INCIDENCE OF MEDIAL TIBIAL STRESS SYNDROME IN AMATEUR ATHLETES
REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/dt10202510072016
Luiz Eduardo Santana Vida Leal1
Orientador: Fábio Tormem2
RESUMO
A síndrome de estresse tibial medial configura-se como uma das principais lesões por sobrecarga que acometem atletas amadores, especialmente praticantes de corrida de rua e modalidades esportivas de impacto. Sua etiologia é multifatorial e relaciona-se a fatores intrínsecos, como alterações biomecânicas, desequilíbrios musculoesqueléticos e características antropométricas, bem como a fatores extrínsecos, a exemplo de progressão inadequada do treinamento, uso de calçados inapropriados e prática em superfícies rígidas. Este trabalho teve como objetivo geral analisar a incidência da síndrome de estresse tibial-medial em atletas amadores, fatores de risco, características clínicas e implicações funcionais para o desempenho esportivo. A metodologia deste trabalho foi a bibliográfica. A síndrome de estresse tibial medial apresentou elevada incidência entre atletas amadores, principalmente em modalidades de impacto como a corrida, sendo desencadeada por fatores de risco multifatoriais que incluem alterações biomecânicas, desequilíbrios musculoesqueléticos e erros de treinamento. Suas características clínicas, como dor difusa e persistente na borda medial da tíbia, exigem diagnóstico diferencial criterioso para evitar complicações e evolução para quadros mais graves. As implicações funcionais demonstraram prejuízo direto ao desempenho esportivo, com redução do rendimento e afastamentos temporários, reforçando a importância da prevenção baseada em progressão gradual de carga, fortalecimento muscular, correção biomecânica e orientação profissional individualizada.
Palavras-chave: Síndrome de estresse tibial-medial. Atletas amadores. Abordagem clínica.
ABSTRACT
Medial tibial stress syndrome is one of the main overuse injuries affecting amateur athletes, especially road runners and participants in high-impact sports. Its etiology is multifactorial and relates to intrinsic factors such as biomechanical alterations, musculoskeletal imbalances, and anthropometric characteristics, as well as extrinsic factors, including inadequate training progression, inappropriate footwear, and training on hard surfaces. This study had the general objective of analyzing the incidence of medial tibial stress syndrome in amateur athletes, its risk factors, clinical characteristics, and functional implications for sports performance. The methodology of this work was bibliographic. Medial tibial stress syndrome showed a high incidence among amateur athletes, particularly in impact modalities such as running, and was triggered by multifactorial risk factors that include biomechanical alterations, musculoskeletal imbalances, and training errors. Its clinical characteristics, such as diffuse and persistent pain along the medial border of the tibia, require a careful differential diagnosis to avoid complications and progression to more severe conditions. The functional implications demonstrated direct impairment of sports performance, with reduced efficiency and temporary withdrawals, reinforcing the importance of prevention strategies based on gradual load progression, muscle strengthening, biomechanical correction, and individualized professional guidance.
Keywords: Medial tibial stress syndrome. Amateur athletes. Clinical approach.
INTRODUÇÃO
A síndrome de estresse tibial medial é reconhecida como uma das lesões por sobrecarga mais frequentes entre praticantes de corrida e esportes de impacto, afetando de forma expressiva atletas amadores. Sua manifestação clínica típica envolve dor difusa ao longo da borda póstero-medial da tíbia, geralmente agravada pelo esforço físico repetitivo e aliviada pelo repouso, embora em casos persistentes a dor possa permanecer mesmo em inatividade. Estudos destacaram que a condição pode corresponder a até 18% das lesões relacionadas ao futebol e atingir 35% de corredores, sendo associada a microlesões decorrentes de estresse repetitivo e sobrecarga óssea e muscular. O diagnóstico clínico é fundamental para diferenciar essa síndrome de fraturas por estresse, síndrome compartimental ou tendinites, contando também com apoio de exames complementares como ressonância magnética e tomografia computadorizada, que permitem identificar edema ósseo, alterações periosteais ou sinais de inflamação crônica (ANDERSON et al., 2024).
Entre os fatores de risco descritos na literatura, destacam-se variáveis biomecânicas e antropométricas. Alterações como aumento da eversão do retropé durante a corrida, encurtamento da banda iliotibial, fraqueza de abdutores e rotadores externos do quadril, maior queda do navicular, rigidez aumentada do tibial posterior e flexor longo dos dedos, além do aumento do índice de massa corporal, foram correlacionadas com maior predisposição para o desenvolvimento da síndrome (SILVA et al., 2024). Tais achados sugerem que a etiologia da condição é multifatorial e que as características individuais de cada corredor influenciam diretamente o risco de lesão.
Além dos aspectos biomecânicos, alterações no padrão de marcha de corredores amadores também foram observadas, indicando que anormalidades na corrida podem favorecer o surgimento de lesões por overuse. Foram identificadas alterações como queda pélvica, valgo dinâmico de joelho, hiperpronação de tornozelo, desalinhamentos da coluna e movimentos descoordenados de membros superiores, presentes em praticamente todos os corredores avaliados em análises de marcha em 2D (TURRA; CEZNE; VIDAL, 2022).
As implicações funcionais da síndrome de estresse tibial medial são relevantes, pois afetam a continuidade do treinamento, reduzem a performance esportiva e podem levar à interrupção temporária ou mesmo ao abandono da prática. Em atletas amadores, essa condição está associada à diminuição do prazer em correr e ao aumento dos custos relacionados à reabilitação, além de impactar negativamente na adesão ao exercício como prática regular de saúde (SILVA et al., 2024). O tratamento geralmente envolve medidas conservadoras, como repouso, crioterapia, exercícios de alongamento e fortalecimento, ajustes no treinamento e uso de palmilhas absorventes de impacto (ANDERSON et al., 2024).
A relevância acadêmica e clínica do tema justifica-se pela necessidade de compreender os fatores que favorecem o aparecimento da síndrome, entre eles aspectos biomecânicos, características musculoesqueléticas individuais, inadequações no treinamento, tipo de calçado e superfície de corrida. Esses elementos, quando não avaliados, contribuem para microlesões acumulativas que prejudicam o rendimento físico e o bem-estar dos atletas. Além disso, por se tratar de uma condição frequente em corredores e praticantes amadores de esportes coletivos, a síndrome representa um desafio para a fisioterapia esportiva, que busca estratégias de prevenção e tratamento eficazes baseadas em evidências.
