REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/fa10202411081936
Valber da Silva Maniçoba1, Fábhio César Gonzaga1, Héllen Vivianny Barros da Silva Sá1, Iana Gonçalves Silva de Souza1, Isael Isac Rodrigues de Menezes1, Isla Vargas Viana Santana1, João Parente de Sá Neto1, Layanne Feitosa da Silva Oliveira1, Maíla Rodrigues de Brito Rocha1, Marianna Souza e Silva1, Natália Lemes Gonzaga1, Priscila Cruz dos Santos Moreira1, Orientadora: Lílian Filadelfa Lima dos Santos Leal2
RESUMO
Este trabalho teve como finalidade levantar as incidências e as características da hanseníase no município de Juazeiro-BA, na faixa de 0 a 14 anos, de 2019 a 2023. Para tal, foi realizado uma parcialização epidemiológica dos casos notificados, tomando como base os dados fornecidos por um órgão de registros municipais. O método aprovado para tal análise foi o quantitativo, visto que somente desta forma foi possível perceber as variações de incidência e a distribuição dos casos no município que, a posteriori, é capaz de delinear seu padrão nas crianças menores de 14 anos. Como resultado, observou–se que durante o período matriculado, haviam sido confirmados 24 casos de hanseníase, com uma variação anual de incidência significativa. Vale destacar, o elevado número de casos registrados em 2022, quando 12 pessoas foram notificadas, enquanto os números de 2021 e 2023 eram nulos, em virtude da subnotificação em decorrência das medidas restritivas impostas pela pandemia de COVID-19. A distribuição dos casos por gênero mostrou uma paridade entre homens e mulheres, em contraste com a tendência nacional, que indica uma prevalência masculina superior. Ademais, identificou–se uma relação entre o baixo nível educacional dos pacientes e a sua maior vulnerabilidade. Conclui–se que, mesmo com a diminuição de casos nos últimos anos, a hanseníase continua sendo um problema de saúde pública na cidade. É essencial intensificar as estratégias de monitoramento epidemiológico e de sensibilização, especialmente em comunidades com menor nível de conscientização.
Palavras-chave: Epidemiologia, Micobacterium Leprae, Norte da Bahia, População Jovem.
INTRODUÇÃO
A hanseníase é uma doença de evolução crônica, infectocontagiosa, caracterizada por lesões neurodermatológicas, que não há predileção por idade, porém é mais comum em adultos do que em crianças. (Silva et al., 2022). Anteriormente conhecida como Lepra, a hanseníase ainda é uma doença extremamente estigmatizante, que acarreta à população afetada preconceito, medo e angústia. (Firmino et al., 2024). Associada a países em desenvolvimento e de regiões tropicais, tendo seu agente etiológico o Mycobacterium leprae, apresenta tropismo pelos nervos periféricos, mucosa respiratória superior e região ocular (Niitsuma et al., 2021).
A doença é transmitida por pacientes do tipo Multibacilares, do tipo virchowiano ou dimorfo que ainda não foram diagnosticados e não iniciaram tratamento. Segundo Santos (2008), estes indivíduos possuem alta carga bacilar o que favorece a transmissão da doença, diferentemente dos pacientes Paucibacilares. Sendo assim a patogênese da hanseníase se subdivide em multibacilar e paucibacilar, na primeira os indivíduos portadores apresentam capacidade de disseminar a outras pessoas e suas manifestações são mais graves, enquanto que, na segunda, os indivíduos portadores têm menor número de lesões e em geral sem a capacidade de infecção. (Ministério da Saúde, 2024).
A transmissão se dá pela via área uma vez que as principais fontes de bactérias estão nas mucosas de via aérea superiores, secreções orgânicas também podem eliminar o bacilo, porém não tem representatividade suficiente na sua transmissão, as lesões de pele podem, entretanto eventualmente serem porta de entrada para a infecção (Jesus et al., 2022).
Ter o conhecimento necessário sobre a doença, suas manifestações e manejos é de extrema importância para os profissionais de saúde, uma vez que segundo Araújo (2023), o não reconhecimento da hanseníase assim como diagnóstico e tratamentos tardios são fatores preponderantes para desfechos clínicos ruins.
Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), os cinco países que apresentam alta prevalência em ordem decrescente de novos casos em hanseníase são, Índia, Brasil, Indonésia, República Democrática do Congo e Banglasdh. Desta forma, o Brasil ocupa a segunda posição em países com mais casos de Hanseníase no mundo, sendo, portanto, um importante problema de saúde pública, com notificação compulsória e investigação obrigatória. (Ministério da Saúde, 2024).
Resultados significativos de reduções nos casos foram obtidos a partir da implementação de pesquisas e melhorias na promoção e educação em saúde, conforme constatado diferenças de cinco milhões em 1980 para 129.192 em 2020 (Mushtaq, 2020).
Corroborando com Mushtaq (2020), a implementação de políticas de rastreamento e monitorização da população aliado ao tratamento contínuo e gratuito ofertado pelo Sistema Único de Saúde (SUS) possibilitou redução de casos na faixa etária de 0 a 14 anos no Brasil, sendo observado de 2.723 em 2009 para 836 em 2022. De modo similar foi observado na região Nordeste, redução de 8,25 em 2009 para 3,42 em 2022 (SINAN, 2022).
Diante do contexto apresentado e relevância do tema, objetivou–se com este trabalho avaliar o perfil de incidência da hanseníase na população de 0 a 14 anos de idade residentes em Juazeiro, Norte do estado da Bahia, no recorte temporal de 2019 a 2023.
A vivência da doença nessa faixa etária pode ser marcada por alterações nas atividades diárias, nas habilidades práticas e no lazer, devido aos sintomas clínicos da hanseníase, aos efeitos adversos dos medicamentos e ao preconceito enfrentado. Esses desafios podem acarretar numerosos prejuízos psicossociais para essa parcela importante da sociedade. Assim, torna–se evidente o impacto da hanseníase na vida das crianças e dos adolescentes, o que requer uma investigação mais profunda desta temática. (Firmino et al., 2024)
A importância deste estudo se dá ao fato de que a ocorrência de hanseníase em crianças e adolescentes é um significativo sinal epidemiológico que demonstra a disseminação e a severidade da doença. Ademais, esse sinal indica também uma alta endemicidade, exposição precoce, grande potencial de transmissão e a inadequação das medidas de controle. (Silva et al., 2022).
Segundo Ministério da Saúde/SVS – Sistema de Informação de Agravos de Notificação, o número de notificações e hanseníase na faixa etária entre 0 e 14 anos no estado da Bahia foi de 48 casos, enquanto em Juazeiro/BA tivemos apenas 2 casos notificados no ano de 2023.
MATERIAL E MÉTODOS
O presente estudo é caracterizado como descritivo/quantitativo e retrospectivo dos casos de hanseníase notificados na população de 0 a 14 anos de idade residentes no município de Juazeiro, Norte do estado da Bahia, com dados secundários obtidos através do Ministério da Saúde/SVS – Sistema de Informação de Agravos de Notificação – SINAN, coletados entre os meses de Agosto a Outubro de 2024.
Adotou-se a estratégia de operacionalização, iniciando através do acesso ao portal DATASUS e seleção dos itens: acesso à informação informações de saúde (TABNET) epidemiológicas e morbidades;; Casos de Hanseníase – Desde 2001 (SINAN) e; Hanseníase desde 2001 (https://datasus.saude.gov.br), abrangência geográfica para o município de Juazeiro–BA, demográficas e socioeconômicas; população residente.
Para coleta de dados, foram incluídos os casos diagnosticados e notificados de hanseníase registrados no SINAN no período de 2019 a 2023. As variáveis de interesse foram coletadas considerando-se todos os anos do período estudado e incluíram o número de casos de hanseníase para o munícipio de Juazeiro–BA, na população de 0 a 14 anos, segundo raça, sexo, classe operacional diagnóstica, forma clínica de notificação, avaliação de incapacidade diagnóstica, lesões cutâneas, baciloscopia de notificação, episódio reacional e esquema terapêutico de notificação.
A taxa de incidência de hanseníase foi calculada dividindo–se o número de casos novos hanseníase (numerador) pelo número da população residente (denominador), e seu quociente multiplicado por 1.000.
Os dados coletados foram tabulados em planilhas do programa Microsoft Office Excel, em seguida foi realizada análise estatística utilizando o programa Sisvar (versão 5.6) a fim de calcular frequências absolutas e relativas, objetivando identificar as características gerais e específicas da amostra estudada e apresentados em gráficos e tabelas.
