INDICAÇÕES, FATORES DE RISCO E COMPLICAÇÕES RELACIONADAS À COLOSTOMIA: UMA REVISÃO INTEGRATIVA.

INDICATIONS, RISK FACTORS AND COMPLICATIONS RELATED TO COLOSTOMY: AN INTEGRATIVE REVIEW.

INDICACIONES, FACTORES DE RIESGO Y COMPLICACIONES RELACIONADAS CON LA COLOSTOMÍA: UNA REVISIÓN INTEGRATIVA.

REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.8219080


Vinícius Pereira Matos1
Amanda Kelen da Silva Martins1
Mariana Castro de Medeiros1
Maria Madalena de Souza Matos2
Henrique Lima Martins1
Jordânia Mendes Figueiredo1
Moacir Alves da Silva Junior1


RESUMO  

Objetivo: Identificar, revisar e integrar as produções científicas sobre indicações de colostomia, complicações relacionadas ao procedimento e seus fatores de risco. Métodos: Trata-se de uma revisão integrativa utilizando o sistema de pesquisa bibliográfica do National Center for Biotechnology Information (PubMed) e da Biblioteca Virtual em Saúde (BVS). Foram selecionados artigos publicados entre 20009 e 2023, utilizando os seguintes descritores DeCS/MeSH:

‘colostomia/colostomy’, ‘complicações/complications’, ‘fatores de risco/risk factorys’, frequência/frequency, complicações da colostomia/colostomy complications. Os operadores booleanos “AND” e “OR” foram utilizados para combinar os termos. Apenas estudos clínicos foram considerados como critério de elegibilidade. Resultados: As principais indicações da cirurgia de colostomia foram malignidades intestinais, perfurações abdominais e lesões traumáticas, volvo do sigmóide e doenças do cólon. Os fatores de risco para estomias foram divergentes, não entrando em consenso os estudos utilizados. Os estudos selecionados divergiram em relação às principais complicações. Ao todo, foram elencados problemas de pele, necrose, infecção, problemas de fixação e retração como as complicações mais prevalentes. Considerações finais: Não houve grande variabilidade nos resultados obtidos no presente trabalho, comparados com aqueles da literatura mundial, ressaltando-se, no entanto, que alguns pontos aqui estudados, como fatores de risco, mereceriam um trabalho randomizado e prospectivo, utilizando-se de uma amostra de significância estatística, de forma a apresentar definições nesse tema. 

Palavras-chave: Colostomia, Estomias, Complicações, Fatores de risco, Indicações.

ABSTRACT

Objective: To identify, review and integrate scientific production on indications for colostomy, complications related to the procedure and its risk factors. Methods: This is a bibliometric analysis using the bibliographic search system of the National Center for Biotechnology Information (PubMed) and the Virtual Health Library (BVS). Articles published between 2009 and 2023 were selected, using the following DeCS/MeSH descriptors: ‘colostomia/colostomy’, ‘complicações/complications’, ‘risk factors/risk factorys’, frequency/frequency, colostomy complications/ colostomy complications. Boolean operators “AND” and “OR” were used to combine terms. Only clinical studies were considered as an eligibility criterion. Results: The main indications for colostomy surgery were intestinal malignancies, abdominal perforations and traumatic injuries, sigmoid volvulus and colon diseases. The risk factors for stomas were divergent, with no consensus on the studies used. The selected studies differed in relation to the main complications. In all, skin problems, necrosis, infection, fixation and retraction problems were listed as the most prevalent complications. Final considerations: There was no great variability in the results obtained in the present study, compared with those of the world literature, emphasizing, however, that some points studied here, such as risk factors, would deserve a randomized and prospective study, using a sample of statistical significance, in order to present definitions on this topic.

Keywords: Colostomy, Stomies, Complications, Risk factors, Indications.