Quais são a incidência, os fatores de risco, as características clínicas e as implicações funcionais da síndrome de estresse tibial medial em atletas amadores, e de que forma esses aspectos interferem no desempenho esportivo?
O objetivo geral deste trabalho foi analisar a incidência da síndrome de estresse tibial-medial em atletas amadores, fatores de risco, características clínicas e implicações funcionais para o desempenho esportivo e os objetivos específicos foram identificar a prevalência da síndrome de estresse tibial-medial em atletas amadores de diferentes modalidades esportivas, descrever os principais fatores de risco associados ao desenvolvimento da síndrome, como sobrecarga mecânica, biomecânica inadequada e condições musculoesqueléticas e avaliar as repercussões clínicas e funcionais da síndrome de estresse tibial-medial no desempenho físico e na prática esportiva dos atletas amadores.
REVISÃO BIBLIOGRÁFICA
Definição e aspectos conceituais da síndrome de estresse tibial-medial e a incidência e prevalência em atletas amadores de diferentes modalidades
A síndrome de estresse tibial medial é uma condição musculoesquelética caracterizada por dor difusa na região póstero-medial da tíbia, resultante de sobrecarga mecânica repetitiva. Essa sobrecarga promove inflamação periosteal, microlesões ósseas e comprometimento funcional progressivo, diferenciando-se de fraturas completas por apresentar evolução gradativa e relação direta com a intensidade da atividade física (PAI et al., 2017). A etiologia multifatorial inclui fatores biomecânicos, como pronação excessiva do pé e desalinhamentos posturais, além de elementos intrínsecos, como densidade mineral óssea e composição corporal. A dor inicial costuma surgir apenas durante o esforço, mas pode evoluir para persistência em repouso, prejudicando tanto o desempenho quanto a adesão à prática esportiva (SOUZA; CORRÊA, 2022).
Barbosa et al. (2022) ressaltaram que o aumento expressivo da prática esportiva no século XXI elevou a ocorrência de fraturas e lesões por estresse em ossos longos, como a tíbia, tornando a síndrome de estresse tibial medial uma das afecções mais recorrentes entre atletas de impacto. Esse crescimento decorre tanto da popularização da corrida e de modalidades recreativas de endurance quanto da busca por saúde e qualidade de vida, o que ampliou a exposição a fatores de risco. A literatura aponta que a sobrecarga repetitiva compromete o processo fisiológico de remodelação óssea, provocando microfissuras e, em estágios mais graves, predisposição a fraturas.
Souza e Corrêa (2022) analisaram a associação entre características físicas, nível de atividade e síndrome de estresse tibial medial em corredores recreativos, observando que variáveis como acompanhamento profissional e quilometragem percorrida influenciaram diretamente na incidência da condição. O estudo identificou risco cinco vezes maior em corredores supervisionados, possivelmente pela intensidade imposta nos treinos, e reforçou que distâncias superiores a 20 km semanais elevam a probabilidade de ocorrência da síndrome. Esses achados reforçam a necessidade de considerar não apenas o volume, mas também a progressão adequada da carga de treino.
A prevalência da síndrome varia de acordo com a população analisada. Em Curitiba, pesquisa com 195 corredores amadores revelou que 16,4% apresentaram lesões, sendo a síndrome de estresse tibial medial a mais relatada (TEIXEIRA, 2017). Essa proporção confirma que a condição representa uma das principais causas de afastamento de corredores recreativos, especialmente em provas de até 10 km, praticadas pela maioria dos entrevistados. Em outro estudo, Ramos et al. (2022) destacaram que fatores como sobrepeso, má técnica de corrida e ausência de orientação adequada contribuem para a elevação do risco, e ressaltaram que o joelho e a tíbia estão entre as estruturas mais afetadas em corredores de rua, com alta prevalência de dor persistente.
A definição conceitual da síndrome também está atrelada ao diagnóstico diferencial, visto que seus sintomas podem ser confundidos com tendinopatias, síndrome compartimental ou fraturas por estresse. Os métodos de imagem, como ressonância magnética e cintilografia óssea, auxiliam na exclusão dessas condições, mas o diagnóstico clínico permanece central (PAI et al., 2017).
Estudos epidemiológicos reforçam que a incidência da síndrome é elevada em modalidades como corrida de rua, futebol, basquete e dança, nas quais o impacto repetitivo sobre os membros inferiores é intenso (PAI et al., 2017). Souza e Corrêa (2022) destacaram que a distribuição da carga de treino e a adaptação do corpo ao esforço são fatores determinantes, visto que cargas elevadas aplicadas de forma abrupta favorecem o surgimento da síndrome. Ramos et al. (2022) complementaram apontando que a corrida de rua, uma das práticas esportivas que mais cresce mundialmente, apresenta prevalência de lesões variando de 19% a 80%, com destaque para o joelho e a tíbia.
O estudo de Barbosa et al. (2022) relacionou ainda a síndrome de estresse tibial medial ao envelhecimento populacional, salientando que a maior expectativa de vida e o aumento da prática esportiva também impactaram a ocorrência de fraturas por estresse e lesões ósseas em indivíduos amadores e recreativos.
A análise da prevalência mostra discrepâncias relevantes entre diferentes grupos. Em corredores de ensino médio no Japão, a taxa chegou a 45% em três anos de acompanhamento, enquanto nos Estados Unidos foi de 15,2% em um período de 13 semanas (SOUZA; CORRÊA, 2022). Essas diferenças podem ser atribuídas ao nível de treinamento, intensidade da prática e fatores socioculturais, além da metodologia de investigação adotada. Entre corredores recreativos brasileiros, dados confirmam prevalências significativas, reforçando que a síndrome é uma realidade clínica relevante para a fisioterapia esportiva.
Teixeira (2017) evidenciou que a síndrome de estresse tibial medial se destacou como a lesão mais comum entre corredores amadores de Curitiba e região metropolitana, o que converge com a literatura internacional. O trabalho reforçou que características como volume semanal de corrida acima de 30 km, ausência de acompanhamento adequado e tempo de prática superior a cinco anos foram variáveis associadas à maior prevalência da condição. Ramos et al. (2022) acrescentaram que práticas inadequadas, falta de orientação e fatores anatômicos individuais, como alinhamento do joelho e pronação excessiva, também estão entre os principais determinantes da síndrome.
