INFECÇÕES NOSOCOMIAIS DE CINOMOSE E PARVOVIROSE

REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/cl10202507081255


Luís Alfredo Pinheiro da Costa; Izabella Rafael Morais; Ana Carolina Marcelino de Oliveira; Jessica Stephany Moreira Borges; Bárbara Franco Bueno Fernandes; Ana Thereza Corrêa Rodrigues; Yaritza Laiana dos Santos; Ana Flávia Goveia Martins; Rafaella Santos Alves Gonçalves; Hellen Rodrigues de Oliveira; Maria Clara Caiado Amaral Rodrigues; Wincler Divino Holanda da Silva; Luciano Dolzany de Godoy; João Victor da Rocha Cruz Alves; Julia Marques Costa.


RESUMO: A contaminação cruzada é uma problemática frequente na área da internação veterinária. Geralmente, esse problema ocorre com doenças infectocontagiosas, principalmente a cinomose e a parvovirose. Pouco se fala sobre a necessidade do controle dessas enfermidades e do cruzamento delas, que ocorre devido às contaminações que acontecem dentro da internação, que deveria ser um local de estabilização e tratamento, e que acaba piorando o quadro dos pacientes. Diante desse cenário, este trabalho tem como objetivo apresentar medidas de controle para evitar a contaminação cruzada da cinomose e da parvovirose durante a internação veterinária. Para alcançar esse objetivo, foi realizada uma visita técnica em um hospital veterinário público em Goiás. Durante a visita, foram coletados dados relevantes, fotografias e aplicado um questionário aos responsáveis pela internação do hospital. Os resultados obtidos foram analisados e geraram uma discussão sobre a eficiência do local no controle da contaminação cruzada. Foi possível identificar algumas falhas e lacunas no sistema atual de prevenção, o que evidencia a importância de implementar medidas mais rigorosas. Entre as medidas sugeridas estão a separação adequada dos pacientes com doenças infectocontagiosas, a higienização frequente das instalações, o uso de equipamentos de proteção individual pelos profissionais e a conscientização dos responsáveis pelos animais internados sobre os riscos da contaminação cruzada. Ao adotar essas medidas de controle, é possível minimizar o risco de contaminação cruzada entre cinomose e parvovirose, garantindo um ambiente mais seguro para os pacientes internados e contribuindo para a eficácia do tratamento veterinário. Em suma, é crucial que sejam implementadas medidas efetivas de controle da contaminação cruzada durante a internação veterinária. Com uma abordagem adequada e a conscientização de todos os envolvidos, é possível reduzir significativamente os casos de contaminação e garantir um ambiente mais seguro para os animais em tratamento. 

Palavras-chave: Biossegurança. Isolamento. Infectocontagioso. Vírus. Hospital Veterinário.

1. INTRODUÇÃO

Na rotina clínica veterinária, diariamente surgem pacientes em estados críticos, sendo a internação uma importante ferramenta a serviço do médico veterinário, visando a estabilidade do paciente, monitoração profissional e o início de tratamentos terapêuticos.

Dada a relevância da internação, medidas de controle e biossegurança se tornam importantes no combate de enfermidades. Ressalta-se como grande desafio em ambientes hospitalares a contaminação cruzada, na qual é um termo geral que se refere à transferência, direta ou indireta, de bactérias ou vírus de algo contaminado para outro não contaminado (RODRÍGUEZ, 2008). 

Frequentemente são vistos casos envolvendo agentes infecciosos virais, sendo estes responsáveis por um grande número de animais doentes na rotina da clínica veterinária em todo o Brasil (BIEZUS, et al. 2016). É necessário enfatizar o caráter infectocontagioso do ciclo epidemiológico das doenças relacionadas a essa problemática. 

A parvovirose canina é um distúrbio causado pelo parvovírus canino (CPV) com alta incidência em filhotes entre 2 e 6 meses de idade que não receberam vacina polivalente (WILLARD, 2015). Quanto a sua fisiopatogenia, o vírus tem tropismo por tecidos com rápida divisão celular, como medula óssea, órgãos linfopoiéticos e criptas do jejuno e íleo. Os sinais clássicos consistem em vômitos, diarreia (geralmente sanguinolenta), apatia, febre, falta de apetite e desidratação. Quanto a sua etiologia, o CPV se caracteriza por ser altamente resistente no ambiente e à maioria dos desinfetantes. Por outro lado, apresenta sensibilidade ao hipoclorito de sódio, sendo este usado como marcador de inativação do parvovírus (PAVAN, 2009).

