IMUNOTERAPIA: TERAPÊUTICA INOVADORA NO TRATAMENTO DO CÂNCER DE MAMA 

REGISTRO DOI:10.5281/zenodo.12752171


Gabriella Vitória Taborda Vessoni1; Nicole Fanelli Tafarelo2; Jean Carlos Fernando Besson3


RESUMO 

O perfil da morbimortalidade brasileira tem sofrido intensas alterações, indo de doenças infecciosas e parasitárias a um quadro de doenças crônico-degenerativas, como o câncer, tendo como principais causas as mudanças nos hábitos de vida e na epidemiologia populacional. O câncer de mama representa a principal causa de morte por câncer em mulheres brasileiras, e ao nível mundial ocupa a segunda posição, perdendo apenas para o câncer de pulmão. O controle dessa doença ocorre por meio da detecção precoce, na qual a lesão ainda se restringe ao parênquima mamário, permitindo o uso de recursos terapêuticos menos mutiladores e maior possibilidade de cura. As opções terapêuticas mais utilizadas para o tratamento locorregional do câncer de mama são a cirurgia e a radioterapia, enquanto para o sistêmico são a quimioterapia, hormonioterapia e imunoterapia. Dessa forma, o presente estudo se propõe a abordar a imunoterapia como tratamento inovador no câncer de mama, visto que historicamente, a quimioterapia havia sido a única opção viável de tratamento sistêmico para doenças precoces e avançadas. No entanto, estudos recentes demonstram que a imunoterapia através do estímulo do sistema imunológico do paciente para combater as células cancerígenas apresenta um papel importante no paradigma de tratamento dessa condição devastadora. 

PALAVRAS-CHAVE: Câncer de mama. Terapêutica avançada. Imunoterapia. 

ABSTRACT 

The profile of Brazilian morbidity and mortality has undergone intense changes, ranging from infectious and parasitic diseases to chronic degenerative diseases, such as cancer, with changes in lifestyle habits and population epidemiology as the main causes. Breast cancer represents the main cause of death from cancer in Brazilian women, and ranks second worldwide, second only to lung cancer. Control of this disease occurs through early detection, in which the lesion is still restricted to the breast parenchyma, allowing the use of less mutilating therapeutic resources and a greater possibility of cure. The most used therapeutic options for the locoregional treatment of breast cancer are surgery and radiotherapy, while for systemic treatment they are chemotherapy, hormone therapy and immunotherapy. Therefore, the present study proposes an approach to immunotherapy as an innovative treatment for breast cancer, given that historically, chemotherapy had been the only viable systemic treatment option for early and advanced diseases. However, recent studies demonstrate that immunotherapy by stimulating the patient’s immune system to combat cancer cells plays an important role in the treatment paradigm for this devastating condition. 

KEYWORDS: Breast câncer. Advanced therapeutics. Immunotherapy. 

1 INTRODUÇÃO 

De acordo com as estimativas do Global Câncer Observatory (Globocan), elaboradas pela International Agency for Research on Cancer (Iarc), o câncer teve um impacto significativo no mundo em 2020. Um total de 19,3 milhões de novos casos da doença foram registrados globalmente (ou 18,1 milhões, se excluirmos os casos de câncer de pele não melanoma). A doença mais comum entre as mulheres no mundo é o câncer de mama, com 2,3 milhões de casos novos representando 11,7% do total. Ao considerar a incidência de câncer de mama no Brasil, de acordo com dados do Instituto Nacional de Câncer (INCA) estima-se 73.610 novos casos no período de 2023 a 2025, o que remete um total de 41,89 casos para cada 100.000 mulheres. Tendo em vista que com o passar da idade sua incidência aumenta e considerando que a maior parte dos casos ocorre a partir dos 50 anos, estima-se uma taxa de mortalidade de 11,71 óbitos por 100.000 mulheres em 2021. (INCA, 2022). 

O Câncer trata-se de um conjunto de doenças com características distintas, mas que têm em comum duas características básicas como o crescimento celular desordenado podendo formar tumores e gera invasão de órgãos e tecidos adjacentes, assim como se reproduzirem em órgãos e tecidos distantes do tumor original resultando em metástases. No entanto, poucas formas de neoplasias são responsáveis pela maioria dos casos de cânceres fatais, sendo a maioria formada por tumores sólidos. No Brasil cerca de 90,0% do total de mortes por câncer em ambos os sexos está associada ao desenvolvimento de neoplasias sólidas. Atualmente, o sistema de classificação editado pela OMS, avalia também um novo parâmetro: a histologia relacionada ao câncer. Esse Sistema expõe um espectro de mais de 600 tipos histológicos, sendo utilizado para classificar as neoplasias sólidas. Essa grande quantia, evidencia o alto grau de heterogeneidade intratumoral do ponto de vista citogenético, metabólico, de receptores hormonais, de vulnerabilidade a radio e quimioterapia, de capacidade angiogênicas e de potencial invasivo e metastático. (CARDIFF; BOROWSKY, 2014) 

