INFECÇÃO ASSOCIADA A CATETER VENOSO CENTRAL EM UNIDADE DE TERAPIA INTENSIVA PEDIÁTRICA E NEONATAL: REVISÃO DA LITERATURA

Infection associated with central venous catheter in pediatric and neonatal intensive care unit: literature review

REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.8403532


Erick Bruno Monteiro Costa1;
Vanessa do Espirito Santo Cabral2;
Ralrizônia Fernandes Sousa3;
Edioneise Dantas de Souza4;
Ana Carolina de Gusmão5;
Nelis Araújo Gomes6.


RESUMO

Este estudo teve por objetivo analisar as evidências disponíveis na literatura sobre infecção associada à cateter venoso central em unidade de terapia intensiva (UTI) pediátrica e neonatal. Trata-se uma revisão integrativa da literatura que selecionou sete artigos, nos bancos de dados da Literatura Latino-americano em Ciências da Saúde (LILACS), Scientific Eletronic Library Online (SCIELO) e a Base de Dados da Enfermagem (BDENF). Como critérios de inclusão foram elencados os artigos publicados entre 2007 a 2017, escritos em português, relacionados com o tema deste estudo, disponíveis gratuitamente, na íntegra, em formatos eletrônicos e publicados em periódicos online. Utilizou-se os descritores, “Cateteres”, “Cateterismo venoso central”, “Infecção” “Cuidados de enfermagem”, “Enfermagem neonatal”, “Enfermagem pediátrica”, “Unidades de Terapia Intensiva Neonatal”, “Unidades de Terapia Intensiva Pediátrica”, que foram agrupados entre si. Os achados foram categorizados em: 1) Fatores de risco e fatores associados à infecção por CVC; 2) As intervenções de enfermagem para a prevenção de infecções por CVC. Conclui-se que além de uma boa assistência, da utilização simples a mais complexa deve desenvolver suas habilidades de forma humanizada, o que é importante para a prevenção e redução desse agravo no âmbito da UTI pediátrica e neonatal.

Palavras-chave: Infecção hospitalar. Unidade de terapia intensiva. Neonato.

ABSTRACT

This study aimed to analyze the evidence available in the literature on infection associated with a central venous catheter in a pediatric and neonatal intensive care unit (ICU). This is an integrative literature review that selected seven articles from the Latin American Literature in Health Sciences (LILACS), Scientific Electronic Library Online (SCIELO) and Nursing Database (BDENF) databases. As inclusion criteria, articles published between 2007 and 2017, written in Portuguese, related to the theme of this study, available free of charge, in full, in electronic formats and published in online journals, were listed. The descriptors “Catheters”, “Central venous catheterization”, “Infection” “Nursing care”, “Neonatal nursing”, “Pediatric nursing”, “Neonatal Intensive Care Units”, “Pediatric Intensive Care Units” were used. which were grouped together. Findings were categorized into: 1) Risk factors and factors associated with Central Venous Catheterinfection; 2) Nursing interventions for the prevention of Central Venous Catheter infections. It is concluded that in addition to good care, from simple to more complex use, they must develop their skills in a humanized way, which is important for the prevention and reduction of this problem in the context of the pediatric and neonatal ICU.

Keywords: Nosocomial infection. Intensive care unit. Neonate.

INTRODUÇÃO

As infecções são as principais complicações relacionadas ao uso do Cateter Venoso Central (CVC), uma vez que acarretam, entre outros agravos, elevação de custo hospitalar, prolongamento da internação e aumento da morbidade e mortalidade (LIMA et al., 2021).

Dentre as muitas intervenções realizadas em recém-nascidos e crianças, nas unidades de terapia intensiva (UTI), a instalação de um cateter intravascular é a mais frequente. A gravidade da condição clínica que o recém-nascido ou a criança apresenta determina a terapia intravenosa que será administrada, definindo, dessa forma, o tipo de cateter adequado ao tratamento (SWERTS et al., 2020).

