SEXUALLY TRANSMITTED INFECTIONS (STIS) IN THE ELDERLY POPULATION OF MARABÁ CITY, PARÁ, BRAZIL.
REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.10493792
Joanque Candido do Nascimento1;
Pedro Paulo Silva Fialho2;
Cilene Aparecida de Souza Melo3
Resumo
Objetivo: Descrever o perfil epidemiológico da população idosa acometida por IST no município de Marabá. Métodos: Trata-se de estudo quantitativo, retrospectivo, conduzido com prontuários e dados do Sistema de Informação de Agravos de Notificação (SINAN) de idosos, de ambos os sexos, com idade maior de 60 anos. Os usuários foram investigados quanto à presença de infecções sexualmente transmissíveis (ISTs), por meio dos prontuários disponíveis no Centro de Testagem e Aconselhamento de Marabá (CTA) e dados do SINAN. Os dados obtidos foram tabelados no Excel e interpretados de acordo com o objetivo. O estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa. Resultados: Os dados obtidos revelam uma maior prevalência de sífilis e HIV na população entre os anos de 2020 e 2021. No entanto, no ano de 2020 não foram relatados casos de Hepatite B e C, com um aumento considerável nos casos de Hepatite B em 2021. Estes resultados estão em consonância com outras pesquisas, onde apontam aumento de ISTs nessa população. Conclusão: Conclui-se que as infecções mais prevalentes na população idosa são a Sífilis e o HIV, mas necessitando de certa atenção em outros aspectos.
Palavras-Chave: População idosa. Perfil epidemiológico. Infecções Sexualmente Transmissíveis
ABSTRACT
Objective: To describe the epidemiological profile of the elderly population affected by STIs in the municipality of Marabá. Methods: This is a quantitative, retrospective study conducted with medical records and data from the Notifiable Diseases Information System (SINAN) of elderly individuals of both genders, aged 60 years and above. Users were investigated for the presence of sexually transmitted infections (STIs) using records available at the Marabá Testing and Counseling Center (CTA) and SINAN data. The collected data were tabulated in Excel and interpreted according to the study’s objective. The study was approved by the Research Ethics Committee. Results: The obtained data reveal a higher prevalence of syphilis and HIV in the population between the years 2020 and 2021. However, in 2020, no cases of Hepatitis B and C were reported, with a considerable increase in Hepatitis B cases in 2021. These results are in line with other research indicating an increase in STIs in this population. Conclusion: It is concluded that the most prevalent infections in the elderly population are Syphilis and HIV, but attention is needed in other aspects.
Keywords: Elderly population, epidemiological profile, sexually Transmitted Infections.
INTRODUÇÃO
Considera-se idosos, indivíduos que apresentam mais de sessenta anos de idade (BRASIL, 1994). Nesse ínterim, o aumento da população idosa no Brasil, superando 30 milhões em 2017, reflete a tendência de envelhecimento do país (PARADELLA, 2018). Neste contexto, preservar a qualidade de vida dos idosos torna-se crucial. O namoro e a vida sexual na terceira idade são áreas pouco discutidas, frequentemente estigmatizadas como assexuadas (CARVALHO & ARAÚJO, 2013). Contudo, estudos atuais contradizem essa visão, enfatizando a continuidade da vida sexual na velhice, desde que em condições de saúde adequadas. (FERNANDEZ & PANIAGUA, 2007)
A sexualidade humana é multifacetada e não se limita apenas ao ato sexual, abrangendo aspectos biológicos, culturais, psicológicos e emocionais (Organização Mundial da Saúde (OMS), 2006). No entanto, a prática sexual, mesmo em idades avançadas, está associada ao risco de Infecções Sexualmente Transmissíveis (ISTs), preocupação global da Organização Mundial da Saúde (OMS) devido ao alto número de casos diários. (OMS, 2013)
Apesar dessa realidade, há escassez de estudos sobre o perfil epidemiológico das ISTs na população idosa, deixando lacunas significativas no entendimento dessas doenças nesse grupo específico. Esta pesquisa visa preencher essa lacuna, analisando as ISTs predominantes na população idosa de Marabá, Pará, considerando variáveis como idade, escolaridade, raça e gênero. (BRASIL, 2020).
