INCIDÊNCIA DE OUTRAS DOENÇAS INFECTOCONTAGIOSAS RESPIRATÓRIAS, NO MUNICÍPIO DE VALENÇA, DURANTE O PERÍODO DA COVID-19

REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/ar10202408311522


Tathiana Martins Trece Costa1;
Ana Carolina Costa de Athayde2;
Ana Luiza Kozlowsky de Alencar3;
Bernardo Pinto Entringe4;
Matheus Murteira Célem Garcia Vidal5.


Resumo

A pandemia causada pelo novo coronavírus (SARS-CoV-2) impôs a toda população mundial e aos órgãos governamentais medidas de proteção e restrição contra a disseminação do patógeno causador da COVID-19, uma doença que pode gerar uma síndrome respiratória aguda grave, e consequentemente a morte, principalmente em pacientes conhecidos como do grupo de risco. OBJETIVO: Dessa forma, essa pesquisa tem como objetivo quantificar e analisar a influência incidência e prevalência de algumas determinadas doenças infectocontagiosas respiratórias, no município de Valença-RJ, durante o período da pandemia e discutir sobre as hipóteses apresentadas na literatura que possam impactar nesses como: as medidas de proteção e restrição de toda a sociedade, subnotificações, erros nos diagnósticos, falhas na comunicação, sensibilidade e especificidade de determinados testes, entre outros. METODOLOGIA: Trata-se de um estudo quantitativo, descritivo, epidemiológico, de base documental, cujos dados secundários serão coletados na plataforma de informação do DATA-SUS, assim como nos sistemas de informação disponíveis. Os resultados obtidos serão quantificados, analisados, e correlacionados com as possíveis hipóteses cabíveis, como as medidas profiláticas contra a disseminação do Sars-CoV-2. Serão construídos gráficos quantitativos e ilustrativos para demonstrar o “efeito COVID-19” sobre a incidência dos casos de influenza, sarampo, tuberculose e caxumba. RESULTADOS ESPERADOS: espera-se encontrar redução no número de casos de outras doenças infecciosas em função das medidas de controle da COVID-19.

Palavras-chave: Covid-19, Doenças Infectocontagiosas, Epidemiologia.

1 INTRODUÇÃO

Os coronavírus são uma grande família de vírus habituais em variadas espécies de animais, dentre eles, camelos, gado, gatos e morcegos. Não é comum a infecção de humanos por vírus que infectam animais, como exemplo do MERS-CoV e SARS-CoV. Em dezembro de 2019, houve a notificação de um inédito coronavírus (SARS-CoV-2), o qual foi detectado, isolado, e identificado em Wuhan, capital da província de Hubei, na China, causador da doença COVID-19, sendo posteriormente disseminada e transmitida de maneira interpessoal (MS, 2020). A doença COVID-19 foi declarada como pandemia pela Organização Mundial da Saúde (OMS) em 11 de março de 2020, principalmente devido à velocidade e escala de transmissibilidade da doença. A origem e a fonte do SARS-CoV-2 permanecem desconhecidas, mesmo que os casos iniciais tenham sido relacionados com um mercado de frutos do mar na China, ao sul de Wuhan, onde répteis, pássaros e outros animais, como morcegos, são comercializados. Tendo em vista que, os primeiros pacientes vítimas dessa infecção trabalhavam ou tinham visitado esse estabelecimento, foi sugerido transmissão entre humanos ou entre humanos e animais (SANTOS, 2020).

Indivíduos com COVID-19 podem apresentar tosse, dispneia, dores de garganta, febre, cefaleia, mialgia, e outras manifestações clínicas. Ainda há os portadores assintomáticos, os quais possuem enorme relevância do ponto de vista epidemiológico, uma vez que são potenciais transmissores do vírus (CAVALCANTE et al., 2020). A transmissão do SARS-CoV-2 entre pessoas ocorre por meio da autoinoculação do vírus em epitélio mucoso (nariz, olhos ou boca), ou do contato com superfícies contaminadas (OLIVEIRA et al., 2020). A utilização de máscaras é uma das medidas de prevenção para dificultar e reduzir a propagação de patologias respiratórias, incluindo a COVID-19. Não só, esse uso deve ser acompanhado de outras medidas, como a higienização correta das mãos com água e sabão ou álcool a 70%, antes e após o uso das máscaras (SES MS, 2020).