O aparecimento de múltiplas técnicas e desenvolvimento tecnológico relacionado ao acesso vascular permitiu o salvamento, assim como o prolongamento, da vida de incontáveis pacientes. Mas sua utilização não está isenta de complicações, pois muitas vezes podem evoluir de forma catastrófica. Assim, se faz necessária a devida atenção desde a inserção até a sua retirada (FAÇANHA et al., 2019).

Dentre os grandes avanços tecnológicos observados no campo da saúde, destaca- se o cateter venoso central que exige dos enfermeiros, conhecimentos técnicos em relação a sua manipulação e manutenção, a fim de evitar as complicações e proporcionar uma assistência de qualidade, contribuindo para a diminuição do tempo de internação e dos custos hospitalares (LEITE et al., 2021).

Os Cateteres Centrais de Inserção Periférica (Peripherally Inserted Central Catheter – PICC) são amplamente utilizados em unidades neonatais quando as crianças necessitam de uma linha venosa por tempo prolongado. O uso permite que sejam oferecidos nutrição parenteral, medicamentos ou soluções em altas concentrações de osmolaridade, irritantes e/ou vesicantes, e ainda reduzir a necessidade de múltiplas punções venosas e trocas (SANTOS et al., 2019).

O cateterismo da veia umbilical é muito utilizado nas unidades de neonatologia, como acesso venoso e via para administração de nutrição parenteral. O cateterismo umbilical venoso é um procedimento comum no manejo de recém-nascidos, sendo considerado um procedimento rápido e confiável, porém a sua utilização também é associada a complicações como trombose, embolia, hemorragias, arritmias cardíacas, efusões, hipertensão portal e infecção (BEZERRA et al., 2019).

Neste sentido, os cateteres de duplo-lúmen (CDL) podem ser de curta permanência, utilizados, sobretudo, em situações de emergência, ou de longa permanência. Este último está indicado para os pacientes nos quais outras vias já não são possíveis. Ademais, os CDLs são inseridos em veias centrais, preferencialmente em jugular interna e secundariamente subclávias, sendo está reservada para os pacientes em que aquela não está disponível nos membros superiores (MATA et al., 2021).

O número de neonatos e crianças que evoluem a óbito por infecção é alarmante, pois estudos mostram que o CVC é um dos fatores que levam esse grupo de pessoas adquirirem algum tipo de infecção e levando esses indivíduos a morte (ALBUQUERQUE et al., 2021). 

As taxas de infecções de corrente sanguínea (ICS) relacionadas a cateter variam de acordo com o sítio e a técnica de inserção, número de lúmens, tipo de cateter, tempo de permanência, fatores intrínsecos do paciente, tipo de solução infundida e preparo da equipe. A incidência dessa infecção, no Brasil, varia de 3,2 a 40,4 episódios por mil dias de cateter e a mortalidade atribuída a essa topografia varia de 6,7% a 75,0%5 (MENDONÇA et al., 2011).

Diante do aumento significativo do número de crianças e recém-nascidos com infecções associada por CVC, percebe-se que esse grupo sofre pela colocação inadequada desses dispositivos, assim como a falta de manutenção ou manipulação inadequada pelos profissionais que utilizam esse CVC para administração de substâncias (SORGI et al., 2019).

As infecções de corrente sanguínea (ICS) relacionadas a cateter compreendem os casos em que o mesmo micro-organismo isolado na cultura do segmento do dispositivo é identificado na corrente sanguínea, sem outra fonte aparente para a bacteremia (FARIA et al., 2021).

Desta forma, este estudo teve por objetivo analisar as evidências disponíveis na literatura sobre infecção associada à cateter venoso central em unidade de terapia intensiva pediátrica e neonatal.