Fatores de risco associados: sobrecarga mecânica, biomecânica inadequada e condições musculoesqueléticas
A síndrome de estresse tibial medial apresenta etiologia multifatorial, em que a sobrecarga mecânica, as alterações biomecânicas e as condições musculoesqueléticas individuais se destacam como fatores de risco determinantes para o seu desenvolvimento. A literatura recente tem enfatizado que o desequilíbrio entre a carga aplicada ao sistema musculoesquelético e a capacidade de adaptação óssea e muscular representa o ponto central na gênese da síndrome (ANDERSON et al., 2024).
No campo da sobrecarga mecânica, o aumento abrupto do volume e da intensidade de treinos em superfícies rígidas, somado ao uso de calçados inadequados ou desgastados, contribui para o acúmulo de micro traumas no periósteo tibial. A pressão repetitiva gera microlesões além da capacidade de reparo fisiológico, levando a processos inflamatórios e dor persistente na borda medial da tíbia (SILVA et al., 2024). A progressão não planejada do treinamento é descrita como um dos principais erros associados ao surgimento da síndrome, sobretudo em atletas amadores que muitas vezes não recebem orientação profissional adequada (LOPES et al., 2021). Além disso, fatores ambientais, como terreno irregular e excesso de impacto, intensificam a sobrecarga sobre as estruturas ósseas e musculares da perna (ANDERSON et al., 2024).
Do ponto de vista biomecânico, alterações no padrão de movimento durante a corrida ou em outras atividades de impacto representam elementos-chave no desencadeamento da síndrome de estresse tibial medial. A pronação excessiva do pé durante a marcha e corrida tem sido consistentemente relacionada à síndrome, uma vez que promove aumento da eversão do retropé e maior tensão sobre a tíbia medial (SILVA et al., 2024). Turra, Cezne e Vidal (2022) analisaram corredores amadores e identificaram múltiplas anormalidades na marcha, todas relacionadas à sobrecarga em articulações, tendões e músculos. O estudo revelou que 100% dos atletas avaliados apresentaram ao menos uma alteração biomecânica, e parte significativa relatou dor crônica ou lesões prévias, reforçando a relevância desse fator. A fraqueza de grupos musculares específicos, como abdutores e rotadores externos do quadril, também se relaciona com a instabilidade da pelve e consequente aumento de cargas assimétricas nos membros inferiores (SILVA et al., 2024).
As condições musculoesqueléticas individuais também interferem de forma decisiva na predisposição à síndrome de estresse tibial medial. O aumento do índice de massa corporal (IMC) foi identificado como fator de risco em diferentes estudos, já que eleva as forças compressivas sobre a tíbia e retarda a adaptação óssea ao esforço (LOPES et al., 2021). Silva et al. (2024) reforçou essa associação, acrescentando que alterações como queda excessiva do navicular, encurtamento da banda ílio tibial e rigidez aumentada do tibial posterior favorecem desequilíbrios estruturais que contribuem para a sobrecarga. O desequilíbrio de forças musculares, especialmente nos músculos tibial anterior, sóleo e gastrocnêmio, compromete a dissipação do impacto durante a corrida, tornando o osso mais suscetível a microfraturas (LOPES et al., 2021).
Becker e Wu (2018) discutiram que a intensidade do exercício e as superfícies de treinamento, quando associadas a limitações biomecânicas, favorecem o desenvolvimento de periostite e arqueamento tibial, fenômenos frequentemente associados à síndrome de estresse tibial medial. Nesse sentido, a flexão repetitiva e exagerada da tíbia, sem a devida compensação muscular, intensifica a pressão óssea e acelera o processo de lesão.
Turra, Cezne e Vidal (2022) evidenciaram que as anomalias biomecânicas detectadas em corredores amadores estão diretamente ligadas à ausência de acompanhamento técnico especializado, o que reforça a necessidade de avaliação funcional antes da prescrição de treinos. Essa análise permite a correção de padrões de movimento inadequados e a implementação de estratégias de fortalecimento direcionadas, reduzindo o risco de sobrecarga e consequentes lesões.
Silva et al. (2024) acrescentou que a combinação de aumento da eversão do retropé com IMC elevado mostrou-se um dos achados mais consistentes entre os corredores avaliados, sendo considerados fatores preditivos robustos para a síndrome de estresse tibial medial. Outros elementos, como rigidez do flexor longo dos dedos e do tibial posterior, maior queda pélvica durante a corrida e encurtamento de músculos estabilizadores, aparecem em menor frequência, mas ainda configuram riscos relevantes.
Os dados reunidos por Lopes et al. (2021) reforçam que a síndrome de estresse tibial medial decorre de um desequilíbrio entre carga aplicada e resistência dos tecidos, sendo mais frequente em corredores de rua, especialmente os de longas distâncias. O estudo destacou que atletas com histórico de lesões prévias no terço distal da perna apresentam risco aumentado de desenvolver novos episódios, o que evidencia a importância do monitoramento contínuo e da reabilitação adequada.
Anderson et al. (2024) salientaram que a prevenção passa pela compreensão integral desses fatores, de modo que intervenções eficazes devem considerar não apenas a correção biomecânica e o fortalecimento muscular, mas também a gestão adequada da carga de treino. Essa abordagem multifatorial permite reduzir a incidência da síndrome, otimizar o desempenho esportivo e preservar a integridade musculoesquelética dos atletas amadores.
Características clínicas e diagnóstico diferencial e as implicações funcionais para o desempenho esportivo
A síndrome de estresse tibial medial apresenta manifestações clínicas bem definidas, que permitem distingui-la de outras afecções, mas que também exigem atenção para evitar erros diagnósticos. Os principais sintomas envolvem dor difusa ao longo da borda póstero-medial da tíbia, geralmente localizada no terço distal, que surge durante a prática esportiva e tende a diminuir com o repouso. Essa dor pode ser bilateral e apresenta caráter progressivo, tornando-se mais intensa à medida que a carga de treino aumenta. Além da dor, observa-se em alguns casos sensibilidade à palpação da região acometida, edema discreto e espessamento subcutâneo, o que pode confundir a avaliação inicial (ANDERSON et al., 2024).
No diagnóstico diferencial, a exclusão de fraturas por estresse é fundamental, já que ambas as condições compartilham fatores de risco semelhantes, como sobrecarga mecânica e excesso de impacto. Entretanto, enquanto a síndrome de estresse tibial medial se manifesta por dor difusa e extensa, as fraturas apresentam dor focal e mais intensa, que tende a persistir inclusive em repouso. Outras condições, como síndrome compartimental crônica e tendinopatias, também podem gerar dor em corredores e atletas amadores, exigindo uma investigação clínica detalhada. Embora a avaliação clínica seja considerada o padrão-ouro, exames de imagem, como radiografia, ressonância magnética e cintilografia óssea, são indicados em casos de dúvida diagnóstica ou quando há necessidade de descartar complicações (LOPES et al., 2021).
