INCONTINÊNCIA URINÁRIA EM ATLETAS DO GÊNERO FEMININO DE CROSSFIT

URINARY INCONTINENCE IN FEMALE CROSSFIT ATHLETES

REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.8082172


Cássia Cavalheiro Brito1
Larissa Brito Taglietti2
Maria Evangelina de Oliveira3


RESUMO

Incontinência urinária é a perda involuntária de urina pela uretra. O distúrbio é mais frequente no sexo feminino e pode manifestar-se tanto na quinta ou sexta década de vida, quanto em mulheres mais jovens. Essa perda involuntária de urina pode estar associada com a urgência ou também com o esforço, incluindo atividades esportivas ou em espirros ou tosse. Foi desenvolvido, em 73 mulheres, entre 20 a 50 anos, praticantes de crossfit do gênero feminino, um questionário ICIQ-SF validado, com 8 perguntas, para verificar a ocorrência de incontinência urinária, e identificar os fatores condicionantes como o peso, idade e paridade. A metodologia é de abordagem descritiva-quantitativa e os dados foram analisados e observados através de gráficos. Os resultados apresentados neste estudo, mostraram que das 73 mulheres que participaram, 32 (44%) apresentaram incontinência urinária, na fase adulta, com idade entre 20 a 48 anos, onde 41 (56%) delas não apresentaram incontinência urinária. O treinamento dos músculos do assoalho pélvico (MAP) é essencial para prevenção e tratamento da incontinência urinária de todas as fases da vida da mulher. Contudo, a importância de executar exercícios com orientação de um fisioterapeuta, principalmente exercícios de alto impacto e cargas elevadas, podem evitar problemas como a incontinência urinária.

Palavras Chaves: Incontinência Urinária. Gênero Feminino. Crossfit.

ABSTRACT

Urinary incontinence is the involuntary loss of urine through the urethra. The disorder is more frequent in females and can manifest itself both in the fifth or sixth decade of life, and in younger women. This involuntary loss of urine can be associated with urgency or also with exertion, including sports activities or sneezing or coughing. A validated ICIQ-SF questionnaire, with 8 questions, was developed to 73 women, between 20 and 50 years of age, female crossfit practitioners, to verify the occurrence of urinary incontinence, and to identify conditioning factors such as weight, age and parity. The methodology has a descriptive-quantitative approach and the data were analyzed and observed through graphs. The results were essential for the study, they showed that of the 73 women who participated, 32 (44%) had urinary incontinence, in adulthood, aged between 20 and 48 years, where 41 (56%) of them did not have urinary incontinence. Training the pelvic floor muscles (PFM) is essential for the prevention and treatment of urinary incontinence at all strages of a woman’s life. However, the importance of performing exercises under the guidance of a physiotherapist, especially high-impact exercises and high loads, can prevent problems such as urinary incontinence.

Keywords: Urinary Incontinence. Female Gender. Crossfit.

INTRODUÇÃO – TEMA E PROBLEMATIZAÇÃO

O crossfit é uma modalidade com diversos exercícios físicos de alta intensidade, criado em 1995 pelo educador físico Greg Glassman, tendo como objetivo melhorar o treino físico como um todo, treinar a resistência, força, potência, velocidade, coordenação, flexibilidade, agilidade, equilíbrio, precisão e o sistema cardiorrespiratório (CALDAS; MITIDIERI, 2018).

A Incontinência Urinária (IU) é uma patologia caracterizada pela perda involuntária da urina, afetando, em sua maioria, mulheres, acarretando prejuízos à qualidade de vida e gerando problemas sociais e de higiene (ROCHA, 2017).

No entendimento de Santos (2018), a IU feminina pode ter relações com a anatomia da pelve, hormônios, cirurgias de partos e gestações que podem se deslocar e contribuir no enfraquecimento dos músculos períneos que são compostos por um conjunto de partes moles que fecham a pelve e suportam as vísceras em posição perpendicular. Ainda de acordo com o mesmo autor, destacam-se fatores, a exemplo da idade, menopausa, obesidade, cirurgias ginecológicas, doenças crônicas, fatores hereditários, uso de drogas, constipação intestinal, consumo de cafeína, consumo de cigarro e prática de exercícios físicos, que podem ser considerados de risco, por impactarem no aumento da perda urinária (SANTOS, 2018).

