REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.12523530
Marcos Ramon Ribeiro dos Santos Mendes1, Eduardo Rafael Sousa Neto2, Antônio Marcos de Carvalho Alencar3, Adrielle dos Santos Silva4, Rafael Quesado Vidal5, Alany de Sousa Monteiro Belmont6, Fábia de Sá Leal7, Maria Girlândia Gregório de Andrade8, Leonel Batista de Lima Neto9, Maria Amélia Gonçalves Carreiro10
RESUMO
Introdução: As doenças cardiovasculares (DCV) são a principal causa de mortalidade global entre adultos, com um impacto desproporcional em países de baixa e média renda. Na América Latina e no Caribe, regiões predominantemente afetadas por essas doenças, as DCVs impõem um ônus significativo tanto em termos de saúde pública quanto econômica. Objetivo: Este estudo tem como objetivo investigar os fatores de risco e as complicações associadas ao Infarto Agudo do Miocárdio (IAM), avaliar as estratégias de intervenção mais eficazes para a prevenção e manejo dessas complicações. Metodologia: trata-se de uma revisão de literatura focada nas complicações do IAM e nas estratégias de intervenção utilizadas. Foram incluídos artigos publicados nos últimos 10 anos e suas fontes em inglês e português, obtidos através das bases de dados PubMed, SciELO e Biblioteca Virtual em Saúde (BVS). Os descritores utilizados foram “infarto do miocárdio”, “estilo de vida” e “fatores de risco”. Resultados e Discussão: Os fatores de risco para doenças cardiovasculares, como tabagismo, dislipidemia, hipertensão, diabetes, obesidade, dieta inadequada, consumo de álcool, falta de atividade física, idade e sexo, influenciam significativamente a incidência e prognóstico do Infarto Agudo do Miocárdio (IAM). A intervenção precoce através de ICPP e trombólise é crucial para reduzir a morbimortalidade pós-IAM, com a ICPP preferida em centros especializados. A monitoração da remodelação cardíaca adversa, associada ao desenvolvimento de insuficiência cardíaca, é feita por biomarcadores e técnicas de imagem avançadas, como a ressonância magnética cardíaca, essenciais para intervenções terapêuticas precoces e melhores resultados clínicos. Conclusão: As doenças cardiovasculares, especialmente o infarto agudo do miocárdio (IAM), continuam sendo um desafio global significativo. Avanços nas estratégias de intervenção e manejo dos fatores de risco têm mostrado eficácia na redução da morbimortalidade associada ao IAM. No entanto, desigualdades regionais e limitações infraestruturais dificultam a implementação dessas estratégias. Melhorias na prevenção, diagnóstico precoce e tratamento são cruciais para mitigar o impacto dessas doenças, exigindo uma colaboração contínua entre profissionais de saúde e formuladores de políticas.
PALAVRAS-CHAVE: infarto do miocárdio, estilo de vida, fatores de risco
ABSTRACT
Introduction: Cardiovascular diseases (CVD) are the leading cause of global mortality among adults, with a disproportionate impact on low and middle-income countries. In Latin America and the Caribbean, regions predominantly affected by these diseases, CVDs impose a significant burden both in terms of public health and economics. Objective: This study aims to investigate the risk factors and complications associated with Acute Myocardial Infarction (AMI), and evaluate the most effective intervention strategies for the prevention and management of these complications. Methodology: This is a literature review focused on AMI complications and intervention strategies. Articles published in the last 10 years in English and Portuguese were included, sourced from PubMed, SciELO, and the Virtual Health Library (BVS). Keywords used were “myocardial infarction,” “lifestyle,” and “risk factors”. Results and Discussion: Risk factors for cardiovascular diseases, such as smoking, dyslipidemia, hypertension, diabetes, obesity, poor diet, alcohol consumption, lack of physical activity, age, and sex, significantly influence the incidence and prognosis of Acute Myocardial Infarction (AMI). Early intervention through Primary Percutaneous Coronary Intervention (PPCI) and thrombolysis is crucial for reducing post-AMI morbidity and mortality, with PPCI preferred in specialized centers. Monitoring adverse cardiac remodeling, associated with the development of heart failure, is facilitated by biomarkers and advanced imaging techniques like cardiac magnetic resonance, essential for early therapeutic interventions and improved clinical outcomes. Conclusion: Cardiovascular diseases, especially acute myocardial infarction (AMI), remain a significant global challenge. Advances in intervention strategies and management of risk factors have demonstrated efficacy in reducing AMI-related morbidity and mortality. However, regional disparities and infrastructural limitations hinder the implementation of these strategies. Improvements in prevention, early diagnosis, and treatment are crucial to mitigate the impact of these diseases, necessitating ongoing collaboration between healthcare professionals and policymakers.