As células especializadas e o estroma que compõem o revestimento mamário fazem a transição dos ductos mamilares para os seios lactíferos, dos ductos primários aos ductos ramificados e aos ductos terminais, em unidades lobulares terminais (UDT) individuais. Em cada um desses locais, há uma distribuição de células com funções específicas podendo ter maior ou menor suscetibilidade ao câncer, com sensibilidade ou resistência diferentes aos estímulos ambientais do câncer; portanto, essas regiões distintas podem dar origem a cânceres com comportamentos clínicos variáveis. Em relação aos tipos de câncer mamário, há a classificação quanto a presença dos receptores hormonais (RE, PR ou HER2), os quais favorecem a terapia endócrina e a terapia-alvo evidenciando melhor prognóstico e maiores taxas de sobrevida, ou aqueles ausentes de receptores hormonais, os casos triplo-negativos (TNBCs; i.e., ER+++–PR– HER2–) que tendem a possuir um desfavorável prognóstico. Além disso, a anatomia mamária engloba lóbulos secretores de leite e ductos interlobulares transportadores de leite até o mamilo. Essa definição anatômica é importante para o estudo do câncer de mama, pois além do status de RE/PR/HER2, os tumores de mama humanos são classificados como carcinomas ductais ou como carcinomas lobulares. (SARKAR; MALI, 2023; SANTAGATA, 2014) 

A terapia com quimioterapia emprega substâncias químicas, conhecidas como quimioterápicos, para tratar enfermidades causadas por agentes biológicos. Os medicamentos usados para tratar o câncer afetam tanto as células saudáveis quanto as neoplásicas, porém acabam acarretando maiores danos nas células malignas devido às diferenças entre seus processos metabólicos, trazendo dessa maneira a possibilidade de cura. (TESTA; MANO, 2010) 

Por outro lado, o tratamento pode não ser eficaz, uma vez que o câncer de mama apresenta variados tipos que respondem de maneira distinta ao tratamento. Dessa forma, as combinações de quimioterápicos podem ser adaptadas para garantir uma resposta mais favorável ao organismo. Um problema frequente é o desenvolvimento de resistência das células cancerosas ao tratamento quimioterápico, o que piora o prognóstico do paciente. Quimioterápicos geralmente causam efeitos colaterais, uma vez que seu efeito é sistêmico e atinge tanto as células cancerosas quanto as saudáveis. Dentre os principais efeitos estão: queda de cabelo, diminuição do apetite, alterações nas unhas, náuseas e vômitos, feridas na boca e diarreia. A quimioterapia também afeta a medula óssea e, consequentemente, a formação de células sanguíneas, o que pode causar cansaço, maior reincidência de infecções e surgimento de hematomas, fatores que dificultam a aderência ao tratamento. (FERREIRA; FRANCO, 2017; VERDE et al., 2009). 

Além disso, os quimioterápicos convencionais disponíveis podem causar danos renais e alterações hepáticas, levando a nefrotoxicidade pois acabam por lesar a microvasculatura renal, glomérulo e interstício, e a hepatotoxicidade onde observa-se agressão hepática. A maioria dos casos são reversíveis com a interrupção temporária do tratamento, porém como a quimioterapia é feita em ciclos, os efeitos adversos acabam sobressaindo sobre os efeitos curativos. (PEREZELLA; MOECKEL, 2010) 

A imunoterapia é uma classe de tratamentos que ao longo do tempo vem ganhando uma vasta visibilidade, visto que representa uma alternativa para aqueles pacientes que não conseguiram obter uma resposta satisfatória ao tratamento convencional do câncer. O mecanismo de ação do método imunoterápico, tem como principal objetivo condicionar o sistema imunológico do próprio paciente para que ele reconheça e combata as células tumorais, tornando-o eficiente no enfrentamento às barreiras imunossupressoras estabelecidas pelas células cancerígenas. A essência dessa estratégia é inserir no combate do câncer agentes e mecanismos celulares que em determinado momento falharam no reconhecimento de mutações celulares e não interromperam a proliferação mitótica anormal, antes da formação de um tumor. Sendo assim, o principio imunoterápico baseia-se no fenômeno da vigilância imunológica, realizado pelas células efetoras, tais como linfócitos T, macrófagos e células natural killer, as quais ao não efetuar suas funções específicas são responsáveis pela geração e propagação da malignidade cancerígena. Essa terapêutica é subdividida em tipos, sendo os principais os anticorpos monoclonais e os inibidores do controle imunológico. (EMENS, 2017) 

