INCIDÊNCIA DOS ERROS PRÉ – TRANSFUSIONAIS

REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/th10249131157


Lauane Xavier De Araujo1
Brenda Kelly Souza Tomaz1
Tanilce Sousa De Oliveira1
kelly Lima Gomes1


RESUMO

Introdução: O processo transfusional apresenta falhas que poderiam ser evitadas, sendo de grande importância versar sobre essa temática. Objetivo: Esclarecer quais fatores e procedimentos que favorecem a ocorrência de incidentes envolvendo a transfusão sanguínea. Método: Trata-se de uma revisão da literatura, compreendendo publicações entre os anos de 2010 à 2021. Resultados principais: Os resultados apontam que principais fatores que favorecem a ocorrência de incidentes transfusionais são falhas na comunicação entre profissionais e pacientes, falhas na identificação de amostra, monitoramento de sinais vitais, despreparo e falta de educação continuada dos profissionais, excesso de subnotificações, lacunas no uso do checklist e protocolos. Considerações Finais: Há necessidade de maior investimento no treinamento dos profissionais e na vigilância do uso de protocolos, a fim de reduzir erros e aumentar a segurança dos pacientes.

Palavras-chave: hemovigilância, transfusão sanguínea, sinais vitais.

ABSTRACT

Introduction: The transfusion process presents failures that could be avoided, making it of great importance to address this topic. Objective: To clarify which factors and procedures favor the occurrence of incidents involving blood transfusion. Method: This is a literature review, comprising publications from the years 2010 to 2021. Main Results: The results indicate that the main factors favoring the occurrence of transfusion incidents are failures in communication between professionals and patients, sample identification failures, vital signs monitoring, lack of preparedness and continuous education among professionals, excessive underreporting, gaps in checklist use, and protocols. Final Considerations: There is a need for greater investment in professional training and surveillance of protocol use to reduce errors and increase patient safety.

Keywords: hemovigilance, blood transfusion, vital signs.

INTRODUÇÃO

 A história da transfusão de sangue se desenrola como um fascinante relato de descobertas científicas, desafios e a incessante busca pela segurança do paciente. Desde as primeiras tentativas rudimentares do século XVII, envolvendo transfusões entre indivíduos com compatibilidade sanguínea desconhecida, a prática evoluiu consideravelmente, impulsionada por avanços científicos e tecnológicos que desvendaram os mistérios do sangue e suas complexas funções. As primeiras experiências documentadas ocorreram em 1665, quando o médico britânico Richard Lower realizou transfusões em animais, seguidas por tentativas humanas em 1667 pelo médico francês Jean Baptiste Denis. No início, a falta de compreensão da fisiologia sanguínea e das reações imunológicas limitava o sucesso das transfusões, levando a diversas complicações e mortes (FASTAG E et al., 2013).

 A partir do século XVIII, a descoberta da circulação sanguínea por William Harvey em 1628 forneceu a base teórica necessária para a compreensão do sistema cardiovascular, embora as práticas transfusionais ainda enfrentassem grandes desafios. No século XIX, James Blundell, em 1818, realizou a primeira transfusão de sangue humano em mulheres com hemorragia pós-parto, estabelecendo um marco na medicina transfusional. Outro avanço significativo ocorreu em 1900, quando Karl Landsteiner descobriu o sistema de grupos sanguíneos ABO, permitindo a seleção de doadores compatíveis e minimizando as reações imunológicas. A descoberta do fator Rh em 1940 por Karl Landsteiner e Alexander S. Wiener representou outro progresso essencial, ajudando a prevenir reações adversas graves (FASTAG E et al., 2013.

 O desenvolvimento de métodos para aumentar a vida útil do sangue e possibilitar seu armazenamento, como a descoberta de soluções anticoagulantes e conservantes, e a criação dos primeiros bancos de sangue durante a Guerra Civil Espanhola e a Segunda Guerra Mundial, foram fundamentais para a consolidação das práticas transfusionais seguras. Essas inovações não só aumentaram a disponibilidade de sangue para transfusões, mas também melhoraram significativamente a segurança e eficácia dos procedimentos, salvando inúmeras vidas (INSTITUTO HOC, 2023).

 Nesse sentindo, compreender a composição do sangue é essencial para apreciar a importância dessas descobertas. O sangue é um tecido líquido vital, composto por células e uma matriz extracelular chamada plasma. As células sanguíneas incluem glóbulos vermelhos (hemácias), que transportam oxigênio; glóbulos brancos (leucócitos), que combatem infecções; e plaquetas, que são essenciais para a coagulação. O plasma, que constitui cerca de 55% do volume sanguíneo, é composto principalmente por água, proteínas, nutrientes, hormônios e resíduos metabólicos. A compreensão da composição do sangue foi fundamental para o avanço das técnicas transfusionais e para o desenvolvimento de tratamentos mais seguros e eficazes (BASU; KULKARNI, 2014).

