INCÊNDIO FLORESTAIS NO BIOMA CERRADO: PREVENÇÃO E COMBATE 

FOREST FIRES IN THE CERRADO BIOME: PREVENTION AND COMBAT

REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/ch102024242127


Wanderlei Batista Nunes


RESUMO 

O cerrado é um bioma de grande relevância para a biodiversidade brasileira, mas que  vem sofrendo grande degradação, principalmente a partir da década de 1950, sendo os  altos números nos focos de incêndio uma das grandes preocupações. Dessa forma, este  texto busca discutir a prevenção e combate a incêndio no bioma Cerrado, a partir de  uma discussão teórica pautada em autores como Kirchhhoff, (1992) Batista (1995),  Coutinho (2000), Oliveira et al., (2023), entre outros. A variedade de incêndios e suas  consequências demandam uma abordagem holística e uma resposta unificada. Enquanto  os incêndios naturais podem fazer parte do ciclo ecológico, os incêndios causados  acidentalmente ou intencionalmente frequentemente resultam em sérios danos  ambientais. É fundamental combinar educação, tecnologia avançada, políticas públicas  eficientes e colaboração comunitária para manejar de forma sustentável os incêndios e  proteger os ecossistemas essenciais não apenas do Brasil, mas também globalmente.  Portanto, preservar o Cerrado é indispensável para garantir a manutenção não apenas de  sua biodiversidade natural, mas também de sistemas econômicos importantes, sendo as  legislações e a ação do homem essenciais no combate e prevenção de incêndios. 

Palavras-chaves: Incêndios; Prevenção e Combate; Ação do Homem; Tecnologia. 

ABSTRAT 

The Cerrado is a biome of gre a importance for Brazil’s bio diversity, but it has been suffering a great deal of degradation, especially since the 1950s, with the high number of fires being a major concern. This text the reforest aims to discuss fire prevention and fire fighting in the Cerrado biome, based on a the oretical discussion base do nauthorssuch as Kirchhoff (1992), Batista (1995), Coutinho (2000), Oliveira et al.  (2023), am on go theirs. The variety of fire sand their consequences emend a holistic  approach and a unified response. While natural fires can be part of the ecological cycle,  fires cause da accidental your intentionally often result in serious us environment a  damage. It is sentialto combine education, technology, Effie client public policies and community collaboration to sustainably manage fire and protect essential ecosystem end smoothly in Brazil, but also globally. Therefore, preserving the Cerrado is indispensable to guarantee the mains en an cantonal you its natural biodiversity, but also of an important economic system, and legislation an human action are essential in combating and preventing fires. 

Keywords: Fires; Prevention and Combat; Human Action; Technology. 

1. INTRODUÇÃO 

O Cerrado brasileiro representa cerca de 24% do território nacional, nos Estados  de Goiás, Tocantins, Mato Grosso do Sul, sul do Mato Grosso, oeste de Minas Gerais,  Distrito Federal, oeste da Bahia, sul do Maranhão, oeste do Piauí e porções do Estado  de São Paulo. Ainda há porções de cerrado em outros estados da federação (PR) ou em  áreas disjuntas dentro de outros biomas (Floresta Amazônica). É a segunda maior formação vegetal do país, após a Floresta Amazônica, concentrando-se principalmente  no Planalto Central Brasileiro (Coutinho, 2000). Este bioma apresenta uma diversidade  de fitofisionomias que abriga cerca de 5% da biodiversidade mundial. 

O bioma Cerrado, devido à sua grande extensão e posição geográfica,  compreende uma ampla diversidade de litologias, formas de relevo, cotas altimétricas e  solos. Por isto, está sob um clima que é tipicamente sazonal, quanto à pluviosidade, e  que apresenta significativas diferenciações nas suas médias anuais de temperatura e  precipitação (Adámoliet al., 1986, Nimer; Brandão 1989). 

