INCIDENTES RELACIONADOS AOS MEDICAMENTOS POTENCIALMENTE PERIGOSOS (MPP): UMA REVISÃO INTEGRATIVA DA LITERATURA

REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.10207474


Thayane Rakel Belém Moraes
Profª Drª. Heliana Trindade Marinho Santana


RESUMO

Alguns medicamentos conhecidos como Potencialmente Perigosos (MPP), possuem uma maior probabilidade de causar danos ao paciente, se forem utilizados erroneamente, portanto, esta pesquisa objetivou realizar um levantamento bibliográfico sobre MPP e suas prescrições, ressaltando a importância da atenção farmacêutica nesse processo. Assim, esse artigo trata-se de uma revisão integrativa, onde foi realizado um levantamento bibliográfico por meio de consulta eletrônica, utilizando as bases de dados SCIELO, MEDLINE, PubMed e LILACS. A três classes terapêutica mais envolvidas com incidentes foram os anticoagulantes (Heparina – N = 03/ 33,3%; Enoxaparina sódica – N = 02/ 22,2%; e Varfarina – N = 01/ 11,1%), os analgésicos opioides (Fentanil – N = 02/ 22,2%; Tramadol – N = 02/ 22,2%; e Morfina – N = 01/ 11,1%) e os hipoglicemiantes (insulina subcutânea – N = 05/ 55,5%). E sobre os dados referentes ao número de incidentes hospitalares envolvendo MPP, foram identificadas intercorrências associadas aos profissionais, onde as principais foram: conhecimento insuficiente (N = 03/ 33,3%) e queixas técnicas (N = 03/ 33,3%); e também incidentes associados aos pacientes, destacando-se os erros de prescrição (N = 03/ 33,3%) e erros na administração medicamentosa (N = 02/ 22,2%). Em virtude dos dados obtidos, foi possível concluir que os MPP’s correspondem a uma classe amplamente prescrita nas clínicas médicas, centro cirúrgicos e UTI’s, portanto, é extremamente importante o direcionamento de ações preventivas para a ocorrência de erros, evitando assim a ocorrência de eventos adversos, que irão expor os pacientes a riscos.

Palavras-chave: Medicamentos potencialmente perigosos. Medicamentos de alta vigilância. Farmácia clínica.

ABSTRACT

Some medications known as Potentially Dangerous (MPP) are more likely to cause harm to the patient if used incorrectly. Therefore, this research aimed to carry out a bibliographical survey on MPP and its prescriptions, highlighting the importance of pharmaceutical attention in this process. Therefore, this article is an integrative review, where a bibliographic survey was carried out through electronic consultation, using the SCIELO, MEDLINE, PubMed and LILACS databases. The three therapeutic classes most involved in incidents were anticoagulants (Heparin – N = 03/ 33.3%; Enoxaparin sodium – N = 02/ 22.2%; and Warfarin – N = 01/ 11.1%), analgesics opioids (Fentanyl – N = 02/ 22.2%; Tramadol – N = 02/ 22.2%; and Morphine – N = 01/ 11.1%) and hypoglycemic agents (subcutaneous insulin – N = 05/ 55.5 %). And regarding the data regarding the number of hospital incidents involving MPP, complications associated with professionals were identified, where the main ones were: insufficient knowledge (N = 03/ 33.3%) and technical complaints (N = 03/ 33.3%) ; and also incidents associated with patients, highlighting prescription errors (N = 03/ 33.3%) and errors in medication administration (N = 02/ 22.2%). Due to the data obtained, it was possible to conclude that MPP’s correspond to a class widely prescribed in medical clinics, surgical centers and ICU’s, therefore, it is extremely important to direct preventive actions to the occurrence of errors, thus avoiding the occurrence of adverse events , which will expose patients to risks.

Keywords: Potentially dangerous medicines. High alert medications. Clinical pharmacy.

SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO

A segurança do paciente é uma das principais prioridades da saúde mundial, sendo esse um importante desafio a ser melhorado, em razão da crescente ocorrência de incidentes. Apesar do incremento de novas tecnologias é possível afirmar que a qualidade da saúde mundial precisa evoluir urgentemente.1 No Brasil, esse processo assistencial à saúde ainda é fragilizado, onde muitos pacientes estão sujeitos a riscos e erros dentro do ambiente hospitalar, independente desses locais serem bem estruturados e/ou tecnologicamente avançados.2

No que tange a temática da seguridade do paciente, os fármacos integram um tópico primordial, essencialmente por causa das ocorrências frequentes de eventos adversos associados ao uso indevido. Dentre esses eventos, os mais recorrentes nos serviços de saúde são os erros de medicação, sendo este um problema reconhecido internacionalmente.3, 4

Na tentativa de aperfeiçoar a qualidade da assistência à saúde, especialmente a hospitalar, foi instituído pelo Ministério da Saúde (MS) o Programa Nacional de Segurança do Paciente (PNSP) (Portaria MS/GM nº 529/2013), no qual foi estabelecido alguns protocolos básicos de segurança, particularmente na prescrição, no uso e na administração de medicamentos.5, 6

As principais causas de lesões e danos evitáveis nos sistemas globais de saúde correspondem a práticas farmacológicas inseguras e erros de medicamentos, gerando gastos anuais exorbitantes. Nesse sentido, a Organização Mundial da Saúde (OMS) propôs a redução de até 50% dos danos graves e evitáveis associados à medicação em todos os países, na tentativa de melhorar cada etapa do processo medicamentoso (prescrição, preparação e administração).7