RESUMEN

Objetivo: Identificar, revisar e integrar la producción científica sobre indicaciones de colostomía, complicaciones relacionadas con el procedimiento y sus factores de riesgo. Métodos: Se trata de un análisis bibliométrico utilizando el sistema de búsqueda bibliográfica del Centro Nacional de Información Biotecnológica (PubMed) y la Biblioteca Virtual en Salud (BVS). Los artículos publicados entre 2009 y 2023 fueron seleccionados utilizando los siguientes descriptores

DeCS/MeSH: ‘colostomía/colostomía’, ‘complicaciones/complicaciones’, ‘factores de riesgo/fábricas de riesgo’, frecuencia/frecuencia, complicaciones de colostomía/complicaciones de colostomía. Los operadores booleanos “AND” y “OR” se utilizaron para combinar términos. Solo los estudios clínicos se consideraron como criterio de elegibilidad. Resultados: Las principales indicaciones para la cirugía de colostomía fueron neoplasias malignas intestinales, perforaciones abdominales y lesiones traumáticas, vólvulo de sigmoide y enfermedades del colon. Los factores de riesgo para estomas fueron divergentes, sin consenso sobre los estudios utilizados. Los estudios seleccionados diferían en relación a las principales complicaciones. En total, los problemas de piel, necrosis, infección, problemas de fijación y retracción se enumeraron como las complicaciones más prevalentes. Consideraciones finales: No hubo gran variabilidad en los resultados obtenidos en el presente estudio, en comparación con los de la literatura mundial, destacando, sin embargo, que algunos puntos aquí estudiados, como los factores de riesgo, merecerían un estudio aleatorizado y prospectivo, utilizando una muestra de significación estadística, con el fin de presentar definiciones sobre este tema.

Palabras clave: Colostomía, Estomas, Complicaciones, Factores de riesgo, Indicaciones.

1.  INTRODUÇÃO

A estomia (ou ostomia) é um procedimento cirúrgico que consiste na exteriorização de parte do sistema respiratório, digestório e urinário, criando uma abertura artificial (orifício) entre órgãos internos e o meio externo1. A criação de um estoma intestinal é um procedimento corriqueiro nas cirurgias do trato digestivo.  A construção de um “ânus artificial” é um dos mais antigos procedimentos realizados no aparelho digestivo, na tentativa de oferecer uma chance de sobrevida a pacientes em situações que, de outra forma, estariam sem esperança2.

Entre as estomias, destaca-se a confecção da colostomia, que pode ser realizada em nível eletivo ou emergencial, e ser classificada em temporária ou definitiva, a depender da causa e da finalidade para a qual o dispositivo foi construído cirurgicamente3. Diante disso, as fezes ultrapassam o estoma, localizado na superfície do abdômen e são coletadas em uma bolsa plástica adaptada à pele. Dentre os principais tipos de cirurgia de colostomia,  destacam-se a de Hartmann (terminal), em alça, em duplo barril, e a do tipo Paul-Mikulicz. Dentro desse aspecto, a indicação, a experiência do cirurgião, o estado geral do paciente e a localização no intestino em que será realizada a colostomia, serão fatores determinantes na escolha do tipo de cirurgia a ser definida 4.  

A colostomia terminal ou do tipo Hartmann é a predominante dentre os procedimentos cirúrgicos perfazendo cerca de 50% dos métodos realizados e está diretamente relacionada com as neoplasias colorretais, e são o tipo cirúrgico  frequentemente mais indicado diante de uma obstrução intestinal5. A reconstrução do trânsito intestinal não está isenta de riscos cirúrgicos e apresenta taxas consideráveis de complicações pós-operatórias, sendo que a infecção é uma das maiores causas de complicações deste procedimento. Relatam-se na literatura taxas de morbidade variando de 0- 50% e de mortalidade 0-4,5%6.

As complicações pós-cirúrgicas são classificadas em recentes ou tardias dependendo do tempo de ocorrência pós cirurgia (colocar as principais complicações recentes e as principais tardias). Estas, geram hospitalizações mais longas, maiores taxas de readmissão, e, consequentemente, elevados custos hospitalares7. Uma das principais consequências de um estoma é a mudança na imagem corporal da pessoa que foi submetida ao procedimento cirúrgico e irá influenciar vários aspectos de sua vida futura e, muitas vezes, é negligenciado pelos profissionais de saúde2. A característica desses pacientes é a perda da continência intestinal, resultando em saída constante das eliminações intestinais pelo estoma, e isso leva ao uso constante de uma bolsa de colostomia. Entretanto, nem sempre esses clientes possuem uma bolsa coletora  adequada para evitar os incômodos resultantes dessa alteração, fato este que compromete suas relações sociais e, consequentemente, refletirá em sua qualidade de vida8.