Sano et al., (2020) descrevem 19 distintas regiões de Cerrado, sendo as maiores  em extensão: Paraná-Guimarães (17,9%), Araguaia- Tocantins (14,9%), e Planalto  Central (8,6%).Ribeiro e Walter (2008) descrevem 11 tipos principais de vegetação para  o bioma, enquadrados em formações florestais (Mata Ciliar, Mata de Galeria, Mata Seca  e Cerradão), savânicas (Cerrado sentido restrito, Parque de Cerrado, Palmeiral e  Vereda) e campestres (Campo Sujo, Campo Limpo e Campo Rupestre). Em relação à  parte hídrica, a região possui diversas nascentes de rios e, consequentemente,  importantes áreas de recarga hídrica, que contribuem para grande parte das bacias  hidrográficas brasileiras (Martelli; Alvarenga; Samudio, 2023). 

Brandão (2018) ainda comenta que esse bioma proporciona ampla oferta de  serviços ecossistêmicos indispensáveis para a economia, como a manutenção de  mananciais abastecedores de grande parte dos rios sul-americanos, além de abrigar 30%  da biodiversidade nacional. 

Desde os anos 1950, com o surgimento de Brasília e de uma política de  expansão agrícola por parte do Governo Federal, que se iniciou uma acelerada e  desordenada ocupação da região do Cerrado em um modelo de exploração de forma  fundamentalmente extrativista e, em muitos casos, predatória (Fernandes; Pessoa,  2011). Nesse contexto, o Cerrado tem sofrido um aumento significativo no impacto  causado por atividades humanas, principalmente devido à mecanização da agricultura e  à construção de rodovias no Brasil Central (Cavalcanti, 2000).  

Rangel et al., (2007) identificam a criação de gado bovino, a agricultura  mecanizada e a urbanização como os principais fatores de impacto ambiental na região.  Entretanto, as medidas para a preservação das paisagens naturais do Cerrado têm sido  escassas, e se as taxas de desmatamento continuar elevadas prevê-se que o bioma  poderá desaparecer a partir de 2030 (Machado,et al., 2004). 

Até o momento, o Cerrado já perdeu cerca de 46% de sua vegetação nativa,  principalmente devido às atividades agrícolas e pecuárias (Brasil, 2013), e apenas  19,8% das paisagens naturais permanecem intactas (Strassburget al., 2017). É  importante destacar que a rápida transformação antropogênica do Cerrado pode agravar  a desigualdade social e acarretar custos ambientais significativos, como a fragmentação  das paisagens, perda de biodiversidade, invasão de espécies exóticas, poluição hídrica,  degradação do solo e uso excessivo de agrotóxicos (Klink; Moreira, 2002). 

Assim, observa-se que destruição do bioma Cerrado é impulsionada por diversos  fatores, entre os quais se destacam a expansão da agricultura mecanizada e da pecuária,  sendo essas atividades são responsáveis pelo desmatamento de vastas áreas para o  cultivo de soja, milho e algodão, bem como para a criação de gado bovino. Além disso,  a urbanização crescente contribui para a degradação ambiental ao substituir áreas  naturais por infraestrutura urbana.  

A falta de políticas efetivas de preservação e conservação agrava a situação,  resultando em fragmentação de habitats, perda de biodiversidade, invasão de espécies  exóticas, poluição da água e degradação do solo, somados ao uso excessivo de  agrotóxicos. Esse conjunto de fatores tem levado à perda significativa da cobertura  vegetal nativa e à ameaça de desaparecimento do Cerrado se as taxas de desmatamento  não forem reduzidas. 

Os incêndios representam outra causa significativa de destruição do bioma  Cerrado. Essas queimadas, muitas vezes provocadas intencionalmente para a renovação  de pastagens e a preparação de áreas para cultivo, resultam em danos extensivos à  vegetação nativa e aos habitats da fauna local. Além de promoverem a perda direta de  biodiversidade, os incêndios contribuem para a fragmentação das paisagens,  dificultando a sobrevivência e a migração de espécies.  

Os incêndios recorrentes também comprometem a regeneração natural do  Cerrado, alterando sua composição florística e favorecendo a invasão de espécies  exóticas, que podem se tornar dominantes. Combinados aos impactos das atividades  agrícolas e pecuárias, os incêndios exacerbam a degradação do solo e a poluição dos  corpos hídricos, amplificando os desafios ambientais e sociais na região. 