Ramos et al. (2022) reforçaram que a prática de corrida em superfícies inadequadas e sem acompanhamento técnico contribui para o aumento de lesões, destacando a prevalência da síndrome como uma das mais comuns entre corredores de rua. O estudo apontou que atletas que relataram dor crônica na tíbia frequentemente apresentaram diagnóstico tardio, o que reforça a necessidade de identificação precoce das manifestações clínicas.
Teixeira (2017) evidenciou que, em Curitiba, 16,4% dos corredores amadores relataram a síndrome como a principal lesão associada à prática da corrida de rua. Os dados mostraram que a maioria dos casos ocorreu em indivíduos sem acompanhamento profissional e com volume semanal superior a 30 km, o que evidencia a relação entre fatores extrínsecos e a manifestação clínica. A ausência de orientação adequada dificultou o reconhecimento precoce da dor característica, o que levou a maior tempo de afastamento esportivo.
Turra, Cezne e Vidal (2022) acrescentaram à discussão a análise biomecânica de corredores amadores, identificando que 100% dos avaliados apresentaram alguma anormalidade na marcha, sendo que parte deles relatou dor crônica relacionada à prática esportiva. As alterações na biomecânica, como pronação excessiva, aumento do valgo de joelho e queda pélvica, aumentaram a sobrecarga sobre a tíbia, favorecendo o desenvolvimento da síndrome. Esses achados reforçam a importância da avaliação funcional no diagnóstico diferencial, já que a correção de desvios biomecânicos pode auxiliar na prevenção e no manejo clínico.
As implicações funcionais da síndrome para o desempenho esportivo são relevantes, uma vez que a dor persistente compromete a execução técnica e reduz a tolerância ao esforço. Anderson et al. (2024) destacaram que atletas acometidos tendem a apresentar queda de rendimento, dificuldade em manter o volume de treino e aumento no risco de afastamentos prolongados. A dor recorrente, além de limitar a performance, pode gerar impacto psicológico negativo, como frustração e abandono da prática esportiva.
De acordo com Lopes et al. (2021), a fadiga muscular associada à síndrome reduz a eficiência da absorção de impacto durante a corrida, o que aumenta a sobrecarga óssea e gera alterações compensatórias em outras articulações, como joelhos e quadris. Essa condição contribui para maior gasto energético e diminuição da economia de corrida, repercutindo diretamente na performance. Ramos et al. (2022) complementaram que corredores lesionados relataram não apenas dor, mas também redução da cadência e perda de velocidade, confirmando o impacto funcional negativo da síndrome.
Teixeira (2017) observou que a ocorrência da síndrome em corredores amadores não apenas levou a afastamentos, mas também a modificações no padrão de treino, com diminuição de intensidade e volume, o que comprometeu a evolução esportiva planejada. Essa limitação prolongada repercute na motivação e na continuidade da prática, revelando a dimensão do problema para atletas que, em sua maioria, buscam a corrida como forma de lazer e promoção da saúde.
Turra, Cezne e Vidal (2022) reforçaram que, ao não corrigir as anormalidades biomecânicas, a síndrome pode se tornar recorrente, gerando ciclos de lesão e recuperação que prejudicam a consistência do treinamento. Esse aspecto compromete o desenvolvimento da performance e aumenta o risco de outras lesões associadas, evidenciando a interdependência entre diagnóstico clínico, correção funcional e desempenho esportivo.
Abordagens de tratamento e estratégias de prevenção
O tratamento e a prevenção da síndrome de estresse tibial medial têm sido amplamente discutidos na literatura, destacando tanto as intervenções conservadoras quanto as estratégias preventivas que visam reduzir a recorrência e os impactos funcionais nos atletas. A escolha da abordagem terapêutica depende da gravidade da condição, do tempo de evolução dos sintomas e das características individuais do praticante, mas há consenso de que o manejo precoce e multifatorial é essencial.
Segundo Barbosa et al. (2022), o tratamento inicial deve priorizar o repouso relativo, evitando atividades que intensifiquem a dor, associado a medidas anti-inflamatórias como crioterapia e uso de analgésicos simples. Essa conduta favorece a recuperação tecidual e reduz o risco de progressão para fraturas por estresse. Os autores ainda ressaltaram que, nos casos mais graves, é possível a indicação de imobilização temporária e até intervenção cirúrgica em situações de fraturas confirmadas, embora a maior parte dos casos responda bem a métodos conservadores.
Anderson et al. (2024) reforçaram que o tratamento conservador deve incluir fisioterapia focada no fortalecimento da musculatura estabilizadora dos membros inferiores, na correção de desvios biomecânicos e na reeducação da marcha. Técnicas como exercícios excêntricos, alongamento de músculos encurtados e trabalho de propriocepção são fundamentais para restabelecer o equilíbrio entre carga aplicada e capacidade de absorção do impacto ósseo e muscular.
No contexto de terapias complementares, Pai et al. (2017) investigaram a aplicação da terapia por ondas de choque extracorpórea, reconhecida por seus efeitos analgésicos e anti-inflamatórios. Embora alguns estudos apontem benefícios no alívio da dor e na melhora funcional, os autores ressaltaram que ainda não há evidências consistentes que sustentem seu uso rotineiro, devido à baixa qualidade metodológica e amostras reduzidas nas pesquisas disponíveis.
Souza e Corrêa (2022) observaram que a modificação do treinamento é uma das medidas mais relevantes para o manejo da síndrome de estresse tibial medial. A progressão gradual da carga, respeitando períodos de descanso e adaptação fisiológica, foi considerada um fator protetor contra a reincidência. O estudo demonstrou que corredores recreativos supervisionados, submetidos a programas mais intensos, apresentaram risco aumentado para a síndrome, o que evidencia a necessidade de individualização das prescrições de treino.
Silva et al. (2024) apontou que a prevenção deve englobar a análise de fatores de risco intrínsecos, como aumento do índice de massa corporal, queda excessiva do navicular e fraqueza dos músculos abdutores do quadril. A correção desses fatores por meio de fortalecimento, controle de peso e exercícios funcionais contribui significativamente para reduzir a probabilidade de desenvolvimento da síndrome.