As complicações pós-cirúrgicas podem ser minimizadas a partir de um planejamento do local de confecção do estoma e com o uso de técnica cirúrgica adequada. Nos casos de estomas definitivos, uma maior atenção na sua confecção,  poderá proporcionar melhor qualidade de vida ao paciente, com menores taxas de complicações. As principais complicações relacionadas aos estomas incluem a adaptação inadequada da placa de ostomia, devido à má localização do estoma na parede abdominal, dermatite periostomal, necrose isquêmica, retração, prolapso, estenose, fístula periostomal, hérnia periostomal, abscesso periostomal e câncer. Como manifestações sistêmicas, podem ocorrer distúrbios hidroeletrolíticos, em estomas de alto débito, e anemia, em casos de sangramento de varizes localizadas no estoma9.  

É interessante salientar que a assistência prestada às pessoas que se tornarão ostomizadas, seja realizado à medida que for diagnosticada a necessidade de um estoma. A continuidade desse processo no pós-operatório tardio requer a manutenção do suporte físico, social e psicológico de todos os integrantes da equipe de saúde, sem limite de tempo, por meio de cuidados gerais e específicos, e da aplicação de medidas preventivas e terapêuticas que se fizerem necessárias, além da retaguarda do grupo de apoio, ou de auto ajuda,  tendo em vista facilitar a convivência com o estoma e, com isso, melhorar a qualidade de vida das pessoas estomizadas10

Esta revisão integrativa tem como objetivo geral discorrer sobre as principais indicações cirúrgicas de uma colostomia e, especificamente, descrever os fatores associados aos riscos de complicações, bem como as possíveis complicações após a realização do procedimento cirúrgico.  

2.  MATERIAIS E MÉTODOS

Este estudo trata-se de uma revisão integrativa, que reuniu literatura teórica e empírica, através de uma análise bibliométrica, com busca sumária de evidências e com caráter descritivo e qualitativo sobre indicações de colostomia, complicações do procedimento e seus fatores de risco. A amostra foi composta por estudos do tipo ensaio clínico, randomizados ou não, e metanálises, realizadas entre janeiro de 2010 a junho de 2023, abordando os pacientes colostomizados. A revisão integrativa da literatura é um método de pesquisa que associa e sintetiza resultados sobre um delimitado tema, de maneira sistemática, abrangente e ordenada, colaborando para o aprofundamento do conhecimento do assunto investigado22,23

O processo de revisão integrativa seguirá uma sucessão de etapas bem definidas e divididas em seis: 1) elaboração da questão de pesquisa, definição de descritores e estratégia de busca; 2) estabelecimento de critérios de inclusão e exclusão; 3) pré-seleção dos estudos, a partir da leitura do título e do resumo; 4) seleção dos estudos, através da leitura do texto na íntegra; 5) análise e interpretação dos resultados; 6) apresentação da revisão e síntese dos conhecimentos21

Para a confecção do artigo, foi realizada uma busca bibliográfica por meio de fontes constituídas pelos recursos eletrônicos nas seguintes bases de dados gerais: Literatura Latino-Americana e do Caribe em Ciências da Saúde (LILACS),

Health Information from the National Library of Medicine (Medline) e Scientific Eletronic Library Online (SciELO). Como mecanismo de busca foram empregados os Descritores em Ciências da Saúde (Mesh/DeCS): ‘colostomia/colostomy’, ‘complicações/complications’, ‘fatores de risco/risk factorys’, frequência/frequency, complicações da colostomia/ colostomy complications. Ademais, serão utilizados os operadores booleanos “AND” e “OR”, responsáveis por fazer a ligação dos termos de pesquisa. 

Nessa perspectiva, foi utilizado o acrônimo PICO, para auxiliar a definir os critérios de elegibilidade para seleção de estudos primários. A população representada pela letra “P” é representada por indivíduos de ambos os sexos, sem restrição etária e que foram submetidos a procedimentos de colostomia, a letra “I” de intervenção envolve a cirurgia de colostomia nessa população, a letra “C” representa a comparação do procedimento em indivíduos com fator de risco e a letra “O” abrange o desfecho, que se estende às complicações pós-operatórias. 