METODOLOGIA

Trata-se uma revisão integrativa da literatura, que é um método que organiza os resultados obtidos em pesquisas realizadas e publicadas sobre um tema ou questão, de forma sistemática, ordenada e abrangente. É denominada integrativa porque apresenta informações mais amplas sobre um tema/problema, instituindo uma gama de conhecimento. Em vista disso, esta metodologia permite diferentes finalidades, podendo ser direcionada para a definição de conceitos, revisão de teorias ou análise metodológica dos estudos incluídos de um tópico particular (ERCOLE; MELO; ALCOFORADO, 2014).

Para o rigor desta revisão, a coleta de dados seguiu seis etapas (MATTOS, 2015). Primeira etapa consistiu na elaboração da pergunta de pesquisa: O que há de evidências disponíveis na literatura sobre a infecção por cateter venoso central em unidade de terapia intensiva pediátrica e neonatal?

Na Segunda etapa ocorreu o estabelecimento das fontes de dados, dos critérios para inclusão e exclusão de estudos. A fonte de dados escolhida foi a Biblioteca Virtual de Saúde (BVS), a partir da seleção dos artigos, privilegiando os bancos de dados da Literatura Latino-americano em Ciências da Saúde (LILACS), Scientific Eletronic Library On line (SCIELO) e a Base de Dados da Enfermagem (BDENF). A escolha das três bases de dados se deu em função da amplitude do que tange a abrangência dos periódicos de enfermagem.

Como critérios de inclusão foram elencados os artigos publicados entre 2007 e 2017, escritos em português, relacionados com o tema deste estudo, disponíveis gratuitamente, na íntegra, em formatos eletrônicos e publicados em periódicos online. Foram excluídos os artigos que disponibilizaram apenas o resumo, artigos cuja descrição não se referiu à temática do estudo, editoriais, artigos de jornais.

 Na Terceira etapa as definições das informações extraídas dos artigos selecionados foram com base nos seguintes descritores, “Cateteres”, “Cateterismo venoso central”, “Infecção” “Cuidados de enfermagem”, “Enfermagem neonatal”, “Enfermagem pediátrica”, “Unidades de Terapia Intensiva Neonatal”, “Unidades de Terapia Intensiva Pediátrica”, que foram agrupados entre si.

A Quarta etapa contemplou a avaliação dos estudos incluídos na revisão integrativa, realizou a coleta de dados a partir da aplicação de um formulário utilizado por Melo, Barbosa, Souza (2011) e adaptado para esse estudo. O referido é dividido em 4 partes: a) identificação do artigo; b) instituição sede do estudo; c) tipo de publicação; d) características metodológicas do estudo.

A Quinta etapa realizou a interpretação dos resultados com base nas informações pertinentes de cada artigo relacionadas à autoria, ano de publicação, país, população, tipo de pesquisa, instrumento utilizado para coleta de dados, tipo de análise dos resultados e os resultados encontrados. Nesta etapa foi realizada a descrição dos principais resultados e apresentados em quadros.

Na Sexta etapa ocorreu a síntese do conhecimento, a discussão das temáticas e apresentadas as evidências/conclusão em eixos.

De acordo com a Resolução nº 466/12 e a Resolução n. 510/16, as pesquisas envolvendo apenas dados de domínio público que não identifiquem os participantes da pesquisa, ou apenas revisão bibliográfica, sem envolvimento de seres humanos, não necessitam aprovação por parte do Sistema CEP-CONEP.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

O total de estudos incluídos neste trabalho, selecionados principalmente quanto ao idioma vernáculo, observou-se um quantitativo de 122 produções científicas referentes ao tema em questão, através dos critérios estabelecidos selecionamos apenas 112, expressando certa dificuldade na literatura com estudos atualizados principalmente da área de enfermagem e especificamente central em Infecção Associada à Cateter Venoso Central em Unidade de Terapia Intensiva Pediátrica e Neonatal: Revisão integrativa que facilitem o processo de enfermagem baseado em evidências científicas.

