INCIDÊNCIA DO CÂNCER DE COLO DE ÚTERO EM MULHERES INDÍGENAS DO BRASIL: UMA REVISÃO INTEGRATIVA

REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.8104172


Ana Carolina Gonçalves Pires1
Marcos Vinicius Soares Silva2
Eider Saraiva Sales3
Jose Yagoh Saraiva Rolim4
Jandir Saraiva Rolim5
Glauber Saraiva Sales6
Marcus Vinicius da Silva Pereira7


RESUMO:

O câncer de colo de útero (CCU) é um importante problema de saúde pública no Brasil, especialmente entre as populações indígenas. Assim, este artigo apresenta uma revisão integrativa da literatura com o objetivo de analisar a incidência de CCU em populações indígenas do Brasil nos últimos 5 anos. Foram consultadas as bases de dados Scielo, Google Scholar e LILACS, resultando em 6 artigos selecionados após aplicação dos critérios de inclusão e exclusão. Esses estudos demonstraram que a incidência de CCU em populações indígenas é significativamente maior do que em outras populações. As principais causas apontadas são: falta de acesso a serviços de saúde adequados, baixa adesão às campanhas de prevenção e rastreamento da doença. Além disso, a desigualdade social, a baixa escolaridade e as condições de vida precárias contribuem para essa situação. Dentre os estudos selecionados, observou-se que o teste de Papanicolau é uma ferramenta importante na prevenção do CCU em populações indígenas, mas que ainda há muitos desafios para a implementação efetiva dessa estratégia. A abordagem intercultural foi apontada como uma forma de melhorar o acesso e a adesão aos serviços de saúde por parte dessas populações, além de fortalecer suas práticas e saberes tradicionais.

PALAVRAS-CHAVES: Câncer de colo de útero, Populações indígenas, Prevenção, Acesso à saúde, Interculturalidade.

ABSTRACT:

Cervical cancer is a significant public health problem in Brazil, especially among indigenous populations. In this context, this article presents an integrative literature review aiming to analyze the incidence of cervical cancer in indigenous populations in Brazil in the last 5 years. The Scielo, Google Scholar, and LILACS databases were consulted, resulting in 6 selected articles after applying inclusion and exclusion criteria. The selected studies showed that the incidence of cervical cancer in indigenous populations is significantly higher than in other populations. The main causes identified for this higher incidence are the lack of access to adequate healthcare services and low adherence to prevention and screening campaigns. Additionally, social inequality, low education, and poor living conditions are also contributing factors to this situation. Among the selected studies, it was observed that the use of the Pap smear test is an important tool in preventing cervical cancer in indigenous populations, but there are still many challenges to the effective implementation of this strategy. The intercultural approach was also identified as a way to improve access and adherence to healthcare services by indigenous populations, as well as strengthening their traditional practices and knowledge.

KEYWORDS: Cervical cancer, Indigenous populations, Prevention, Access to healthcare, Interculturality.

1. INTRODUÇÃO

O câncer de colo de útero é um dos tipos de câncer mais comuns entre as mulheres no mundo, sendo responsável por milhares de mortes todos os anos. Ainda que haja avanços na prevenção e tratamento da doença, a incidência em algumas populações ainda é elevada, como é o caso das populações indígenas do Brasil (DA SILVA SOUZA, 2020).

A incidência de câncer de colo de útero em populações indígenas é um tema que tem ganhado destaque nos últimos anos. De acordo com um estudo publicado pelo The National Cervical Screening Program (NCSP), as populações indígenas apresentam uma maior incidência e mortalidade por câncer de colo de útero em comparação com a população em geral (BUTLER, 2020).

Uma publicação realizada em 2022 e mencionada na revista científica Brazilian Journal of Health Brazil analisou a situação do câncer de colo de útero em populações indígenas no Brasil. Os resultados indicaram que o câncer de colo uterino como uma das neoplasias mais prevalentes e está relacionado a uma taxa de mortalidade alta, reflexo de fatores de risco como: sexarca precoce, multiparidade, infecção pelo papiloma vírus (HPV), dificuldade do acesso à informação. De acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) a maior parte da população indígena brasileira está inserida na região Norte e contém o maior grupo de mulheres indígenas portadoras de CCU (23%) quando comparado com outras regiões. (DE ALMEIDA REZENDE FILHO, 2022).

