INFARTO AGUDO DO MIOCÁRDIO NO NORDESTE BRASILEIRO: ANÁLISE  DAS TENDÊNCIAS DE INTERNAÇÕES E MORTALIDADE ENTRE ESTADOS NO PERÍODO DE 2021 A 2024

REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/cs10202505150409


Ana Beatriz Celino de Carvalho1; Audrey Vitória Suassuna Tabosa de Medeiros1; Rodrigo Afonso Saraiva Filho1; Yasmim Emanuelle Nunes de Carvalho Rodrigues Pinto1; Emylle Larissa Alves Pereira1; Brian Thompson Castelo Branco da Silva1; Pedro Lucas da Silva1; Maria Clara Alves Pôrto1; Hyale Alves Cunha1; João Lucas de Andrade Castro2


Resumo 

O infarto agudo do miocárdio (IAM) permanece como uma das principais causas de  mortalidade no Brasil, especialmente na Região Nordeste, onde o acesso desigual a  serviços de saúde agrava os desfechos clínicos. Este estudo teve como objetivo  analisar a mortalidade por IAM nos estados nordestinos entre 2021 e 2024, com  ênfase na Paraíba, considerando variáveis como gênero, faixa etária e raça. A  pesquisa utilizou dados secundários do DATASUS, tratados com critérios  metodológicos rigorosos para garantir a fidedignidade dos resultados. Observou-se  uma maior concentração de óbitos nos estados da Bahia e Pernambuco, além de um  crescimento progressivo ao longo do período analisado. A mortalidade foi mais  expressiva entre homens e indivíduos acima de 60 anos, evidenciando o impacto do  envelhecimento e de fatores biológicos na evolução da doença. A análise por raça  apontou predominância de óbitos entre pessoas pardas e brancas, embora a  categoria “sem informação” tenha apresentado números elevados, sugerindo  subnotificação. A Paraíba apresentou proporções de mortalidade similares à média  regional, apesar do número absoluto inferior. Esses achados reforçam a urgência de  políticas públicas voltadas à equidade no acesso a serviços de emergência  cardiológica, ao fortalecimento da atenção primária e à ampliação das estratégias de  prevenção e reabilitação, com vistas à redução da mortalidade cardiovascular na  região.

Descritores: Infarto Agudo do Miocárdio; Morbidade; Epidemiologia; Saúde Pública. 

Abstract 

Acute myocardial infarction (AMI) remains one of the leading causes of mortality in  Brazil, particularly in the Northeast Region, where unequal access to healthcare  services worsens clinical outcomes. This study aimed to analyze AMI-related mortality  in northeastern states between 2021 and 2024, with a specific focus on Paraíba,  considering variables such as gender, age group, and race. The research utilized  secondary data from DATASUS, processed using rigorous methodological criteria to  ensure data reliability. A higher concentration of deaths was observed in the states of  Bahia and Pernambuco, along with a progressive increase in mortality over the  analyzed period. Mortality was more pronounced among males and individuals over  60 years of age, highlighting the influence of aging and biological factors in disease  progression. Racial analysis showed a predominance of deaths among mixed-race  (pardo) and white individuals, although the “no information” category reported high  numbers, indicating potential underreporting. Paraíba exhibited mortality proportions  similar to the regional average, despite a lower absolute number of deaths. These  findings underscore the urgency of public health policies aimed at ensuring equitable  access to cardiologic emergency care, strengthening primary health care, and  expanding preventive and rehabilitative strategies to reduce cardiovascular mortality  in the region. 

Keywords: Myocardial Infarction; Morbidity; Epidemiology; Public Health  Surveillance. 

1. INTRODUÇÃO 

O infarto agudo do miocárdio (IAM) permanece como uma das principais causas de  morbimortalidade em todo o mundo, representando um grave problema de saúde pública com expressivos impactos clínicos, sociais e econômicos (SAITO, et al., 2023;  SCHÄFER, et al., 2022). Caracterizado pela interrupção súbita do fluxo sanguíneo  coronariano, o IAM resulta em necrose do tecido miocárdico e exige intervenção  imediata para reduzir a mortalidade e preservar a função cardíaca (DAMLUJI, et al.,  2021). A fisiopatologia do IAM envolve predominantemente a ruptura de placas  ateroscleróticas e subsequente formação de trombos, embora fatores como  disfunções endoteliais, inflamação e predisposição genética também exerçam papel  relevante no processo (FRAMPTON; ORTENGREN; ZEITLER, 2022). 