Becker e Wu (2018) destacaram que a sobrecarga mecânica repetitiva, quando não acompanhada de repouso adequado, compromete o processo fisiológico de remodelação óssea, predispondo à periostite e às microfraturas. Dessa forma, a prevenção deve considerar ciclos de treino que alternem intensidade e recuperação, de modo a permitir o fortalecimento progressivo do osso.
A análise de Barbosa et al. (2022) ainda reforçou a importância da detecção precoce e do relato imediato de dor em atletas, pois o diagnóstico tardio prolonga o tempo de recuperação e aumenta o risco de afastamentos esportivos. Nesse sentido, programas educativos voltados a atletas amadores e treinadores sobre sinais iniciais da síndrome são considerados fundamentais na prevenção.
METODOLOGIA
Este estudo caracterizou-se como uma revisão de literatura de caráter descritivo e analítico, fundamentada em bases científicas nacionais e internacionais. A busca dos artigos foi realizada entre agosto e setembro de 2025, contemplando publicações disponíveis no período de 2017 a 2025.
Foram utilizadas as bases de dados SciELO, LILACS e Google Scholar, de modo a garantir amplitude na recuperação das produções relevantes. As palavras-chave empregadas foram: “Síndrome de estresse tibial-medial”, “Atletas amadores” e “Abordagem clínica”.
Os critérios de inclusão compreenderam artigos originais, revisões sistemáticas, estudos observacionais e ensaios clínicos que abordaram a síndrome de estresse tibial medial em atletas amadores, enfatizando incidência, fatores de risco, características clínicas ou implicações funcionais para o desempenho esportivo.
Os critérios de exclusão englobaram estudos com populações exclusivamente de atletas profissionais ou militares, relatos de caso isolados, resumos de eventos sem publicação integral, textos opinativos, além de produções que não apresentaram resultados diretamente relacionados à síndrome de estresse tibial medial no público-alvo definido.
O processo de seleção ocorreu em duas etapas. Primeiramente, realizou-se a leitura dos títulos e resumos para triagem inicial conforme os critérios de elegibilidade. Em seguida, os textos completos dos artigos potencialmente relevantes foram avaliados para confirmar a inclusão. O material selecionado foi organizado em planilhas eletrônicas contendo informações sobre autores, ano de publicação, país, tipo de estudo, população investigada, principais achados e conclusões.
A análise dos dados se deu de forma narrativa e comparativa, destacando convergências e divergências entre os estudos. Foram priorizados os aspectos relacionados à incidência da síndrome em atletas amadores, os fatores de risco descritos, os sinais clínicos mais frequentemente relatados e as repercussões funcionais para o desempenho esportivo.
RESULTADOS
Quadro 1: Análise dos estudos sobre a síndrome de estresse tibial medial em atletas amadores
Autor | Objetivo | Metodologia | Resultados | Conclusão |
Anderson et al. (2024) | Melhorar as práticas clínicas e diminuir o impacto da doença na população que praticam esportes | Revisão sistemática em bases como PubMed, MedlinePlus, SciELO e Google Acadêmico. | A Síndrome do Estresse Tibial Medial manifesta-se como dor na borda medial da tíbia, relacionada a sobrecarga e microlesões; diagnóstico diferencial é essencial; tratamento conservador é eficaz. | A prevenção da Síndrome do Estresse Tibial Medial deve focar em calçados adequados, progressão gradual de treino e intervenções baseadas em evidências para reduzir impacto em atletas. |
Silva et al. (2024) | Realizar revisão narrativa para investigar fatores de risco da Síndrome do Estresse Tibial Medial em corredores, como alterações biomecânicas, IMC e fatores musculoesqueléticos. | Revisão narrativa conduzida em 2023 na base PubMed, incluindo artigos em inglês e português. | Identificou como fatores de risco: aumento de eversão do retropé, IMC elevado, fraqueza muscular, encurtamento da banda iliotibial, entre outros. | O aumento da pronação do pé e do IMC são fatores diretamente relacionados à Síndrome do Estresse Tibial Medial; abordagem multifatorial é necessária para prevenção. |
Barbosa et al. (2022) | Analisar a ocorrência de fraturas por estresse em atletas e observar os fatores de risco e prevenção. | Revisão de literatura sistemática e relatos de caso, avaliando artigos de 2013 a 2022. | Identificou fatores de risco como intensidade do treinamento, superfície de treino, fatores hormonais e nutricionais, e destacou a importância do diagnóstico precoce. | Fraturas por estresse estão relacionadas ao aumento da prática esportiva e envelhecimento populacional; prevenção precoce é fundamental. |
Ramos et al. (2022) | Evidenciar as práticas de prevenção das principais lesões no joelho de atletas amadores de corrida de rua | Revisão bibliográfica qualitativa, com seleção de artigos publicados entre 2005 e 2021. | Apontou que lesões em joelhos são as mais comuns em corredores de rua; prevenção deve incluir orientação profissional e estratégias de treino adequado. | Prevenção de lesões deve considerar fatores como sobrepeso, falta de orientação e intensidade inadequada; acompanhamento profissional é essencial. |
Souza e Corrêa (2022) | Investigar se existe associação entre as variáveis de treinamento e a presença de SEMT em corredores recreativos. | Estudo observacional transversal, com coleta de dados de corredores recreativos divididos em grupos controle e acometidos por Síndrome do Estresse Tibial Medial. | Corredores supervisionados apresentaram risco cinco vezes maior de desenvolver Síndrome do Estresse Tibial Medial; menor quilometragem semanal reduziu risco da síndrome. | A supervisão profissional e características de treino influenciam no risco de Síndrome do Estresse Tibial Medial; estratégias de prevenção devem ser individualizadas. |
Turra, Cezne e Vidal (2022) | Descobrir distúrbios biomecânicos presentes na marcha de corredores amadores. | Pesquisa descritiva, quali-quantitativa e laboratorial com filmagem em 2D da marcha de 16 corredores amadores. | Foram identificadas 20 anormalidades biomecânicas; todos os atletas apresentaram ao menos uma, sendo seis com dores crônicas e dez com histórico de lesões. | A análise biomecânica permite identificar alterações que, se corrigidas, podem reduzir o risco de lesões e melhorar a performance. |
Lopes et al. (2021) | Identificar fatores de risco, diagnóstico e atuação fisioterapêutica no tratamento da síndrome de estresse tibial medial. | Revisão de literatura qualitativa, de caráter descritivo, com levantamento em PubMed, Google Scholar e SciELO. | A SETM foi associada a fatores como IMC elevado, queda do navicular, aumento da ADM de flexão plantar e desequilíbrios musculares. | Não existe protocolo único e eficaz de tratamento; a abordagem deve ser multifatorial e individualizada. |
Becker e Wu (2018) | Melhorar as práticas clínicas e diminuir o impacto da doença na população que praticam esportes. | Revisão sistemática da literatura, utilizando bases como PubMed, MedlinePlus, SciELO e Google Acadêmico. | A SETM é caracterizada por dor na tíbia medial causada por uso excessivo; tratamento inclui repouso, crioterapia, palmilhas e exercícios de fortalecimento. | A prevenção da SETM deve priorizar calçados adequados, progressão de treino e estratégias fisioterapêuticas individualizadas. |
Pai et al. (2017) | Avaliar a eficácia da terapia por ondas de choque extracorpórea no tratamento da síndrome de estresse tibial medial. | Revisão da literatura em bases como Medline/Pubmed, SciELO, LILACS, Cochrane e PEDro, incluindo apenas estudos clínicos em humanos. | Foram incluídos 3 estudos clínicos, totalizando 166 pacientes; houve variação nos protocolos de ondas de choque, mas sem evidências conclusivas de eficácia. | Ainda não há consenso sobre a eficácia da terapia por ondas de choque na SETM, sendo necessários estudos mais robustos. |
Teixeira (2017) | Identificar lesões mais prevalentes em corredores amadores de Curitiba e região metropolitana. | Estudo observacional transversal com aplicação de questionários a 195 corredores amadores de Curitiba. | Das lesões relatadas, 16,4% dos corredores apresentaram SETM, sendo mais prevalente em homens de 31 a 45 anos que treinavam sem acompanhamento. | A SETM foi a lesão mais prevalente entre os corredores avaliados; a ausência de acompanhamento profissional aumentou o risco. |
Fonte: O autor.