A técnica de administração de medicamentos não é tão simples quanto aparenta, pois, além de abranger um processo amplo e sistemático, vários profissionais ainda estão envolvidos.1 Por isto, apesar de existir uma variabilidade de motivos para a ocorrência de erros (procedimentos, problemas de comunicação – prescrição, nomes, preparação, dispensação, administração etc.), os mais sérios são aqueles referentes a falhas na prescrição.8

Infortunadamente, várias pesquisas tem apontado a existem de muitos problemas detectados em prescrições médicas, que ao invés de fornecerem orientações claras, objetivas e seguras, acabam constando informações incompletas, omissas, erradas e livres de interpretação, aumentando os riscos e favorecendo o desencadeamento de erros, promovendo assim, uma inadequada assistência ao paciente.8

Tendo em vista as adversidades relacionadas a pacientes hospitalares, alguns medicamentos conhecidos como de Alta Vigilância (MAV) ou Potencialmente Perigosos (MPP), possuem uma maior probabilidade de causar danos ao paciente, se forem utilizados erroneamente. Estudos mostram que eles correspondem a classe medicamentosa mais envolvida com mortes associadas ao uso de fármacos (responsáveis por 58% dos danos causados por medicamentos), especialmente os opioides, benzodiazepínicos, anticoagulantes e insulina.9,10

Se tratando dos MPPs, existem duas questões importantes que precisam ser levadas em consideração: a necessidade de se compreender a magnitude de sua utilização nas instituições; e a importância da identificação dos riscos relacionados ao seu uso, para que estratégias de prevenção de erro sejam elaboradas. Nesse contexto, percebe-se a necessidade de um cauteloso monitoramento de todas as fases de sua utilização, exigindo uma atenção redobrada de todos setores (almoxarifado, farmácia e enfermagem), aplicando específicas intervenções para reduções de erros.1, 2, 11, 12 Diante do exposto, este trabalho gerou a seguinte pergunta: quais são os principais erros de prescrição relacionados aos MPPs?

O farmacêutico está inserido diretamente neste contexto, como profissional dispensador, garantindo a segurança do paciente no que abrange a utilização de medicamentos. Nesse sentido, evidencia-se a necessidade de as prescrições serem analisadas e a farmacoterapia devidamente revisada por esse profissional, antes da dispensação ser efetuada. Essa análise consiste basicamente na prévia identificação do erro, seguido da resolução e prevenção, sendo fundamental para a obtenção de melhores resultados terapêuticos.5, 9,10

O presente estudo justifica-se por se tratar de uma temática de grande relevância para a saúde de um modo geral, em função do número eminente de pacientes acometidos diariamente por eventos adversos relacionados ao uso de medicamentos, além de contextualizar a implantação de medidas voltadas ao uso seguro dos MPP em ambiente hospitalar e a participação do farmacêutico para a prevenção de falhas medicamentosas e melhoria na segurança do paciente.

Portanto, com base nos dados expostos, esta pesquisa objetivou realizar um levantamento bibliográfico sobre MPP e suas prescrições, ressaltando a importância da atenção farmacêutica nesse processo. Desse modo, estratégias para prevenção de eventos adversos poderão ser elaboradas, na tentativa de garantir a segurança do paciente.

2. METODOLOGIA

O presente artigo trata-se de uma revisão de literatura integrativa. Para tal, foi realizado um levantamento bibliográfico por meio de consulta eletrônica, utilizando as bases de dados Scientifc Electronic Libray Online (SCIELO), a Medical Literature Analysis and Retrievel System Online (MEDLINE/PubMed) e Literatura Latino-Americana e do Caribe em Ciências da Saúde (LILACS).

A busca dos materiais foi realizada por meio das palavras-chaves selecionadas segundo a classificação dos Descritores em Ciências da Saúde (DeCS/ MeSH): erros, errors, medicamento potencialmente perigoso e potentially dangerous medicine. O total de artigos encontrados pode ser observado na Tabela 1.

Tabela 1 – Publicações encontradas nas bases de dados.


BASE DE DADOS


Descritores


SCIELO


MEDLINE


LILACS


Total
Erros + Medicamento potencialmente perigoso



49


151


200
Errors + Potentially dangerous medicine

02


02


86


90
Total0251237290

Fonte: Próprio autor.

Os critérios de inclusão empregados no estudo foram: artigos publicados nos últimos quinze anos (2009/ 2023), nos idiomas português e inglês, encontrados com a combinação das palavras-chave, abordando a temática estabelecida. A ponderação para exclusão corresponde a artigos de revisão, reflexão ou incompletos, ausência de resumo nas plataformas de busca on-line, resumos expandidos, artigos repetidos e que não abordassem o tema, cartilhas, monografias e teses.

Para a elaboração desse estudo foi necessário atravessar sete distintas etapas: definição da temática; elaboração da questão de pesquisa, revisão bibliográfica, coleta dos dados, verificação crítica dos estudos incorporados, conferência dos resultados e exposição da revisão. Vale ressaltar que para seleção dos artigos realizou-se, primeiramente, a leitura dos resumos das publicações selecionadas com o objetivo de refinar a amostra por meio de critérios de inclusão e exclusão.

