INCIDÊNCIA DE INTERNAÇÕES POR INFARTO AGUDO DO MIOCÁRDIO NA PANDEMIA DE COVID-19: UMA REVISÃO INTEGRATIVA DA LITERATURA

INCIDENCE OF HOSPITALIZATIONS FOR ACUTE MYOCARDIAL INFARCTION DURING THE COVID-19 PANDEMIC: AN INTEGRATIVE LITERATURE REVIEW

REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.10205363


Pedro Henrique Pereira Da Silva1
Giulia Tessari1
Thais Adriano Luiz1
Breno Vilela Mareco1
Bruno Botelho Neves1
Júlia Goulart Carneiro Dias1
Lucas Eduardo Pereira da Silva1


RESUMO: 

Neste artigo, é realizada uma revisão integrativa da literatura para explorar a incidência de internações por infarto agudo do miocárdio (IAM) durante a pandemia de COVID-19. A análise abrange diversos estudos, com o objetivo de compreender a relação entre a presença do vírus e as internações por IAM. A revisão busca identificar padrões, fatores de risco e características clínicas associadas à ocorrência de IAM em pacientes afetados pela COVID-19. Com isso, o trabalho visa contribuir para uma compreensão mais abrangente dos impactos cardiovasculares da pandemia. 

PALAVRAS- CHAVE: Infarto. COVID-19. Incidência. 

ABSTRACT: 

In this article, an integrative literature review is conducted to explore the incidence of hospitalizations due to acute myocardial infarction (AMI) during the COVID-19 pandemic. The analysis encompasses various studies with the aim of understanding the relationship between the presence of the virus and AMI hospitalizations. The review seeks to identify patterns, risk factors, and clinical characteristics associated with the occurrence of AMI in patients affected by COVID-19. Thus, the work aims to contribute to a more comprehensive understanding of the cardiovascular impacts of the pandemic.

KEYWORDS: Infarction. COVID-19. Incidence. 

1. INTRODUÇÃO: 

A pandemia de COVID-19, desencadeada pelo coronavírus SARS-CoV-2, emergiu como um desafio global sem precedentes, afetando a saúde pública, economias e, de maneira singular, os sistemas de saúde em todo o mundo. A rápida disseminação do vírus sobrecarregou estruturas médicas, evidenciando as vulnerabilidades dos sistemas de saúde e destacando a necessidade premente de estratégias eficazes de gerenciamento e prevenção. Pacientes com COVID-19, muitos dos quais apresentam sintomas graves e requerem cuidados intensivos, contribuem para a pressão crescente sobre os recursos hospitalares. Além disso, a complexidade clínica da doença, que se manifesta não apenas como uma infecção respiratória, mas também como uma condição sistêmica multifacetada, desafia as abordagens convencionais de tratamento. 

Um aspecto notável relacionado à pandemia supracitada é a associação entre COVID-19 e eventos cardiovasculares, como o infarto agudo do miocárdio (IAM). Estudos recentes têm apontado para uma correlação entre a infecção pelo SARS-CoV-2 e o aumento da incidência de eventos cardiovasculares, incluindo o IAM. Foram associados como hipótese patogênica dessa doença diversos mecanismos fisiopatológicos, incluindo disfunção endotelial, resposta inflamatória sistêmica, desestabilização de placas, hipóxia levando à incompatibilidade entre oferta e demanda e ativação da cascata de coagulação (ESPOSITO et. al., 2021). A interação entre a infecção viral e o sistema cardiovascular levanta questões cruciais sobre os mecanismos fisiopatológicos subjacentes e destaca a necessidade urgente de investigações mais aprofundadas. 

Segundo Nanavaty (2023), foram identificadas 555.540 internações por IAM somente nos Estados Unidos, das quais 5.818 (1,04%) apresentaram COVID-19 concomitante, elencando um número expressivo de internações associadas ao quadro. Neste contexto, este trabalho científico visa realizar uma revisão integrativa da literatura a respeito da incidência de infarto agudo do miocárdio em pacientes diagnosticados com COVID-19, comparando dados de incidência em pacientes antes e após a pandemia do novo coronavírus. Entender a interseção entre a infecção viral e as complicações cardiovasculares é crucial para aprimorar a gestão clínica desses casos e desenvolver estratégias de prevenção mais eficazes. Além disso, a compreensão da dimensão do impacto cardiovascular da COVID-19 nos sistemas de saúde é fundamental para a adaptação das políticas de saúde pública e a alocação adequada de recursos. 