Após o processo de busca com os descritores, foi realizada uma triagem a partir do título e resumo, com eliminação de artigos duplicados – e posterior leitura do texto completo para confirmação de elegibilidade. Na etapa de inclusão de artigos foram utilizados critérios de inclusão a) artigos, dissertações ou teses sobre pacientes que sofreram complicações devido à colostomia; b) estudos disponíveis em texto completo (do tipo original, de revisão, relato de experiência, atualização de forma gratuita; c) texto publicado de janeiro de 2010 a junho de 2023 com apresentação consistente dos resultados encontrados; d) pesquisas disponíveis nos idiomas português, inglês ou espanhol.

Após a pesquisa nas bases de dados e aplicação dos critérios citados foi realizada a exclusão bibliográfica dos materiais que: a) não respondam aos objetivos da pesquisa; b) apresentam duplicidade  em mais de uma base de dados; c) possuem pesquisa, a qual não foi devidamente concluída por falta de amostra.

Após a busca e seleção dos artigos, foi iniciada a extração de dados para confecção dos resultados, os quais foram apresentados por meio de Figuras e Quadros que contemplaram as principais características dos artigos utilizados na pesquisa (ano de publicação, tipo do estudo, complicações, fatores de risco e indicações), através do software Microsoft Office Excel. Ademais, foi utilizado o software Mendeley, versão 1.19.4 para confecção de todas as referências.

3.  RESULTADOS E DISCUSSÃO

Oito estudos incluindo um total de 896 pacientes foram analisados de acordo com a estratégia de busca pré-definida. Os resultados das buscas foram sumarizados na figura 1. Nos casos em que houve divergência entre os artigos elegidos, os pesquisadores discutiram e entraram em consenso sobre os artigos elegíveis.  

Figura 1- Fluxograma do processo de busca e seleção dos estudos inseridos na revisão.

Fonte: elaborada pelos autores, 2023.

Dos oito artigos incluídos foram extraídos os dados de interesse. Todos os artigos selecionados foram do tipo estudo observacional – coorte, e as datas de publicação variaram de 2010 a 2023.

No Quadro 1 são apresentados os artigos selecionados para a revisão, com autores, data de publicação, quantidade de pacientes, proporção do sexo masculino e tipo de estudo. Da análise do conteúdo das publicações, emergiram 3 categorias temáticas: 1) Complicações da colostomia 2) Indicações do procedimento de colostomia; 3) Fatores de risco para as complicações.  

Quadro 1 – Visão geral dos artigos selecionados para análise

Primeiro autorAno de publicaçãoQuantidade de pacientes / Porcentagem sexo masculino  Tipo de estudo
NahuzDeOliveira R A11. 201257, sendo 41 homens (71,9%).Estudo observacional-Coorte
Fonseca AZ12. 201739, dos quais (53,8%) eram homens. Estudo observacional -Coorte
 KhanS13. 201696, dos quais 72 (75%) deles são do sexo masculino.Estudo observacional -Coorte
Borges e Silva J6. 201033, havendo predomínio do sexo masculino (76,74%).Estudo observacional -Coorte
 Engida A14. 2016 219, 151 (68,9%) eram do sexo masculino. Estudo observacional -Coorte
Corrêa Marinez A15.2020201, 116 (57%) eram do sexo masculino.Estudo randomizado controlado
Franklyn J16.2017151, 85 (56%) eram do sexo masculino.Estudo prospectivo randomizado controlado
Formijn e Jonkers HA17.2012100, 48 (48%) eram do sexo masculino.Estudo observacional – Coorte

Fonte: autoria própria, 2023.

Indicações de colostomia

Foram usados 8 estudos que apontam as principais indicações da colostomia dos pacientes analisados. Um artigo não detalhou todas as principais indicações durante a pesquisa, tendo descrito apenas que 85% se tratava de câncer15. Os demais estudos apontam para etiologias semelhantes, sendo em ambos a principal parcela correspondida pelo carcinoma colorretal.