Cumpre saber se, as medidas adotadas para controle da COVID-19, também, impactaram na incidência de outras doenças infectocontagiosas como influenza, sarampo, tuberculose e parotidite infecciosa. Tais doenças tem como via de transmissão o contato direto de pessoa a pessoa, sendo semelhante à contaminação pelo SARS-CoV-2 (MS, 2010).

A influenza é uma infecção viral transmitida por contato de secreções ou aerossóis respiratórios contaminados pelo RNA viral, da família Orthomixoviridae tendo como predomínio, no Brasil, o subtipo A (RIBEIRO et al, 2016). O vírus é incubado dentre o período de 1 a 4 dias, após a infecção, ele é eliminado pelas secreções respiratórias durante um período de 5 a 10 dias (BEIRIGO, 2018), além de sua alta transmissibilidade ele pode contaminar os indivíduos ao longo de diversos períodos de sua vida (AZAMBUJA, 2019).

O sarampo é uma infecção viral, tendo como agente etiológico o RNA da família Paramyxoviridae e do gênero Morbillivirus, o meio de infecção é por meio do trato respiratório e/ou conjuntiva, após contato secreções contaminadas, o sarampo é altamente contagioso, pois 90% dos indivíduos expostos ao vírus contraem a doença.  (FERREIRA, 2020).

O complexo M. Tuberculosis é o agente etiológico da tuberculose, apesar de ser um bacilo, sua transmissibilidade se assemelha as demais patologias citadas (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2010), outrossim a tuberculose é a principal causa de morte da população que contém HIV, além de ser a doença infecciosa a qual mais mata, no mundo (BARREIRA, 2018).

A parotidite infecciosa ou caxumba é disseminada através do contato direto com a saliva de pessoas infectadas e por gotículas contaminadas seu agente etiológico é o vírus da família Paramyxoviridae cujo gênero Paramyxovirus (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2010). Mesmo tendo uma baixa letalidade, ela contém uma alta morbidade, tendo maiores acometimentos em locais com aglomerações como: centros escolares e centros urbanos (COSTA et al, 2017).

2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA OU REVISÃO DA LITERATURA

O SARS-CoV-2 é transmitido por meio de perdigotos ou aerossóis no contato próximo, principalmente em ambientes não arejados. O quadro clínico causado pelo vírus é chamado de COVID-19 [Coronavirus Disease 2019], e o surto da doença foi nomeado como pandemia. Medidas políticas de isolamento social foram realizadas por diversos países do mundo com o objetivo de controlar a disseminação e consequentemente infecção de suas populações (SOARES, 2020). É necessário notar que a probabilidade de infecção sintomática aumenta proporcionalmente com a idade, assim, pessoas jovens e crianças podem ser portadores assintomáticos. Isso reforça a necessidade do autoisolamento e das ações de higiene, mesmo na ausência de sintomas (XAVIER et al, 2020). Na infecção pelo coronavírus humano, os pacientes podem apresentar sinais e sintomas de infecção no trato respiratório superior como rinorréia e dor de garganta. Além disso, os sinais clínicos de infecção por SARS-CoV-2 incluem febre baixa a alta, tosse seca, mialgia, dispneia, fadiga, contagens de leucócitos padrão ou diminuídas (leucopenia) e evidências confirmadas de pneumonia nos exames de imagem, como a radiografia de tórax (CHAKRABORTY et al, 2020).