Segundo dados do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE)indicam a  ocorrência de 4.575 focos de incêndio no Cerrado, cerca de 26% do total nacional para  o período (INPE, 2024). Observa-se que a cada ano aumenta o número de focos de  incêndios no Cerrado e suas consequências a este bioma. Dessa forma, este texto busca discutir a prevenção e combate aos incêndios no bioma Cerrado, a partir de uma  discussão teórica pautada em autores como Kirchhhoff, (1992) Batista (1995), Coutinho  (2000), Oliveira et al., (2023), entre outros. 

A discussão da temática ao longo do texto é apresenta tópicos, sendo o primeiro  a Introdução onde se realiza uma contextualização da temática, em sequência se  apresenta o tópico “Incêndios No bioma Cerrado” que apresenta uma discussão  conceitual sobre incêndios e queimadas, além de aspectos da legislação. O terceiro  tópico recebeu o título “Cerrado em chamas: alguns dados dos últimos anos” e aborda o  aumento nos focos de incêndios nos últimos anos. O quarto tópico discute aspectos do  combate e da prevenção de incêndios sendo intitulado “Prevenção e combate de  incêndio no Cerrado”. Por fim, apresentam-se as considerações finais onde são tecidas  reflexões sobre a temática.  

2. INCÊNDIOS NO BIOMA CERRADO 

Os incêndios florestais representam uma grande preocupação, pois se de um lado  o fogo desempenha um importante papel na manutenção de alguns ecossistemas  naturais e artificiais a sua ocorrência de forma descontrolada pode representar uma fonte  de perturbação permanente, acarretando perdas e danos materiais (Parizotto, 2006). 

Já as queimadas, de acordo com Silva (1998), representam a aplicação  controlada de fogo na vegetação natural ou plantada sob determinadas condições  ambientais que permitam ao fogo manter-se confinado em uma determinada área e ao  mesmo tempo produzir uma intensidade de calor e velocidade de espalhamento  desejáveis aos objetivos de manejo. Quando essa queimada torna-se incontrolável já é  caracterizada como incêndio.  

Observa-se que utilizar o fogo na preparação do solo e renovação de pastagens,  muitas vezes incendiando áreas de grande extensão sempre foi uma prática do homem,  mas que causa prejuízos a vegetação e ao solo, como discute Victorino (2000, p.93)  “a queima de vegetação é uma prática que ocorre desde os tempos da Idade Média e é  considerada a causadora de perdas e prejuízos difíceis de serem calculados. Solo  queimado é o começo do deserto”. 

No Brasil os órgãos licenciadores permitem a prática das queimadas desde que  ela seja realizada de forma adequada e segura em espaço que não comprometa áreas de  interesse ambiental. Segundo o decreto 2.661, de 8 de julho de 1998: 

Art. 2º – É permitido o emprego do fogo em práticas agropastoris e  florestais, mediante Queima Controlada. Parágrafo único. Considera-se Queima Controlada o emprego do fogo como fator de produção e  manejo em atividades agropastoris ou florestais, e para fins de  pesquisa científica e tecnológica, em áreas com limites físicos  previamente definidos.  

Art. 3º – O emprego do fogo mediante Queima Controlada depende de  prévia autorização, a ser obtida pelo interessado junto ao órgão do  Sistema Nacional do Meio Ambiente – SISNAMA, com atuação na  área onde se realizará a operação […]  

Art. 4º – Previamente à operação de emprego do fogo, o interessado na  obtenção de autorização para Queima Controlada deverá:  

I – definir as técnicas, os equipamentos e a mão-de-obra a serem  utilizados;  

II – fazer o reconhecimento da área e avaliar o material a ser  queimado;  

III – promover o enleiramento dos resíduos de vegetação, de forma a  limitar a ação do fogo;  

IV – preparar aceiros de no mínimo três metros de largura, ampliando  esta faixa quando as condições ambientais, topográficas, climáticas e  o material combustível a determinarem;  