 Nesse contexto a prática da medicina transfusional tem evoluído consideravelmente ao longo do tempo, não apenas no contexto nacional, mas também em diversas partes do mundo. Reconhecida como um procedimento fundamental na área da saúde, a transfusão, que envolve a transferência de sangue e seus componentes entre indivíduos, continua a desempenhar um papel vital na medicina contemporânea (UNIFESP, 2021). Este procedimento é essencial em situações de perda sanguínea aguda, como traumas graves, cirurgias extensas ou condições médicas que comprometem a produção ou a função das células sanguíneas. Ao compreender a complexidade do sangue e seus componentes, é possível perceber que essa técnica não só salva vidas em condições clínicas específicas, mas também demanda precisão em sua aplicação para reduzir potenciais riscos tanto para o receptor quanto para o doador (BRASIL, 2015). Além de sua função primordial de transportar e distribuir oxigênio e nutrientes para as células do organismo, o sangue também desempenha um papel crucial na remoção e eliminação de resíduos celulares, como o dióxido de carbono, contribuindo assim para o equilíbrio fisiológico do corpo humano (CRUZ, 2021).

No século XX, a segurança do paciente se tornou a prioridade absoluta. Protocolos rigorosos para seleção de doadores, testes para patógenos e técnicas como a aférese, que separa os componentes sanguíneos, otimizaram a transfusão e minimizaram os riscos. A hemovigilância, um sistema de monitoramento e investigação de eventos adversos, surgiu como ferramenta crucial para identificar, analisar e prevenir incidentes (CRUZ, 2021). Nesse sentido, a segurança e a qualidade das transfusões tornam-se imperativas. A implementação de sistemas de hemovigilância em diversos países reflete esse compromisso com a segurança do paciente. A hemovigilância, ao monitorar cada etapa do processo transfusional, visa não apenas evitar incidentes, mas também garantir a excelência nos cuidados e proteger os interesses tanto do doador quanto do receptor (BRASIL, 2007). Além disso, a transfusão de sangue se consolidou como um procedimento médico vital, porém não isento de riscos. A compreensão cada vez mais profunda da fisiologia sanguínea, das reações imunológicas e dos mecanismos de patógenos contribuiu para o aprimoramento contínuo da segurança transfusional, garantindo que essa ferramenta continue a salvar vidas e aliviar o sofrimento de pacientes em todo o mundo.

No cenário brasileiro, a gestão desse sistema é uma responsabilidade compartilhada entre diferentes instâncias. A coordenação nacional está a cargo da Anvisa, enquanto os gestores estaduais e municipais assumem papéis cruciais na implementação e supervisão das ações dentro de seus respectivos territórios. Essa colaboração entre os níveis federal, estadual e municipal é fundamental para o sucesso e eficácia do sistema de hemovigilância (BRASIL, 2013). No entanto, é essencial reconhecer que a subnotificação dos incidentes transfusionais ainda é uma realidade no país (ANVISA, 2021).

 No cenário das transfusões de sangue, garantir a segurança dos pacientes exige uma abordagem colaborativa entre diversos profissionais de saúde, cada um desempenhando um papel essencial. O biomédico, por exemplo, realiza e interpreta testes laboratoriais críticos que ajudam a identificar rapidamente incompatibilidades e problemas com o sangue. Essa capacidade de fornecer dados precisos é fundamental para que a equipe médica tome decisões informadas e adequadas. No entanto, a eficácia dessa colaboração depende diretamente da qualidade e da precisão das informações coletadas e compartilhadas (NEXTO, 2021). 

A falta de dados precisos pode dificultar a identificação e a prevenção de riscos potenciais, tornando a promoção da notificação detalhada de incidentes uma prioridade. Incentivar a notificação precisa não apenas ajuda na detecção rápida de problemas, mas também é crucial para o desenvolvimento de estratégias eficazes que visem melhorar a segurança do processo transfusional e reduzir ocorrências adversas (GRANDI et al., 2023). 