Quadro 3 – Indicações para realização da cirurgia de colostomia

Autores / AnoIndicação da colostomia
Engida A14, 2016.Vólvulo sigmóide, 102(46,6%), câncer colorretal,46 (21,0%), lesão abdominal, 28 (12,8%), aderência íleo-sigmóide 17(7,8%), e cânceres anorretais avançados, 6(2,7%). Intussuscepção gangrenosa do colón, lesão intestinal intraoperatória, lesão perineal e vazamento anastomótico foram responsáveis por 5 (2,3%) dos casos.
 Borges e Silva J6, 2010. Lesões traumáticas (38,2%), câncer colorretal (22,47%), perfuração por arma de fogo (58,82%). 
Khan S13, 2016. Perfuração intestinal 53 (55,2%); malignidade 9 (9,3%); fasceíte necrosante 9 (9,3%); vólvulo sigmoide 3 (3,1%); fístula RV3 (3,1%); diverticulite 2 (2,08%); fístula no ânus 2 (2,08%); outras 12 (12,5%). 
Fonseca AZ12, 2017.Doença do cólon 2% (20); diverticulite 1% (10); megacólon 1% (10); ferimento por bala 1% (10); ferimento de facada 1% (10); desconhecido 1% (10) e outros 1% (10). 
Nahuz de Oliveira RA11, 2012.Trauma abdominal 44,6% (25), deiscência de anastomose 25% (14), proteção de anastomose 17,8%(10), outros 16% (9).
Correa Marinez A15, 2020. Câncer 85%.
Franklyn J16, 2017.Obstrução por carcinoma retal 82,8% (125); sepse perianal grave 6,6% (10); trauma (obstétrico/trânsito acidentes) 2% (3); Diversos (neoplasias pélvicas, proctite por radiação, etc.) 8,6% (13). 
Formijne Jonkers HA17, 2012.Malignidades colorretais 46% (46); diverticulite complicada 21% (21), doença inflamatória intestinal 10% (10); vazamento anastomótico 5% (5); obstrução devido a malignidades fora do trato gastrointestinal 5% (5); desvio de processos não malignos (por exemplo, fístula) 4% (4); diversos 9% (9). 

Fonte: autoria própria, 2023.

Fatores de risco para complicações 

Os resultados abordados por 3 autores 14, 6 e 15 em relação aos fatores de risco (quadro 2) para as estomias foram divergentes, não entrando em consenso. O primeiro analisou as comorbidades dos pacientes relacionando-as com a mortalidade durante a pesquisa, não deixando evidente, contudo, de que forma as doenças prévias afetaram o desfecho negativo da cirurgia. 

 Já o segundo trouxe uma abordagem voltada para a permanência do indivíduo no hospital e como isso poderia afetá-lo.

Um terceiro estudo comparou duas técnicas de confecção do estroma, a incisão cruzada e circular e a incisão cruzada e profilaxia malha, sendo que ambas não demonstraram aumento de complicações na colostomia relacionadas com os fatores de risco: idade e IMC alto.

Quadro 2- Fatores de risco para complicações na colostomia

 Autores / Ano Fatores de risco
Engida A14, 2016.Houve associação significativa entre doença crônica associada e mortalidade. Havia 36 pacientes hipertensos, dos quais dois morreram. Dos oito pacientes diabéticos, quatro deles morreram. Três dos cinco pacientes com hipertensão e diabetes morreram. Houve um paciente com leucemia que também morreu.
Borges e Silva J6, 2010A permanência hospitalar no pós-operatório apresentou uma curva de regressão linear positiva em função da idade. Houve uma relação significativa entre a permanência hospitalar e o número de complicações.
CorreaMarinezA15, 2020. Não houve diferenças no risco relativo (RR) para desenvolver complicações de estoma entre os métodos: incisão cruzada e circular (RR 0,93, IC 95% 0,73; 1.2) e entre incisão cruzada e profilaxia malha (RR 1,02, IC 95% 0,78; 1,34). Nenhum dos pré especificados possíveis fatores de risco (idade, IMC alto) para complicações do estoma aumentou o risco. 

Fonte: autoria própria, 2023.

Complicações relacionadas à cirurgia de colostomia

A análise dos artigos selecionados evidenciou que parcela significativa dos pacientes que realizaram a colostomia sofreu complicações (quadro 4). O primeiro autor14 estudou 219 pacientes portadores de colostomias que foram submetidos à reconstrução do trânsito intestinal, relatando uma incidência de complicações na ordem de 71%. Já o segundo autor6 estudou 39 pacientes, e obteve-se uma taxa de complicações em torno de 20,5%. Por outro lado, o terceiro autor11 já estudou 57 pacientes colostomizados, dentre os quais aproximadamente 14% sofreram complicações. 