Nos últimos anos, o aparecimento e o reaparecimento de doenças infecciosas, como gripe aviária (Influenza A H5N1) em 2003, a Síndrome Respiratória Aguda Grave (SRAG) em 2002/2003, a Influenza A H1N1 em 2009, a Zika em 2015, suscitaram muitas questões sobre a importância e efetividade da vigilância epidemiológica. Pandemias têm ocorrido com frequência maior, e a partir de 2018, a OMS reconheceu a necessidade de preparação antecipada à emergência de novos agentes patogênicos, incluindo, sob o nome de “doença X”, as patologias ainda não conhecidas com potencialidade de emergência internacional na lista de prioridades para pesquisa e desenvolvimento no contexto de emergência. O surgimento de novas patologias traz impactos muito além dos casos e mortes que geram. Elas criam também um contexto ideal que impõe aos sistemas nacionais de saúde pública a missão de validar seu sistema de vigilância e assistência em saúde quanto à oportunidade de detecção precoce e consequentemente ao poder de reação mediante à situação (LANA, et al 2020).

A epidemiologia é capaz de auxiliar no acompanhamento através de ferramentas tecnológicas como a vigilância epidemiológica e o monitoramento, sua contribuição mostra-se de extrema importância, pois oferece dados fundamentais para o planejamento, execução e avaliação das ações de prevenção, controle e tratamento das patologias, principalmente quando articulada com ações estratégicas de saúde (DA SILVA; DE OLIVEIRA, 2020). A pesquisa epidemiológica é empírica, construída na coleta sistemática de informações sobre fatos relacionados com a saúde em uma população estabelecida e na quantificação desses fatos (MEDRONHO et al., 2008).

Os humanos sofrem de gripe há milênios, e podemos esperar que a nova realidade do COVID-19 apenas irá complicar a próxima temporada de gripe. Medidas para reduzir a carga geral da infecção respiratória, incluindo o distanciamento social, aumento das taxas de imunização ativa artificial (vacinação), disponibilidade de diagnósticos e abordagem das disparidades no atendimento à saúde, são fundamentais no planejamento para os próximos meses. Ademais, a metodologia cuidadosa e modificação desses fatores irão aumentar a preparação para futuras pandemias virais (SINGER, 2020). Tanto em países desenvolvidos como nos em desenvolvimento, as patologias respiratórias representam grande amplitude da morbidade na infância e, nessa medida, exercem pressão sobre os serviços de saúde. As doenças respiratórias agudas (DRA) são responsáveis por um quinto das internações hospitalares no Sistema Único de Saúde (SUS) (FAÇANHA, 2004). As infecções virais do trato respiratório representam um grave problema de saúde pública, devido a sua ocorrência mundial, facilidade de transmissão, e expressiva morbidade e mortalidade, afetando pessoas de todas as idades (RICHTER, 2016).

Assim como o SARS- covid2, a H1N1 provocou uma pandemia nos anos de 2009 a 2010, cuja origem deu-se no México, sendo associada à um vírus de origem suína. Posteriormente, em 2016, surgiram novos relatos de pessoas infectadas com H1N1, sendo contabilizados 764 casos de óbitos decorrentes dessa doença. Outrossim, é sabido, desde então, que a população de suínos tem sofrido constantes surtos, com predomínio nas regiões sul e centro-oeste no Brasil (BEIRIGO, 2018). Durante o período da pandemia ocasionada pela influenza, observou-se 50.482 casos durante o ano de 2009, cuja taxa de letalidade foi de 4% (CÂNDITO, 2020). Entretanto, com a adesão da vacina contra a influenza tipo A conseguiu-se o controle da propagação da doença, visto que esta medida profilática reduz a internação e mortes por complicações de infecções respiratórias virais, em até 70%, nos indivíduos com mais de 65 anos, esses por sua vez, cursam um risco maior de desenvolver sintomatologia grave da doença. (ROSETTO, 2016).