RESULTADOS E DISCUSSÕES
Entre 2019 e 2023, foram confirmados 24 casos de hanseníase em pacientes no município de Juazeiro, Bahia, os quais foram incluídos neste estudo. A incidência desses casos apresentou variações significativas ao longo dos anos. Em 2019, registraram-se 7 casos, resultando em uma incidência de 13,09. No ano seguinte, em 2020, a taxa reduziu para 9,41. No entanto, em 2022, houve um aumento expressivo, com 12 casos notificados e uma incidência de 22,76. Nos anos de 2021 e 2023, não foram registrados novos casos. A Tabela 1 ilustra a distribuição de novos casos e a incidência de hanseníase no município.
Tabela 1. Incidência da hanseníase na cidade de Juazeiro – BA no intervalo de 2019 – 2023.
Vários estudos abordam as flutuações na incidência de hanseníase ao longo dos anos. Rogério et al. (2021) analisou a variação de casos em diferentes regiões do Brasil e observou que fatores como mobilidade populacional e acesso a serviços de saúde podem influenciar essas flutuações. Os dados de Juazeiro, com um aumento significativo em 2022 após anos de queda, podem refletir mudanças nos padrões de busca por atendimento ou na vigilância epidemiológica.
A incidência de hanseníase no Nordeste do Brasil é uma das mais altas do país, com áreas hiperendêmicas, especialmente em estados como Piauí e Maranhão. Entre 2017 e 2021, o Piauí registrou taxas superiores a 40 casos por
100 mil habitantes, enquanto o Maranhão teve uma média anual de mais de 3.500 diagnósticos. Esses dados destacam a necessidade de diagnóstico precoce e vigilância epidemiológica, principalmente em regiões vulneráveis. A hanseníase ainda representa um desafio significativo, exigindo esforços contínuos para sua eliminação e melhorias nos serviços de saúde (Ribeiro et al., 2018; BRASIL, 2013).
Em uma pesquisa, no ano de 2020, sobre os desafios da atenção básica no enfrentamento da pandemia da Covid–19 no SUS. Constatou a suspensão do Núcleo Ampliado de Saúde da Família e Atenção Básica nas Unidades Básicas de Saúde (37,7%) disponíveis na região Nordeste (Cirino et al., 2021). Nesse contexto, entende–se a escassez de apoio dos profissionais, pode ter se tornado impecilio para as notificações dos casos hansenicos.
Em todos os dados reportados, é necessário levar em consideração a influência da pandemia de COVID–19 na notificação de casos durante os anos de 2020 a 2022. Isso se deve ao fato de que a pandemia provocou uma série de desafios no sistema de saúde brasileiro, dificultando o acesso a consultas médicas e, consequentemente, comprometendo o registro de doenças, como a hanseníase. (Ramos et al., 2024)
Foi comprovado também a variável sexo ao longo dos anos. Em 2019, dos casos registrados, 4 (28,57%) eram do sexo feminino e 3 (21,43%) do sexo masculino. Em 2020, os percentuais masculinos se mantiveram iguais, e uma redução no sexo feminino para 2 (14,28%) casos. No ano de 2021, não houve notificações para o sexo masculino, sendo obtido apenas 1 (7,14) caso do sexo feminino. Em 2022, o número de casos aumentou, com um total de 8 (57,14%) do sexo masculino e 5 (35,71%) do sexo feminino. Em 2023, novamente não foram registradas notificações para o sexo masculino, mas 2 (14,28%) para o sexo feminino.
A Tabela 2 apresenta a distribuição dos casos por sexo e ano de diagnóstico, enquanto as Figuras 1 e 2 ilustram a frequência relativa dos casos masculinos e femininos
Tabela 2. Distribuição dos casos de hanseniase por sexo e ano diagnóstico no município de Juazeiro Bahia.
Figura 1. Dados da frequência relativa masculino de casos notificados de hanseniase em Juazeiro Bahia entre 2019 – 2023.
Figura 2. Dados da frequência relativa feminino de casos notificados de hanseniase em Juazeiro Bahia entre 2019 – 2023.
No presente estudo, a incidência de hanseníase em Juazeiro Bahia, foi equivalente entre os sexos, o que contrasta com a tendência observada no restante do país. Na região Nordeste como um todo, que concentra 42% dos casos de hanseníase no Brasil, há um predomínio de notificações em homens, representando 56,91% dos casos registrados (WHO, 2017). Essa diferença regional ressalta a importância de analisar as particularidades locais na distribuição da doença, a fim de ajustar as estratégias de controle e prevenção às realidades específicas de cada área.