V – providenciar pessoal treinado para atuar no local da operação,  com equipamentos apropriados ao redor da área, e evitar propagação  do fogo fora dos limites estabelecidos;  

VI – comunicar formalmente aos confrontantes a intenção de realizar a  Queima Controlada, com o esclarecimento de que, oportunamente, e  com a antecedência necessária, a operação será confirmada com a  indicação da data, hora do início e do local onde será realizada a  queima;  

VII – prever a realização da queima em dia e horário apropriados,  evitando-se os períodos de temperatura mais elevadas e respeitando-se  as condições dos ventos predominantes no momento da operação:  

VIII – providenciar o oportuno acompanhamento de toda a operação  de queima, até sua extinção, com vistas à adoção de medidas  adequadas de contenção do fogo na área definida para o emprego do  fogo.  

§ 1º – O aceiro de que trata o inciso IV deste artigo deverá ter sua  largura duplicada quando se destinar à proteção de áreas de florestas e  de vegetação natural, de preservação permanente, de reserva legal,  aquelas especialmente protegidas em ato do poder público e de  imóveis confrontantes pertencentes a terceiros.  

§ 2º – Os procedimentos de que tratam os incisos deste artigo devem  ser adequados às peculiaridades de cada queima a se realizar, sendo  imprescindíveis aqueles necessários à segurança da operação, sem  prejuízo da adoção de outras medidas de caráter preventivo.  

Art. 5º – Cumpridos os requisitos e as exigências previstas no artigo  anterior, o interessado no emprego de fogo deverá requerer, por meio  da comunicação de Queima Controlada, junto ao órgão competente do  SISNAMA, a emissão de Autorização de Queima Controlada (Brasil,  1988, p. 1-3).  

E ainda  

Art. l6 – O emprego de fogo, como método despalhador e facilitador  do corte de cana-de-açúcar em áreas passíveis de mecanização da colheita, será eliminado de forma gradativa, não podendo a redução  ser inferior a um quarto da área mecanizável de cada unidade  agroindustrial, a cada período de cinco anos, contados da data de  publicação deste Decreto. Art. 17 – A cada cinco anos, contados da  data de publicação deste Decreto, será realizada pelos órgãos  competentes, avaliação das consequências sócio-econômicas decorrentes da proibição do emprego do fogo para promover os  ajustes necessários nas medidas impostas (Brasil, 1988, p. 1-3).  

A legislação que permite o emprego do fogo em práticas agropastoris e  florestais mediante Queima Controlada reflete uma tentativa de balancear a necessidade  de certas atividades econômicas com a proteção ambiental. No entanto, uma análise  cuidadosa dos artigos 2º a 5º revela tanto pontos positivos quanto desafios práticos na  sua implementação. 

A regulamentação da Queima Controlada, com requisitos detalhados para  autorização e execução, demonstra um esforço para mitigar os riscos associados ao uso  do fogo. A necessidade de uma autorização prévia do órgão competente do Sistema  Nacional do Meio Ambiente (SISNAMA) é um mecanismo importante para assegurar  que a prática seja realizada de forma responsável. As especificações sobre técnicas,  equipamentos, reconhecimento da área, enleiramento dos resíduos, preparação de  aceiros, treinamento de pessoal e comunicação aos vizinhos refletem uma abordagem  compreensiva para prevenir a propagação descontrolada do fogo. 

Alguns desafios e reflexões com relação a legislação apontam para a  complexidade e burocracia, sendo o processo de obtenção de autorização envolve  múltiplos passos detalhados, o que pode ser visto como uma barreira burocrática para  pequenos agricultores e produtores rurais. A complexidade e o custo potencial desses  requisitos podem desestimular a adesão completa ou incentivar a realização de  queimadas ilegais, sem a devida autorização e controle. 

A eficácia desta legislação depende fortemente da capacidade de fiscalização dos  órgãos ambientais. No Brasil, a fiscalização ambiental enfrenta frequentemente desafios  como falta de recursos, pessoal e infraestrutura. Sem uma fiscalização adequada, mesmo  com uma legislação bem estruturada, a prática ilegal e descontrolada de queimadas pode  continuar a ocorrer. 