Por meio do cruzamento com os descritores nas bases de dados, e após a implantação dos filtros correspondente aos últimos 10 anos de publicação, nos idiomas português e inglês, a amostra inicial foi de 290 artigos, sendo descartados inicialmente 110 por duplicidade, restando 180 artigos. Após a exclusão de teses, artigos de revisão e aqueles que não englobava a temática inicial, restaram 42 materiais, destes apenas 09 artigos se encaixavam com o objetivo proposto por este estudo. A Figura 1 demonstra, através do fluxograma, o método de seleção utilizado para escolha dos estudos.

Figura 1 – Fluxograma do método de seleção dos trabalhos sobre medicame.

Fonte: Próprio autor.

3. RESULTADOS E DISCUSSÃO

Foram selecionados 09 artigos para a pesquisa, dispostos no Quadro 1.

Quadro 1 – Publicações encontradas nas bases de dados sobre medicamentos potencialmente perigosos.

TituloAutor/ AnoAnoBase de dadosTipo de estudoPrincipais resultado
Medicamentos potencialmente perigosos: A expertise dos enfermeiros que atuam em unidade de urgência e emergênciaPacífico 11
2023LilacsEstudo descritivo quantitativoNo âmbito hospitalar, as dúvidas referentes aos MPP são recorrentes, neste estudo, 56,5% dos profissionais entrevistados referiram ter alguma dificuldade relacionada a esses medicamentos, dificuldades essas relacionadas a prescrição, diluição adequada e via de administração, fato esse que possui implicações direta na qualidade do cuidado, gerando impactos na segurança do paciente. Nesse estudo também foi avaliado o conhecimento dos profissionais, e diante das principais dificuldades descritas por eles sobre os MPP, destacam-se: (1) a utilização do termo ampola ou frascos na prescrição; (2) o desconhecimento sobre a prometazina injetável ser um MPP; (3) não tinham exata certeza da dosagem correta de epinefrina utilizada no choque anafilático; e (4) não sabiam a indicação da vasopressina, assim como suas vias de administração.
Conhecimento sobre uso de medicamentos potencialmente perigosos entre enfermeiros da assistência hospitalar à saúdeSantos 12
2020LilacsEstudo descritivo-exploratórioEstudo realizado em um único hospital, onde o autor buscou avaliar o conhecimento dos enfermeiros sobre os MPP. As maiores taxas de erros encontradas na pesquisa foram em relação a administração de medicamentos pelos profissionais demonstraram (80,8%), principalmente às múltiplas concentrações para um mesmo medicamento, o segundo erro está associado ao armazenamento correto do cloreto de potássio (KCl 19,1%) (46,2%).
Identificação de riscos e práticas na utilização de medicamentos potencialmente perigosos em Hospital universitárioMaia13


2020MedlineEstudo transversalForam analisadas 566 prescrições. Destas, 67,1% continham 724 MPPs, ou seja, eles corresponderam a 18,2% dos medicamentos prescritos, entre eles: analgésicos opioides (tramadol, morfina e metadona – 31,2%); soluções intravenosas (glicose 50% – 24,7%); medicamentos usados no diabete (insulinas NPH e regular – 24,3%); agentes antitrombóticos (heparina e varfarina – 11,1%); e outras classes (benzodiazepínicos – midazolam e diazepam, anti-hipertensivos -clonidina, vasodilatadores – dopamina/ dobutamina/ milrinona/ nitroprussiato de sódio, e repositores eletrolíticos – cloreto de sódio/ cloreto de potássio/ gluconato de cálcio; a maioria injetáveis (95,4%). Verificou-se que a clínica cirúrgica e a UTI cardiológica foram os que obtiveram as maiores prevalências de MPP. As principais práticas que representaram riscos foram: distribuição coletiva de cloreto de potássio e insulina para as unidades de internação; falta de etiquetas de alerta; dupla conferência inexistente, nesse caso, houve um maior número de prescrições analisadas que de farmacêuticos presentes no atendimento (havia funcionários alheios ao ambiente de dispensação); uso de fontes de interrupção/distração (conversas paralelas e o uso de aparelho celular em 43,9% das prescrições atendidas).
Análise das ocorrências de incidentes relacionados aos medicamentos potencialmente perigosos dispensados em hospital de ensinoBasile 14


2019LilacsEstudo descritivo retrospectivoForam analisadas 786 notificações na área de farmacovigilância, entre elas 23,9% eram relacionadas a MPP. Destas, 36,7% foram associadas à ineficácia terapêutica; 32,44% à queixa técnica (ausência de rótulo em frascos ou ampola e também dificuldades parta abri-los);15,95% à reação adversa ao medicamento (RAM); 7,44% notificações de flebite; 5,13% de extravasamento; 1,06% de erro de dispensação; 0,53% erros na administração e de medicação respectivamente. Sobre os profissionais responsáveis pelas notificações 41,49% enfermeiros, 28,73% médicos e 16,49% farmacêuticos. As unidades de internação que mais realizaram notificações foram os centros cirúrgicos (23,40%), farmácia central 24 (12,76%), UTI (11,16%) e setor de tomografia (10,10%). De acordo com a análise do perfil dos pacientes que utilizaram os MPP´s, os dados obtidos mostram que 28,72% eram respectivamente do sexo masculino e feminino, enquanto 32,97% das notificações correspondiam a queixas técnicas, consequentemente não foram utilizados em pacientes, não aplicando-se a definição do sexo. Sobre a idade desses pacientes, a maioria pertencia a faixa etária de 19 a 59 anos (32,44%). As ocorrências mais frequentes de MPP mais estão relacionadas com as drogas que agem sobre o Sistema Nervoso Central (SNC) (35,63%), aparelho cardiovascular (15,42%) e sangue/ órgãos hematopoiéticos (14,89%).
Medicamentos potencialmente perigosos: identificação de Riscos e barreiras de prevenção de erros em Terapia IntensivaReis 15