Por conseguinte, o tratamento da influenza dá-se através de, medicações de antivirais, sendo elas: fosfato de oseltamivir e zanamivir, cujas ações são inibindo neuraminidase. Entretanto sua maior eficácia dar-se ao uso precoce, ou seja, em um período de até 48 horas após o início dos primeiros sintomas, desse modo demonstra benefícios aos pacientes, reduzindo a sintomatologia que cursa a doença. Ademais, há indicação da utilização da quimioprofilaxia quando há o contato com algum caso suspeito ou confirmado para influenza dentre o período de até 48 horas, apresentando 70% a 90% de efetividade na prevenção contra influenza, tal mecanismo de profilaxia atua adjunto à vacina. (DEPARTAMENTO DE VIGILÂNCIA DAS DOENÇAS TRANSMISSÍVEIS, 2017).

Anteriormente à disponibilidade da vacina do sarampo, o Brasil sofreu diversas epidemias ocasionadas por ele, tendo maiores números de casos, em 1986, com 129.942 indivíduos acometidos, e uma taxa de incidência de 97,7 por 100.000 habitantes. Tal doença chegou a provocar certa de 2,6 milhões de mortes ao ano, gerando, principalmente, em crianças de 1 a 4 anos de idade, durante o período dos anos 60 e 70. Este cenário modificou-se, a partir de 1992, onde o Brasil implementou o Plano Nacional de Eliminação do Sarampo, cujo objetivo seria erradicá-lo, até os anos 2000, por meio da vacinação aos brasileiros, o objetivo teve-se como concluído, em 2016, onde o Ministério da Saúde do Brasil recebeu da Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS), o certificado de erradicação do sarampo. (SOUZA,2020). Todavia, em 2018 o país vivenciou um novo surto da doença, no qual notificou-se mais de 10 mil casos, fatores como: baixa cobertura vacinal, incialmente na região norte do Brasil, e turistas, migrantes foram o primórdio para a disseminação e o ressurgimento desta doença. (PEREIRA; BRAGA; COSTA , 2018).

O fator que gera maior efeito para o controle do sarampo é a vacinação em rebanho, a qual atinge uma porcentagem superior de 95% da população, assim inibe a proliferação do vírus. O plano de vacinação se dá em duas etapas: a primeira é constituída com a vacina da tríplice viral (sarampo, caxumba e rubéola) sendo aplicada aos 12 meses de idade, já a segunda etapa é composta pela vacina tetra viral (sarampo, caxumba, rubéola e varicela), sua aplicação é aos 15 meses de idade. (MEDEIROS, 2020). Ao apresentar a doença o paciente tem-se o suporte de terapia que visa o alívio dos sintomas, em conjunto com o fornecimento de um suporte nutricional buscando a não desidratação do paciente, todavia, até o momento atual, não há uma terapia específica através de antivirais, contudo a única recomendação advinda da OMS (Organização mundial da Saúde) é a administração de vitamina A, por via oral, logo que tem-se o diagnóstico, visto que reduz a morbilidade e mortalidade que são associadas à infecção. ( SANTOS, 2019).

A tuberculose é uma doença, a qual está intimamente associada a doenças tropicais causadas por agentes infecciosos ou parasitas, consideradas endêmicas em populações de baixa renda, em paralelo a falta ao acesso do saneamento básico e informação desta população. Assim sendo, países em subdesenvolvimento tende o aumento dos índices de pessoas afetadas por essa doença.  Outrossim, é sabido que a principal causa de morte entre os HIV positivos são devido à coinfecção de tuberculose, nestes indivíduos, visto que o bom estado do sistema imunológico é um dos fatores primordiais para o não desenvolvimento desta doença. (GUIMARÃES,2018).

No Brasil encontra-se com a taxa de incidência de 35 casos/ 100mil habitantes, registrando 72.770 casos novos de tuberculose, no ano de 2017. Diante desses números elevados de casos, a Organização Mundial de Saúde propôs uma redução de 90% da incidência e de 95 % dos números de óbitos causados pela tuberculose até 2035, tal plano tem como base três pilares de ação, sendo eles: a prevenção e cuidado integrado ao paciente; políticas arrojadas e sistema de apoio, pôr fim a intensificação da pesquisa e inovação (SOUZA, 2019).