A população indígena brasileira é extremamente diversa, com mais de 300 etnias e uma população estimada em cerca de 900 mil pessoas. O acesso à saúde para essas populações é um desafio, com muitas comunidades localizadas em regiões remotas e de difícil acesso. Além disso, a falta de políticas públicas específicas para essas populações contribui para o aumento da incidência de doenças, incluindo o câncer de colo de útero (DA SILVA, 2022).

O câncer do colo do útero é considerado um grave problema de saúde pública em todo o mundo, com uma estimativa de 604.000 casos novos por ano e cerca de 341.000 mortes por ano, sendo a maioria dessas mortes em países de baixa e média renda (BRASIL, 2021). No Brasil, esse tipo de câncer é o terceiro mais comum entre as mulheres, e a incidência é ainda mais preocupante em populações indígenas, onde a mortalidade é mais elevada (BORGES, 2019). 

Nos últimos anos, diversos estudos têm sido realizados com o objetivo de entender o comportamento dessa doença em populações indígenas do Brasil. Em uma revisão sistemática realizada por Martins (2021), foi possível observar que a falta de acesso a exames preventivos, baixo nível socioeconômico e falta de informações sobre a doença em questão são alguns dos principais fatores de risco para essa população. 

O câncer de colo de útero é uma doença multifatorial que envolve a interação de fatores genéticos, ambientais e comportamentais. Segundo Costa (2021), o câncer cervical é causado pela infecção persistente pelo Papilomavírus humano (HPV), que pode provocar lesões pré-cancerosas que podem progredir para o câncer. O HPV é um vírus comum que afeta a maioria das pessoas sexualmente ativas em algum momento de suas vidas, mas a infecção geralmente é eliminada pelo sistema imunológico sem causar problemas. No entanto, em alguns casos, o vírus pode se tornar persistente e levar a alterações celulares que podem levar a neoplasias.

De acordo com Andrade (2020), o desenvolvimento do câncer cervical ocorre em etapas, começando com alterações celulares pré-cancerosas que podem progredir para lesões intraepiteliais de alto grau (HSIL) e finalmente para o câncer invasivo. As alterações celulares pré-cancerosas são causadas pelo HPV e podem ser detectadas através do exame de Papanicolau (MORAIS, 2021). As lesões intraepiteliais de alto grau são um estágio intermediário entre as alterações pré-cancerosas e o câncer invasivo, e têm um risco maior de progredir para o câncer. O câncer invasivo ocorre quando as células cancerosas se espalham para tecidos próximos ao colo do útero.

Segundo Bento (2023), essa enfermidade também pode ser influenciada por fatores de risco comportamentais, como o tabagismo, o uso prolongado de contraceptivos orais e a idade precoce na primeira relação sexual. O tabagismo é um fator de risco bem estabelecido para o câncer de colo de útero, pois a fumaça do tabaco pode prejudicar o sistema imunológico e aumentar a probabilidade de infecção pelo HPV. O uso prolongado de contraceptivos orais também está associado ao câncer de colo de útero, provavelmente devido à sua influência nos níveis hormonais. 

A idade precoce na primeira relação sexual aumenta o risco de exposição ao HPV antes que o sistema imunológico esteja completamente desenvolvido (DAMASCENO, 2021). Em suma, a fisiopatologia do câncer de colo de útero envolve a interação de fatores genéticos, ambientais e comportamentais, com o HPV sendo o principal agente causador. O câncer de colo de útero ocorre em etapas, começando com alterações celulares pré-cancerosas que podem progredir para lesões intraepiteliais de alto grau e finalmente para o câncer invasivo (GALVÃO, 2020). A fisiopatologia do câncer de colo de útero é complexa e envolve uma série de alterações moleculares e celulares que levam ao crescimento descontrolado das células. A infecção por HPV é um dos principais fatores de risco para o desenvolvimento da doença, uma vez que o vírus é capaz de inativar proteínas supressoras de tumores e induzir a proliferação celular anormal. Além disso, a interação entre o HPV e as células do colo do útero pode levar a danos no DNA e instabilidade genômica, favorecendo o surgimento de mutações que levam à carcinogênese (PETITO,2019)..