Compreender o panorama das ISTs nessa parcela da sociedade é essencial para direcionar políticas de saúde e estratégias de prevenção, promovendo melhorias significativas nos cuidados de saúde para os idosos. Este estudo visa oferecer insights cruciais para lidar com as demandas específicas das ISTs na população idosa, contribuindo para a melhoria dos serviços de saúde e da qualidade de vida desses indivíduos. (BRASIL, 2020).
REVISÃO DA LITERATURA
A teorização do presente estudo foi baseada em artigos, tanto na língua portuguesa como inglesa, que abordavam o tema proposto.
Um estudo em Botucatu-SP em 2013 identificou casos de hepatite B e C em um grupo de idosos, destacando a relevância da realização de sorologias para diagnóstico e tratamento (ANDRADE, 2013). Um estudo na Bahia, evidencia que a hepatite C foi a IST mais prevalente, destacando a importância de programas de prevenção e rastreamento para essas infecções (FERREIRA et al., 2019).
Houve um aumento significativo de casos de sífilis, especialmente no sexo masculino, cor parda, com ensino fundamental incompleto e na faixa etária de 65-69 anos. Em Santa Catarina, de 2013 a 2018, a taxa de ocorrência de sífilis na população ≥ 50 anos aumentou consideravelmente, sendo mais expressiva na faixa etária de 50-59 anos (MEDEIROS et al., 2021). Análises de incidências de ISTs por faixa etária destacam a importância de estratégias de prevenção direcionadas conforme a idade, como a vacinação contra hepatite B para idosos mais jovens e o rastreamento de sífilis para idosos (VIEIRA et al., 2021).
Johson et al (2019), discute a importância do estado civil na prevalência dos casos de ISTs, já que idosos solteiros e viúvos podem estar mais suscetíveis. A distribuição de gênero também tem papel importante, pois as idosas enfrentam as questões de sexualidade diferentemente dos indivíduos do sexo masculino. (TREMAYNE & NORTON, 2017). Por fim, há uma certa vulnerabilidade da mulher em contrair estas doenças, o que foi demonstrado no estudo de Andrade et al. (2017).
METODOLOGIA
O estudo realizado é uma análise quantitativa, retrospectiva, ecológica com foco analítico. Esse tipo de estudo analítico permite observar a relação entre a exposição dos indivíduos e a ocorrência de patologias ou condições de saúde (LIMA-COSTA & BARRETO, 2003).
O trabalho foi conduzido na cidade de Marabá, localizada no estado do Pará, Brasil. Marabá está situada na região sudeste do estado, abrangendo uma área de aproximadamente 15.128,058 km² e com uma população de 233.669 pessoas (IBGE, 2010).
A pesquisa foi realizada no Centro de Testagem e Aconselhamento (CTA) de Marabá, localizado no bairro Marabá Pioneira, na Travessa Santa Terezinha, s/n. A coleta de dados foi autorizada após a aprovação do Comitê de Ética em Pesquisa (CEP) da Universidade do Estado do Pará (UEPA). A escolha do CTA como local de estudo deve-se ao fato de ser o centro de referência para indivíduos que necessitam de acompanhamento específico, dispondo dos dados necessários para coleta.
A amostra deste estudo consiste nos prontuários de idosos que receberam ou estão recebendo assistência no CTA e nos dados do SINAN entre os anos de 2018 e 2023, e os dados disponíveis publicamente no SINAN.
Este estudo inclui idosos com mais de 60 anos que receberam ou estão recebendo tratamento no CTA para alguma IST e que possuem dados disponíveis, de ambos os sexos. Prontuários com dados insuficientes sobre ISTs serão excluídos.
Quanto aos aspectos éticos, a pesquisa apresenta riscos transitórios de danos morais devido à invasão de privacidade dos prontuários e quebra de confidencialidade dos dados coletados. Para mitigar esses riscos, a coleta ocorrerá em local reservado, os prontuários serão identificados por códigos e os dados serão armazenados com segurança.
Esse estudo é relevante social, acadêmica e cientificamente, fornecendo informações sobre a incidência e prevalência de ISTs na população idosa de Marabá, PA. Também pode servir como base para melhorias nas políticas de saúde e como embasamento para futuras pesquisas.