No Brasil, o infarto figura entre as principais causas de internação por doenças  cardiovasculares e lidera os índices de mortalidade por causas naturais, com impacto  acentuado sobre os sistemas público e privado de saúde. O manejo do IAM exige  abordagem multidisciplinar, envolvendo diagnóstico precoce, estratificação de risco,  reperfusão coronariana oportuna e acompanhamento clínico rigoroso (DAMLUJI, et  al., 2021; FEMIA, et al., 2021). Avanços terapêuticos, como a ampliação do acesso à  angioplastia primária e o desenvolvimento de estratégias farmacológicas modernas,  contribuíram significativamente para a redução da mortalidade intra-hospitalar e a  melhora dos desfechos clínicos (SAITO, et al., 2023). 

Além das repercussões clínicas, o IAM gera substancial ônus econômico e social,  refletido no absenteísmo laboral, aposentadorias precoces e comprometimento da  qualidade de vida dos pacientes (SAITO, et al., 2023). Diante disso, a prevenção  primária, por meio do controle de fatores de risco modificáveis como hipertensão,  dislipidemia, diabetes, tabagismo e sedentarismo, torna-se uma prioridade nas  políticas de saúde pública (DAMLUJI, et al., 2021). 

Neste contexto, o presente estudo teve como objetivo analisar a incidência e os  desfechos clínicos do infarto agudo do miocárdio na Região Nordeste do Brasil no  período de 2021 a 2024, com ênfase em variáveis como gênero, faixa etária, raça,  número anual de óbitos e taxa de mortalidade. Compreender esses aspectos é  essencial para subsidiar estratégias de prevenção, diagnóstico e tratamento mais  eficazes no enfrentamento dessa importante condição cardiovascular. 

2. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

2.1 Definição e classificação do infarto agudo do miocárdio: 

O infarto agudo do miocárdio (IAM) é uma condição cardiovascular grave  caracterizada pela interrupção súbita do fluxo sanguíneo coronariano, geralmente  devido à obstrução de uma artéria coronária por um trombo sobre uma placa  aterosclerótica instável (Damluji et al., 2021). Esse evento leva à isquemia e posterior  necrose do tecido miocárdico, sendo classificado, de acordo com critérios clínicos,  eletrocardiográficos e laboratoriais, em IAM com supra de segmento ST (IAMCST) e  IAM sem supra de ST (IAMSSST) (Saito et al., 2023). Além disso, há  subclassificações com base na localização do acometimento miocárdico, como o  infarto do ventrículo direito, que possui implicações diagnósticas e terapêuticas  distintas (Femia et al., 2021). 

2.2 Fatores de risco e prevenção 

Diversos fatores de risco estão associados ao desenvolvimento do IAM,  incluindo hipertensão arterial, dislipidemia, diabetes mellitus, tabagismo, obesidade e  sedentarismo, além de predisposição genética (Femia et al., 2021). A prevenção do  infarto baseia-se na modificação de tais fatores, com ênfase em uma alimentação  equilibrada, prática regular de atividade física, cessação do tabagismo e controle  rigoroso das comorbidades (Saito et al., 2023). O rastreamento precoce e o  acompanhamento clínico regular de indivíduos em risco permitem intervenções  preventivas mais eficazes, reduzindo a incidência de eventos coronarianos agudos  (Schäfer et al., 2022). 

2.3 Diagnóstico e manejo clínico 

O diagnóstico do IAM é fundamentado na combinação de sintomas clínicos  típicos, alterações eletrocardiográficas e elevação de marcadores bioquímicos de  necrose miocárdica. A realização precoce do eletrocardiograma e a dosagem de  troponinas são essenciais para a estratificação de risco e definição da abordagem  terapêutica (Damluji et al., 2021). O tratamento envolve estratégias de reperfusão miocárdica, como trombólise e angioplastia primária, associadas ao uso de  medicamentos antitrombóticos, betabloqueadores e estatinas (Saito et al., 2023). Em  casos de complicações, como ruptura septal ou disfunção valvar, intervenções  cirúrgicas podem ser necessárias (Damluji et al., 2021; Schäfer et al., 2022). 

2.4 Reabilitação e qualidade de vida 

A reabilitação cardiovascular desempenha papel fundamental na recuperação  funcional e na melhora da qualidade de vida dos pacientes pós-infartos. Essa etapa  inclui orientações sobre dieta, atividade física supervisionada, suporte psicossocial e  adesão ao tratamento medicamentoso (Femia et al., 2021). A educação do paciente  e o acompanhamento multidisciplinar são essenciais para prevenir a recorrência de  eventos isquêmicos e reduzir a mortalidade a longo prazo (Saito et al., 2023). Além  disso, intervenções precoces voltadas ao controle dos fatores de risco modificáveis  são fundamentais para o sucesso da reabilitação. 