Em concordância, Machado (2017) destaca que essa modalidade esportiva, crossfit, não só apresenta uma fraqueza no assoalho pélvico como também atraso na velocidade da contração, além de uma prevalência seis vezes maior no desenvolvimento de incontinência urinária, devido a esses exercícios realizados com peso e em séries com muitas repetições que podem sobrecarregar os músculos que sustentam a parte inferior do abdômen.

As atividades físicas são de extrema necessidade para melhoria da saúde e bem-estar da população, entretanto, é preciso o acompanhamento de profissionais que orientem e estejam atentos, caso tenham deixado algum problema devido a intensidade elevada dos treinos.

Nas aulas de Crossfit, os treinos são de alto impacto, exigindo do praticante força e resistência. Muitas vezes, os resultados nem sempre são positivos, pois alguns problemas podem surgir e interferir no rendimento e até na qualidade de vida de quem pratica tais atividades, principalmente nas mulheres, que estão cada vez mais voltadas para esta modalidade.

Considerando tais pressupostos, surge a seguinte questão problema: quais fatores condicionantes de incontinência urinária em atletas do gênero feminino de crossfit? Quais os riscos de incontinência urinária em mulheres?

Nesse sentido, ressalta-se a necessidade de um acompanhamento adequado durante a prática de atividade física, considerando que cada indivíduo possui seu nível de resistência. Assim, é importante que o praticante obedeça a seu limite, evitando posteriores lesões e, em casos extremos, incontinência urinária.

Hipótese

Levanta-se, então, a hipótese de que a intensidade do exercício, altas cargas e a prática constante da atividade, podem acarretar incontinência urinária nas praticantes do público feminino, pois devido a esses exercícios serem realizados com peso e em séries com muitas repetições pode haver uma sobrecarga dos músculos que sustentam a parte inferior do abdômen.

OBJETIVO

Objetivo Geral

Verificar a ocorrência de Incontinência Urinária em mulheres praticantes de crossfit.

MÉTODOS

Optou-se por alinhar o estudo referenciado com uma abordagem de caráter descritiva e quantitativa. A pesquisa descritiva tem como objetivo identificar as características de algo, sem aprofundar nos motivos. Já a quantitativa, se vale de questionários com perguntas em sua grande maioria fechadas, ou seja, perguntas de múltipla escolha ou perguntas de resposta única.

 Para a realização da presente pesquisa, optou-se por utilizar como instrumento de coleta de informações, um questionário. De acordo com, Gerhardt e Silveira (2009, p. 69) afirmam que:

“Questionário é um instrumento de coleta de dados constituído por uma série ordenada de perguntas que devem ser respondidas por escrito pelo informante, sem a presença do pesquisador, objetiva levantar opiniões, crenças, sentimentos, interesses, expectativas, situações vivenciadas; a linguagem utilizada no questionário deve ser simples e direta, para que quem vá responder compreenda com clareza o que está sendo perguntado”.

A população foi constituída por 90 mulheres praticantes de crossfit de um centro de treinamento de Teresina, Piauí. Levando em consideração erro amostral de 5% e índice de confiança de 95%, a amostra constitui-se por 73 praticantes de crossfit do gênero feminino.

O cálculo foi realizado com base na fórmula abaixo onde n é a amostra:

A pesquisa foi realizada, no Mtor centro de treinamento de crossfit localizado na zona leste de Teresina, Piauí. Inicialmente as participantes convidadas ao final do treino foram informadas acerca dos objetivos do estudo. E ao aceitarem a participação foi apresentado o termo de consentimento livre e esclarecido, e após a assinatura do termo a participante foi encaminhada para uma sala reservada para aplicação do questionário, este continha 8 (oito) perguntas relacionadas: a mensuração do peso, altura, número de filhos, frequência que perde urina, quantidade de urina que pensa que perde, quanto que perder urina interfere na vida, e o quanto perde urina.

Este questionário ICIQ-SF (Internacional Consultation on Incontinence Questionnaire – Short Form) foi traduzido para a versão português e validada com sucesso para aplicação em brasileiros de ambos os sexos, com queixa de incontinência urinária, apresentando satisfatória confiabilidade e validade de constructo. 

Quanto aos critérios de inclusão, foram incluídas mulheres que praticam crossfit com 20 a 50 anos e excluídas as mulheres que após a aplicação do questionário ICIQ-SF apresentarem o score 0, ou seja, não apresentarem incontinência urinária.

Os dados foram analisados e organizados em gráficos, seguido de uma discussão com a literatura pertinente.