A legislação pressupõe que os interessados na Queima Controlada estão cientes  das técnicas apropriadas e possuem os recursos necessários para cumprir os requisitos.  

É crucial que haja programas de educação e capacitação para garantir que todos os  envolvidos compreendam e possam efetivamente aplicar as práticas recomendadas. As diretrizes sobre condições climáticas, ventos predominantes e horários  apropriados para a queima indicam uma preocupação com a segurança e a eficácia do  controle do fogo. No entanto, as condições ambientais são dinâmicas e podem mudar  rapidamente, o que exige um monitoramento contínuo e a capacidade de adiar ou ajustar  as operações de queima conforme necessário. 

Embora a Queima Controlada seja uma prática tradicional e, em alguns casos,  necessária, seu impacto ambiental não pode ser subestimado. Mesmo que realizada de  forma controlada, as queimadas contribuem para a emissão de gases de efeito estufa e  podem afetar a biodiversidade local. É importante que a legislação esteja alinhada com  políticas mais amplas de sustentabilidade e conservação ambiental. 

Nesse contexto, é preciso conhecer os tipos e as causas dos incêndios e  queimadas em busca de ações preventivas. De acordo com Kirchhhoff, (1992, p.35) “os  principais tipos de queimadas no Brasil são: pequenas queimadas da beira de estradas;  queimadas de palha de cana de açúcar; queimadas no cerrado e queimadas em  desmatamentos florestais”. 

Existe uma diversidade de incêndios, sendo os florestais classificados em três  tipos principais: incêndios de superfície, incêndios de copa e incêndios subterrâneos. Os  incêndios de superfície são os mais comuns e envolvem a queima de matéria orgânica  que está na superfície do solo, como folhas secas, galhos e grama. Esses incêndios  tendem a se espalhar rapidamente e podem ser relativamente fáceis de controlar, desde  que sejam detectados a tempo (Coutinho, 2000).  

No entanto, quando se encontram em áreas com alta densidade de material  combustível, podem se tornar intensos e causar danos significativos ao ecossistema. Os  incêndios de copa, por outro lado, são mais severos e envolvem a queima das copas das  árvores, saltando de uma árvore para outra. Este tipo de incêndio é particularmente  devastador, pois pode se espalhar rapidamente em florestas densas, causando a  destruição de grandes áreas de vegetação e afetando gravemente a fauna local (Coutinho,  2000). 

De acordo com Coutinho (1990) os incêndios subterrâneos, também conhecidos  como incêndios de turfa, queimam a matéria orgânica acumulada no solo e podem ser  extremamente difíceis de detectar e extinguir. Eles podem durar semanas, meses ou até  anos, dependendo das condições climáticas e da quantidade de material combustível disponível no solo. Esses incêndios são particularmente perigosos porque podem  reemergir como incêndios de superfície e de copa, complicando os esforços de combate  ao fogo.  

Além disso, liberam grandes quantidades de dióxido de carbono e outros gases  de efeito estufa, contribuindo para as mudanças climáticas. Cada tipo de incêndio requer  estratégias específicas de manejo e combate, e a eficácia na resposta a esses eventos  depende de uma compreensão profunda das condições ambientais e das características  do material combustível presente na área afetada (Coutinho, 2000). 

Observa-se pelas discussões realizadas que são diversos os tipos de incêndios,  suas causas e consequências, sendo necessárias considerá-las no momento de seu  combate. O bioma Cerra é um dos que mais sofre com os incêndios, sendo que no  próximo tópico vamos discutir alguns dados dos últimos anos desse bioma. 

3. CERRADO EM CHAMAS: ALGUNS DADOS DOS ÚLTIMOS ANOS 

Conforme discute Kirchhhoff (1992, p. 29) “as queimadas no cerrado tornaram se sistemáticas e cada vez de maiores porções à medida que a região foi sendo ocupada  pelo agricultor”. Na verdade, no cerrado, a estruturação fundiária baseada em grandes  propriedades abriu espaço ao desmatamento, sendo que a prática das queimadas, por  não representar custos, tem sido a mais usada. Sem fiscalização eficiente, o fogo  descontrolado atinge outros complexos vegetacionais, propagando-se por vários  hectares. 