2018LilacsEstudo transversalEm quatro Unidades de Terapia Intensiva (UTI) distintas, 126 funcionários foram entrevistados sobre os conhecimentos que possuíam a respeito dos MPP, entre eles farmacêuticos e profissionais de enfermagem (auxiliares, técnicos e enfermeiros). Buscou-se avaliar especificamente, se dentre os fármacos de uso habitual na UTI, eles conseguiriam distinguir quais pertenciam a classe de MPP. Ao termino do estudo, três importantes pontos foram identificados pelo pesquisador: (1) o MPP de uso rotineiro identificado por 75% dos entrevistados, foi a insulina subcutânea; (2) foi identificado uma deficiência na distinção dos MPP, principalmente pelos farmacêuticos, mostrando que os níveis cognitivos, associados a esses medicamentos devem ser aprimorados; e (3) 56% dos respondentes afirmaram, que a verificação dos certos da terapia de MPP que é considerado uma barreira de prevenção de danos, não está sendo aplicada na prática clínica, devido à banalização das tarefas corriqueiras que circundam a utilização desses Medicamentos.
Erros de prescrição de medicamentos potencialmente perigososGomes16
2017MedlineEstudo transversalForam analisadas 292 prescrições de 148 pacientes internados na Clínica Médica de um determinado Hospital. Destes, 111 fizeram uso, por pelo menos um dia, de MPP, compondo a amostra a ser analisada. Em relação à idade dos pacientes, a média foi de 47 anos. Observou-se que, aproximadamente, 65% das ocorrências de MPP identificadas envolviam quatro fármacos, sendo eles insulina humana regular (17,3%), solução de glicose a 50% (15,6%), enoxaparina (14,8%) e tramadol (7,7%). Quanto ao tipo de prescrições analisadas nesse trabalho, 100% eram digitadas. Quanto aos erros das prescrições de MPP, verificou-se que 85% se referem a algum tipo de omissão de informação, incluindo: duração do tratamento, quantidade a ser dispensada, posologia, velocidade de infusão e concentração.
Erros de prescrição e administração envolvendo um medicamento potencialmente perigosoSilva 17
2017LilacsEstudo transversalForam analisadas 175 prescrições a maioria (47,4%) referente a clínica cirúrgica. Os pacientes que tiveram suas prescrições analisadas eram 62,3% do sexo masculino; pardos (89,7%); solteiros (52,6%) e com idade acima 60 anos (56%). Foi observado pelo pesquisar, erros de prescrição de pacientes internados predominantemente em clínica médica, que faziam uso da enoxaparina (MPP) em um hospital público. Foram encontrados erros de prescrição e administração medicamentosa. A maioria dos erros de prescrição em clínica cirúrgica estavam relacionados ao peso do paciente (100%) e a duração do tratamento (100%). Sobre a administração medicamentosa, também foram encontrados erros, principalmente na identificação do paciente.
Erros de medicação: estudo descritivo das classes dos medicamentos e medicamentos de alta vigilânciaBohomol18
2014MedlineEstudo descritivoForam analisadas 305 fichas de ocorrências com MPP, com uma média de 6,9 ocorrências por paciente. Foi encontrada a média diária de 14,6 medicamentos prescritos por paciente, e o número de fármacos envolvidos foi 73: antibióticos (25,2%) eventos, redutores de acidez gástrica (19,0%), anti-hipertensivos (9,2%), anestésicos venosos (5,2%), antieméticos (4,6%), repositores/ solução hidroeletrolítica (4,3%) e anticoagulantes (3,3%), esses são medicamentos rotineiramente utilizados em UTIs, imprescindíveis às necessidades terapêuticas dos pacientes.
Erros na prescrição hospitalar de medicamentos potencialmente perigososRosa 19


2009ScieloEstudo transversal retrospectivoDurante um período de 30 dias foram analisadas 4.026 prescrições de 456 pacientes, recebidas em uma farmácia hospitalar, contendo MPP. A maioria dessas prescrições eram escritas a mão, e em 47% foram detectados erros no nome do paciente e em 19% problemas de legibilidade, houve até dificuldades ou impossibilidades para a correta identificação de quem prescreveu as receitas (33,7%). Ainda sobre os erros de prescrição dos MPP’s, o autor encontrou 86,5% falhas referentes a algum tipo de omissão de informação e concentrações errada (59,8%). A prevalência de erros se apresentou significativamente no Centro de Tratamento Intensivo (CTI), na UTI e nos setores de neurologia e cuidados intermediários. Os MPP’s de maior destaque nesse estudo, envolvidos em erros de prescrição foi a heparina, Fentanil e o Midazolam.