No entanto, destaca–se que, de acordo com Solano et al. (2017), os homens tendem a ser mais negligentes com sua saúde, o que frequentemente resulta em uma procura tardia por atendimento médico. Essa relutância em buscar cuidados pode atrasar o diagnóstico e tratamento, agravando o quadro clínico e contribuindo para a disseminação da doença. Tal comportamento reforça a necessidade de campanhas de conscientização direcionadas ao público masculino, incentivando o autocuidado e a busca precoce por assistência médica.
O estado do Maranhão, segundo Moreira et al. (2017), concentra o maior número de casos de hanseníase, com uma predominância masculina. Esse dado contrasta com os resultados do presente estudo em Juazeiro, Bahia, onde a distribuição dos casos entre homens e mulheres foi igual. Essa diferença destaca a importância de levar em consideração as variações regionais ao analisar a incidência da doença, para que as estratégias de prevenção e tratamento sejam ajustadas de forma mais eficaz às necessidades específicas de cada localidade.
Em relação ao nível de escolaridade dos pacientes incluídos no estudo, foram encontrados os seguintes dados: 7 pacientes tinham entre a primeira e a quarta séries incompletas do ensino fundamental (EF), enquanto 2 pacientes completaram a quarta série do EF. Além disso, 7 pacientes apresentaram o ensino fundamental incompleto, correspondente da quinta à oitava série, e 5 pacientes completaram o ensino fundamental. Esses resultados estão ilustrados na Figura 3, que oferece uma representação visual clara da distribuição do nível de escolaridade entre os participantes do estudo. Essa análise é crucial para compreender o contexto educacional da população afetada e poder auxiliar na formulação de estratégias de saúde pública que levem em consideração a educação como um fator importante na prevenção e no tratamento da hanseníase.
Figura 3. Nível de escolaridade de casos notificados de hanseniase em Juazeiro Bahia entre 2019 – 2023
O nível de escolaridade, sendo um importante indicador de status socioeconômico e conhecimento, exerce uma influência significativa nas decisões relacionadas à saúde. A educação afeta diretamente a compreensão dos pacientes sobre a doença, a relevância do tratamento e a habilidade em seguir corretamente as recomendações da equipe de saúde (Jesus et al., 2023). Portanto, investigar a relação entre o nível de escolaridade e a adesão ao tratamento da hanseníase é essencial para aprimorar as estratégias de controle da doença e promover uma melhor saúde pública.
Existem várias explicações para as altas taxas de hanseníase entre indivíduos com ensino fundamental incompleto. Entre elas, destacam–se a dificuldade de adesão ao tratamento, os desafios que os profissionais de saúde enfrentam para diagnosticar a doença de forma eficaz, e a falta de conscientização sobre a enfermidade. Além disso, é importante salientar que pessoas analfabetas ou com ensino incompleto tendem a apresentar maior probabilidade de serem diagnosticadas com hanseníase, em comparação àquelas que possuem ensino médio completo (Lages et al., 2019).
De modo geral, os achados deste estudo sobre o nível de escolaridade estão em concordância com o que é descrito na literatura, que aponta uma predominância de hanseníase em indivíduos com menor escolaridade. A baixa escolaridade observada nesta pesquisa ressalta a fragilidade da situação socioeconômica dos pacientes, o que aumenta sua vulnerabilidade social e favorece a ocorrência de doenças como a hanseníase. (Macedo et al., 2013).
Em relação às formas clínicas da hanseníase observadas nos pacientes estudados, verificou–se que a forma indeterminada apresentou 2 casos. A forma tuberculoide foi a mais prevalente, com um total de 12 casos registrados, destacando–se como a de maior expressão entre os pacientes. A forma dimorfa teve 11 casos notificados, enquanto a forma virchowiana, caracterizada pela maior gravidade da doença, foi encontrada em 3 casos (Figura 4).
Essa distribuição evidencia a diversidade das manifestações clínicas da hanseníase, com predomínio da forma tuberculoide, que geralmente está associada a uma resposta imunológica mais robusta contra o Mycobacterium leprae.