KEYWORDS: myocardial infarction, lifestyle, risk factors
INTRODUÇÃO
As doenças cardiovasculares (DCVs) são a principal causa de morte em adultos globalmente, com mais de três quartos dessas mortes ocorrendo em países de renda baixa e média. Na América Latina e no Caribe, onde predominam esses países, as DCVs representam um grande peso econômico. A Organização Panamericana de Saúde (OPAS) incluiu a redução das DCVs como uma meta na Agenda de Saúde Sustentável para as Américas 2018-2030, dada a sua prevalência entre as doenças não transmissíveis (ALVES et al., 2022).
A doença cardíaca isquêmica é a principal responsável pelas mortes por DCV, além de causar mortes prematuras e incapacidade. O infarto do miocárdio, uma de suas manifestações mais comuns e potencialmente fatais, é classificado como Infarto do Miocárdio com Elevação do Segmento ST (IAMCSST) ou sem Elevação do Segmento ST (IAMSSST), cada um com diferentes prognósticos e tratamentos. Nas últimas décadas, o manejo do infarto do miocárdio melhorou significativamente. No IAMCSST, o uso de agentes fibrinolíticos, aspirina, intervenção coronária percutânea e agentes antiplaquetários potentes reduziu as taxas de mortalidade para 5-6%. No IAMSSST, a revascularização precoce, combinada com anticoagulação e novos agentes antiplaquetários, também melhorou os desfechos clínicos (ALVES et al., 2022).
O Infarto Agudo do Miocárdio (IAM) é considerado uma Síndrome Isquêmica Miocárdica Instável (SIMI). Sua principal origem está na ruptura ou erosão de uma placa aterosclerótica, resultando na formação de um trombo ou êmbolo, o que provoca a redução ou interrupção da perfusão do tecido cardíaco. Identificar precocemente uma placa vulnerável antes que ocorra qualquer manifestação clínica é um desafio para os profissionais de saúde. No entanto, essa detecção precoce pode proporcionar benefícios, orientando uma terapia preventiva para pacientes que estão em risco de desenvolver a síndrome coronariana aguda (MATHIONI et al., 2016).
O conhecimento e o controle dos fatores de risco para doenças cardiovasculares são essenciais para reduzir a incidência de doenças isquêmicas. As equipes de saúde que devem estar vigilantes aos fatores de risco dos pacientes, assim como identificar aqueles com maior risco e vulnerabilidade (MATHIONI et al., 2016).
O objetivo deste estudo foi investigar as complicações associadas ao Infarto Agudo do Miocárdio e avaliar as estratégias de intervenção mais eficazes para a prevenção e manejo dessas complicações. Especificamente, busca-se identificar os fatores de risco e os mecanismos fisiopatológicos que contribuem para a ocorrência de complicações pós-IAM, assim como analisar a eficácia das abordagens terapêuticas atuais. Ao compreender melhor essas complicações e as intervenções mais eficazes, o estudo pretende fornecer subsídios para aprimorar as práticas clínicas e melhorar os desfechos dos pacientes acometidos por IAM.
METODOLOGIA
Esta revisão de literatura foca nas complicações do Infarto Agudo do Miocárdio (IAM) e nas estratégias de intervenção e utilizadas. Foram incluídos artigos publicados nos últimos 10 anos e suas fontes, em inglês e português, abrangendo diversos tipos de estudos. A busca foi realizada nas bases de dados PubMed, SciELO e BVS (Biblioteca Virtual em Saúde), utilizando os seguintes descritores: infarto do miocárdio, estilo de vida e fatores de risco.
Foram incluídos artigos com texto completo disponíveis gratuitamente, publicados nos últimos 10 anos. Excluíram-se os estudos não disponíveis em inglês ou português, os que não estavam diretamente relacionados ao tema e aqueles que não continham o termo “infarto” no título.
O processo incluiu a análise, seleção dos estudos, extração e síntese dos dados. Esta revisão de literatura visa proporcionar uma compreensão abrangente das complicações do IAM, dos fatores de risco e dos tratamentos mais eficazes, com potencial para contribuir para a prática clínica e melhorar os resultados dos pacientes.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Fatores de risco
As doenças cardiovasculares (DCV) são uma das principais causas de morbidade e mortalidade global, especialmente em adultos acima de 60 anos. Essas doenças incluem doença coronariana, doença cerebrovascular, doença arterial periférica e aterosclerose aórtica. A doença coronariana é especialmente prevalente, com um risco significativo ao longo da vida para homens e mulheres, apesar da redução nas taxas de mortalidade por DCV desde 1975 (COOPER et al., 2000).