2. METODOLOGIA: 

2.1 DELINEAMENTO DO ESTUDO: 

O estudo em questão consiste em uma revisão integrativa da literatura disponível, sendo o objetivo deste método obter um conhecimento profundo do fenômeno estudado baseando-se em estudos anteriores sobre o tema. Foram consultadas bases de dados do PubMed (https://www.ncbi.nlm. nih.gov/pubmed/), sendo incluídos artigos publicados entre 2021-2023 nos idiomas inglês, português e espanhol. Para a estratégia de busca foi utilizada a combinação “Incidence of hospitalizations for Acute myocardial infarction during the COVID-19 pandemic” Para extração de dados foram seguidos os seguintes critérios: identificação do artigo, características metodológicas, avaliação das intervenções e dos resultados encontrados. 

Para a seleção dos estudos foram seguidos os seguintes itens: Leitura dos títulos, leitura dos resumos de pré-seleção e leitura na íntegra. 

2.2 DESCRIÇÃO DOS CRITÉRIOS DE INCLUSÃO E EXCLUSÃO:

A pesquisa na base de dados do PubMed resultou em 261 artigos científicos, primeiramente foram identificados 10 artigos duplicados e, portanto, excluídos. Posteriormente, durante a revisão, foram removidos os artigos que não estavam alinhados com o objetivo específico deste estudo. Após essa primeira etapa restaram 13 artigos. Destes, 5 foram excluídos devido a questões relacionadas ao desenho do estudo, resultando em uma seleção de 8 artigos que atendiam aos critérios de interesse estabelecidos para esta pesquisa.

Figura 1 – Fluxograma do estudo.

Figura 2 – Tabela de avaliação dos artigos pela escala Newcastle-Ottawa.

A qualidade dos artigos anexados neste trabalho, foram avaliadas através da escala Newcastle-Ottawa por uma estudante de medicina do sexto ano (figura 2). A pontuação dos estudos acrescentados no artigo foi calculada através de três componentes, seleção dos grupos estudados (0 / 4 pontos), a comparabilidade (0 / 2 pontos) e avaliação do resultado analisado (0 / 3 pontos) sendo assim a pontuação máxima é de 9 pontos, o que representa alta qualidade. A nota dos estudos selecionados foi majoritariamente acima da média. Sendo todos os 6 artigos introduzidos no estudo, variando as notas entre 5 a 8. Nenhum dos estudos foi excluído desta revisão em consenso de todos os participantes da pesquisa. Avaliando a qualidade dos estudos pela escala Newcastle-Ottawa foi identificado um risco de viés baixo para esse tipo de desenho de estudo. 

3. RESULTADOS: 

Os Estados Unidos tiveram 555.440 internações por infarto agudo do miocárdio (IAM) em 2020, nos quais aproximadamente 1% dos pacientes tiveram o diagnóstico de COVID-19 ¹. Apesar do número extremamente alto de casos de IAM, Hyder SA,2022 compararou a taxa de hospitalização por IAMSST entre 2019 (período pré pandemia) e 2020 (durante a pandemia) e encontrou uma redução de 14% durante esse período em um centro de referência terciário no sudeste dos Estados Unidos.5 

Enquanto isso Sutherland N, 2021, evidenciou uma redução significativa no número de internações por IAM na pandemia de COVID-19, porém com um aumento na proporcionalidade de IAMCSST2

Em Tóquio no Japão através dos dados da tokyo cardiovascular care foi comparado o número de internações com a mortalidade por doenças cardiovasculares, principalmente o IAM no período de janeiro a dezembro de 2020 com os de períodos pré-pandêmicos de janeiro de 2018 a dezembro de 2019. Como resultado foi visto que o número de internações por infarto agudo do miocárdio durante a pandemia foi significativamente menor (7%) do que antes da pandemia, com uma TIR de 0,93 (IC 95%; 0,88-0,98)3

Em comparação com a Polônia onde foram coletados dados a partir de um registro multi-institucional envolvendo 10 departamentos de cardiologia, as informações dos pacientes com SCA foram reunidas de junho a outubro de 2020, após o primeiro lockdown na polônia 30 de março a 31 de maio de 2020, e comparadas com o mesmo período de 2019, mostrando que houve 2801 e 2620 hospitalizações por SCA representando 52,8% e 57,9% das admissões por doença arterial coronariana. Sendo vista uma redução de 6,4% nas internações por SCA4.