QUESTIONÁRIO USADO NA COLETA DE DADOS DA PESQUISA

Figura – Versão em português do ICIQ-SF.
Fonte: https://www.scielo.br/j/rsp/a/sJjtsdfRRnmcgBSLB6gGqDx/?lang=pt

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Os resultados desta pesquisa mostraram que das 73 mulheres que participaram do estudo, 32 (44%) apresentaram incontinência urinária, na fase adulta, com idade entre 20 a 48 anos, e 41 (56%) não apresentaram incontinência urinária.

Com relação, a idade tivemos 34 (47%) participantes entre 20 a 30 anos, destas participantes 15 apresentaram incontinência urinária. Entre 31 a 48 anos, tivemos 41 (53%) participantes, 17 destas apresentaram incontinência urinária durante a pratica da modalidade de crossfit.

O resultado está explícito no gráfico abaixo:

GRÁFICO 1 – FONTE: PRÓPRIA

Quanto aos fatores condicionantes neste estudo, observou-se que 49 (67%) das participantes nulíparas, 22 destas apresentaram incontinência urinária, 24 (33%) das participantes multíparas, 10 apresentaram incontinência urinária.

Durante a pesquisa, algumas participantes nulíparas relataram que antes do crossfit já apresentavam incontinência urinária, e quando começaram a praticar a modalidade crossfit, mencionaram o agravamento da incontinência urinária, e em alguns exercícios, tais como: front squarts elas notam um escape em pequena quantidade. Já as participantes multíparas, relataram que após o parto apresentaram uma piora no seu quadro de incontinência urinária.

Conforme o gráfico abaixo:

GRÁFICO 2 – FONTE: PRÓPRIA

Em 2018, Gephart realizou um estudo comparativo entre nulíparas e multíparas praticantes e não praticantes de crossfit e observou que, há diferença significativa entre o pico de pressão intra-abdominal associado nas disfunções do assoalho pélvico nos dois grupos avaliados, nos exercícios de push-ups, front squats, wallballs e double-unders. Corroborando com este estudo, Yang et al. 2019 constatou o aumento da queixa de incontinência urinária em praticantes de crossfit.

 É possível observar neste estudo, que as participantes que apresentaram o Índice de Massa Corporal (IMC), entre 18,6 e 24,9 que indica peso normal foram 39 (53%), destas 14 participantes apresentam casos incontinência urinária. Já aquelas que apresentaram o índice entre 25 e 29,9 que indica sobrepeso foram 26 (36%) participantes, destas 13 participantes também apresentaram incontinência urinária. E 8 (11%) participantes que apresentaram o índice entre 30 a 34,9 indicaram obesidade, e 5 delas apresentaram casos de incontinência urinária.

Portanto, através dos dados obtidos, podemos observar que além dos exercícios de alto impacto agravarem os casos de incontinência urinária, observou-se que a obesidade também é um fator condicionante para os casos de perda urinária.

Conforme resultado exposto ao gráfico abaixo:

GRÁFICO 3 – FONTE: PRÓPRIA

Estudo recente demonstrou estreita relação entre o aumento do IMC e a presença de IU, assim como o aparecimento de sintomas urinários como urgência miccional, aumento da frequência, noctúria e tenesmo vesical. De acordo com Minassian, em seu recente estudo que incluiu 2.875 mulheres apontou que a obesidade é fator associado à severidade da incontinência urinária de esforço (IUE).

Quanto a frequência de perda urinária, 10 (14%) participantes uma vez por semana, 6 (8%) duas ou três vezes por semana, 4 (5%) uma vez ao dia e 7 (10%) diversas vezes ao dia. Durante a abordagem das participantes do estudo, as pesquisadoras orientaram o diário miccional como uma ferramenta essencial quando se suspeita de hiperatividade vesical, além disso, auxilia no correto diagnóstico, e pode ser utilizado na avaliação da gravidade dos sintomas de incontinência urinária.

Resultado evidenciado no abaixo:

GRÁFICO 4 – FONTE: PRÓPRIA

 Sobre a quantidade de urina que as participantes acreditam perder ao longo do dia, 23 (31%) das participantes acreditam perder uma pequena quantidade, 5 (7%) delas perdem uma moderada quantidade e já 3 (4%) participantes acreditam perder uma grande quantidade.

Durante a realização da pesquisa, observou-se que algumas participantes paravam constantemente os exercícios para irem ao banheiro. Houve relato de algumas das participantes que determinados exercícios, como: corda naval, percebiam uma pequena perda de urina.