Nos dias atuais, a maioria das queimadas no Cerrado é causada pelo homem.  Entre 1985 e 2023, cerca de 199,1 milhões de hectares foram queimados pelo menos  uma vez no Brasil, de acordo com a mais recente Coleção do Mapa Biomas Fogo,  representando quase um quarto (23%) do território nacional. Desse total, mais de dois  terços (68,4%) consistiam em vegetação nativa, enquanto aproximadamente um terço  (31,6%) ocorria em áreas antropizadas, como pastagens e terras agrícolas. Quase metade  (46%) da área queimada se concentra em três estados: Mato Grosso, Pará e Maranhão, e  60% das queimadas ocorreram em propriedades privadas. Anualmente, uma média de  18,3 milhões de hectares, ou 2,2% do país, é afetada pelo fogo (MAPBIOMAS, 2024). 

A estação seca, de julho a outubro, concentra 79% das queimadas no Brasil, com  setembro representando um terço do total (33%). Os dados do MapBiomas Fogo  revelam que cerca de 65% da área afetada pelo fogo foi queimada mais de uma vez em 39 anos, com o Cerrado sendo o bioma mais afetado por queimadas recorrentes. Esses  padrões históricos permitem ao poder público identificar tendências, áreas de maior  risco e implementar ações mais eficientes de combate às queimadas (MapBiomas, 2024).  

Cerrado e Amazônia, juntos, representaram cerca de 86% da área queimada pelo  menos uma vez no Brasil nesse período. No Cerrado, 88,5 milhões de hectares foram  queimados, correspondendo a 44% do total nacional, enquanto na Amazônia, 82,7  milhões de hectares foram afetados, representando 42% do total. Apesar dos números  absolutos semelhantes, os biomas têm tamanhos diferentes, o que significa que no  Cerrado a área queimada equivale a 44% de seu território, enquanto na Amazônia esse  percentual é de 19,6%(MapBiomas, 2024). 

As queimadas no Cerrado têm consequências profundas e abrangentes que  afetam tanto o ambiente natural quanto as comunidades humanas. Ambientalmente,  esses incêndios levam à perda de biodiversidade única do bioma, que é rico em espécies  endêmicas e adaptadas às condições específicas de savana(MapBiomas, 2024).  

A destruição da vegetação nativa também compromete serviços ecossistêmicos  essenciais, como a regulação do ciclo da água e do carbono, exacerbando os impactos  das mudanças climáticas. Além disso, as queimadas contribuem significativamente para  a emissão de gases de efeito estufa, intensificando ainda mais os problemas ambientais  globais. Socialmente, as comunidades locais enfrentam riscos à saúde devido à poluição  do ar decorrente da fumaça, além de perdas econômicas, especialmente para aqueles que  dependem diretamente dos recursos naturais do Cerrado para subsistência.  

Portanto, mitigar os efeitos das queimadas no Cerrado requer estratégias  integradas que combinem conservação ambiental, manejo sustentável do uso da terra e  políticas eficazes de prevenção e combate ao fogo. Nesse contexto, no próximo tópico  discutem-se aspectos da prevenção e combate a incêndios no bioma Cerrado. 

4. PREVENÇÃO E COMBATE DE INCÊNDIO NO CERRADO 

De acordo com Batista (1995), o comportamento do fogo resulta da interação  entre o clima, as condições do combustível, a topografia, a técnica de queima e a forma  de ignição. Medir o comportamento do fogo é útil para comparar diferentes queimadas,  planejar a supressão do fogo e estimar seus efeitos. Além disso, diversos autores têm  utilizado termos relacionados ao comportamento do fogo para descrever as condições  das queimadas controladas em florestas. Para entender a propagação dos incêndios, é fundamental observar o comportamento do fogo, definido pela maneira como o  combustível é inflamado, como as chamas se desenvolvem e como os incêndios no  Cerrado se propagam e manifestam outros fenômenos. 