Fonte: Próprio autor

Após avaliação crítica dos 09 (100%) artigos selecionados na íntegra, observou-se que a maioria corresponde a pesquisas transversais (N = 05/ 55%), publicadas prevalentemente nos anos de 2017 (22,2%) e 2020 (22,2%) e 2023 (11,1%). Na Tabela 02 estão distribuídos os resultados concernentes ao perfil dos pacientes que foram tratados com MPP, destacando-se o gênero masculino (33,3%), com idade entre 19 a 59 anos (22,2%).

Tabela 02 – Distribuição do perfil dos pacientes encontrados sobre medicamentos potencialmente perigosos.

SexoN%
Masculino0333,3%
Feminino
Não foi mencionado na pesquisa0666,6%
Idade

19 a 59 anos0222,2%
≥ 60 anos0111,1%
Não foi mencionado na pesquisa0666,6%
Total0999,9%

N=frequência; %=porcentagem
Fonte: Próprio autor.

No estudo de Borges20, os dados apresentados em relação ao gênero e a faixa etária, assemelham-se aos que foram encontrados nessa pesquisa. De acordo com Silva17 e Gomes16a maioria dos homens raramente procuram por atendimento primário/ cuidados preventivos em serviços de saúde, diferentemente das mulheres, o que acaba contribuindo para uma maior frequência de internamento hospitalar, assumindo assim, um peso significativo nos perfis de morbimortalidade. Sobre o predomínio dessa faixa etária, Basile 14 afirma que eventualmente, essa semelhança acontece pela maior prevalência da população nesta faixa etária.

A tabela 03 mostra a distribuição das Unidades responsáveis pelas intercorrências relacionadas aos MPP’s, mostrando que a UTI (N = 05/ 55,5%) representou o local com maior número de incidentes hospitalares, associados aos MPP’s, seguido das clínicas médicas (N = 03/ 33,3%), centros cirúrgicos (N = 03/ 33,3%) e Farmácia hospitalar (N = 02/ 22,2%).

Tabela 03 – Distribuição das Unidades responsáveis pelos incidentes relacionados aos MPP’s.

Unidades de Internação
N%Autores
UTI0555,5%Maia13, Basile14, Reis15, Bohomol18, Rosa19
Clínica médica0333,3%Pacífico11, Santos12, Gomes16
Centros cirúrgicos0333,3%Maia13, Basile14, Silva17,
Farmácia hospitalar0222,2%Basile14, Rosa19,
CTI0111,1%Rosa19
Setor de tomografia0111,1%Basile14
Setores de neurologia0111,1%Rosa19
Setores de cuidado intermediário0111,1%Rosa19

N=frequência; %=porcentagem
Fonte: Próprio autor.

Segundo Maia13 e Bohomol18 em decorrência da polifarmácia, os pacientes internados em UTI’s normalmente são mais vulneráveis a danos, em comparação aos internados em outras unidades hospitalares. O uso de MPP nesse setor é frequente, principalmente para a sedação dos pacientes, devido à complexidade e gravidade de sua própria condição clínica, dos procedimentos e exames invasivos e até dolorosos que trazem desconforto e ansiedade. Por esta razão, os autores chamam a atenção para a necessidade de se instituírem práticas seguras nas UTI’s, funcionando como uma barreira de proteção aos pacientes.

Outro setor hospitalar extremamente propenso a ocorrência de erros relacionado a MPP é o centro, um ambiente complexo e dinâmico, no qual são administrados múltiplos medicamentos diariamente em um curto prazo, sendo esses fatores que contribuem para o elevado risco de erros de medicação durante os procedimentos cirúrgicos. 21

As farmácias hospitalares por outro lado, correspondem a um setor de dispensação de medicamentos, de forma segura e no prazo requerido, conforme a prescrição médica, sendo essa sua principal função. Porém, os resultados pontuados nesse estudo mostra a ocorrência de erros com MPP’s nesse setor, sendo essa uma informação potencialmente perigosa, afinal de contas, falhas na dispensação além de atingir diretamente o paciente, também representa o rompimento de um dos últimos elos na segurança do uso de medicamentos, e apesar de uma grande parte desses erros não causar danos muitos sérios, se tratando de MPP essas falhas demonstram fragilidade no processo de trabalho, estando relacionada com a ocorrência de acidentes graves. 22

Na tabela 04 consta a distribuição das classes de MPP encontradas nesta revisão, que segundo os pesquisadores, foram responsáveis por alguns incidentes hospitalares. A três classes terapêutica mais envolvidas com incidentes foram os anticoagulantes (Heparina 03/ 33,3%; Enoxaparina sódica 02/ 22,2%; e Varfarina 01/ 11,1%), os analgésicos opióides (Fentanil 02/ 22,2%; Tramadol 02/ 22,2% e Morfina 01/ 11,1%) e os hipoglicemiantes (insulina subcutânea 05/ 55,5%).

Tabela 04 – Classes de MPP encontrados na pesquisa, envolvidos em intercorrências hospitalares.