DISCUSSÃO
O conjunto de artigos anexados trouxe contribuições relevantes e complementares sobre a síndrome de estresse tibial medial (SETM), especialmente no contexto dos atletas amadores. A comparação entre os achados permite identificar pontos de convergência quanto à definição, fatores de risco, prevalência e estratégias de manejo, mas também evidencia divergências em relação à interpretação de determinados aspectos clínicos e preventivos.
Anderson et al. (2024) destacaram que a SETM é uma das lesões por uso excessivo mais comuns em corredores, caracterizada por dor ao longo da borda medial da tíbia, geralmente desencadeada por microlesões decorrentes de sobrecarga repetitiva. O estudo reforçou a necessidade de diagnóstico diferencial preciso para distinguir a síndrome de fraturas por estresse e de outras condições musculoesqueléticas, ressaltando ainda a importância de intervenções conservadoras, como repouso relativo, crioterapia, exercícios de alongamento e fortalecimento, além de uso de palmilhas absorventes. Barbosa et al. (2022), embora tenham abordado mais diretamente as fraturas por estresse, também destacaram a tíbia como local frequente de lesões, relacionando a sobrecarga mecânica a fatores como aumento da prática esportiva e envelhecimento populacional. Nesse sentido, ambos convergem ao relacionar a prática esportiva intensa e repetitiva à predisposição para microlesões ósseas que, quando não diagnosticadas precocemente, podem evoluir para quadros mais graves.
Silva et al. (2024) avançou no entendimento dos fatores de risco específicos da SETM, relacionando a síndrome a alterações biomecânicas como aumento da eversão do retropé, queda do navicular, encurtamento da banda iliotibial e fraqueza dos abdutores do quadril. Esses achados dialogam diretamente com os apresentados por Anderson et al. (2024), que também atribuíram o desenvolvimento da síndrome a desequilíbrios musculoesqueléticos e biomecânicos, reforçando a abordagem multifatorial da lesão. A diferença entre ambos está na profundidade da análise: Silva et al. (2024) concentrou-se na investigação detalhada dos fatores de risco em corredores, enquanto Anderson et al. (2024) ofereceram uma revisão mais ampla que incluiu diagnóstico, tratamento e prevenção.
Já Ramos et al. (2022) apresentaram um olhar voltado para as práticas preventivas em corredores amadores, enfatizando a relevância da atuação de profissionais de educação física no acompanhamento e orientação desses atletas. Embora o foco principal tenha sido as lesões no joelho, o estudo trouxe contribuições para a discussão da SETM ao destacar a sobrecarga mecânica, o sobrepeso e a falta de orientação como fatores determinantes para o surgimento de lesões nos membros inferiores. Essa perspectiva complementa os achados de Silva et al. (2024), que também apontaram o aumento do índice de massa corporal como variável associada à síndrome, evidenciando um consenso de que fatores extrínsecos relacionados ao treino e ao acompanhamento adequado exercem papel decisivo no desenvolvimento ou prevenção da lesão.
Os resultados de Anderson et al. (2024) e Ramos et al. (2022) também convergem ao salientar a importância de medidas preventivas, como progressão gradual da carga de treino, escolha adequada de calçados e atenção ao desgaste das superfícies de corrida. No entanto, Ramos et al. (2022) ressaltaram a ausência de orientação profissional como agravante importante, enquanto Anderson et al. (2024) destacaram mais os aspectos clínicos e terapêuticos. Essa diferença demonstra que, embora ambos reconheçam a importância da prevenção, cada autor a abordou sob uma perspectiva distinta: clínica em Anderson e educacional em Ramos.
Barbosa et al. (2022), ao focarem especificamente nas fraturas por estresse, identificaram que a tíbia, a fíbula e o úmero são ossos frequentemente acometidos, especialmente em função da intensidade dos treinamentos e da sobrecarga mecânica. Esse ponto de vista se aproxima das conclusões de Anderson et al. (2024), que também atribuíram o desenvolvimento da SETM ao estresse repetitivo sobre os ossos da tíbia. Contudo, Barbosa et al. (2022) ampliaram o escopo ao incluir o papel do envelhecimento e da osteoporose como fatores de risco adicionais, aspectos menos abordados pelos demais autores analisados.