Na Alemanha, foi realizado um estudo observacional com dados de rotina hospitalar incluindo os pacientes com diagnóstico principal de infarto agudo do miocárdio. Abrangendo um total de 159 hospitais que incluíram 36.329 pacientes no banco de dados, com 12.497 pacientes internados com infarto do miocárdio com supradesnivelamento do segmento ST (STEMI) e 23.832 internados com infarto do miocárdio sem supradesnivelamento do segmento ST (NSTEMI) no período de 2018, 2019 e 2020. Nesta grande amostra representativa de hospitais na Alemanha, o que se observou foi significativamente menos internações por IAMSSST e IAMCSST durante a primeira onda de COVID-19. A razão da taxa de incidência de STEMI em 2020 foi de 0,88 (IC 95% 0,84–0,92) versus 2019 e 0,84 (IC 95% 0,80–0,87) versus 2018, enquanto as razões de incidência correspondentes para NSTEMI foram 0,82 (IC 95% 0,80–0,85) versus 2019 e 0,82 (IC 95% 0,80–0,85) versus 2018.6 

4. CONCLUSÃO: 

Os resultados explicitados no presente estudo demonstraram os impactos individuais de cada localidade que a pandemia de COVID-19 proporcionou sobre a incidência de internações por infarto agudo do miocárdio no período pré-pandêmico no ano de 2019 e durante a corrência do ano de 2020. A revisão integrativa em questão, revelou diferentes desfechos nas diferentes localidades ao redor do mundo. 

Nos Estado Unidos, apesar do aumento em números absolutos do número de internações por IAM no ano de 2020, houve redução significativa em termos percentuais na taxa de incidência de internações decorrente por IAMSSST dentro de um centro de atenção terciária atuante na região sudeste do país. Em contraponto, Sutherland N,2021, identificou uma redução expressiva do número de internações por IAM, porém com aumento em proporção dos casos de IAMCSST. 

No Japão, em concordância com os dados anteriormente mostrados, segundo as apurações da Tokyo Cardiovascular Care, houve uma diminuição nas internações por IAM tendo como período comparativo o período pandêmico e pré-pandêmico. Na Polônia, os registros institucionais provenientes dos departamentos de cardiologia também registraram queda nas hospitalizações por SCA enquanto que na Alemanha, uma grande amostra de um estudo observacional revelou uma redução importante nas internações por IAMCSST e IAMSSST durante a primeira onda registrada de COVID-19, o que culminou em uma incidência menor no ano de 2020 quando comparado aos períodos anteriores. 

Conforme evidenciado nos diversos estudos analisados, foi observada uma significativa redução estatística na incidência de Infarto Agudo do Miocárdio (IAM) em diferentes localidades durante o primeiro ano da pandemia. Neste contexto, emergem diversas conjecturas para explicar tal fenômeno, destacando-se a não procura pelos serviços de saúde como a hipótese preponderante. Essa constatação levanta a questão central: qual é a razão pela qual uma parcela dos pacientes que experienciam um infarto não busca imediatamente atendimento na emergência. 

Diante desse cenário, elaborou-se um tópico abordando possíveis soluções para a problemática identificada. 

4.1 SOLUÇÕES: 

As soluções para o possível problema, incluem uma abordagem integral à população, visando a conscientização sobre a síndrome coronariana aguda e COVID-19, onde o foco devem ser os sinais de alarme que, se presentes, devem levar os pacientes de imediato ao atendimento médico. Essa abordagem pode ser de forma online, via anúncios informativos acerca do tema para que possa atingir os mais diversos grupos populacionais, mas em especial, aqueles que tem um risco maior de desenvolver essa doença. 

4.2 LIMITAÇÕES: 

Por fim, apesar da veracidade e importância dos dados sobre a incidência de internações durante a pandemia de COVID-19, deve-se destacar algumas limitações desta revisão como consequência da particularidade de cada estudo selecionado. 