A cinomose canina se trata de uma enfermidade causada pelo vírus da cinomose canina (CDV). Cães não imunizados são susceptíveis em todas as idades, porém a doença é mais comum em filhotes de 3 a 6 meses, na qual se aloja em vários sistemas corporais e é disseminada principalmente por aerossóis e gotículas contaminadas (NASCIMENTO, 2009). Quanto a sua fisiopatogenia, a replicação ocorre em órgãos linfoides, epiteliais e nervoso, sendo um vírus excretado por exsudatos respiratórios, fezes, saliva e urina. Os aspectos clínicos mais comuns são quadros de febre, depressão, descarga oculonasal, tosse, vômitos, diarreia e sintomatologia neurológica (LAPPIN, 2015). Acerca da etiologia, o CDV se enquadra como vírus relativamente fácil de ser combatido, segundo Nascimento (2009, p. 13):

[…] são inativados pelo detergente, solventes de lipídios, desinfetantes a base de amônia quaternária a 0,3 % em 10 minutos, formol a 0,5% em 4 horas e com fenol a 0,75% em 10 minutos.

Mediante a isto, são feitas observações em um cenário hospitalar, levando em conta as características de ambas as doenças e suas particularidades. É necessário se atentar aos métodos de transmissão, à resistência dos vírus e ao manejo sanitário. Dessa forma, este trabalho tem como objetivo apresentar medidas de controle para a contaminação cruzada da cinomose e da parvovirose durante a internação.

2. MATERIAL E MÉTODOS

Este projeto foi realizado em hospital veterinário público no município de Goiânia com ênfase para os ambientes de internações.

O levantamento de dados ocorreu através de visitas técnicas, registros fotográficos, aplicação de entrevista (Figura 1) para o médico veterinário responsável e prontuários médicos acerca dos animais que foram internados no mês de setembro de 2023.

Figura 1. Entrevista ao veterinário responsável pela internação

3. RESULTADOS E DISCUSSÃO

Na visita técnica realizada no dia 11 de setembro de 2023 foram observados dois tipos de internações, a geral, para estabilidade de pacientes com enfermidades de diferentes graus e a de isolamento, usada especificamente para a estabilização de pacientes positivos ou com suspeitas de cinomose ou parvovirose. 

O ambiente de internação de cinomose e parvovirose conta com uma área de 5 metros quadrados (Figura 2). O hospital utiliza do uso de EPI (Equipamento de Proteção Individual) no ambiente de isolamento e, de acordo com o veterinário responsável, essa é a única medida de biossegurança utilizada.

Figura 2. Área de isolamento da internação do hospital. 

O paciente, ao chegar ao hospital veterinário e independente da queixa principal, passa por uma triagem feita por um médico veterinário. Os animais que apresentam sinais clínicos sugestivos de parvovirose ou cinomose são triados como prioridade na fila de atendimento e já são distanciados dos demais, além de ser feito o Snap fast test para diagnóstico. De acordo com o veterinário, isto ocorre como uma medida adotada pelo hospital para evitar que o animal tenha contato com outros.

Em entrevista com o veterinário responsável pelas internações, o mesmo apontou algumas situações sobre a internação de isolamento. Foi relatado que as instruções de uso de EPI não são seguidas pela equipe, na qual nunca recebeu treinamento adequado. Sobre a descontaminação das internações, só é realizada de acordo com uma maior incidência de pacientes, além disso a falta de estrutura (espaço e insumos) é o grande viés da unidade. Foi reforçado pelo entrevistado a falta de biossegurança e sugerido por ele reformas estruturais, treinamentos específicos e adotar o uso de barreiras sanitárias. Ao perguntado sobre casos de recontaminação o mesmo relatou ocorridos.