Os dados foram coletados de prontuários disponíveis no CTA de Marabá e no SINAN, seguindo o protocolo de coleta estabelecido. Após a coleta, os dados foram organizados, interpretados e analisados no programa Excel, apresentados em gráficos e tabelas para melhor compreensão.
Este estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da UEPA, sob o número de protocolo CAAE 70365923.2.0000.8607, seguindo as diretrizes éticas estabelecidas pela resolução Nº 466/12 do Conselho Nacional de Saúde – CNS. A coleta de dados foi autorizada por meio de ofício, garantindo a segurança dos pacientes e pesquisadores.
RESULTADOS
Os dados coletados no centro de testagem e aconselhamento (CTA) se referem aos registros de casos de IST’s na população idosa durante os anos de 2020 e 2021.
TABELA 1 – Casos de IST’s na população idosa no ano de 2020.
FONTE: Nascimento JC; Fialho PPS; Melo CAS, 2023.
TABELA 2 – Casos de IST’s na população idosa no ano de 2021.
FONTE: Nascimento JC; Fialho PPS; Melo CAS, 2023.
Já no SINAN estão disponíveis dados referentes à IST’s nos anos de 2018,2019,2020 e 2021, por faixa etária, gênero, raça e grau de escolaridade.
GRÁFICO 1 – Casos de IST’s na população idosa no ano de 2018.
FONTE: Nascimento JC; Fialho PPS; Melo CAS, 2023. Dados extraídos do SINAN.
Legenda: EFC: Ensino fundamental completo EFI: Ensino fundamental incompleto EMC: Ensino médio completo EMI: Ensino médio incompleto IGN/BRA: Ignorados/Brancos.
GRÁFICO 2 – Casos de IST’s na população idosa no ano de 2019.
FONTE: Nascimento JC; Fialho PPS; Melo CAS, 2023. Dados extraídos do SINAN.
Legenda: EFC: Ensino fundamental completo EFI: Ensino fundamental incompleto EMC: Ensino médio completo EMI: Ensino médio incompleto IGN/BRA: Ignorados/Brancos.
GRÁFICO 3 – Casos de IST’s na população idosa no ano de 2020.
FONTE: Nascimento JC; Fialho PPS; Melo CAS, 2023. Dados extraídos do SINAN.
Legenda: EFC: Ensino fundamental completo EFI: Ensino fundamental incompleto EMC: Ensino médio completo EMI: Ensino médio incompleto IGN/BRA: Ignorados/Brancos.
GRÁFICO 4 – Casos de IST’s na população idosa no ano de 2021.
FONTE: Nascimento JC; Fialho PPS; Melo CAS, 2023. Dados extraídos do SINAN.
Legenda: EFC: Ensino fundamental completo EFI: Ensino fundamental incompleto EMC: Ensino médio completo EMI: Ensino médio incompleto IGN/BRA: Ignorados/Brancos.
DISCUSSÃO
Nos anos de 2020 e 2021, a sífilis e o HIV foram as infecções sexualmente transmissíveis mais prevalentes entre a população idosa Marabá. Embora não tenham sido registrados casos de hepatite B e C em 2020, houve um aumento significativo nos casos de hepatite B em 2021. Essa variação ressalta a importância da vigilância contínua dessas infecções nessa faixa etária. Uma pesquisa realizada em Botucatu-SP em 2013 identificou casos de hepatite B e C durante um rastreamento em um grupo de idosos, destacando a relevância da realização de sorologias para promover o diagnóstico e o tratamento subsequente (ANDRADE, 2013).
A análise dos dados do Sistema de Informação de Agravos de Notificação (SINAN) revelou uma variação no perfil dos idosos afetados por infecções sexualmente transmissíveis (ISTs) entre 2018 e 2021. Durante esse período, observou-se uma presença constante das hepatites, especialmente a hepatite C, seguida pela sífilis em incidência. Esses resultados assemelham-se a um estudo na Bahia, onde a hepatite C foi a IST mais prevalente, seguida por hepatite B, sífilis e HIV. Neste estudo, a faixa etária abaixo de 70 anos apresentou associação estatisticamente significativa com a presença de IST, ressaltando a importância de programas de prevenção e rastreamento para essas infecções na população idosa. (FERREIRA et al., 2019).