A partir dos descritores elencados, a busca nas bases de dados está representada no quadro demonstrativo abaixo que ficou subdividido em fonte consultada, descritor, quantidade encontrada, quantidade selecionada e resultado dos estudos.

Os quadros a seguir apresentam as distribuições dos artigos selecionados.

Quadro 1: Apresentação dos artigos quanto aos descritores, autores, título do artigo, objetivo do artigo, tipo de estudo e periódicos de publicação.


Descritores
ArtigosAutoresTítulo do ArtigoObjetivoTipo de EstudoPeriódico (Vol, Nº, Pag)
Cateter Venoso Central AND InfecçãoA1Vilela R; Dantas S, R, P, E;Trabasso  P.Equipe interdisciplinar   reduz infecção sanguínea relacionada ao cateter venoso central em Unidade de Terapia Intensiva PediátricaAvaliar o impacto de intervenções interdisciplinares nos indicadores de infecção de corrente sanguínea relacionados ao cateter venoso central e microrganismos isolados, em uma unidade de terapia intensiva pediátricaEstudo de intervençãoRev Paul Pediatr 2010; 28 (4): 292 –98
Infecção AND Cuidados de Enfermagem ANDCateteresA2Johann et al.Cuidados com cateter central de inserção periférica no neonato: revisão integrativa de literaturaInvestigar e analisar as evidências disponíveis na literatura acerca dos cuidados para inserção e manutenção do cateter central de inserção periférica no neonatoRevisão integrativa de literaturaRev Esc Enferm USP 2012; 46 (6): 1503-11


A3
Duarte et al.Fatores associados à infecção pelo uso do cateter central de inserção periférica em Unidade de Terapia Intensiva NeonatalAnalisar os fatores associados à infecção pelo uso do cateter central de inserção periférica em recém-nascidos internados em unidade de terapia intensivaEstudo epidemiológico, longitudinal e analíticoRev Esc Enferm USP 2013; 47(3): 547-54


A4
Costa et al.Prevalência e motivos de remoção não eletiva do cateter central de inserção periférica em neonatosDescrever a prevalência de remoção não eletiva do cateter e seus motivosEstudo transversalRev Gaúcha Enferm. 2012; 33(3):126-133.







Enfermagem Neonatal AND Infecção AND Unidade de Terapia Intensiva Neonatal


A5
Curan G, R, F;Rossetto E, G.Medidas para redução de infecção associada a cateter central em recém-nascidosRealizar uma revisão integrativa sobre as estratégias presentes em bundlles para redução de infecção de corrente sanguínea por cateter central em recém- nascidosRevisão integrativa da literaturaTexto Contexto Enferm, 2017; 26(1): e5130015
A6Lorenzini E; Costa T, C; Silva E, F.Prevenção e controle de infecção em unidade de terapia intensiva neonatalIdentificar o conhecimento da equipe de enfermagem de uma unidade de terapia intensiva neonatal, sobre o controle de infecção, identificando os fatores que facilitam ou dificultam o controle e prevenção das infecções relacionadas à assistência a saúdeEstudo descritivo com abordagem qualitativaRev Gaucho Enferm. 2013; 34(4): 107-113
A7Costa et al.Fatores de risco para infecção de corrente sanguínea associada ao cateter central de inserção periférica em neonatosIdentificar os fatores de risco para infecção de corrente sanguínea associada ao cateter central de inserção periférica em neonatos.Estudo de coorte com coleta prospectiva de dadosActa Paul Enferm.2016; 9(2):161-8.

Fonte: Autores.


Quadro 2: As intervenções de enfermagem para a prevenção de infecções por CVC em UTI pediátrica e neonatal.


 Artigos
ResultadosConclusão


A1

Evidenciaram-se falhas na assistência aos pacientes da UTIP relacionado aos procedimentos de inserção, utilização e manutenção do CVC, demonstrando que apenas o conhecimento técnico não garante a aderência às medidas preventivas de infecção.
A abordagem educacional interdisciplinar e estabelecimento de normas para a inserção e intervenção no processo de manutenção de cateteres reduzem as taxas de infecções sanguíneas relacionada ao cateter venoso central em uma unidade de terapia intensiva pediátrica.