Os fatores de risco para DCV são classificados como modificáveis (tabagismo, dislipidemia, hipertensão, diabetes, obesidade, dieta inadequada, consumo de álcool, falta de atividade física) e não modificáveis (idade, sexo). Marcadores de aterosclerose, como espessura íntima-média arterial (IMT) e rigidez arterial (PWV), além da calcificação arterial, são preditores importantes de eventos cardiovasculares e mortalidade. Estudos identificam a calcificação do arco aórtico como associada a um risco aumentado de doença coronariana e acidente vascular cerebral isquêmico (YUSUF et al., 2004).
Fatores emergentes de risco incluem exposição a endotoxinas, periodontite crônica, baixo peso ao nascer e poluição do ar. A genética e fatores psicossociais, como estresse e depressão, também influenciam significativamente o risco cardiovascular. Medidas preventivas específicas, como controle de dislipidemias e hipertensão, promoção de hábitos saudáveis e cessação do tabagismo, são cruciais para reduzir a incidência de eventos cardiovasculares (WIEDERMANN et al., 1999).
Estratégias de intervenção
A reperfusão precoce, por intervenção coronária percutânea primária (ICPP) ou trombólise (TL), reduziu a morbimortalidade do infarto agudo do miocárdio (IAM) na América Latina e no mundo. Diretrizes recomendam a reperfusão em pacientes internados até 12 horas após o início dos sintomas, utilizando o método disponível no centro médico. A ICPP é preferida à TL, especialmente em centros especializados com a infraestrutura e experiência necessárias, embora os altos custos limitem a disponibilidade desses centros (CORBALÁN, 2021).
Evidências indicam que a TL pré-hospitalar, seguida de transferência rápida para um hospital de maior complexidade, pode oferecer resultados comparáveis ou superiores à ICPP. Alguns especialistas recomendam um estudo invasivo de rotina em pacientes trombolisados nas primeiras 24 horas após a reperfusão. A TL é eficaz quando um trombolítico de última geração é administrado nas primeiras 2-4 horas após o início dos sintomas. Estratégias fármaco-invasivas, que combinam TL com Tenecteplase e subsequente transferência para um centro de ICP, mostram benefícios, embora a preferência por transferências diretas para centros de ICP possa atrasar o tratamento (GERSHLICK et al., 2015)
A implementação dessas estratégias tem sido bem-sucedida na Europa, EUA e, quando possível, na América Latina, apesar das desigualdades regionais. Em cidades grandes como São Paulo, hospitais públicos enfrentam desafios devido à falta de políticas públicas adequadas. A educação da população sobre os sintomas e a importância do atendimento imediato é crucial, assim como o diagnóstico precoce e o uso de tele-eletrocardiograma. Estudos mostram uma redução significativa na mortalidade em centros onde médicos e enfermeiros foram treinados, destacando a importância da continuidade do treinamento e do apoio de entidades como a Sociedade de Cardiologia do Estado de São Paulo. Políticas adicionais e suporte governamental são essenciais para otimizar o tratamento do IAM e reduzir a mortalidade (CORBALÁN, 2021).
Prognóstico
A remodelação cardíaca adversa após um infarto agudo do miocárdio (IAM) está associada ao desenvolvimento de insuficiência cardíaca e mau prognóstico. Como as características demográficas e clínicas não são suficientemente sensíveis para prever essa remodelação, novos biomarcadores, como as metaloproteinases de matriz (MMP-2, MMP-6, MMP-9), estão ganhando destaque. A ressonância magnética cardíaca (RMC) é essencial para avaliar o miocárdio, com o mapeamento paramétrico quantificando diretamente o tempo de relaxamento T1. Estudos mostram diferenças significativas nas características dos tecidos entre pacientes com e sem remodelação adversa, destacando a importância de marcadores como o volume extracelular (VEC) e o volume da matriz (VMi) (ROSA, 2022).
Com o aumento dos biomarcadores e parâmetros de imagem, é crucial usar todas as informações para prever o prognóstico clínico. Antecipar a remodelação mal adaptativa pode influenciar positivamente a remodelação miocárdica através de intervenções precoces. A disseminação progressiva da RMC e da técnica de mapeamento pode torná-las ferramentas essenciais para a triagem de remodelação adversa após IAM. A inclusão do VMi na análise de RMC contribui significativamente para a avaliação precisa dos pacientes e deve ser validada em amostras maiores e mais diversas (ROSA, 2022).