As divergências mais evidentes surgem quando se analisa a eficácia de determinadas intervenções. Enquanto Anderson et al. (2024) recomendaram o uso de exercícios específicos de fortalecimento e alongamento, além de palmilhas e ajustes de treino como práticas de primeira escolha no tratamento, Silva et al. (2024) foi mais cautelosa, enfatizando que muitos dos fatores de risco associados à SETM ainda carecem de estudos mais robustos para confirmar sua relevância clínica. Essa diferença revela um contraste entre uma visão mais aplicada e prática (ANDERSON et al., 2024) e uma perspectiva mais crítica e analítica (SILVA et al., 2024), voltada à necessidade de novas evidências científicas.
No campo da prevenção, Ramos et al. (2022) destacaram que a ausência de acompanhamento profissional pode aumentar significativamente o risco de lesões em corredores amadores, ressaltando a necessidade de orientação constante. Barbosa et al. (2022), por outro lado, chamaram a atenção para a detecção precoce das fraturas por estresse, alertando que o atraso no diagnóstico pode prolongar o tempo de recuperação e comprometer o desempenho esportivo. Assim, enquanto Ramos et al. (2022) enfatizaram o papel pedagógico e preventivo, Barbosa et al. (2022) reforçaram a importância da vigilância clínica e diagnóstica.
Souza e Corrêa (2022) conduziram um estudo observacional transversal com corredores recreativos, identificando associação inesperada entre acompanhamento profissional e maior risco de desenvolvimento da SETM, além de observarem que menores distâncias percorridas ao longo dos últimos três meses se relacionaram a risco reduzido. Esse resultado contrasta com o senso comum e sugere que a supervisão pode, em alguns contextos, induzir a sobrecargas não ajustadas ao perfil individual do atleta, especialmente em grupos de treinamento, onde objetivos gerais são aplicados a corredores com diferentes níveis de condicionamento. Já Turra, Cezne e Vidal (2022), em pesquisa laboratorial com análise biomecânica da marcha de corredores, encontraram anormalidades em todos os participantes, revelando que desvios posturais e padrões de movimento inadequados geram sobrecargas repetitivas, favorecendo o desenvolvimento de lesões como a SETM. Os autores destacaram que fatores biomecânicos como hiperpronação, valgo dinâmico de joelho e queda pélvica se mostraram altamente prevalentes, indicando que a supervisão isolada, sem análise técnica individualizada, não garante prevenção. Nesse ponto, os resultados dialogam com os achados de Souza e Corrêa (2022), ao sugerirem que apenas o acompanhamento não é suficiente, sendo necessário ajustar o treinamento ao perfil biomecânico de cada corredor.
Lopes et al. (2021), por sua vez, apresentaram uma revisão de literatura de caráter descritivo, ressaltando que a etiologia da SETM é multifatorial e relacionada tanto a fatores extrínsecos como plano de treinamento inadequado e superfícies rígidas, quanto a fatores intrínsecos, como aumento do índice de massa corporal, queda do navicular e desequilíbrios musculares. Essa visão complementa as evidências empíricas de Souza e Corrêa (2022), que observaram maior risco de SETM em atletas com acompanhamento profissional, e de Turra, Cezne e Vidal (2022), que identificaram alterações biomecânicas comuns. Lopes et al. (2021) reforçaram a necessidade de considerar os fatores musculoesqueléticos na prevenção e tratamento, destacando a importância de programas de fortalecimento, avaliação do arco plantar e análise de padrões de pisada, aspectos também apontados por Turra, Cezne e Vidal (2022).
Há consenso entre os três estudos de que a SETM é resultado de múltiplos fatores, com destaque para o impacto de erros de treinamento e alterações biomecânicas. Souza e Corrêa (2022) demonstraram empiricamente que volumes de treino elevados e supervisionados sem personalização podem predispor à síndrome. Lopes et al. (2021) sustentaram que a sobrecarga mecânica e fatores anatômicos são determinantes para o surgimento da lesão, enquanto Turra, Cezne e Vidal (2022) evidenciaram na prática que todos os corredores avaliados apresentaram ao menos uma anormalidade biomecânica, reforçando a dimensão preventiva da correção técnica.
As divergências surgem quanto à interpretação dos fatores de risco mais determinantes. Souza e Corrêa (2022) apontaram a supervisão profissional como elemento associado ao aumento de risco, um achado incomum e que contrasta com a literatura tradicional, que geralmente enxerga a orientação como protetiva. Já Lopes et al. (2021) mantiveram a visão clássica de que a prevenção depende da adequação do treinamento e de estratégias fisioterapêuticas, sem sugerir relação direta entre supervisão e risco aumentado. Turra, Cezne e Vidal (2022), ao destacarem as anormalidades biomecânicas, trouxeram um enfoque mais técnico, defendendo que a prevenção e o desempenho esportivo só podem ser otimizados quando tais desvios são identificados e corrigidos. Assim, enquanto Souza e Corrêa (2022) surpreenderam ao demonstrar riscos associados à supervisão, Turra, Cezne e Vidal (2022) e Lopes et al. (2021) mantiveram a abordagem de que falhas na técnica e no planejamento são os verdadeiros responsáveis pelo surgimento da SETM.
Em termos de implicações funcionais, há alinhamento entre os três trabalhos quanto ao impacto negativo da SETM no desempenho esportivo. Souza e Corrêa (2022) identificaram que atletas acometidos apresentam redução de quilometragem e maior limitação física. Turra, Cezne e Vidal (2022) relataram que anormalidades biomecânicas, além de predispor lesões, aumentam o gasto energético e comprometem a eficiência da corrida. Lopes et al. (2021) reforçaram que a dor e a perda funcional são sintomas característicos da síndrome, com repercussões diretas na prática esportiva, especialmente em corredores de longa distância.
Becker e Wu (2018) enfatizaram que a SETM decorre, em grande parte, de sobrecarga repetitiva e microlesões ósseas que ultrapassam a capacidade fisiológica de reparo. O estudo ressaltou que a dor se manifesta predominantemente na região medial distal da tíbia, sendo desencadeada pelo exercício e atenuada pelo repouso. Essa concepção dialoga diretamente com a de Pai et al. (2017), que também descrevem a síndrome como consequência da sobrecarga mecânica contínua, associada a inflamação periosteal e remodelamento ósseo acelerado, resultando em microfraturas e eventual evolução para fraturas por estresse. Ambos os autores destacaram o caráter multifatorial da lesão, associando fatores biomecânicos, anatômicos e extrínsecos como determinantes.