Classe de MPP’s mencionados nos artigos
Especificação do fármacoN%Autores
HipoglicemiantesInsulina subcutânea0555,5%Santos12, Maia13, Reis15, Gomes16, Bohomol18,
AnticoagulantesEnoxaparina sódica0222,2%Gomes16, Silva17

Heparina0333,3%Bohomol18, Rosa19

Varfarina0111,1%Maia13
Analgésicos opioideFentanil0222,2%Bohomol18, Rosa19,

Tramadol0222,2%Maia13, Gomes16

Morfina0111,1%Maia13

Metadona0111,1%Maia13
Anti-histamínicosPrometazina injetável0111,1%Pacífico11
Antiasmáticos/ BroncodilatadoresEpinefrina0111,1%Pacífico11
benzodiazepínicosMidazolam0222,2%Rosa19

Diazepam0111,1%Maia13
Repositores hidroeletrolíticosSolução de glicose0222,2%Maia13, Gomes16

Cloreto de sódio0111,1%Maia13

Cloreto de potássio0111,1%Maia13
\Gluconato de sódio0111,1%Maia13
Anti-hipertensivosClonidina0111,1%Maia13
VasodilatadoresDopamina0111,1%Maia13

Dobutamina0111,1%Maia13

Milrinona0111,1%Maia13

Nitroprussiato de sódio0111,1%Maia13

N=frequência; %=porcentagem.
Fonte: Próprio autor.

Reis15 declara que os analgésicos opióides junto com os hipoglicemiantes são as duas classes mais envolvidas em parcelas de incidentes com MPP, levando em conta a complexidade das dosagens e a variedade de apresentações farmacêuticas disponíveis no mercado. Tudo isso contribui diretamente para a potencialização da possibilidade de erros e danos.

Os opióides são comumente utilizados em meio hospitalar, como tratamento para dores agudas e crônicas. Eles atuam no SNC (cérebro e medula espinhal), assemelhando-se às funções intrínsecas do próprio organismo. São comumente prescritos no tratamento da dor pós-operatória e crônica quando não há resposta de analgésicos comuns ou mais fracos, podendo-se utilizar a morfina, o fentanil, o tramadol, a codeína, a metadona, entre outros. A utilização exacerbada desses medicamentos traz diversos riscos à saúde, podendo desencadear alguns efeitos toxicológicos, como por exemplo a dependência física e/ou psicológica. 23

A insulina é um medicamento que necessita de precisão quando as suas dosagens forem administradas, pois qualquer erro relacionado ao seu uso pode causar no paciente danos graves, como por exemplo: hipoglicemia prolongada, que consequente promoverá confusão, desmaio ou convulsão e até morte do paciente; eventos como esses geralmente estão associados ao preparo e à infusão do medicamento. 17

Maia13 mostrou que os opioides correspondem a uma classe de MPP de ampla utilização na sedoanalgesia, fato este que justificar o uso frequente de tais fármacos nas clínicas cirúrgicas do seu respectivo estudo. Por outro lado, de acordo com Silva17 e Rosa19 a literatura mostra que os anticoagulantes também estão entre a classe de medicamentos mais envolvidas em incidentes envolvendo os MPP, resultando em danos aos pacientes.

Particularmente na pesquisa de Rosa19, dentro os anticoagulantes a heparina foi o MPP responsável pela maioria dos incidentes hospitalares, envolvendo principalmente as prescrições, incluindo: pouca legibilidade, omissão da forma farmacêutica e da concentração, e as vezes até concentrações incompletas.

A heparina aumenta a atividade da antitrombina, inativando a trombina (assim como os demais fatores de coagulação) e sua atividade coagulante. Na prática clínica ela possui ampla utilidade, sendo indicada para o tratamento e profilaxia de eventos tromboembólicos venosos/ arteriais, no tratamento da coagulação intravascular disseminada e em períodos de interrupção temporária de terapia anticoagulante oral. Em decorrência dessa ampla utilidade, a heparina também pode contribuir para ao aumento dos riscos de desenvolvimento de trombocitopenia e sequelas tromboembólicas, como por exemplo: choque, infarto do miocárdio, trombose venosa e arterial periférica, hiperpotassemia, hipersensibilidade, cefaléia, tremores e priaprismo. 24

Entre os variados eventos adversos associado ao uso da heparina, o principal são as hemorragias, e as probabilidades de risco tende a aumentar conforme a dose utilizada, o uso concomitante com outros agentes anticoagulantes (exemplo: ácido acetilsalicílico) e/ou presença de fatores predisponentes ao sangramento (problemas hemostáticos, recentes procedimentos invasivos, traumas, histórico de eventos hemorrágicos e patologias ulcerativas gastrointestinais).25, 26

Na tabela 05 estão distribuídos os dados encontrados no decorrer desta revisão, referentes ao número de incidentes hospitalares envolvendo MPP. Esses resultados foram divididos em dois grupos, o primeiro pontua as intercorrências associadas aos profissionais, onde as principais foram: conhecimento insuficiente (03/ 33,3%) e queixas técnicas (03/ 33,3%); já o segundo grupo descreve os incidentes associados aos pacientes, destacando-se os erros de prescrição (03/ 33,3%) e erros na administração medicamentosa (02/ 22,2%).

Tabela 05 – Distribuição dos incidentes encontrados na pesquisa relacionados ao uso de MPP.