A2
O estudo aponta várias lacunas no que tange a população neonatal, dando destaque para o conhecimento insuficiente dos profissionais quanto às infecções relacionadas a cateter e sua prevenção. As evidências apresentadas nesta revisão são, em sua maioria, de origem internacional.Conclui-se que há necessidade de atualização profissional, evidências científicas de fácil acesso e publicações nacionais. Precisa-se desenvolve desenvolver pesquisas clínicas na área da enfermagem no âmbito nacional, a fim de avaliar e criar tecnologias relacionadas ao processo de trabalho.


A5
O estudo apresenta medidas adotadas para a prevenção de infecção de corrente sanguínea por cateter central de acordo com o nível de evidência científica e também aborda as estratégias utilizadas para a implementação das evidências na prática assistencial.Observou-se uma diversidade de práticas adotadas, tanto concordantes com as evidências científicas quanto discordantes. A sistematização realizada neste estudo pode contribuir com a prática, facilitando o emprego da melhor evidência para cada contexto, e com a pesquisa, apontando as lacunas de conhecimentos para nortear futuras pesquisas.

A6
Evidenciou-se que a equipe de enfermagem possui conhecimento sobre os fatores que facilitam a prevenção e controle das IRAS em UTIN, sendo o principal, a higienização das mãos.Acredita-se que a atuação eficiente e qualificada da equipe de enfermagem, constitui-se em estratégia de prevenção e controle de infecção por CVC e contribui de forma proativa para melhorar a qualidade de vida do recém-nascido.

Fonte: Autores.

Quadro 3: Fatores de risco e fatores associados à infecção por CVC em UTI neonatal e pediátrica.

ArtigosResultadosConclusão
A3Os fatores associados à retirada por suspeita de infecção foram: prematuridade, peso ao nascer até 1.500 gramas, cateter de poliuretano, localização não centralizada do cateter e tempo de uso superior a 30 dias. Após ajuste multo variado, permaneceram independentemente associados: peso inferior a 2.500 gramas na inserção,  reparo e tempo de uso do cateter.Conclui-se que fatores relacionados à prática dos profissionais contribuíram para a retirada dos cateteres, sinalizando para a necessidade de intervenções que melhorem a segurança e a eficácia em seu uso. O enfermeiro e demais membros das equipes de enfermagem e multiprofissional, especialmente no que diz respeito aos fatores modificáveis, ou seja, tempo de uso e reparo do cateter, para maior segurança e eficácia no uso do PICC na população neonatal, garante do assim a prestação de uma assistência de qualidade e livre de danos.
A4No presente estudo, a prevalência de remoções não eletivas do PICC corroborou os achados da literatura, sendo os principais motivos: obstrução, ruptura e edema do membro cateterizado.A prevalência e os motivos de remoção não eletiva indicaram a necessidade de estratégias para a prevenção de complicações evitáveis relacionadas ao PICC. Muitas complicações são passíveis de prevenção  ou seu impacto pode ser minimizado com a detecção e intervenção precoce da equipe de enfermagem.
A7Os dados sugerem que as menores médias de peso e idade gestacional corrigida, bem como o maior tempo de permanência do cateter estiveram associados à ocorrência de infecção de corrente sanguínea associada ao cateter.A menor idade gestacional corrigida do neonato, os diagnósticos clínicos de transtorno transitório do metabolismo e apnéia, e o uso do cateter de duas vias foram identificados como fatores de risco para infecção de corrente sanguínea associada ao cateter central de inserção periférica em neonatos.

Fonte: Autores.

