER, F. (1980). Varroatose: Diagnose und Therapie. Allgemeine Deutsche Imkerzeitung, 14, 316-318.

ROSENKRANZ, P., AUMEIER, P., & ZIEGELMANN, B. (2010). Biology and control of Varroa destructor. Journal of Invertebrate Pathology, 103(SUPPL. 1), S96-S119. doi: 10.1016/j.jip.2009.07.016.

SAMMATARO, D.; GERSON, U. & NEEDHAM, G. Parasitic mites of honey bees: life history, implications and impact. Annual Reviews of Entomology, n.45, p.519-548. 2000.

STORT, A.C. et al. Study on sineacar effectiveness in controlling Varroa jacobsoni. Apidologie, v. 12, n.3, p. 289-297,1981.

ZHU, Y. C.; YAO, J.; WANG, Y. Varroa mite and deformed wing virus infestations interactively make honey bees (Apis mellifera) more susceptible to insecticides. Environmental Pollution, v. 292, p. 118212, 1 jan. 2022.