Intercorrências encontradas na pesquisa
N%Autores
Associadas aos profissionais(1) Conhecimento insuficiente0333,3%Pacífico11, Santos12, Reis15,

(2) Queixa técnica (falta de etiquetas de alerta, ausência de rótulo em frascos ou ampolas e também dificuldades para os abrir);0333,3%Maia13, Basile14 Pacífico19

(3) Distribuição coletiva de cloreto de potássio e insulina;0111,1%Maia13

(4) Dupla conferência inexistente;0111,1%Maia13

(5) Uso de fontes de interrupção/distração;
0111,1%Maia13
Associadas aos pacientes(1) Erros de prescrição (relacionados ao peso do paciente, a duração do tratamento, problemas de elegibilidade, dificuldade de identificar quem era o prescritor, omissões de informações, erros de concentrações e redação);0333,3%Gomes16, Silva17, Rosa19

(2) Erro de administração medicamentosa (na identificação do paciente, na técnica de preparo, ausência acerca da via de administração e dosagens incorretas);0222,2%Basile14, Silva17

(3) Reação adversa ao medicamento (RAM);0111,1%Basile14

(4) Flebite;0111,1%Basile14

(5) Extravasamento;0111,1%Basile14

(6) Erro de dispensação;0111,1%Basile14

(7) Erro de medicação;0111,1%Basile14

(8) Ineficácia terapêutica;0111,1%Basile14

N=frequência; %=porcentagem.
Fonte: Próprio autor.

É ratificado por Reis15 que os erros de medicação e os eventos adversos relacionados a eles estão entre as falhas mais recorrentes nos cuidados em saúde, que podem ser evitadas, especialmente se forem utilizadas medidas de barreira nas três principais fases do processo de medicação (prescrição, dispensação e administração.

Segundo Pacífico11 e Santos12 e a falta de conhecimento dos profissionais sobre os medicamentos utilizados rotineiramente é uma das variabilidades de causas que podem induzir a ocorrência desses erros. Onde muitos profissionais tristemente acabam apresentando algum tipo de dificuldade relacionada tanto a prescrição, quanto a diluição adequada ou a via de administração, fato esse que possui implicações direta na qualidade do cuidado, gerando impactos na segurança do paciente.

Essa carência de conhecimento dos profissionais de saúde, particularmente quanto ao uso de MPP’s, nos leva a refletir a respeito das falhas dos sistemas e das próprias instituições, que deveriam proporcionar uma educação satisfatória, capacitando adequamente os seus profissionais para uma assistência de qualidade. Portanto, os resultados encontrados neste estudo apontaram importantes lacunas no reconhecimento dos MPP e na adoção incipiente de barreiras para prevenção de incidentes, caracterizando assim, algumas fragilidades nas instituições hospitalares, afinal de contas, esses profissionais de saúde estão inseridos em um ambiente de alta complexidade, como a UTI, e com pacientes extremamente vulneráveis. 19

Erros de prescrição envolvendo MPP foram encontrados nas pesquisas de Gomes16, Silva17 e Rosa19. Conforme é pontuado no estudo de Gomes16, a utilização de prescrição eletrônica é uma importante ferramenta que pode contribuir para a redução de erros de dispensação medicamentosa. No entanto, é necessárias bastante atenção por parte do prescritor para que os campos necessários, inclusive de comentários livres contendo esclarecimentos, sejam devidamente preenchidos.

Os resultados de Silva17 corroboram com os que foram descritos anteriormente, ele afirma em seu estudo, que apesar das prescrições serem padronizadas, sendo realizadas utilizando um computador com uma planilha do software Excel, penas com os campos a serem preenchidos, ainda assim algumas falhas foram encontradas, pois segundo o autor, neste modelo de prescrição alguns dados de informação do paciente não foram incluídos, ou seja, a parametrização da prescrição foi inadequada ou insuficiente.

As prescrições precisam ser legíveis e devidamente identificadas, este é um item decisivo para garantir a segurança do paciente, caso contrário suas vidas estarão em risco, visto que uma possível troca durante a dispensação e/ou administração de medicamentos poderá ser fatal. Outro ponto preocupante é a ausência de Informações acerca da via de administração na prescrição, visto que muitos fármacos medicamentos podem ser administrados em vias diferentes (subcutânea e endovenosa), esse tipo de falha também compromete a terapia do paciente.13

Sobre os erros durante a administração do medicamento, Bastos1 declara que os efeitos relacionados com falhas nas dosagens, podem aumentar as reações adversas devido à velocidade de absorção ou liberação rápida, e dependendo do medicamento poderá ainda ocasionar no paciente eventos adversos gravíssimos.

Na clínica médica ou cirúrgica, quanto a via pelo qual o medicamento é administrado é diferente da prescrita, isso pode representar uma variação na biodisponibilidade do fármaco, modificando a sua resposta terapêutica e consequentemente lesando o paciente. Portanto, para que problemas como esses sejam superados é necessário criar um ambiente de vigilância e cooperação, requerendo dos profissionais envolvidos pleno conhecimento assistencial à saúde, para que pontos frágeis como esses sejam reduzidos, não comprometendo assim, a segurança do paciente. 27

É excepcionalmente importante que nas unidades de saúde, a área de dispensação medicamentosa, principalmente no atendimento das prescrições que contenham MPP, seja adequadamente projetada para prevenir erros relacionados às condições ambientais, como por exemplo: distrações por dispositivos móveis (celulares); interrupções; desordens e até conversas paralelas. 29