Durante a visita, foi observado que entre ambas as doenças, a incidência de parvovirose é maior. Para qualificar esta informação, prontuários de casos de ambas as doenças foram monitorados no mês de setembro/2023. Ao final do mês foram notificados 15 casos de cinomose que necessitaram de internação, já para parvovirose somaram ao todo 28 casos (Gráfico 1).

Gráfico 1: Incidência de internação para parvovirose e cinomose em setembro de 2023.

4. CONCLUSÃO

Diante deste cenário foi identificado uma ineficiência do hospital no controle das duas enfermidades infectocontagiosas de maior número de óbitos em cães (TRAPP, 2010). O grande problema identificado foi a falta de estrutura, sendo a área destinada para a internação considerada pequena para comportar os animais em uma distância segura, além disso, possui uma baixa rigidez de biossegurança e falta de treinamentos.

Como medidas complementares, que podem auxiliar e somar as já presentes no controle de contaminação cruzada entre ambas as doenças, podem ser implementadas o uso de barreiras sanitárias para um melhor nível de biossegurança, treinamentos específicos sobre as enfermidades e boas práticas hospitalares com a equipe, POPs (Procedimento Operacional Padrão) sobre condutas de pacientes internados, divisórias espaçosas entre ambas as internações e por fim o uso de diferentes funcionários para ambas internações, evitando o tráfego de patógenos.

REFERÊNCIAS

BIEZUS, Giovana et al. Ocorrência de parvovirose e cinomose em cães no Planalto Catarinense, Revista de Ciências Agroveterinárias, v. 17, ed. 3, p. 131-144, 2018. DOI Rev. Ciênc. Agrovet., Lages, SC, Brasil (ISSN 2238-1171). Disponível em: https://www.readcube.com/articles/10.5965/223811711732018396 . Acesso em: 23 ago. 

LAPPIN, Michael et al. Doenças Infecciosas: Enfermidades Polissistêmicas Virais – Vírus da cinomose canina. In: NELSON, Richard W. et alMedicina Interna de Pequenos Animais. 5. ed. Rio de Janeiro – RJ: Elsevier Editora Ltda., 2015. cap. 94, p. 1341-1343. ISBN 978-85-352-7906-1.

NASCIMENTO, Daniela. Cinomose canina – Revisão de literatura. 2009. Monografia (Especialização em Clínica Médica de Pequenos Animais), Universidade Federal Rural do Semi Árido (UFERSA), Belém, 2018. Disponível em: https://www.equalisveterinaria.com.br/wp-content/uploads/2018/12/Daniela_cinomose_concluida1-pdf.pdf . Acesso em: 17 ago. 2023.

PAVAN, Tatiana. Parvovirose canina – Revisão de literatura. 2009. Monografia (Especialização em Análises Clínicas Veterinárias), Faculdade de Veterinária da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), Porto Alegre, 2013. Disponível em: https://www.ufrgs.br/lacvet/site/wp-content/uploads/2013/05/tatiana.pdf. Acesso em: 21 ago. 2023.

RODRÍGUEZ, Pérez et al. Understanding and modelling bacterial transfer to foods: a review, Trends in Food Science & Technology, v. 19, ed. 3, p. 131-144, 2008. Disponível em: https://www.sciencedirect.com/science/article/abs/pii/S092422440700235X . Acesso em: 21 ago. 2023.

TRAPP, Sílvia et al. Causas de óbito e razões para eutanásia em uma população hospitalar de cães e gatos, Brazilian Journal of Veterinary Research and Animal Science, v. 47, ed. 5, p. 395-402, 2010. DOI Braz. J. Vet. Res. Anim. Sci., São Paulo, v. 47, n. 5, p. 395-402, 2010. Disponível em: https://core.ac.uk/download/pdf/268256271.pdf . Acesso em: 21 ago. 2023.

WILLARD, Michael et al. Distúrbios do Sistema Digestório: Desordens do Trato Gastrointestinal – Enterite por parvovírus canino. In: NELSON, Richard W. et alMedicina Interna de Pequenos Animais. 5. ed. Rio de Janeiro – RJ: Elsevier Editora Ltda., 2015. cap. 33, p. 457-459. ISBN 978-85-352-7906-1.


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