As principais finalidades do tratamento da tuberculose, além da cura do paciente são: a redução da transmissão da doença, a prevenção de cepas naturalmente resistentes e a esterilização da lesão prevenindo o ressurgimento da doença. Mesmo que a eficácia da antibioticoterapia seja 95%, há fatores que corroboram negativamente, para que de fato os tratamentos não sejam concluídos, logo essa porcentagem de efetividade do tratamento varia de 50% a 90%, tendo como variante o local. Outrossim, causas que diminuem a efetividade ao tratamento provém em três níveis, sendo eles: o abandono do tratamento, o uso errado, e/ ou irregular dos medicamentos. (RABAHI, 2017).

O primeiro relado da caxumba foi descrito pelo Hipócrates, entre 460 a 370 a.c. a qual caracterizava essa doença de acordo com a sazonalidade. Atualmente, essa doença tem como atributos de ser endêmica, principalmente em grandes centros urbanos, onde há presença de aglomerações de indivíduos, além das regiões nas quais não há uma boa cobertura vacinal. A capacidade de transmissão deve-se às variantes: a virulência da cepa, resposta imune do hospedeiro, distribuição geográfica, sazonalidade e o modo de controle. (GERVÁSIO et al, 2019).

A parotidite infecciosa tem como principal sintomatologia clínica o aumento das glândulas salivares (sublinguais, submaxilares e as parótidas), todavia através do sistema de defesa do corpo essas estruturas anatômicas voltam ao seu tamanho normal, em até 14 dias, após o início dos sintomas. Além do mais, 30% dos casos não há hipertrofia visível das glândulas, outrossim pacientes pediátricos são as mais acometidas pela patologia, entretanto os sintomas são mais brandos, geralmente. Por outro lado, nos adolescentes e adultos suas manifestações clínicas são mais intensas (COSTA et al, 2017).

O tratamento é fundamentado através do quadro clínico apresentado pelo paciente, não havendo suporte terapêutico exclusivo para caxumba. Entretanto, a medida com maior resultado ao combate à parotidite infecciosa, tanto no âmbito individual e coletivo, é por meio das 2 doses de vacinação (tríplice viral e tetraviral), assim sendo, na ausência de imunização, 85% das pessoas já terão adquirido essa doença até avançarem na idade adulta, de modo que um terço serão assintomáticas (BRASIL, 2017). As vacinas são compostas pelo vírus vivo atenuado, promovendo imunidade permanente ao indivíduo vacinado, tal imunidade pode ser adquirida, também, após a infecção da doença (TABORDA, 2018).

3 METODOLOGIA 

Objetivando verificar, analisar e quantificar dados secundários, a fim de traçar a incidência de outras doenças infectocontagiosas respiratórias no município de Valença-RJ, durante um período da pandemia do novo coronavírus, e seus perfis epidemiológicos, este, se trata de um estudo quantitativo, descritivo, epidemiológico, de base documental, cujos dados secundários foram coletados na plataforma de informação do Ministério da Saúde do Brasil (DATA-SUS), assim como nos sistemas de informação disponíveis. Os dados extraídos foram submetidos à análise descritiva e apresentados em números absolutos (número de casos novos das doenças respiratórias determinadas no período determinado). Essas fontes de dados foram escolhidas por serem oficiais e confiáveis, com informações completas das variáveis, já citadas, que serão analisadas nesse estudo. Para o cálculo da incidência cumulativa, e consequentemente determinação do risco da contaminação de pessoas por doenças infectocontagiosas supracitadas e determinadas no estudo, em um período da pandemia da COVID-19 no município de Valença – RJ, foi utilizada a proporção entre o número de casos novos das patologias determinadas, com exceção da COVID-19, sobre o número da população sob-risco no início deste período, também determinado. As frequências encontradas no ano de 2020/21, foram comparadas com as frequências dos mesmos períodos, em anos anteriores. Assim sendo, tentou-se correlacionar, o risco dessas outras doenças infectocontagiosas respiratórias, através do cálculo da medida de frequência específica para tal, com as possíveis hipóteses, provocadas pela pandemia do novo coronavírus. Em outras palavras, aproximá-las ou afastá-las mediante aos resultados apresentados, no município de Valença, através da elaboração de dados e materiais que explicitem tal fato, evidenciando a importância de correlacionar o padrão de distribuição, ocorrência e os determinantes de outras doenças respiratórias em plena pandemia da COVID-19, e o efeito das hipóteses associadas sobre os dados apresentados. Por trata-se de dados secundários disponíveis abertamente, online, no DATASUS, não foi necessária a submissão deste trabalho ao CEP (Comitê de ética e pesquisa) 