No entanto, há divergências quanto ao foco de cada estudo. Becker e Wu (2018) dedicaram maior atenção aos aspectos diagnósticos e preventivos, reforçando a dificuldade em diferenciar clinicamente a SETM de outras condições como síndrome compartimental e fraturas por estresse. O trabalho argumentou que a falta de precisão no diagnóstico pode atrasar intervenções adequadas e comprometer o prognóstico. Já Pai et al. (2017) avançaram especificamente para a discussão das abordagens terapêuticas, avaliando a terapia por ondas de choque extracorpórea (TOC) como estratégia emergente no manejo da dor e da funcionalidade em pacientes com SETM. Embora tenham identificado potencial efeito analgésico, concluíram que ainda não há evidências consistentes que sustentem a eficácia da TOC, devido à baixa qualidade metodológica e à heterogeneidade dos protocolos analisados. Assim, enquanto Becker e Wu (2018) centraram-se em diagnóstico e prevenção, Pai et al. (2017) exploraram intervenções terapêuticas inovadoras, chegando a resultados que indicam a necessidade de mais estudos clínicos robustos.
Teixeira (2017), em contrapartida, trouxe uma contribuição distinta ao avaliar a prevalência de lesões musculoesqueléticas em corredores amadores de Curitiba e região metropolitana. Nesse estudo transversal, a SETM surgiu como a lesão mais prevalente, superando outras condições osteomioarticulares. Essa constatação complementa os achados de Becker e Wu (2018) e de Pai et al. (2017), que reconhecem a alta incidência da síndrome em atletas de corrida e esportes de impacto. Enquanto os primeiros se basearam em revisão de literatura e análise clínica, Teixeira (2017) evidenciou empiricamente, em uma amostra de 195 corredores, que a SETM representa importante problema de saúde para praticantes amadores, especialmente entre homens de 31 a 45 anos.
Um ponto de convergência importante é que todos os autores reconhecem a sobrecarga mecânica como fator central para o desenvolvimento da SETM. Becker e Wu (2018) descreveram a contribuição de superfícies rígidas e calçados inadequados, enquanto Pai et al. (2017) ressaltaram o papel dos treinos repetitivos e de alta intensidade, além de apontarem que mulheres, em função da tríade da atleta (desordem alimentar, alterações hormonais e baixa densidade óssea), apresentam risco aumentado. Teixeira (2017) complementa esses achados ao observar que corredores com mais de cinco anos de prática e com maiores volumes semanais de treino apresentaram prevalência superior de lesões, sugerindo que o tempo de exposição e o acúmulo de carga também são determinantes.
As divergências aparecem principalmente na interpretação do papel da intervenção profissional e das estratégias de tratamento. Becker e Wu (2018) defenderam que medidas preventivas, como adaptação progressiva de cargas, uso de palmilhas e fortalecimento muscular, podem reduzir a incidência da SETM. Pai et al. (2017), embora não tenham discordado desses aspectos, preferiram investigar especificamente a TOC, concluindo que sua aplicabilidade clínica permanece incerta. Já Teixeira (2017) não focou em estratégias terapêuticas, mas destacou que a ausência de acompanhamento profissional esteve associada à maior ocorrência de lesões, sugerindo que a supervisão pode atuar como fator protetivo, desde que baseada em individualização e monitoramento adequado. Essa visão contrasta indiretamente com Becker e Wu (2018), que não discutiram de forma detalhada o papel do acompanhamento, mas enfatizaram mais os ajustes biomecânicos e técnicos como centrais para a prevenção.
Outro ponto de contraste se refere às implicações funcionais da SETM. Becker e Wu (2018) destacaram que a dor decorrente da síndrome compromete não apenas a continuidade dos treinos, mas também a performance esportiva a longo prazo, devido à possibilidade de cronificação do quadro. Pai et al. (2017) reforçaram essa ideia, mas ressaltaram que, além do impacto funcional, há limitações terapêuticas relevantes, pois os tratamentos disponíveis ainda carecem de evidências sólidas. Já Teixeira (2017) enfatizou que a SETM foi a principal causa de afastamento dos corredores investigados, com implicações diretas no rendimento e na adesão ao esporte, evidenciando o peso epidemiológico da lesão.
CONCLUSÃO
A análise da literatura evidenciou que a síndrome de estresse tibial medial representa uma das principais lesões por sobrecarga em atletas amadores, apresentando incidência relevante em modalidades esportivas de impacto, especialmente a corrida de rua. A etiologia multifatorial da síndrome mostrou-se associada a fatores de risco intrínsecos, como alterações biomecânicas, desequilíbrios musculoesqueléticos e características antropométricas, bem como a fatores extrínsecos, relacionados ao volume, intensidade e progressão inadequada do treinamento, além do uso de calçados e superfícies impróprias.
As características clínicas, marcadas por dor difusa e persistente ao longo da borda medial da tíbia, associadas à sensibilidade local e, em casos mais avançados, à limitação funcional significativa, reforçam a importância do diagnóstico diferencial, uma vez que a síndrome compartilha sintomas com outras condições, como fraturas por estresse e síndrome compartimental. O reconhecimento precoce desses sinais mostrou-se fundamental para o manejo adequado e para evitar complicações.
As implicações funcionais observadas indicaram que a síndrome compromete diretamente o desempenho esportivo, levando à redução do volume de treino, à queda de performance e, em casos crônicos, ao afastamento temporário ou definitivo da prática. Esses achados evidenciam a relevância da prevenção, por meio de estratégias como progressão gradual das cargas, fortalecimento muscular, correção de desvios biomecânicos, escolha adequada de calçados e supervisão profissional individualizada.
Conclui-se, portanto, que a síndrome de estresse tibial medial deve ser compreendida como um problema clínico de alta relevância para a fisioterapia esportiva, não apenas pela sua prevalência, mas também pelas repercussões funcionais que impõe aos atletas amadores. O enfrentamento dessa condição exige abordagem integrada que envolva prevenção, diagnóstico precoce e tratamento adequado, de forma a preservar o desempenho esportivo e a qualidade de vida dos praticantes.
REFERÊNCIAS
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TEIXEIRA, Ricardo. Prevalência de lesões em corredores amadores de Curitiba e região metropolitana. 2017. 39 f. Tese (Educação Física) – Universidade Tecnológica Federal do Paraná, Curitiba, 2017.
TURRA, Giovane Diogo Padilha; CEZNE, Alessandra Fátima; VIDAL, Rafael Gemin. Anormalidades encontradas na biomecânica de corredores amadores. Conjecturas, v. 22, n. 2, p. 1625-1635, 2022.
1Bacharel em Fisioterapia – Centro Universitário Uningá
2Professor orientador do Centro Universitário Uningá