Para Janete et al. (2001), a mortalidade observada no grupo de pacientes submetidos à revascularização miocárdica foi de 4,1% e é consistente com os resultados de outros estudos realizados em outros Países. A alta taxa de morbi-mortalidade cirúrgica nesse grupo de pacientes geralmente reflete a má condição clínica pré-operatória, indicada por fatores preditivos específicos. Na análise multivariada, foram identificados: hipotensão arterial, fibrilação ventricular e choque cardiogênico como fatores de risco significativos pré-operatórios. Diversos autores destacam o choque cardiogênico como um determinante de mau prognóstico, muitas vezes indicativo de insucesso dos métodos de reperfusão.
Neste estudo, fatores como a idade e o sexo feminino, embora citados na literatura como relevantes, não mostraram significância estatística. A idade média dos pacientes foi de 60,3 e não houve associação significativa entre a mortalidade e a idade superior a 65 anos. Embora alguns estudos apontem o sexo feminino como um preditor de mortalidade hospitalar após a revascularização miocárdica, essa correlação não foi observada neste estudo, possivelmente devido ao tamanho reduzido da amostra (JANETE et al., 2001).
A discussão sobre o tempo ideal para a realização da revascularização miocárdica após um IAM é uma das mais controversas. Enquanto alguns autores argumentam que a realização precoce da RM pode diminuir os danos ao miocárdio e melhorar a evolução do paciente, outros defendem a postergação do procedimento para reduzir a morbimortalidade associada à fase aguda. Este estudo demonstra que pacientes sem complicações podem ser operados precocemente com baixo risco, semelhante aos casos eletivos, o que facilita o manejo desses pacientes e evita os inconvenientes da espera prolongada, seja no hospital ou ambulatorialmente (JANETE et al., 2001).
CONCLUSÃO
As doenças cardiovasculares, particularmente o infarto agudo do miocárdio, representam um significativo desafio de saúde pública, especialmente em países de renda baixa e média. As estratégias de intervenção precoce, como a reperfusão por intervenção coronária percutânea primária e trombólise, têm demonstrado eficácia na redução da morbimortalidade associada ao infarto agudo do miocárdio. No entanto, a implementação dessas estratégias enfrenta barreiras econômicas e infraestruturais que limitam a sua aplicabilidade universal, destacando a necessidade de políticas públicas eficazes e de treinamento contínuo dos profissionais de saúde para melhorar os resultados clínicos e reduzir a mortalidade por doenças cardiovasculares.
Além disso, o avanço na identificação e manejo dos fatores de risco, bem como o uso de biomarcadores e técnicas avançadas de imagem, como a ressonância magnética cardíaca, são essenciais para prever e melhorar o prognóstico dos pacientes com infarto agudo do miocárdio. A detecção precoce e a intervenção direcionada podem evitar a remodelação cardíaca adversa e a subsequente insuficiência cardíaca. Portanto, um enfoque multidisciplinar que inclua prevenção, educação, diagnóstico precoce e tratamento eficaz é crucial para combater a prevalência das doenças cardiovasculares e suas complicações, melhorando significativamente os desfechos dos pacientes acometidos por estas condições.
REFERÊNCIAS
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1Acadêmico de Medicina da Faculdade Estácio Idomed de Juazeiro da Bahia Enfermeiro, EBSERH – Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares/HU UNIVASF
https://orcid.org/0000-0001-9176-6797
2Enfermeiro, EBSERH – Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares/HU UNIVASF
https://orcid.org/0009-0008-5152-5962
3Enfermeiro, EBSERH – Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares/HU UNIVASF
https://orcid.org/0009-0009-7279-7622
4Enfermeira, EBSERH – Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares/HU UNIVASF
https://orcid.org/0009-0001-8870-519X
5Enfermeiro, EBSERH – Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares/HU UNIVASF
https://orcid.org/0009-0007-8509-1018
6Enfermeira, EBSERH – Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares/HU UNIVASF
https://orcid.org/0009-0002-7131-9097
7Enfermeira, EBSERH – Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares/HU UNIVASF
https://orcid.org/0000-0002-3677-7511
8Enfermeira, EBSERH – Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares/HU UNIVASF
ORCID: https://orcid.org/0000-0002-8905-486x
9Enfermeiro, EBSERH – Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares/HU UNIVASF
https://orcid.org/0009-0002-2448-1382
10Enfermeira, EBSERH – Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares/HU UNIVASF
https://orcid.org/0009-0008-7518-9537