Além disso, o de Petito (2017) destacou a importância dos microRNAs (miRNAs) na fisiopatologia do câncer de colo de útero. Os miRNAs são pequenas moléculas de RNA que regulam a expressão gênica e estão envolvidos em diversos processos celulares, incluindo a proliferação e diferenciação celular (DA SILVA, 2022). Segundo os autores, alterações na expressão de miRNAs específicas estão associadas ao desenvolvimento e progressão do câncer de colo de útero, tornando-os potenciais biomarcadores para o diagnóstico e prognóstico da doença. A epigenética refere-se a mudanças na expressão gênica que não envolvem alterações na sequência de DNA, mas sim modificações químicas nas histonas e no DNA. Segundo os autores, alterações epigenéticas em genes supressores de tumor e em vias de sinalização pró-carcinogênicas estão associadas ao desenvolvimento e progressão do câncer de colo de útero, abrindo novas possibilidades para o desenvolvimento de terapias epigenéticas eficazes contra a doença. Esses estudos evidenciam a complexidade da fisiopatologia do câncer de colo de útero e a necessidade de uma abordagem multidisciplinar para o diagnóstico, tratamento e prevenção da doença.

Nesse contexto, a revisão integrativa se apresenta como uma ferramenta importante para avaliar os estudos sobre a incidência de câncer de colo de útero em populações indígenas do Brasil (SILVA, 2020). Essa metodologia permite a análise de diferentes tipos de estudos, como ensaios clínicos, estudos observacionais e estudos qualitativos, e pode fornecer uma visão mais abrangente sobre o tema.

O objetivo deste artigo é realizar uma revisão integrativa da literatura científica sobre a incidência de câncer de colo de útero em populações indígenas do Brasil. Serão incluídos estudos publicados nos últimos cinco anos em bases de dados nacionais e internacionais.

Espera-se que os resultados desta revisão possam contribuir para a compreensão dos fatores associados à incidência do câncer cervical em populações indígenas do Brasil, assim como para o desenvolvimento de políticas públicas específicas para essas populações. Além disso, espera-se que esta revisão possa fornecer uma base sólida para futuras pesquisas sobre o tema.

2: METODOLOGIA

A presente pesquisa é uma revisão integrativa da literatura sobre a incidência de câncer de colo de útero em populações indígenas do Brasil. Para a realização desta pesquisa, foram selecionados artigos publicados nos últimos 5 anos (de 2018 a 2023), nas bases de dados Scielo, Google Scholar e LILACS.

A busca foi realizada com os seguintes termos de pesquisa: “incidência de câncer de colo de útero”, “populações indígenas” e “Brasil”. Os resultados foram filtrados para incluir apenas estudos em língua portuguesa ou inglesa e que se enquadram nos critérios de inclusão definidos para a pesquisa.

A quantidade de artigos encontrados em cada base de dados foi a seguinte: Scielo (38 artigos), Google Scholar (56 artigos) e LILACS (23 artigos). Após a remoção de duplicatas, foram retidos para a análise 21 artigos no total: 9 na base Scielo, 10 na base Google Scholar e 2 na base LILACS, sendo 6 artigos selecionados para realizar essa revisão.

Para a seleção dos artigos a serem incluídos no estudo, foram estabelecidos critérios de inclusão seguintes:

  • Estudos que apresentassem dados sobre a incidência de câncer de colo de útero em populações indígenas do Brasil;
  • Estudos publicados nos últimos 5 anos (de 2018 a 2023);
  • Estudos em língua portuguesa ou inglesa;
  • Estudos com amostras representativas ou estudos de caso.

Os critérios de exclusão foram os seguintes:

  • Estudos que não apresentassem dados sobre a incidência de câncer de colo de útero em populações indígenas do Brasil;
  • Estudos publicados fora do período de busca (últimos 5 anos);
  • Estudos em idiomas diferentes do português ou inglês;
  • Estudos com amostras não representativas ou que não se enquadram nos critérios de inclusão definidos.

Para a análise dos dados, foi realizada uma leitura crítica dos 6 artigos selecionados para a revisão, a fim de identificar as principais conclusões e lacunas de conhecimento na área. As informações relevantes foram extraídas e sintetizadas em uma tabela para facilitar a análise comparativa dos estudos.

Quadro 1 – Estratégia de busca utilizada nas bases de dados eletrônicas. 

Base de DadosEstratégia de busca
Scielo((“incidência de câncer de colo de útero”) AND (“populações indígenas”)) AND (“Brasil”)
Google Scholar(“incidence of cervical cancer” OR “cancer of the cervix” OR “cervical neoplasms”) AND (“Brazil”) AND (“Indigenous population” OR “Native population” OR “Indigenous people” OR “Native people”) AND (date_range:2018-2023)
LILACS((“incidência de câncer de colo de útero”) AND (“populações indígenas”)) AND (“Brasil”)

Fonte: O autor (2023)

A estratégia de busca para a base de dados Scielo incluiu os termos “incidência de câncer de colo de útero”, “populações indígenas” e “Brasil”, para a base de dados Google Scholar incluiu termos em inglês e português relacionados ao câncer de colo de útero, Brasil e populações indígenas, além de um intervalo de tempo para a busca. A estratégia de busca para a base de dados LILACS incluiu os mesmos termos utilizados na busca da Scielo.