Figura 4. Forma clínica dos casos notificados de hanseniase em Juazeiro Bahia entre 2019 – 2023.
De acordo com o DATASUS, a forma Dimorfa é a mais prevalente no Brasil, diferindo de Juazeiro, Bahia. Isso ocorre porque ela tem um longo período de incubação, permitindo que o paciente transmita a doença sem saber que a possui, perpetuando um ciclo de contágio. Já a forma Virchowiana, embora mais contagiosa, é rapidamente diagnosticada, o que reduz a chance de transmissão acidental e, portanto, possui um número menor de casos (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2017).
As formas clínicas da doença, como a Dimorfa e Virchowiana, prevalecem na região na região Nordeste. O estado do Rio Grande do Norte, por exemplo, registrou um predomínio da forma Virchowiana entre 2018 e 2022. (Ribeiro Silva Oliveira, 2018 BRASIL, 2013).
Em relação aos casos de recidiva de hanseníase no período compreendido entre 2019 e 2023, observou–se que apenas um caso foi notificado durante esse intervalo. Esse caso específico ocorreu no ano de 2023 (Figura 5). A baixa incidência de recidivas ao longo desses anos pode indicar uma eficácia considerável no tratamento e controle da doença entre os pacientes acompanhados, ou subnotificações. Contudo, o caso registrado em 2023 merece atenção, pois sugere a possibilidade de falhas no tratamento ou outros fatores que podem ter contribuído para a recorrência da doença nesse paciente. Quanto aos casos de recidiva no periodo entre 2019–2023, apenas 01 foi notificado no ano de 2023(Figura 5).
Figura 5. Casos recidiva de hanseniase em Juazeiro Bahia entre 2019 – 2023.
A recidiva em hanseníase é definida como o reaparecimento de sinais e sintomas clínicos da doença em pacientes que foram tratados de forma regular com esquemas oficiais padronizados, receberam alta por cura e, posteriormente, voltam a apresentar a infecção ativa. Normalmente, os casos de recidiva ocorrem após um período superior a cinco anos após a cura. Quando a recidiva é confirmada, esses casos devem ser registrados com um novo modo de entrada, “recidiva” (BRASIL, 2024).
Entre 2013 e 2022, o Nordeste apresentou uma das maiores taxas de recidiva de hanseníase no Brasil. O Boletim Epidemiológico de 2023 destacou que a proporção de casos de recidiva na região continua significativa, exigindo atenção especial no controle e na prevenção. Na Bahia, a situação também é preocupante, com números consideráveis de recidiva registrados ao longo da última década. (BRASIL, 2023).
CONCLUSÕES
O artigo apresenta que, apesar da taxa decrescente nos casos de hanseníase em Juazeiro nos últimos anos, a doença ainda é um grave desafio de saúde pública, sobretudo na faixa etária infantil e adolescente. Tal característica neste grupo etário exprime a transmissão ativa, que reflete alta endemicidade e, consequentemente, falhas nas medidas preventivas e de controle da doença na região.
O estudo também aponta para a questão das condições socioeconômicas como um dos principais determinantes, sendo o nível de educação do paciente, um dos fatores mais determinantes no que se refere a adesão do tratamento da doença. Pacientes com baixo nível de educação sofrem com a falta de compreensão da gravidade da doença, e como consequência, eles contribuem para a manutenção da cadeia de transmissibilidade da patologia
Somado a isso, um aspecto importante é uma influência da pandemia de COVID–19 no dados sobre a doença, uma vez que o corona dificultou os aspectos relacionados ao funcionamento dos serviços de saúde, impedindo a notificação e o tratamento de distintas patologias, entre elas, a doença de Hanseniase. Nesse sentido, a queda nos novos casos, como visto nos dados do datasus, pode estar relacionado a subnotificação da patologia no período em questão.
Além disso, o estudo evidencia a urgência da coordenação e esforços pelas autoridades da área da saúde para realizar o rastreio, diagnóstico oportuno e tratamento adequado, bem como campanhas de conscientização do estigma e necessidade de procura do tratamento médico. Isto é especialmente relevante na luta contra a Hanseníase, já que a população mais jovem é o principal grupo vulnerável devido aos impactos da doença.
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1Discentes do curso de medicina da Faculdade Estácio IDOMED Juazeiro-BA
2Docente do curso de medicina da Faculdade Estácio IDOMED Juazeiro-BA.