Sobre sífilis, os resultados indicam um aumento significativo de 1 para 8 casos de em apenas um ano, de 2019 para 2020. A prevalência foi maior no sexo masculino, cor parda, com ensino fundamental incompleto e na faixa etária de 65-69 anos. Em um estudo exploratório em Santa Catarina, de 2013 a 2018, a taxa de ocorrência de sífilis na população ≥ 50 anos aumentou de 18,2 para 110,7 casos por 100.000 habitantes, abrangendo todas as faixas etárias a partir dos 50 anos e ambos os sexos, com destaque para a faixa etária de 50-59 anos (MEDEIROS et al., 2021).
A análise das incidências de ISTs por faixa etária indica variação nos riscos ao longo do tempo, sendo consistente com estudos que destacam a importância de estratégias de prevenção direcionadas conforme a idade. O exemplo mencionado destaca que a vacinação contra hepatite B pode ser crucial para os idosos mais jovens, enquanto a educação sexual e o rastreamento de sífilis são mais relevantes para os idosos. (VIEIRA et al., 2021).
Os dados apresentados, tanto os colhidos no CTA e SINAN, não incluem informações sobre o estado civil dos idosos acometidos por ISTs. No entanto, essa variável poderia ser relevante para entender melhor os fatores de risco associados às infecções na população idosa. Estudos anteriores sugerem que o estado civil pode influenciar o comportamento sexual e o acesso aos serviços de saúde. Por exemplo, idosos solteiros ou viúvos podem estar mais envolvidos em relacionamentos casuais, o que pode aumentar o risco de exposição a ISTs e, além disso, indivíduos que estiveram em relacionamento monogâmico de longo prazo podem não considerar o uso de preservativo. Portanto, futuras pesquisas podem explorar essa variável em maior detalhe e avaliar como o estado civil se relaciona com o risco aumentado destas doenças. (JOHNSON et al., 2019)
Além do estado civil, os dados fornecidos não detalham a distribuição por gênero dos casos, é importante destacar que estudos anteriores têm mostrado que as ISTs afetam homens e mulheres idosos de maneira diferente. É notório que a mulher idosa enfrenta uma série de mudanças na saúde mental, bem-estar e sexualidade, o que aumenta a complexidade quanto ao envolvimento com questões sexuais na terceira idade (TREMAYNE & NORTON, 2017). Por conseguinte, as mulheres tornam-se um grupo de maior vulnerabilidade. Em um estudo transversal realizado no interior paulista com 382 idosos, mulheres tiveram 12 vezes mais chance de contaminação que homens. (ANDRADE et al., 2017).
É importante ressaltar que a pesquisa não fornece informações detalhadas sobre fatores de risco, comportamentos sexuais, acesso aos serviços de saúde ou a eficácia das intervenções preventivas. Essas informações podem ser cruciais para o desenvolvimento de estratégias de prevenção mais eficazes. Os achados deste estudo estão alinhados com a literatura em alguns aspectos, como a prevalência de HIV e sífilis, mas também apresentam divergências notáveis, como a variação nas taxas de hepatites virais e a falta de dados sobre gênero e estado civil. Tais limitações ressaltam a complexidade da epidemiologia das ISTs na população idosa e destacam a importância de pesquisas futuras para uma compreensão mais completa e contextualizada dessa questão de saúde pública.
CONCLUSÃO
Assim, os resultados desta pesquisa indicam que as ISTs, especialmente a sífilis e o HIV, representam um problema de saúde pública na população idosa de Marabá. É fundamental que as autoridades de saúde pública implementem medidas de prevenção, educação sexual e acesso a serviços de saúde adequados para essa população. Além disso, é necessário conduzir estudos mais aprofundados para compreender os fatores por trás das tendências observadas, de modo a orientar intervenções eficazes e personalizadas para a população idosa. Esses esforços podem contribuir para a melhoria da qualidade de vida e bem-estar dessa parcela da população.
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1Discente do Curso Superior de Medicina da Universidade do Estado do Pará Campus VIII/ Marabá e-mail: joanque22@gmail.com;
2Discente do Curso Superior de Medicina da Universidade do Estado do Pará Campus VIII/ Marabá e-mail: fialho.pedropaulo@gmail.com;
3Docente do Curso Superior de Medicina da Universidade do Estado do Pará Campus VIII/ Marabá. Mestre em Cirurgia e Pesquisa Experimental (PPGMAD/UNIR). e-mail: cilene@uepa.br