3:RESULTADOS E DISCUSSÃO

A presente revisão analisou 6 estudos primários que buscaram identificar a incidência de câncer de colo de útero em populações indígenas. Destes, a maioria foram publicados nos anos de 2019 a 2022. 

Quadro 2 – Quadro-síntese dos estudos incluídos para compor a amostra da presente revisão integrativa (n=6).

Autor (Ano)Desenho do estudoPopulaçãoAmostraTipo de IntervençãoResultados
De Almeida Rezende Filho, 2022Revisão literária de documentos nacionaisPopulação indígena Região Norte35 estudos encontrados, 11 foram mantidos para revisãoNão se aplicaTaxa de incidência de câncer de colo de útero e mortalidade na população indígena da região Norte é significativamente maior (23%) quando comparado com outras regiões
Martins(2021)Estudo descritivo do tipo relato de experiênciaMulheres indígenas da etnia Parakanã, na Terra Indígena Apyterewa, localizada no município de São Félix do Xingu, Pará, Brasil63 mulheres com idade entre 10 a 75 anos, predominando a participação da faixa etária de 25 a 64 anos (54%)Ação de promoção em saúdeIdentificou-se a falta de conhecimento sobre a finalidade do Papanicolau, o qual foram relatados que o exame serve apenas para identificação das afecções ginecológicas, e não como método de rastreamento do câncer do colo do útero
Machado (2020)Estudo transversal com abordagem quantitativaPopulação indígena Mbyá-Guarani113 mulheresNão se aplicaA adesão ficou abaixo da meta de 85% esperada pelo Ministério da Saúde (MS)
Lovatti (2021)Estudo de corte transversalPopulação indígena do município de Aracruz (ES)200 mulheresaplicação de um questionário padrão para levantamento de dados clínicos seguido de coleta de citologia cervical durante consulta médica95% (N = 190) das pacientes obtiveram resultados sem alterações citológicas – Dentro dos limites da normalidade. Das demais, 9 apresentaram atipias de significado indeterminado, possivelmente não neoplásicas (ASCUS) e apenas 1 apresentou atipia de significado indeterminado glandular, possivelmente não neoplásica (AGC).
Borges (2019)Estudo observacional descritivo, com base no banco nominal do SIM (Sistema de Informações sobre Mortalidade), referente ao período de 1º de janeiro de 2000 a 31 de dezembro de 2012.População Norte e Centro-Oeste81 óbitosRMP (razão de mortalidade padronizada)Dentre as mulheres indígenas, destaca-se o excesso de câncer cervical em relação à Goiânia (RMP = 4,67; 4,41-4,93), Acre (RMP = 2,12; 2,00-2,24) e Região Norte (RMP = 2,60; 2,45-2,75).
Scopin (2019)Estudo observacional, transversal e retrospectivoPopulação indígena das regiões do Médio, Baixo e Leste Xingumulheres indígenas, sexualmente ativas, com idade igual ou superior a 11 anosNão se aplicaApenas 3 casos de câncer de colo uterino foram documentados ao longo dos 13 anos de seguimento. A taxa de positividade do HPV foi de 24,5% e latência de 22,9%.

Fonte: O autor (2023)

Neste quadro-síntese, são apresentados os autores, ano de publicação, desenho do estudo, população estudada, tamanho da amostra, tipo de intervenção (se houve) e resultados encontrados. As informações dos estudos selecionados são organizadas em linhas, permitindo uma comparação rápida entre os estudos incluídos nesta revisão integrativa da literatura. Os estudos selecionados nesta revisão integrativa se concentraram na incidência de câncer de colo de útero em populações indígenas do Brasil sendo que a incidência desse tipo de câncer é elevada nessas populações em comparação com a população não indígena (SOARES, 2019). De acordo com Machado (2020), a detecção precoce da doença é fundamental para o sucesso do tratamento e a redução da mortalidade. A realização regular do exame de Papanicolau é uma estratégia importante para detectar lesões pré-cancerosas e cancerosas em estágios iniciais, possibilitando o tratamento imediato.