Inicialmente a diversidade nos métodos utilizados por cada trabalho para definição de IAM pode impactar na confrontação de resultados entre eles. Além disso, diferentes estratégias no enfrentamento da pandemia, medidas restritivas como lockdown e acessibilidade aos serviços disponíveis podem induzir tendências de internações nas diferentes regiões estudadas. O curto período de duração mapeado por cada estudo pode não abranger os possíveis efeitos de longo prazo do comportamento instaurado de evitação a busca pelos serviços de saúde, podendo esse ser considerado um viés de confusão que levou as pessoas a procurarem menos atendimento médico seja por medo de contrair a doença ou piora de uma condição de base. Esse viés elenca a importância de levar em consideração os aspectos sociais e comportamentais. Portanto, é fundamental o entendimento destes dados sempre ajustando suas interpretações às suas limitações intrínsecas, destacando a necessidade de outros estudos relacionados ao tema para um entendimento mais amplo e diverso das internações por IAM no decorrer da pandemia de COVID-19. 

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS: 

1. Nanavaty D, Sinha R, Kaul D, Sanghvi A, Kumar V, Vachhani B, Singh S, Devarakonda P, Reddy S, Verghese D. Impact of COVID-19 on Acute Myocardial Infarction: A National Inpatient Sample Analysis. Curr Probl Cardiol. 2023 Aug 11;49(1 Pt A):102030. doi: 10.1016/j.cpcardiol.2023.102030. Online ahead of print. PMID: 37573898 Review. 

2. Sutherland N, Dayawansa NH, Filipopoulos B, Vasanthakumar S, Narayan O, Ponnuthurai FA, van Gaal W. Acute Coronary Syndrome in the COVID-19 Pandemic: Reduced Cases and Increased Ischaemic Time. Heart Lung Circ. 2022 Jan;31(1):69-76. doi: 10.1016/j.hlc.2021.07.023. Epub 2021 Aug 25. PMID: 34452843 Free PMC article. 

3. Yamamoto T, Harada K, Yoshino H, Nakamura M, Kobayashi Y, Yoshikawa T, Maejima Y, Otsuka T, Nagao K, Takayama M. Impact of the COVID-19 pandemic on incidence and mortality of emergency cardiovascular diseases in Tokyo. J Cardiol. 2023 Aug;82(2):134-139. doi: 10.1016/j.jjcc.2023.01.001. Epub 2023 Jan 20. PMID: 36682714 Free PMC article. 

4. Jankowska-Sanetra J, Sanetra K, Konopko M, Kutowicz M, Synak M, Kaźmierczak P, Milewski K, Kołtowski Ł, Buszman PP. Incidence and course of acute coronary syndrome cases after the first wave of the COVID-19 pandemic. Kardiol Pol. 2023;81(1):22-30. doi: 10.33963/KP.a2022.0250. Epub 2022 Nov 10. PMID: 36354113. 

5. Hyder SA, Schoenl SA, Kesiena O, Ali SH, Davis K, Murrow JR. A 3-year analysis of the impact of COVID-19 pandemic on NSTEMI incidence, clinical characteristics, management, and outcomes. Catheter Cardiovasc Interv. 2022 Dec 21:10.1002/ccd.30530. doi: 10.1002/ccd.30530. Online ahead of print. PMID: 36542751 Free PMC article.

6. Zeymer U, Ahmadli V, Schneider S, Werdan K, Weber M, Hohenstein S, Hindricks G, Desch S, Bollmann A, Thiele H. Effects of the COVID-19 pandemic on acute coronary syndromes in Germany during the first wave: the COVID-19 collateral damage study. Clin Res Cardiol. 2023 Apr;112(4):539-549. doi: 10.1007/s00392-022-02082-3. Epub 2022 Aug 17. PMID: 35978111 Free PMC article. 

7. Esposito L, Cancro FP, Silverio A, Di Maio M, Iannece P, Damato A, Alfano C, De Luca G, Vecchione C, Galasso G. COVID-19 and Acute Coronary Syndromes: From Pathophysiology to Clinical Perspectives. Oxid Med Cell Longev. 2021 Aug 30;2021:4936571. doi: 10.1155/2021/4936571. eCollection 2021. PMID: 34484561 Free PMC article. Review.