CATEGORIA I – Fatores de risco e fatores associados à infecção por CVC

Os estudos mostram, no geral, que existem vários fatores que podem contribuir para o surgimento de infecções relacionadas aos cateteres utilizados em UTI pediatria e neonatal, como, recém-nascidos de baixo peso, local de inserção do cateter, cuidados na manutenção do cateter e tempo de permanência (DUARTE et al., 2013; COSTA et al., 2016).

As taxas de infecção em UTI são maiores se comparado com unidades de internação de outros setores do hospital. Fatores de risco para sepse em população pediátrica são diferentes da população adulta, devido a características específicas, como idade, estágio de desenvolvimento do sistema imune, presença de fatores de risco durante internação em UTI, especialmente devido a procedimentos invasivos como CVC, ventilação mecânica e sondagem vesical de demora. A presença e o uso de CVC por tempo prolongado devido à necessidades terapêuticas em situações emergenciais levam a maior risco de quebra de barreiras e favorecem a ocorrência de infecções. Além disso, em pediatria o tipo de CVC e o número de lumens geralmente são diferentes dos adultos e muitos medicamentos não têm apresentação na dose específica para esta faixa etária, o que gera riscos de contaminação durante seu preparo (ROSADO, 2012).

Os estudos mostram que as crianças e recém-nascidos em uso de algum tipo de CVC têm mais facilidade para adquirir uma infecção do que um adulto jovem, visto que, alguns fatores de risco são que contribuem para esse agravo nesse público não é encontrados em adultos. O desafio para prevenção de infecções hospitalares se amplia em uma unidade de terapia intensiva, devido à variedade de microrganismos, muitas vezes multirresistentes, implicando no uso de antimicrobianos de amplo aspecto (VILELA; DANTAS; TRABASSO, 2010; LORENZINI; COSTA; SILVA, 2013).

Reconhece-se que os CVC são amplamente utilizados em recém-nascidos e crianças, e auxiliam na terapêutica. Por outro lado, há que se considerar a situação de risco a que pode se expor essa popular, o que demanda a necessidade de buscar evidências que falem sobre os fatores de risco e associados a infecção por a cateter venoso central em unidade de terapia intensiva pediátrica e neonatal (STOCCO et al., 2012).

Os fatores de risco associados à infecção sanguínea determinada por cateter venoso central podem estar relacionados a doenças pré-existentes e a fatores clínicos, como admissão em UTI, uso da ventilação mecânica e monitoramento hemodinâmico invasivo. Acresce-se aos fatores de risco o tipo e o material do cateter, o local de escolha para inserção e o não seguimento da técnica preconizada na inserção e na manutenção do cateter. Segundo achados de investigações científicas, alguns fatores aumentam significativamente a susceptibilidade a infecções: tempo de uso do cateter, infusão de nutrição parenteral, transfusão sanguínea, ausência de infecção subjacente no momento da inserção, mais de uma indicação para uso do dispositivo e sítio o de inserção femoral (DUARTE et al., 2013).

Garantir a segurança dos pacientes é fundamental para oferecer uma assistência de saúde e de enfermagem de qualidade. No entanto, se por um lado as intervenções de cuidados de saúde buscam melhorar a assistência prestada, por outro, a combinação de processos, tecnologias e recursos humanos relacionados com o cuidado à saúde pode se tornar um fator de risco para o surgimento de erros e eventos adversos (GOMES et al., 2013).

CATEGORIA II – As intervenções de enfermagem para a prevenção de infecções por CVC

Com base na busca dos artigos sobre infecção associada a cateter venoso central em UTI pediátrica e neonatal, foram encontradas algumas divergências nas produções em relação ao conhecimento do profissional de enfermagem, quanto aos cuidados básicos necessários para que sejam evitadas as infecções associadas ao CVC esses cateteres. Algumas produções colocam que os profissionais de enfermagem precisam ser capacitados para atuarem neste contexto, outros artigos falam que esses profissionais possuem conhecimento suficiente para intervirem, porém negligenciam essa prática (VILELA; DANTAS; TRABASSO, 2010; JOHANN et al., 2012; CURAN; ROSSETTO, 2017; LORENZINI; COSTA; SILVA, 2013).