Outro estudo relevante foi conduzido por Dos Santos (2022), que investigou a adesão das mulheres brasileiras às campanhas de prevenção do câncer de colo de útero. Os resultados mostraram que a baixa escolaridade, a falta de informação sobre a importância do exame de Papanicolau e o medo do procedimento são alguns dos principais obstáculos para a adesão, desconhecem o objetivo principal do preventivo, referem certo medo mediante a um possível diagnóstico de câncer  Assim, é essencial que os programas de prevenção sejam acessíveis e ofereçam informações claras e precisas sobre o câncer de colo de útero e sua prevenção.

Em outro artigo que foi realizado por De Mendonça (2022), que avaliou a eficácia de diferentes modalidades de tratamento para esse tipo de câncer. Os resultados indicaram que a terapia combinada de radioterapia e quimioterapia é uma opção viável para o tratamento em estágios avançados. Ademais, o estudo destacou a importância de um acompanhamento adequado após o tratamento, a fim de monitorar possíveis recidivas da doença.

Uma característica comum entre os estudos foi o tamanho da amostra que incluíram pelo menos 10 mulheres da população indígena em questão, com alguns estudos incluindo amostras maiores de mais de 200 mulheres. O tamanho da amostra é importante para garantir que os resultados sejam representativos da população estudada e tenham validade estatística.

O estudo de Martins (2021) teve como objetivo Descrever a vivência prática de uma ação de educação em saúde com mulheres indígenas sobre neoplasia do colo do útero através de uma ação social para promoção de saúde ministrada para mulheres indígenas da etnia Parakanã, na Terra Indígena Apyterewa, localizada no município de São Félix do Xingu, Pará, Brasil, distante aproximadamente 1.053 km da capital do estado. Além disso, o trabalho destacou que a falta de informação sobre a importância do exame de Papanicolau e a dificuldade de acesso aos serviços de saúde foram os principais motivos para a baixa cobertura do exame. Diante desses resultados, foi reforçada a necessidade de programas de prevenção do câncer de colo de útero em populações indígenas, especialmente aqueles que abordem as barreiras culturais e socioeconômicas que impedem o acesso aos serviços de saúde. Os resultados também apontam a necessidade de maior conscientização sobre a importância do exame de Papanicolau para prevenção dessa doença entre as mulheres indígenas na aldeia Apyterewaetnia e outras populações indígenas do Brasil.

O estudo de Lovatti (2021) teve como objetivo avaliar a prevalência e os fatores associados à infecção pelo HPV em mulheres indígenas do município de Aracruz, no Espírito Santo. A amostra do estudo incluiu 200 mulheres indígenas. Os resultados do estudo indicaram que 95% das pacientes apresentavam resultados dentro da normalidade, 9 apresentaram atipias de significado indeterminado, possivelmente não neoplásicas (ASCUS) e 1 com resultado de atipia de significado indeterminado glandular, possivelmente não neoplásica (AGC). O artigo de Lovatti(2021) contribui para o entendimento dos fatores de risco associados à infecção pelo HPV em populações indígenas do Brasil, reforçando a necessidade de medidas preventivas e de promoção da saúde sexual nessas populações e destaca a importância do uso de preservativos como medida efetiva de prevenção da infecção pelo HPV e outras doenças sexualmente transmissíveis. Além disso, também reforça a importância de políticas públicas que promovam o acesso aos serviços de saúde e educação sexual adequados para as populações indígenas.

O trabalho de Borges (2019) teve como objetivo estimar a mortalidade por câncer em povos indígenas no Estado do Acre, Brasil. No estudo foram identificados 81 óbitos, homens (59,3%) e acima de 70 anos. Dentre as mulheres indígenas, destaca-se o excesso de câncer cervical em relação à Goiânia (RMP = 4,67; 4,41-4,93), Acre (RMP = 2,12; 2,00-2,24) e Região Norte (RMP = 2,60; 2,45-2,75). Estima-se que as neoplasias evitáveis ​​(como o câncer do colo do útero) e as neoplasias associadas à aplasia (como o câncer de estômago e fígado) sejam responsáveis ​​por cerca de 49,4% das mortes entre os aborígines. O artigo contribui para o entendimento das barreiras culturais e geográficas que afetam a realização do exame de Papanicolau em populações indígenas do Brasil, reforçando a necessidade de estratégias específicas para promover a acessibilidade e a qualidade dos serviços de saúde nessas comunidades e destaca a importância da educação em saúde e da conscientização sobre a importância do exame de Papanicolau como medida preventiva do câncer cervical. Além disso, o estudo também reforça a necessidade de medidas para superar as barreiras geográficas e culturais que impedem o acesso aos serviços de saúde para as populações indígenas.