Portanto, a busca por uma transfusão segura vai além da vigilância e da notificação de eventos adversos; envolve também a compreensão dos fatores que contribuem para esses incidentes. Como salientado por ANVISA (2021), SILVA (2021) e CHAVES NF (2017), é a integração de dados precisos e a colaboração entre todos os profissionais envolvidos que possibilitam o aprimoramento contínuo dos protocolos e a minimização de riscos. Cada membro da equipe, desde o biomédico até o gerente de qualidade e outros profissionais, desempenha um papel crucial na coleta e análise de informações, garantindo que as transfusões sejam realizadas com a máxima segurança e eficiência. Assim, a colaboração interdisciplinar e a promoção da notificação detalhada são elementos fundamentais para melhorar a segurança do processo transfusional e proteger a saúde dos pacientes.

Para isso, uma revisão abrangente da literatura entre 2010 e 2021 pode fornecer dados para aprimorar práticas e protocolos, com o objetivo de esclarecer quais fatores são mais prevalentes para a ocorrência dos acidentes transfusionais.

MATERIAL E MÉTODOS

Este estudo apresenta uma revisão de literatura integrativa, cujo objetivo é elucidar os fatores e procedimentos que contribuem para a ocorrência de incidentes relacionados à transfusão sanguínea, resultando em riscos para os pacientes. Utilizando uma abordagem explicativa, esta pesquisa se fundamenta em uma combinação de métodos exploratórios e descritivos. Serão realizadas análises, comparações e interpretações de conhecimento científico publicado no período entre 2010 e 2021. 

Para esta pesquisa, foram explorados diversos artigos científicos disponíveis em bases de dados online renomadas, incluindo a Scientific Electronic Library Online (SciELO), PubMed e Biblioteca Virtual de Saúde (BVS), bem como periódicos da Capes, abrangendo materiais nos idiomas inglês, espanhol e português. Durante a busca, utilizaram-se palavras-chave como “transfusão sanguínea”, “erros e riscos transfusionais”, “sistema ABO” e “fator Rh” em diferentes combinações, empregando operadores booleanos para refinar os resultados. Além disso, foram considerados critérios de inclusão relacionados ao tipo de publicação, incluindo livros, estudos de caso, ensaios clínicos e dissertações, visando abranger uma variedade de fontes e perspectivas sobre o tema.

Os critérios de exclusão abrangeram publicações anteriores a 2010 e aquelas não alinhadas aos objetivos específicos deste estudo. Uma análise detalhada foi conduzida sobre o conhecimento científico disponível entre 2010 e 2021. Foram excluídos artigos duplicados, revisões de literatura, comentários, trabalhos incompletos e aqueles que não atendiam à questão central da pesquisa após análise do título e resumo. O desenvolvimento da revisão sistemática da literatura seguiu várias etapas: formulação da questão norteadora, busca na literatura, extração de dados dos estudos selecionados, avaliação dos estudos, interpretação e síntese dos resultados, seguida pela apresentação da revisão. A Análise de Conteúdo foi empregada, iniciando-se com a pré-análise, seguida pela exploração do material ou codificação para transformar os dados em informações agrupadas. Após uma leitura minuciosa dos artigos que atenderam aos critérios de inclusão, os resultados foram interpretados e sintetizados, com os principais tópicos dos artigos apresentados em uma tabela do Word para facilitar a discussão. A amostra consistiu em 10 publicações.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Após a pesquisa nas bases de dados utilizando os descritores mencionados na metodologia, foram identificados inicialmente 42 artigos. Dentre esses, 22 foram excluídos por não atenderem aos critérios de inclusão estabelecidos. Restaram, portanto, 20 artigos que foram selecionados para leitura completa. Destes, 7 foram posteriormente excluídos por não estarem alinhados com os objetivos específicos deste estudo. Ao final, 13 artigos foram incluídos para análise, visando subsidiar a revisão de literatura. A Tabela 1 apresenta o título dos artigos, os autores, anos de publicação e os objetivos de cada pesquisa evidenciando os fatores que contribuem para a ocorrência de incidentes transfusionais.

Entre os trabalhos analisados, a faixa de anos de publicação abrangeu de 2010 a 2021, com uma concentração maior de estudos nos anos de 2018 e 2019, totalizando 5 pesquisas. Importante ressaltar que todas as pesquisas foram conduzidas em território brasileiro. Quanto à natureza dos estudos, todos foram de cunho descritivo. No que diz respeito à metodologia de coleta de dados, a utilização de questionários foi a técnica mais prevalente, representando 40% do total (n=4). 

Os resultados da análise dos autores elencados na Tabela 1 revelam que os principais fatores que favorecem a ocorrência de incidentes transfusionais estão relacionados a deficiências na comunicação entre profissionais de saúde e pacientes. Essas falhas incluem a falta de orientação adequada dos pacientes sobre sinais e sintomas de reações transfusionais, comprometendo o cuidado individualizado e aumentando os riscos associados (CARNEIRO, 2014; GHEDIN, 2017).