Os artigos selecionados divergiram em relação às principais complicações, enquanto dois autores14,11 trouxeram a infecção de sítio cirúrgico como a principal complicação, outro autor12 definiu como complicação mais frequente o vazamento anastomótico. As complicações da colostomia citadas pelos autores foram: infecção do local cirúrgico, pneumonia adquirida no hospital, deiscência da ferida, obstrução por adesão, retrações da colostomia, necrose de colostomia, diarreia por colostomia, prolapso da colostomia, sepse gastrointestinal, hérnia de paracolostomia, IRA – azotemia pré-renal, diverticulite, estenose estomal, vazamento anastomôtico, evisceração, inviabilidade da reconstrução e deiscência de anastomose.

 Um artigo de 201716 trouxe uma porcentagem menor de complicações totais. Outro estudo de 201517 mostrou que uma parcela significativamente maior das complicações ficou para Irritação da pele, que correspondeu a 54 pessoas (55). Já um estudo mais recente, de 2020, citou que 63% desenvolveram algum tipo de complicação relacionada ao estroma (127/201) dentro de 1 ano após a cirurgia15

Quadro 4 – Complicações da cirurgia de colostomia

Autores / AnoComplicações
Engida A14, 2016. Infecção do local cirúrgico 51 (23,3%); pneumonia adquirida no hospital 23 (10,5%); deiscência da ferida 17 (7.8%); obstrução por adesão 15 (6,8%); retrações da colostomia 13 (5,9%); necrose de colostomia 10 (4.6%); diarreia por colostomia 6 (2.7%); prolapso da colostomia 6 (2.7%); sepse gastrointestinal 5 (2.3%); hérnia de paracolostomia 3 (1.4%); IRA – azotemia pré-renal 3 (1.4%); diverticulite 3 (1.4%); estenose estomal 2 (0,9%).
Fonseca AZ12, 2017.Vazamento anastomótico 3 (37,5%); vazamento e evisceração 1 (10%); obstrução intestinal 1 (10%); evisceração 1 (10%); infecção da ferida 1 (10%); inviabilidade da reconstrução 1 (10%).
Nahuz de Oliveira RA11, 2012.Infecção de sítio cirúrgico superficial 6 (10,8%) e taxa de deiscência de anastomose 2 (3,5%). 
Corrêa Marinez A15, 2020. Problemas de pele 82 (40%); granuloma 26 (36%); necrose 36 (18%); prolapso 5 (7%); retração 10 (5%); deiscência 7 (3%); estenose 1 (1%). 
Franklyn J16, 2017.Retração 7% (11); edema 13% (20); Congestionamento 11% (17); necrose estromal 6% (9);  readmissão 3% (5); abscesso paraestomal 2% (4); necrose cutânea 0,6% (1); sangramento 2% (3); réexploração 6% (9); separação muco-cutânea 2% (4). 
Formijne Jonkers HA17, 2015.Irritação da pele 54 (55%); problemas de fixação 45 (46%); vazamento 39 (40%); descarga 25 (26%); necrose superficial 20 (20%); deiscência da ferida 15 (15%); alergia 14 (14%); sangramento 14 (14%); passagem problemática das fezes 10 (10%); hiper granulação 10 (10%); retração 9 (9%); hérnia paraestomal 6 (6%); prolapso 6 (6%); alto rendimento 5 (5%); estenose 3 (3%); necrose profunda 3 (3%); abscesso paraestomal 3 (3%); formação de fístula 1 (1%); hérnia incisional 0 (0%). 

Fonte: autoria própria, 2023.

O quadro 5 representa a compilação das principais complicações encontradas nos pacientes dos estudos selecionados de forma decrescente. 

Quadro 5 – Compilação de complicações dos artigos selecionados. 

Fonte: Autoria própria, 2023. 