Segundo Soares (1985), um incêndio florestal de superfície geralmente começa  com um pequeno foco, como um fósforo aceso, uma ponta de cigarro, uma fagulha ou  uma pequena fogueira. Inicialmente, ele tende a se propagar em todas as direções,  formando uma área aproximadamente circular. No entanto, no segundo estágio, a forma  do incêndio é alterada pela ação do vento e pela topografia do terreno. 

Nesse contexto, observa-se que a prevenção e o combate de incêndios no  Cerrado são fundamentais dadas as suas características únicas e a intensidade das  queimadas na região. Estratégias eficazes devem abranger tanto medidas preventivas  quanto a capacidade de resposta rápida e coordenada. Em termos preventivos, é crucial  investir em educação ambiental e conscientização das comunidades locais e dos  usuários da terra sobre práticas seguras de manejo do fogo, promovendo o uso  controlado e legal da queima. Além disso, o fortalecimento da fiscalização e o  monitoramento por meio de tecnologias de detecção remota são essenciais para  identificar e responder rapidamente aos focos de incêndio antes que se propaguem (Parizotto, 2006). 

No combate aos incêndios, é necessário que haja uma estrutura robusta de  resposta emergencial, com equipes treinadas e equipamentos adequados disponíveis  para intervenção imediata. A coordenação entre diferentes órgãos governamentais,  como bombeiros, defesa civil e órgãos ambientais, é crucial para garantir uma resposta  eficiente e rápida. Além disso, parcerias com organizações não governamentais e a  sociedade civil podem ampliar os recursos disponíveis e fortalecer as capacidades locais  de enfrentamento às queimadas(Parizotto, 2006). 

A prevenção e o combate de incêndios no Cerrado exigem uma abordagem  integrada que combine regulamentação efetiva, monitoramento contínuo, capacitação e  mobilização comunitária. Somente com esforços coordenados e recursos adequados será  possível reduzir os impactos devastadores das queimadas, proteger a biodiversidade  única do bioma e garantir a segurança das comunidades que dependem diretamente  desses ecossistemas para seu sustento e qualidade de vida. 

Na busca pela prevenção e combate de incêndios a tecnologia pode ser uma  grande aliada, portanto, destaca-se um sistema 1desenvolvido na Universidade Federal  de Minas Gerais (UFMG), em colaboração com pesquisadores da Universidade de  Brasília (UnB), do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio)  e do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), é destacado por ser o único do  mundo capaz de prever a propagação de incêndios em tempo quase real. Utilizando  imagens de sensoriamento remoto e dados de clima e relevo, o sistema simula a  disseminação do fogo por todo o bioma do Cerrado, alcançando uma precisão de até  89% (Oliveira et al., 2023). 

Segundo Oliveira et al., (2023) o sistema realiza simulações tridiárias  automatizadas, considerando variáveis como fontes de ignição, quantidade de material  combustível, umidade da vegetação e probabilidade de queima. Esta iniciativa  representa um avanço significativo, proporcionando previsões automatizadas em tempo  praticamente real e imagens de alta resolução para nove Unidades de Conservação  (UCs), uma resolução de 0,04 hectare, e 25 hectares para a maior parte do  bioma(Oliveira et al., 2023). 

Outro destaque em busca do combate e prevenção de incêndios foi o Projeto de  Lei 11276/18 estabelece uma política nacional para reduzir a ocorrência de incêndios  florestais e os danos causados pelas queimadas, prevista no Código Florestal desde 2012 (Brasil, 2018).  

A Política Nacional de Manejo Integrado do Fogo (PNMIF) prevê uma série de  medidas estruturantes para substituir gradativamente o uso do fogo no meio rural,  promover a utilização do fogo de forma controlada, principalmente entre comunidades  tradicionais e indígenas, e aumentar a capacidade de enfrentamento aos incêndios  florestais (Agência Câmara de Notícias, 2019). 