O estudo de Scopin (2019) teve como objetivo avaliar a qualidade do rastreamento do câncer de colo de útero em mulheres indígenas das regiões do Médio, Baixo e Leste Xingu. A amostra do estudo incluiu rastreamentos de 13 anos das bases de dados pesquisadas e por resultados de Papanicolau. Destacou a importância da avaliação da qualidade do rastreamento do câncer de colo de útero em populações indígenas do Brasil, reforçando a necessidade de medidas para melhorar a acessibilidade e a qualidade dos serviços de saúde nessas comunidades. A taxa de positividade do HPV foi de 24,5% e latência de 22,9% e de apenas 3 casos desse tipo de câncer registrados em 13 anos. O estudo indica que a falta de registro adequado dos resultados dos exames e o seguimento inadequado das mulheres com resultados alterados são os principais obstáculos para a realização de um rastreamento adequado desse tipo de câncer em populações indígenas. Outrossim, o estudo reforça a necessidade de medidas específicas para a promoção da saúde das mulheres indígenas e para a prevenção do câncer de colo de útero nessas comunidades.

Em resumo, os estudos selecionados nesta revisão integrativa forneceram evidências sobre a alta incidência de câncer de colo de útero nas populações indígenas do Brasil. Eles também destacaram a importância de programas de rastreamento para reduzir a incidência desse tipo de câncer nessas populações, mas alertaram para a necessidade de considerar as barreiras específicas das populações indígenas para implementar e manter tais programas.

4: CONSIDERAÇÕES FINAIS

A revisão integrativa realizada permitiu uma análise mais abrangente da incidência do câncer de colo de útero em populações indígenas do Brasil, com base em estudos publicados nos últimos cinco anos nas bases de dados Scielo, Google Scholar e LILACS. Os estudos incluídos na revisão apresentaram importantes informações sobre a incidência e os fatores de risco associados ao câncer de colo de útero em populações indígenas, bem como sobre a qualidade do rastreamento e o acesso aos serviços de saúde nessas comunidades.

Os estudos analisados mostram que as populações indígenas do Brasil apresentam uma incidência elevada de câncer cervical em relação à população geral do país, o que evidencia a necessidade de políticas públicas específicas para a prevenção e o tratamento da doença nessas comunidades. Logo, os fatores de risco associados a essa mazela em populações indígenas são semelhantes aos da população geral, mas há algumas particularidades relacionadas à cultura, ao acesso aos serviços de saúde e à desigualdade social que podem agravar a situação.

Os estudos selecionados indicam que o rastreamento do câncer de colo de útero em populações indígenas é ainda mais deficiente do que na população geral, com baixas taxas de adesão e qualidade inadequada dos serviços. A falta de recursos e de capacitação dos profissionais de saúde, a dificuldade de acesso aos serviços e a falta de sensibilização da população são alguns dos fatores que contribuem para essa situação. É necessário que medidas sejam adotadas para melhorar a qualidade e a efetividade do rastreamento da doença nessas comunidades, visando a redução da morbimortalidade. Os estudos analisados indicam que as políticas públicas de saúde para as populações indígenas devem ser direcionadas para a promoção da equidade, da acessibilidade e da qualidade dos serviços de saúde, considerando as particularidades culturais e sociais dessas comunidades. É fundamental o fortalecimento da atenção básica, com a capacitação dos profissionais de saúde, a implementação de estratégias de educação em saúde e a ampliação do acesso aos serviços. Além disso, é necessário promover ações de prevenção do câncer de colo de útero, como a vacinação contra o HPV e a realização do exame de Papanicolau, garantindo a sua qualidade e efetividade.

Por fim, é importante ressaltar que a revisão integrativa realizada apresenta algumas limitações, como a restrição temporal da busca e a seleção de artigos em apenas três bases de dados, o que pode ter limitado a abrangência da análise. No entanto, os resultados obtidos fornecem importantes subsídios para a compreensão da situação do câncer de colo de útero em populações indígenas do Brasil e podem orientar a formulação de políticas públicas e ações de saúde voltadas para essas comunidades.

5: REFERÊNCIAS

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1Hospital Universitário Getúlio Vargas
2Instituição UFPA
3Instituição UFMA
4Instituição HUUFMA
5Hostipal Universitário Getúlio Vargas – UFAM
6Instituição Florence
7Instituição faculdade ITPAC Santa Inês