Os estudos selecionados divergiram em relação às principais complicações. Enquanto foi citada a infecção de sítio cirúrgico como principal complicação14,11, outro estudo definiu como complicação mais frequente o vazamento anastomótico12. A pneumonia adquirida no hospital foi referida apenas em uma fonte como uma complicação de importante incidência¹², não sendo citada por outros estudos analisados nesta revisão. 

A deiscência da ferida14,11 é uma complicação presente na maioria dos estudos, embora sua prevalência seja menor que a infecção. Dentre os estudos analisados, a obstrução por adesão, retrações da colostomia, necrose de colostomia, diarreia por colostomia, prolapso da colostomia e vazamento anastomótico foram complicações relevantes14,12. Esses dados se assemelham a uma pesquisa que cita frequências de 37,5% para prolapso da colostomia, e 12,5% para retração18.

Alguns estudos trouxeram sepse gastrointestinal, hérnia de paracolostomia, IRA – azotemia pré-renal, diverticulite, estenose estomal e evisceração como complicações de baixa incidência14,12. Da mesma forma, a literatura cita estenose e hérnia colostomal como complicações presentes com baixa prevalência18.

A análise do Quadro 3 nos permite observar que uma das principais indicações para a cirurgia de colostomia são pacientes que apresentam neoplasias de intestino, com destaque a região do cólon e sua porção final, o reto e o ânus. O resultado obtido se assemelha a outro estudo de 2018 que mostrou a prevalência de neoplasias de reto (43,9%) e de intestino (15,2%)19.

 Em um estudo que traz como principal indicação de colostomia os traumas abdominais, há uma importante porcentagem de colostomias realizadas, somando 25 dos 57 pacientes11. Perfuração por faca e arma de fogo constituem causas significativas, chegando a ser a principal em um estudo6.

O Vólvulo de sigmóide é uma complicação intestinal passível de resultar no uso de colostomia, por vez citado como indicação de maior incidência14; já em outro estudo apresentou taxas de indicação inferior14.

Outras indicações de menor porcentagem foram aderência íleo-sigmóide, fasceíte necrosante, lesão intestinal intra operatória, lesão perineal, vazamento anastomótico, fístula RV3 e fístula no ânus. Diverticulite foi citada em dois estudos com taxas semelhantes de indicação para colostomia, de 1 a 2,08%,12,6

Analisando os resultados dos fatores de risco, chegamos à conclusão que existem diversos elementos que alteram a evolução pós-operatória dos pacientes submetidos ao procedimento de colostomia.

 Os autores vêm tentando definir os parâmetros que podem estar relacionados aos altos índices de complicações, sem, no entanto, chegarem a um consenso na definição deles. Dessa forma, diante de tantos questionamentos, acreditamos que algumas variáveis possam estar relacionadas ao sucesso ou insucesso do procedimento, tais como: o uso correto de antibióticos, indicação da ostomia, técnica empregada, experiência do cirurgião, preparo mecânico intestinal utilizado e o tempo de permanência no hospital. Além disso, observamos que os pacientes submetidos à colostomia eram, em sua maioria, do sexo masculino, em uma faixa etária economicamente ativa, trazendo assim, um custo social muito importante para a sociedade.

4.  CONSIDERAÇÕES FINAIS  

A partir do presente estudo, evidenciou-se que as complicações da colostomia são eventos comuns. Além disso, foi possível estabelecer as principais indicações do procedimento e os fatores de risco envolvidos no mesmo. Não houve grande variabilidade nos resultados obtidos no presente trabalho, comparados com aqueles da literatura mundial, ressaltando-se, no entanto, que alguns pontos aqui estudados, como fatores de risco, mereceriam um trabalho randomizado e prospectivo, utilizando-se de uma amostra de significância estatística, de forma a apresentar definições nesse tema. Ademais, fica evidente que os cuidados pré, intra e pós-operatórios são de grande importância na redução dos índices de complicações pós-operatórias ou mesmo na possível ausência delas. 

REFERÊNCIAS

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1 Acadêmicos do Curso de Medicina do Centro Universitário Uninassau de Barreiras, Departamento de Medicina. Barreiras/BA. *Email: matossantana24@gmail.com
2 Doutora em Ciências da Saúde pelo Centro Universitário Faculdade de Medicina do ABC (FMABC). Santo André/SP. Enfermeira do Hospital da Mulher, Barreiras/BA.