Segundo a Lei 7.498 do Exercício Profissional de Enfermagem, em seu parágrafo único, inciso I do art. 11, o enfermeiro é responsável pela prevenção e pelo controle das IRAS. Este profissional tem um importante papel nos cuidados com o CVC, sendo o mesmo responsável por cuidados diretos com a manutenção e a avaliação diária a fim de minimizar os riscos do desenvolvimento de infecção (SANTOS et al., 2014).

A criação de alguns protocolos como, por exemplo, o protocolo de higienização das mãos ajuda significativamente na redução do número de infecções relacionadas ao CVC nas UTIs pediátricas e neonatais, visto que, a pesquisa mostra que alguns profissionais possuem esse conhecimento, porém não colocam em prática (LORENZINI; COSTA; SILVA, 2013).

“Higiene das mãos” é um termo geral, que se refere a qualquer ação de higienizar as mãos para prevenir a transmissão de microrganismos e consequentemente evitar que pacientes e profissionais de saúde adquiram IRAS. De acordo com a Agência Nacional de Vigilância Sanitária – ANVISA, o termo engloba a higiene simples, a higiene anti-sepsia, a fricção anti- séptica das mãos com preparação alcoólica (BRASIL, 2013).

O enfermeiro é o responsável pela instalação do PICC e Cateterismo Umbilical, prestando os cuidados necessários desde esse primeiro momento até sua retirada, também é responsável pela manutenção do CDL, realizando de forma asséptica o curativo diariamente ou como estabelecido pelo protocolo do hospital, tomando os devidos cuidados para se evitar contaminação do dispositivo, trazendo sérios riscos para a saúde dos indivíduos (DUARTE et al., 2013; COSTA et al., 2012).

Em relação aos curativos de CVC, estes possuem o propósito de proteger o sítio de punção, minimizar as possibilidades de infecção e prevenir a movimentação do dispositivo com dano ao vaso. As coberturas utilizadas devem ser estéreis, podendo variar entre gaze e fita adesiva estéril (semioclusivo) e membrana transparente semipermeável (oclusivo) (SOUSA et al., 2018).

A reflexão possibilitada pela análise dos artigos permite suscitar que precisam ser colocadas em prática, as diversas formas de prevenção de infecções relacionas aos cateteres em UTIN e UTIP. O enfermeiro como líder da equipe de enfermagem assume importante papel nesse contexto, tendo que se preocupar com atualização e capacitação de sua equipe, visando a integração interdisciplinar, como esse aprendizado poderá repercutir na mudança de desse cenário enfrentado pelas crianças e recém-nascidos que precisam passar pelo uso desses dispositivos (VILELA; DANTAS; TRABASSO, 2010).

A expectativa, neste estudo, é despertar nos enfermeiros a importância das capacitações e atualizações que permitam o desenvolvimento de uma consciência crítica reflexiva desses profissionais, criando condições para uma intervenção transformadora dessa situação, visando a melhoria na sua qualidade de vida de crianças e recém-nascidos internados em UTIs.

No Brasil, a Resolução nº 258/2001, do Conselho Federal de Enfermagem (COFEN), no artigo 1º, considera lícita ao enfermeiro a inserção do PICC e complementa tal atividade no artigo 2º que, para o enfermeiro desempenhar tal atividade, deve estar qualificado e/ou capacitado profissionalmente (VENDRAMIN; PEDREIRA; PETERLINI, 2007).

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Esta pesquisa revelou que apesar do quantitativo de artigos encontrados com os descritores associados, mostrou-se que há pouca literatura que abordem a questão de pesquisa deste estudo, visto que, as infecções associadas a esses dispositivos ainda é uma realizada vivida por boa parte das crianças e recém-nascidos internados nas UTIP e UTIP.