Gráfico aponta essa estatística:

GRÁFICO 5 – FONTE: PRÓPRIA

Ao questionar as participantes sobre o quanto que perder urina interfere em sua vida diária, 23 (6%) das participantes relataram que interfere na vida social, pessoal, durante seus momentos de lazer e em praticar atividades físicas.

Conforme ao gráfico abaixo:

GRÁFICO 6 – FONTE; PRÓPRIA

Outros estudos mostraram, que Incontinência Urinária de Esforço (IUE) afeta frequentemente mulheres pela sua condição física e limitam suas atividades do dia a dia, sem a percepção de que se trata de uma patologia. Por ser um assunto que está diretamente associado com a vida íntima das mulheres, muitas não procuram ajuda e acabam se isolando da família e da sociedade. (FERNANDES et al.,2015).

 Ao questionarmos, sobre as situações de incontinência urinária que ocorre no dia a dia das participantes, 19 (21%) delas relataram perdem urina durante a atividade de crossfit, 9 (10%) antes de chegar ao banheiro, 5 (5%) quando terminam de urinar e estão se vestindo, 4 (4%) quando estão dormindo, 1 (1%) sem razão óbvia e 11 (12%) responderam que quando tossem ou espirram perdem urina.

Portanto, é possível observar que em diversas situações as participantes relatam perda urinária, porém a maioria delas alegam perder urina nas atividades de alto impacto, como os exercícios da modalidade de crossfit.

Conforme ao gráfico abaixo:

              GRÁFICO 7 – FONTE: PRÓPRIA

Em um estudo realizado por Menezes GMD, et al (2012) apresentou-se que a IU acarreta efeitos e interferências na vida em geral, seja na realização de rotinas diárias como também nas atividades de lazer e nos relacionamentos pessoal e social. Os episódios de IU durante as atividades desenvolvidas diariamente são causadores de constrangimento social, disfunção sexual e baixo desempenho profissional. Estas alterações podem ser causas determinantes de isolamento social, estresse, depressão, sentimento de vergonha, condições de incapacidade e baixa auto estima.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Levando-se em conta, o que foi apresentado nesta pesquisa tornou-se possível verificar que as mulheres praticantes de crossfit apresentaram incontinência urinária, e algumas delas tiveram o agravamento do problema, após começarem a praticar a modalidade de crossfit. Considerando a hipótese levantada no início desta pesquisa, constatou-se que o fato desta modalidade ser de alto impacto, cargas pesadas e em séries com muitas repetições, com isso pode haver uma sobrecarga dos músculos que sustentam a parte inferior do abdômen, ocasionando problemas de incontinência urinária ou seu agravamento.

Verifica-se que, o treinamento dos músculos do assoalho pélvico (MAP) é essencial para prevenção e tratamento da incontinência urinária de todas as fases da vida.

Diante disso, são crescentes os casos de incontinência urinária, em mulheres que praticam exercícios de alto impacto, e que sem o tratamento adequado pode-se aumentar este índice e também o agravamento do problema da praticante.

Constatou-se através do estudo que as participantes de 20 a 48 anos pontuaram o score de 13 a 18 conforme o questionário aplicado, o que significa que apresentaram incontinência urinária em estado agravado.

Ressaltam-se a importância de mulheres que sofrem com este problema, procurar um tratamento e acompanhamento de um fisioterapeuta, para continuar realizando suas atividades, evitando as recorrentes perda urinária e sem colocar sua saúde em risco. Com atenção do tratamento fisioterapêutico especializado e direcionado na requerida situação, tais mulheres podem ficar livres para realizar qualquer atividade sem medos, constrangimentos ou vergonha.

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1Graduanda em Fisioterapia pelo Centro Universitário Uninovafapi

Instituição: Centro Universitário Uninovafapi

Endereço: Rua Vitorino Orthiges Fernandes, 6123, Uruguai, Teresina-PI, CEP: 64073-505

Email: ccavalheirobrito@gmail.com

2Graduanda em Fisioterapia pelo Centro Universitário Uninovafapi

Instituição: Centro Universitário Uninovafapi

Endereço: Rua Vitorino Orthiges Fernandes, 6123, Uruguai, Teresina-PI, CEP: 64073-505

Email: larissataglietti@outlook.com

3Mestre em Engenharia Biomédica pela Universidade do Vale do Paraíba (UNIVAP)

Instituição: Centro Universitário Uninovafapi

Endereço: Rua Vitorino Orthiges Fernandes, 6123, Uruguai, Teresina – PI, CEP: 64073-505

Email: linalima28@gmail.com