2.5 Protocolos e diretrizes para o manejo do infarto agudo do miocárdio: 

A aplicação de diretrizes clínicas baseadas em evidências é crucial para  padronizar o manejo do IAM, garantindo maior eficácia e segurança no tratamento.  Protocolos internacionais, como os da American Heart Association, fornecem  recomendações claras sobre condutas terapêuticas, tempo de reperfusão, escolha  medicamentosa e estratégias de seguimento (Damluji et al., 2021). A adesão a essas  diretrizes têm demonstrado impacto direto na redução da mortalidade e na melhoria  dos desfechos clínicos, especialmente quando aliada à atuação de equipes  multiprofissionais capacitadas (Schäfer et al., 2022; Saito et al., 2023). 

3. METODOLOGIA 

Este estudo caracteriza-se como uma análise descritiva e retrospectiva, cujo  objetivo foi examinar o perfil da mortalidade por Infarto Agudo do Miocárdio na Região  Nordeste do Brasil no período de 2021 a 2024. Os dados foram obtidos a partir do banco de informações do Departamento de Informática do Sistema Único de Saúde  (DATASUS), por meio do sistema TabNet. 

Para assegurar a qualidade e a confiabilidade dos dados analisados, registros  incompletos foram excluídos. A extração das informações foi realizada utilizando o  software Tabwin, com posterior conversão para formatos compatíveis com o Microsoft  Excel, permitindo um tratamento estatístico mais refinado e uma análise detalhada  dos indicadores. 

Por se tratar de um estudo baseado em dados secundários de domínio público,  disponibilizados de forma agregada por estados e municípios, sem identificação  individual dos pacientes, não houve necessidade de submissão ao Comitê de Ética  em Pesquisa. O estudo está em conformidade com a Resolução nº 466, de 12 de  dezembro de 2012, do Conselho Nacional de Saúde (CNS, 2012), garantindo o  respeito aos princípios éticos e a inexistência de riscos para os indivíduos. 

As variáveis analisadas incluíram gênero, faixa etária, raça, número anual de  óbitos e taxa de mortalidade, permitindo uma visão abrangente do impacto dessas doenças na população nordestina.  

4. RESULTADOS E DISCUSSÃO 

Os dados evidenciam uma variação expressiva na taxa de mortalidade por  infarto agudo do miocárdio (IAM) entre os estados do Nordeste no período de 2021 a  2024 (Figura 1). Estados como Pernambuco e Bahia apresentaram as maiores taxas,  o que pode estar relacionado a atrasos no diagnóstico, acesso limitado a serviços de  emergência cardiológica e subutilização de estratégias eficazes de reperfusão  (SAITO et al., 2023; SCHÄFER et al., 2022). A Paraíba, analisada separadamente,  demonstrou uma taxa de mortalidade mais estável ao longo dos anos, embora ainda  relevante, apontando para desafios estruturais na rede de atenção cardiovascular.

Figura 1: Taxa de mortalidade por IAM, registrados na Região Nordeste no período  de 2021-2024.
Fonte: DATASUS, 2025.

Ao observar o recorte por gênero, verifica-se uma predominância de óbitos  entre indivíduos do sexo masculino em todos os estados da região (Figura 2). Este  achado está alinhado com a literatura, que reconhece maior risco cardiovascular em  homens, em razão de fatores hormonais, comportamentais e metabólicos (FEMIA et  al., 2021). Apesar disso, a letalidade feminina também se mostra expressiva,  sugerindo a necessidade de estratégias específicas de prevenção e manejo clínico  direcionadas às mulheres, sobretudo na pós-menopausa (DAMLUJI et al., 2021).

Figura 2: Número de óbitos por gênero por IAM, registrados na Região Nordeste no  período de 2021-2024.
Fonte: DATASUS, 2025. 

O número absoluto de óbitos também cresceu ao longo dos anos,  principalmente nos estados com maior densidade populacional (Figura 3). Esse  aumento pode estar relacionado tanto à maior incidência da doença quanto à  detecção mais eficaz, impulsionada por campanhas de conscientização e ampliação  dos serviços de diagnóstico (SAITO et al., 2023).

Figura 3: Número de óbitos por IAM, registrados na Região Nordeste no período de  2021-2024.
Fonte: DATASUS, 2025.

A distribuição por faixa etária revela maior incidência de óbitos entre indivíduos com  60 anos ou mais (Figura 4), o que corrobora estudos que apontam o envelhecimento  como fator de risco relevante para IAM e suas complicações, como choque  cardiogênico e ruptura de septo interventricular (DAMLUJI et al., 2021; SCHÄFER et  al., 2022). O declínio da reserva funcional cardiovascular e a maior prevalência de  comorbidades nessa população justificam a vulnerabilidade observada. 

Figura 4: Número de internações por faixa etária em adultos por IAM, registrados na  Região Nordeste no período de 2021-2024.
Fonte: DATASUS, 2025.

Em relação à raça/cor, a maior parte dos óbitos foi registrada entre indivíduos  pardos e brancos (Figura 5), o que pode refletir a composição demográfica da região.  No entanto, a elevada proporção de registros sem informação limita interpretações  mais precisas, revelando fragilidades nos sistemas de notificação (FEMIA et al.,  2021).