Outra questão muito importante nos processos de uso de MPP é a dupla checagem das prescrições, sendo essa uma sugestão amplamente recomendada, por permitir a identificação de erros antes que o paciente seja atingido. Entretanto, para a aplicação dessa prática em ambiente hospitalar existe uma grande barreira, o grande volume de medicamentos dispensados diariamente, que desventuradamente acaba tornando essa prática árdua e de difícil de ser executada, limitando-a a grupos de pacientes com alto risco.28

Na tabela 06 é mencionado a distribuição da categoria de profissionais de saúde responsáveis pelos incidentes hospitalares correlacionados aos MPP’s, onde pode-se observar que a maior parte das intercorrências descritas por Pacífico11, Santos12, Basile14, Reis15 e Silva17, foi ocasionada pelos profissionais de enfermagem, entre eles técnicos (01/ 11,1%), auxiliares (01/ 11,1%) e os próprios enfermeiros (05/ 55,5%), seguido dos farmacêuticos (02/ 22,2%) e os médicos (01/ 11,1%).

Tabela 06 – Distribuição das categorias profissionais responsáveis pelos incidentes relacionadas aos MPP’s.

Profissionais responsáveis pelas intercorrências relacionadas aos MPP’s
N%Autores
Profissionais de enfermagem (técnicos, auxiliares e enfermeiros)0555,5%Basile14, Reis15, Silva17, Pacífico11, Santos12,
Farmacêuticos0222,2%Basile14, Reis15
Médicos0111,1%Basile14

N=frequência; %=porcentagem
Fonte: Próprio autor.

Segundo Basile14 aos enfermeiros correspondem a categoria profissional predominantemente responsável por notificações de incidentes com MPP, por estarem em maior número nas instituições hospitalares, permanecendo durante mais tempo em contato com os pacientes; estando eles ainda envolvidos na maior parte dos processos que envolvem a administração medicamentosa.

Para Santos12 esses achados somente reforçam a necessidade de aprimorar os conhecimentos dos profissionais que estão envolvidos com MPP, seja na prescrição (médicos), dispensação (farmacêuticos) ou administração (enfermeiros). Logo, torna-se necessário que as instituições de saúde, reforcem a necessidade da adoção de estratégias de educação permanente junto aos profissionais, contribuindo com a segurança do paciente.

Para Maia13 dentre as principais práticas que comprometem a segurança do paciente (distribuição coletiva de repositores hidroeletrolíticos e insulina; dupla conferência inexistente; falta de etiquetas de alerta; conversas paralelas; uso de celulares etc.), a ausência do farmacêutico no atendimento da maior parte das prescrições foi sem sombra de dúvidas um dado consideravelmente relevante em sua pesquisa, demonstrando a necessidade de melhoramento dos processos de trabalho em algumas instituições hospitalares brasileiras, especialmente nas farmácia hospitalares.

Corroborando com esse achado, Mayimele30 afirma quea presença e atuação do farmacêutico nas inúmeras fases do processo de dispensação e monitoramento da farmacoterapia hospitalar, é deveras crucial para a prevenção de riscos.

Maia13 observou que em decorrência da ausência do farmacêutico no atendimento da maioria das prescrições no momento da pesquisa, a revisão destas se restringia a cálculos feitos somente pelo técnico para dispensação dos medicamentos, ou seja, não havia a avaliação das prescrições quanto a presença de interações medicamentosas, duplicidade terapêutica, dosagens superiores às máximas ou inadequados intervalos entre as doses. Essa atribuição fica a cargo do farmacêutico clínico, porém, a quantidade desses profissionais não é suficiente para cobrir todos os setores hospitalar. Essas fragilidades descritas pelo pesquisador, somente reforçam o fato de que à insuficiência de conhecimento de tais medidas pelos profissionais farmacêuticos, acabam influenciando o gerenciamento de riscos dos MPP, podendo ocasionar erros de medicação.

A minimização de erros de medicação está associada à adoção de estratégias educativas. As recomendações com maior evidência científica para essa prevenção em hospitais dizem respeito: a inclusão de farmacêuticos durante as visitas clínicas, viabilizando o contato com este profissional 24 horas para o solucionamento de dúvidas sobre os medicamentos; a presença de procedimentos especiais e protocolos escritos para o uso de MPP e até a adoção da prescrição eletrônica, desde que tenha um suporte clínico devido. 11, 31

4. CONSIDERAÇÕES FINAIS

O presente estudo permitiu obter um perfil das prescrições médicas envolvendo MPP. Assim, os principais incidentes encontrados foram no setor da UTI, sendo os hipoglicemiantes os medicamentos mais envolvidos. Os incidentes estavam relacionados tanto aos profissionais quanto aos pacientes, sendo os profissionais de enfermagem os que mais se destacaram.

Em virtude dos dados obtidos, foi possível concluir que os MPP’s correspondem a uma classe amplamente prescrita nas clínicas médicas, centro cirúrgicos e UTI’s, portanto, é extremamente importante o direcionamento de ações preventivas para a ocorrência de erros, evitando assim a ocorrência de eventos adversos, que irão expor os pacientes a riscos. Em conclusão, esta pesquisa revelou a necessidade de a educação continuada ser incentivada pela equipe multidisciplinar, proporcionando assim, expandir os seus conhecimentos a respeito dos potenciais eventos adversos advindos da utilização dos MPP.

REFERÊNCIAS

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