4 RESULTADOS E DISCUSSÕES 

Os resultados obtidos foram informações referentes às frequências por ano de óbito segundo causa (CID10 3D), dos anos de 2019, 2020, 2021 e o total desses últimos três anos. Ou seja, dados de mortalidade das seguintes doenças: 

J15- Pneumonia bacteriana não classificada em outra parte (NCOP). 
J18- Pneumonia por microorganismo não especificada (NE).
J35- Doenças crônicas das amigdalas e adenóides.
J40- Bronquite não espeficicada (NE) como aguda ou crônica.
J44- Outra doença pulmonar obstrutiva crônica.
J45- Asma.
J69- Pneumonite devida a sólidos e líquidos.
J80- Síndrome do desconforto respiratório do adulto.
J81- Edema pulmonar não especificada (NE) de outra forma.
J84- Outras doenças pulmonares interticiais.
J85- Abcesso de pulmão e do mediastino.
J90- Derrame pleural não classificada em outra parte (NCOP).
A16- Tuberculose de vias respiratórias.
A19- Tuberculose miliar

Com a análise dos dados apresentados no estudo (gráfico 1), é possível observar que houve diminuição de 2019 para 2020 no número de óbito da pneumonia bacteriana não classificada em outra parte (NCOP) porém, nos outros grupos de doenças observadas, essa redução foi pequena ou inexistente ou houve até um pequeno aumento como no caso de outras doenças intersticiais, e derrame pleural NCOP. Já de 2020 para 2021, houve redução das mortes na maioria das doenças, com exceção das doenças crônicas respiratórias não contagiosas como, por exemplo, a bronquite não especificada (NE) e a tuberculose das vias respiratórias.

A tabela 1 traz as frequências dos principais grupos de doença em termos de magnitude da mortalidade e, novamente, mostra uma redução dos anos 2020 e 2021 comparando-se com 2019, com a exceção da tuberculose das vias respiratórias.

Embasando-se nos dados apresentados no estudo, observa uma acentuada redução do número dos óbitos, no período de 2019 para 2020, nas doenças respiratórias estudadas, ressalva da pneumonia bacteriana NCOP, asma e outras doenças pulmonares intersticiais, e derrame pleural NCOP, que aumentaram nesse mesmo intervalo. Outrossim, as doenças crônicas respiratórias não contagiosas como: bronquite NE aguda ou crônica e doença crônica das amigdalas e das adenoides obtiveram um aumento dos desfechos. Abcesso do pulmão e do mediastino também teve um discreto aumento de um caso de um ano para o outro. no período de 2020 para 2021. Todavia, o grupo das doenças respiratórias que obtiveram redução de óbitos no ano anterior, continuou tendo esse decaimento, no ano subsequente. 

Por conseguinte, os impactos da pandemia promoveram subnotificações e redução de coletas de dados epidemiológicos das causas dos óbitos. Além disso, as medidas de prevenção e controle contra a disseminação contra o coronavírus, como o isolamento domiciliar, lavagens das mãos de forma adequada e recorrente uso de máscara, tanto em locais públicos quanto privados pode ter tido influência nesses resultados. Pondera-se, também, a concentração de investimento em testagem somente para COVID, deixando de testar outros possíveis agentes patológicos, ou seja, a falta de investigação.  Assim sendo, essas são variáveis cabíveis, para o entendimento de redução dos óbitos expostos acima.