Além disso, destaca-se a importância do treinamento e preparo dos profissionais para uma comunicação eficaz com os pacientes, bem como para o reconhecimento correto das indicações e procedimentos transfusionais, visando mitigar erros humanos e técnicos (GONÇALVES, 2018; GHEDIN, 2017). Os estudos também evidenciam a falta de treinamento contínuo em Hemovigilância como um fator crítico nas falhas de identificação e manejo de reações transfusionais (GHEDIN, 2021; MAGALHÃES, 2021). A deficiência na educação e treinamento dos profissionais emerge como um aspecto essencial para garantir a transmissão eficaz de procedimentos e práticas seguras (MAGALHÃES, 2021).

Também, são apontadas falhas no monitoramento pós-transfusional dos sinais vitais, especialmente durante o turno da noite, quando a equipe de trabalho pode estar reduzida (GHEDIN, 2017). Outras falhas identificadas estão relacionadas à identificação de amostras, requisições de transfusão e identificação de pacientes, elementos fundamentais para a segurança e qualidade nos serviços de saúde (KROPF, 2019; ABREU, 2021; RAMBO, 2021; CHALUP, 2020). A identificação incorreta do paciente pode resultar na coleta de amostras do paciente errado ou na administração do hemocomponente inadequado (RAMBO, 2021). A subnotificação significativa de incidentes transfusionais também é destacada como um fator crítico, sublinhando a necessidade de vigilância ativa e implementação de protocolos para mitigar complicações (MAGALHÃES, 2021). 

Os procedimentos para garantir a segurança do paciente durante o processo de transfusão estão detalhados de forma abrangente na tabela 2.

Nesse contexto a hemovigilância e a segurança do paciente durante o processo transfusional são temas de extrema importância no cuidado de saúde, visando garantir a qualidade e a integridade do tratamento. A análise dos dados revela uma série de medidas essenciais que devem ser adotadas para assegurar a segurança do paciente desde a triagem até o acompanhamento pós-

transfusional. A identificação precisa do paciente, incluindo nome, nome da mãe e data de nascimento, é o primeiro passo fundamental para evitar erros de administração. Esta etapa é especialmente crítica, pois erros na identificação podem levar a transfusões inadequadas, resultando em consequências graves para o paciente (TM COSTA et al., 2021). 

Além do mais, observou-se que o enfermeiro desempenha um papel crucial na triagem, não apenas na coleta de informações relevantes, mas também no acolhimento e na educação dos usuários sobre a doação de sangue. Isso ressalta a importância do trabalho em equipe e da colaboração entre os profissionais de saúde para garantir uma abordagem holística e eficaz no cuidado ao paciente. A necessidade de contínuo aprimoramento do conhecimento por parte dos profissionais de enfermagem e o apoio institucional para promover esse desenvolvimento são aspectos críticos. O reconhecimento das fragilidades e potencialidades da equipe é fundamental para garantir a implementação eficaz de protocolos de segurança e boas práticas clínicas. A notificação e o registro de eventos adversos são passos essenciais para o monitoramento e a análise contínua da segurança do processo transfusional. Isso permite a identificação de áreas de melhoria e a implementação de medidas corretivas para prevenir incidentes futuros (DIAS, 2009). 

Sendo assim, ainda persistem lacunas na instituição e padronização de protocolos e checklists para prática transfusional, o que pode contribuir para a ocorrência de incidentes (CHALUP, 2019; VIEIRA, 2019). Essas lacunas indicam a importância contínua de desenvolver e implementar diretrizes robustas para garantir a segurança e eficácia dos procedimentos transfusionais.

A Tabela 3 apresenta os resultados de estudos que investigaram os fatores associados aos acidentes transfusionais, destacando duas áreas principais de preocupação: o papel do enfermeiro na hemoterapia e o conhecimento da equipe de enfermagem sobre reações transfusionais.

Os resultados destacam que o enfermeiro desempenha um papel crucial na segurança das transfusões. Em um estudo, foi observado que o enfermeiro atua não apenas na triagem dos doadores, mas também durante todo o processo transfusional, desempenhando um papel educativo e de suporte essencial

(Schoninger, Duro, 2010). Este envolvimento direto é fundamental para garantir que os doadores estejam bem-informados e preparados, reduzindo assim o risco de erros de identificação de amostras e outras complicações relacionadas ao processo inicial da doação. 