Figura 5: Número de internações por IAM dividido por raça em adultos, no Nordeste,  no período de 2021-2024.
Fonte: DATASUS, 2025.

Comparando os dados da Paraíba com os demais estados da região, observa-se que,  embora o número absoluto de óbitos seja menor, proporcionalmente à sua população,  os índices mantêm-se significativos. Isso reforça a importância de fortalecer políticas  públicas regionais focadas em prevenção, rastreamento de fatores de risco  cardiovascular e ampliação do acesso a terapias de reperfusão e suporte avançado  (SAITO et al., 2023; DAMLUJI et al., 2021). 

5. CONCLUSÃO 

A análise da mortalidade por infarto agudo do miocárdio (IAM) na Região Nordeste  entre 2021 e 2024 evidencia sua expressiva carga sobre o sistema de saúde, com  variações significativas entre estados e grupos populacionais. Estados como  Pernambuco e Bahia apresentaram as maiores taxas, o que sugere desigualdades  estruturais no acesso a diagnóstico precoce e terapias de reperfusão. A  predominância de óbitos em homens e idosos reafirma o papel dos fatores biológicos  e comportamentais na evolução da doença (Femia et al., 2021; Damluji et al., 2021).

A presença marcante de registros com raça/cor não informada expõe fragilidades nos  sistemas de notificação, limitando a precisão epidemiológica e a formulação de  políticas públicas equitativas. A estabilidade dos indicadores na Paraíba, embora com  taxas relevantes, reforça o peso dos fatores regionais e estruturais no desfecho clínico  dos pacientes. 

Diante disso, reforça-se a necessidade de estratégias integradas de prevenção,  diagnóstico oportuno, manejo clínico qualificado e reabilitação cardiovascular,  conforme diretrizes fundamentadas em evidências científicas robustas (Saito et al.,  2023). Os resultados aqui apresentados oferecem subsídios concretos para a  otimização da atenção à saúde cardiovascular na região, com vistas à redução das  iniquidades e à melhoria dos desfechos clínicos no âmbito do SUS. 

6. REFERÊNCIAS 

1. CNS, Conselho Nacional de Saúde. Resolução n° 466 de 12 de dezembro de  2012. Regulamenta a Resolução nº 196/96 acerca das Diretrizes e Normas  Regulamentadoras de Pesquisas Envolvendo Seres Humanos. Brasília (DF):  Ministério da Saúde, 2012. Disponível em:  http://conselho.saude.gov.br/resolucoes/2012/Reso466.pdf. Acesso em:  10 fev. 2024. 

2. DAMLUJI, Abdulla A. et al. Mechanical complications of acute myocardial  infarction: a scientific statement from the American Heart Association.  Circulation, v. 144, n. 2, p. e16-e35, 2021. 

3. DATASUS. Departamento de Informática do SUS. Banco de dados sobre  internações hospitalares por queimaduras no Brasil. Brasília, DF:  Ministério da Saúde, 2024. Disponível em: http://www.datasus.gov.br. Acesso  em: 23 fev. 2025. 

4. FEMIA, Giuseppe et al. Right ventricular myocardial infarction:  pathophysiology, clinical implications and management. Reviews in  Cardiovascular Medicine, v. 22, n. 4, p. 1229-1240, 2021. 

5. FERES, Fausto et al. Diretriz da Sociedade Brasileira de Cardiologia e da  Sociedade Brasileira de Hemodinâmica e Cardiologia Intervencionista sobre  intervenção coronária percutânea. Arquivos brasileiros de Cardiologia, v.  109, n. 1 Suppl 1, p. 1-81, 2017. 

6. PRÉCOMA, Dalton Bertolim et al. Atualização da diretriz de prevenção  cardiovascular da Sociedade Brasileira de Cardiologia-2019. Arquivos  Brasileiros de Cardiologia, v. 113, p. 787-891, 2019. 

7. SAITO, Yuichi et al. Treatment strategies of acute myocardial infarction:  updates on revascularization, pharmacological therapy, and beyond. Journal  of cardiology, v. 81, n. 2, p. 168-178, 2023. 

8. SANTOS, E. C. L. et al. Cardiologia: cardiopapers. In: Cardiologia:  CardioPapers. 2018. p. 760-760.

9. SCHÄFER, Andreas et al. Novel therapeutic strategies to reduce reperfusion  injury after acute myocardial infarction. Current problems in cardiology, v.  47, n. 12, p. 101398, 2022.


1Discentes do Curso de Medicina. Centro Universitário Facisa – Campina Grande, PB.
2Discente do curso de Medicina da Universidade Federal de Campina Grande – Campina Grande, PB.