5 CONCLUSÃO

Os dados apresentados demonstram que durante o período da pandemia do COVID-19 houve uma significante redução no número de casos de mortes por outras doenças infectocontagiosas de transmissibilidade respiratória no município de Valença-RJ, demonstrando o efeito proveniente da pandemia quer seja na adoção de novos hábitos comportamentais quer seja devido a uma menor notificação ou subdiagnóstico dos outros grupos de doenças.

As hipóteses cabíveis, mediante a redução clara do número de casos ou notificações de mortes por outras doenças respiratórias, estão relacionadas ao impacto que a pandemia promoveu nessas notificações e, até mesmo na pesquisa etiológica das mortes de cada paciente no município. A concentração de investimento em testagem somente para COVID, deixando de testar outros possíveis agentes patológicos, ou seja, a falta de investigação, também parece ter contribuído para a redução desses dados. Chama-se a atenção para a importância dos dados, inclusive para que doenças importantes recebam recursos adequados para cuidados de saúde, pesquisa e atividades de promoção à saúde. (PÉREZ-PADILLA et al., 2014) 

O fato de a maioria das pessoas terem respeitado as medidas de controle e prevenção da disseminação contra o coronavírus, como isolamento domiciliar, também, parece ter contribuído para a redução desses dados pois, essas práticas já foram experienciadas em outros momentos históricos, tais como gripe espanhola, Asiática, Gripe A e Hong Kong (CORDEIRO et al., 2020). Estudo que analisou o comportamento do vírus sincicial respiratório (RSV), na região de Porto Alegre, em 2020, concluiu que, também, reduziu sua propagação frente às medidas preventivas abordadas pela saúde pública, como vacinação, distanciamento social e as práticas rigorosas de higiene (VARELA et al., 2021). 

REFERÊNCIAS

CORDEIRO, M.E.C.; CECCON, R.F. A quarentena no enfrentamento às pandemias causadas por doenças respiratórias. Lecturas: Educación Física y Deportes, v.25, n.268, p.101-111, 2020.

Gomes, vânia thais silva et al. A pandemia da covid-19: repercussões do ensino remoto na formação médica. Revista brasileira de educação médica [online], ano 2020, ed. 114, 2 out. 2020. Doi https://doi.org/10.1590/1981- 5271v44.supl.1-20200383. Disponível em: https://www.scielo.br/j/rbem/a/8bxybynftjnsg3nd4rxtmhf/?lang=pt. Acesso em: 5 ago. 2021. 

MINISTÉRIO DA SAÚDE (Brasília). Secretaria de Vigilância em Saúde et al, (ed.). Doenças infecciosas e parasitárias: guia de bolso. PDF. 8. ed. Brasília: Ministério da Saúde, 2010. Departamento de Vigilância Epidemiológica. 

MINISTÉRIO DA SAÚDE (Brasília).. Sobre a doença: O que é COVID-19?. In: Governo Federal (Brasil). Ministério da Saúde, 2020. Disponível em: https://coronavirus.saude.gov.br/sobre-a-doenca. Acesso em: 29 dez. 2020.

OLIVEIRA A. C.; LUCAS T. C.; IQUIAPAZA R. A. O que a pandemia da Covid-19 tem nos ensinado sobre adoção de medidas de precaução?Texto Contexto Enfermagem, v.19, p.1-13, 2020.

PÉREZ-PADILLA, R. et al. Combate às doenças respiratórias: esforços divididos levam à fraqueza. Revista Brasileira de Pneumologia , v. 40, n.3, p. 207, 2014.

SANTOS W.G. Natural history of COVID-19 and current knowledge on treatment therapeutic options. Biomedicine & Pharmacotherapy, v.129, n. 110493, p. 1-18, 2020.

VARELA F.H.et al. Absence of detection of RSV and influenza during the COVID-19 pandemic in a Brazilian cohort: Likely role of lower transmission in the community. J Glob Health, v. 11, n. 05007, 2021, doi:10.7189/jogh.11.05007


12345Discentes do Curso Superior de Medicina do Centro Universitário de Valença (UNIFAA). Campus Valença-RJ