Por outro lado, outro estudo identificou lacunas significativas no conhecimento da equipe de enfermagem sobre reações transfusionais imediatas (Carneiro et al., 2017). Apesar da confiança demonstrada pelos profissionais em suas habilidades, foi evidenciada a necessidade de aprimoramento contínuo. A falta de preparo adequado pode afetar adversamente a capacidade da equipe em reconhecer e responder prontamente a situações de emergência durante transfusões, potencialmente aumentando os riscos para os pacientes. Ao comparar os resultados desses estudos, observamos uma convergência na importância do papel educativo e de suporte do enfermeiro na hemoterapia. Ambos os estudos enfatizam a necessidade de capacitação contínua para garantir práticas seguras e eficazes. No entanto, eles também destacam diferentes áreas de melhoria: enquanto um estudo foca na fase inicial de triagem e preparo do doador, o outro enfatiza a necessidade de maior conhecimento técnico para lidar com reações adversas. Esses achados ressaltam a complexidade da hemoterapia e a importância de abordagens abrangentes que fortaleçam tanto o conhecimento teórico quanto as habilidades práticas da equipe de enfermagem. Instituições de saúde devem investir em programas educacionais robustos e em sistemas de suporte que promovam uma cultura de segurança transfusional, assegurando que todos os profissionais envolvidos estejam adequadamente preparados para fornecer cuidados de alta qualidade aos pacientes.

O estudo de Magalhães et al. (2018) revela que os near misses são os incidentes mais comuns relatados, seguidos por reações febris não hemolíticas. Near misses são eventos em que ocorre uma falha ou erro durante o processo transfusional que não chega a afetar diretamente o paciente. Isso destaca a importância de identificar e relatar esses eventos para implementar medidas preventivas antes que ocorram incidentes mais graves. 

Por outro lado, Gonçalves et al. (2018) investigaram a subnotificação de reações transfusionais imediatas, identificando várias razões, como falta de informação do paciente, falhas na monitorização pós-transfusional e dificuldades da equipe em reconhecer reações adversas. Essas descobertas ressaltam a necessidade de melhorar os sistemas de vigilância e notificação para garantir que todos os incidentes sejam adequadamente documentados e analisados. 

Ghedin (2019) destaca a importância da gestão da qualidade na medicina transfusional, evidenciando que um gerenciamento abrangente dos erros pode revelar falhas humanas e de sistema associadas ao processo transfusional. Isso sublinha a necessidade de implementar práticas de controle de qualidade rigorosas e contínuas para reduzir o risco de erros. Kropf (2019), por outro lado, foca no impacto positivo da implantação de uma equipe transfusional nas atividades de hemovigilância e na segurança transfusional, enfatizando a importância da notificação de Eventos Adversos para melhorar a qualidade dos cuidados. Vieira (2019) discute o papel crítico da identificação correta do paciente através de pulseiras durante a transfusão. A falta de identificação adequada pode resultar em administração incorreta de sangue destinado a outro paciente, além de dificultar o monitoramento e o reconhecimento de reações adversas específicas. 

Abreu F (2021) também aborda a importância da integridade e clareza das pulseiras de identificação, destacando as inconformidades frequentemente encontradas que podem comprometer a segurança do paciente durante transfusões. Por fim, Rambo (2021) foca na construção e validação de checklists para a segurança do paciente no ato transfusional, enfatizando a necessidade de protocolos claros e eficazes para minimizar erros durante o procedimento. Em conjunto, esses estudos sublinham a complexidade da medicina transfusional e a importância de abordagens integradas que fortaleçam tanto os aspectos educacionais e de treinamento quanto os sistemas de vigilância e gestão de qualidade. Instituições de saúde devem adotar medidas proativas para identificar e mitigar riscos potenciais, garantindo práticas transfusionais seguras e eficazes em benefício dos pacientes.

CONSIDERAÇÕES FINAIS 

A análise dos diversos estudos destacou uma série de fatores que favorecem a ocorrência de incidentes na transfusão sanguínea. Desde deficiências na comunicação entre profissionais de saúde e pacientes até falhas no treinamento contínuo em Hemovigilância, esses resultados ressaltam a importância crucial de implementar e reforçar protocolos e diretrizes rigorosas em ambientes de saúde. Além disso, a identificação e correção de lacunas na instituição de procedimentos padronizados e checklists podem desempenhar um papel significativo na prevenção de incidentes transfusionais. Portanto, esta pesquisa destaca a necessidade contínua de atenção e aprimoramento na área da transfusão sanguínea, visando garantir a segurança e a qualidade dos cuidados prestados aos pacientes. 

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1 Faculdade da Amazônia – UNAMA Porto Velho