O projeto cria ainda o Comitê Nacional de Manejo Integrado do Fogo, a quem  caberá articular, propor medidas e mecanismos, monitorar e estabelecer as diretrizes  para execução da política. O comitê deverá ter no mínimo um terço da sua composição  formada por representantes da sociedade civil (Brasil, 2018). Destaca-se que o projeto  foi aprovado no ano de 2021. 

A prevenção e o combate de incêndios no Cerrado demandam uma abordagem  multifacetada e coordenada, integrando tecnologia avançada, regulamentação eficaz e  engajamento comunitário. Além disso, é essencial investir em educação ambiental para  promover práticas sustentáveis de manejo do fogo entre as comunidades locais e  usuários da terra. Fortalecer a capacidade de resposta emergencial, com equipes  treinadas e equipamentos adequados, também é fundamental para garantir uma  intervenção rápida e eficaz quando ocorrem incêndios. Somente por meio dessas  medidas integradas será possível proteger efetivamente a rica biodiversidade do Cerrado  e assegurar a sustentabilidade desses importantes ecossistemas para as gerações futuras. 

5. CONSIDERAÇÕES FINAIS 

Este artigo buscou discutir a prevenção e combate a incêndio no bioma  Cerrado, sendo este de grande relevância para a biodiversidade brasileira. As discussões  realizadas demonstraram que além de sua riqueza biológica, o Cerrado é fundamental para a  segurança hídrica do Brasil, pois abriga as nascentes de importantes rios que alimentam  várias bacias hidrográficas do país. Economicamente, o bioma contribui  significativamente para a agricultura nacional, sendo uma importante área de produção  de grãos e pecuária. No entanto, o crescimento desordenado da agricultura e a expansão  urbana têm exercido uma pressão crescente sobre o Cerrado, resultando em taxas  alarmantes de desmatamento e degradação. 

Os incêndios foram discutidos ao longo do texto como uma das grandes  preocupações atuais com relação a degradação do bioma Cerrado, devido ao aumento  nos focos nos últimos anos, sendo a principal causa a ação homem e as consequências  diversas, como degradação do solo, destruição da vegetação nativa também compromete  serviços ecossistêmicos essenciais, como a regulação do ciclo da água e do carbono,  exacerbando os impactos das mudanças climática, riscos à saúde devido à poluição do  ar decorrente da fumaça, além de perdas econômicas, especialmente para aqueles que  dependem diretamente dos recursos naturais do Cerrado para subsistência.  

São graves as consequências para o homem e para a natureza dos incêndios neste  bioma.Portanto, preservar o Cerrado é indispensável para garantir a manutenção não  apenas de sua biodiversidade natural, mas também de sistemas econômicos importante Prevenir e combater incêndios no Cerrado requer uma estratégia integrada que  englobe regulamentação eficaz, monitoramento constante, treinamento e engajamento da comunidade. Apenas através de esforços coordenados e suficientes recursos será  viável mitigar os severos impactos das queimadas, preservar a singular biodiversidade  do bioma e assegurar a segurança das comunidades que dependem diretamente desses  ecossistemas para sua subsistência e bem-estar. Assim, observa-se que o combate e a  prevenção de incêndios passa pela legislação e também pela ação do homem. 


1Mais informações sobre o sistema desenvolvido podem ser encontradas no site:  https://agencia.fapesp.br/novo-sistema-e-capaz-de-prever-incendios-no-cerrado-em-tempo-praticamente real/41868


REFERÊNCIAS 

ADÁMOLI, J. et al. Caracterização da região dos Cerrados. In: GOEDERT, W. J. (Ed.).  Solos dos cerrados: tecnologias e estratégias de manejo. Brasília, DF: Embrapa-CPAC,  1986. p. 33-74. 

BATISTA, A. C. Avaliação da Queima Controlada em Povoamentos de Pinus taeda L.  no Norte do Paraná. Curitiba. Tese (Doutorado em Eng. Florestal), Setor de Ciências  Agrárias, UFPR. 108 p, 1995. Disponível  <http://www.floresta.ufpr.br/~lpf/comportamento.html> Acesso em: 23 de jun. de 2024. 

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