Compreende-se que há necessidade de se estipular um elo entre os profissionais de enfermagem e aos demais integrantes da equipe multidisciplinar, visando à segurança do paciente e reduzindo os índices alarmantes de infecção associadas a cateteres venosos centrais.

No que tange a equipe de enfermagem, esta deve atentar aos sinais de infecção no local de inserção do cateter e prestar os cuidados necessários na hora do manuseio deste dispositivo. O enfermeiro intensivista pediátrico ou neonatal que assiste esse público em uso de cateter venoso central deve desenvolver habilidades e mostrar a sua equipe o quanto esse tipo de infecção é prejudicial.

Os estudos mostram que existem vários fatores que podem contribuir para o surgimento de infecções relacionadas aos cateteres utilizados em UTI pediatria e neonatal, como recém-nascidos de baixo peso, local de inserção do cateter, cuidados na manutenção do cateter e tempo de permanência.

A reflexão possibilitada pela análise dos artigos permite suscitar que precisam ser colocadas em prática, as diversas formas de prevenção de infecções relacionas aos cateteres em UTIN e UTIP. O enfermeiro como líder da equipe de enfermagem assume importante papel nesse contexto, tendo que se preocupar com a atualização e capacitação de sua equipe e como esse aprendizado poderá repercutir na mudança desse cenário enfrentado pelas crianças e recém-nascidos que precisam passar pelo uso desses dispositivos.

Assim, conclui-se que além de uma boa assistência, da utilização simples a mais complexa deve desenvolver suas habilidades de forma humanizada, o que é importante para a prevenção e redução desse agravo no âmbito de UTIP e UTIN. A enfermagem tem uma função crucial dentro deste contexto, visto que, essa assistência previne complicações, sequelas e reduz o índice de óbitos causados por esse tipo de infecção.

REFERÊNCIAS

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BEZERRA, M. R. S. et al. Análise de dados epidemiológicos em recém-nascidos que utilizaram o cateter umbilical. Acta de Ciências e Saúde, v. 1, n. 1, p. 1-12, 2019. http://www2.ls.edu.br/actacs/index.php/ACTA/article/download/172/148

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COSTA, P. et al. Fatores de risco para infecção de corrente sanguínea associada ao cateter central de inserção periférica em neonatos. Acta Paul Enferm. São Paulo, v.29, n. 2, p. 161-8, 2016. https://doi.org/10.1590/1982-0194201600023

CURAN, G. R. F.; ROSSETTO, E. G. Medidas para redução de infecção associada a cateter central em recém-nascidos: revisão integrativa. Texto Contexto Enferm. v.26, n.1, p.e 51330015, 2017. https://www.scielo.br/j/tce/a/6wLWhgYGQyWvsS6x4HnwyyJ/citation/?lang=pt

DUARTE, E. D. et al. Fatores associados à infecção pelo uso do cateter central de inserção periférica em Unidade de Terapia Intensiva Neonatal. Revista da Escola de Enfermagem da USP, v. 47, p. 547-554, 2013. https://doi.org/10.1590/S0080-623420130000300004

ERCOLE, F. F.; MELO, L. S; ALCOFORADO, C. L. G. C. Revisão integrativa versus revisão sistemática. Editorial. REME – Rev Min Enferm. 2014 jan/mar; v. 18, n. 1, p. 1-260. http://dx.doi.org/10.5935/1415-2762.20140001

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FARIA, R. V. et al. Infecção de corrente sanguínea relacionada a cateter venoso central: avaliação dos fatores de riscos. Brazilian Journal of Health Review, v. 4, n. 3, p. 10143-10158, 2021. https://www.brazilianjournals.com/ojs/index.php/BJHR/article/download/29556/23304

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1Universidade da Amazônia;
2Universidade Federal do Pará;
3Fundação Santa Casa de Misericórdia do Pará;
4Hospital de Retaguarda  Dom Vicente Zico;
5Secretaria Municipal de Saúde de Belém;
6Universidade Paulista – UNIP.