Os anticorpos monoclonais são a versão artificial, produzida em laboratório, das proteínas do sistema imunológico sendo utilizados para reagir com antígenos específicos de células cancerígenas, atuando de maneira seletiva na eliminação das células tumorais e tendo assim, maior capacidade de preservar as células saudáveis. (BOUREL; TEILLAUD, 2006) Já os inibidores do controle imunológico atuam removendo os sinais de inibição sobre a ativação das células T os quais permitiriam às células tumorais driblar os mecanismos regulatórios do sistema imune. Dessa forma, têm-se imunoterápicos como pembrolizumabe e atezolizumabe com função principal de manter as respostas imunes dentro de um nível fisiológico desejável e proteger o hospedeiro da autoimunidade por meio do bloqueio da interação entre PD-1 receptor de superfície, presente nas células T e B e seu ligante PDL-1 expresso na superfície de determinados tecidos tumorais, evitando assim a expansão tumoral. (REIS; MACHADO, 2020) 

2 METODOLOGIA 

O presente projeto se propõe a ser uma pesquisa qualitativa, do tipo exploratória, com pesquisa bibliográfica e documental ou de dados secundários. (CRESWELL, 2010; GIL, 2012; HULLEY et al., 2015). Em virtude da atualidade do objeto de estudo e dos objetivos propostos os quais possuem inúmeros artigos já publicados e que aumentam a cada momento, a pesquisa é exploratória, na busca por aproximar e estudar a eficácia e os benefícios do tratamento do câncer de mama com base na utilização de imunoterápicos, de modo a agregar e produzir conhecimento para subsidiar futuras pesquisas que envolvam o tema, conforme preconizado por Creswell (2010) e Gil (2012). Para tanto, o estudo exploratório será feito a partir de pesquisa bibliográfica, por meio de bancos de dados de referência na área, como Science Direct, Lilacs, Revista Nature e PubMed. O levantamento de dados se utilizará de descritores como “câncer de mama”, “imunoterapia” e “tratamentos para o câncer de mama”, em publicações de 2010 a 2024, a princípio. Com os artigos científicos resultantes do levantamento feito, em periódicos de alto fator de impacto, propõe-se suas leituras, para identificar, caracterizar e estudar a imunoterapia, aplicando-a ao tratamento do câncer de mama como uma terapêutica eficaz e com o menor número de efeitos colaterais aos pacientes. 

3 DESENVOLVIMENTO 

O câncer é o principal problema de saúde pública no mundo, assumindo o papel de uma das principais causas de morte e por conseguinte, uma das barreiras para o aumento da expectativa de vida global. Em maior parte dos países, corresponde à primeira ou à segunda causa de morte prematura, antes dos 70 anos. Dessa maneira, o envelhecimento, a mudança comportamental e ambiental incluindo mudanças estruturais que impactam na mobilidade, na recreação, na dieta e na exposição a poluentes, implicam no aumento da incidência e da mortalidade por câncer (WILD; WEIDERPASS; STEWART, 2020). 

Analisando a situação atual em relação a ocorrência de câncer na população, dentre os diversos órgãos suscetíveis a desenvolverem essa patologia, o câncer de mama é o mais incidente no mundo, com 2,3 milhões (11,7%) de casos novos. O câncer de mama é uma doença heterogênea com grande variação no que diz respeito a características morfológicas e moleculares e em sua resposta clínica. Quando tratados adequadamente e em tempo oportuno, uma grande parcela dos casos apresenta bom prognóstico (INSTITUTO NACIONAL DE CÂNCER JOSÉ ALENCAR GOMES DA SILVA, 2021b; WILD; WEIDERPASS; STEWART, 2020). 

O fator de risco mais importante para o desenvolvimento do câncer de mama é a idade acima de 50 anos. Demais fatores de risco estão relacionados a condições hormonais ou reprodutivas da paciente, como nuliparidade, gravidez tardia, menor tempo de amamentação; de comportamento, como obesidade, consumo de bebidas alcoólicas, inatividade física; ocupacionais, como trabalho noturno e as radiações, por exemplo raios X e gama; além de fatores genéticos e hereditários (de 5 a 10% dos casos) (INSTITUTO NACIONAL DE CÂNCER JOSÉ ALENCAR GOMES DA SILVA, 2021a, 2021b; SUNG et al., 2021; WILD; WEIDERPASS; STEWART, 2020). 

Levando em consideração os índices de mortalidade no Brasil, ocorreram, em 2020, 17.825 óbitos por câncer de mama feminina, o equivalente a um risco de 16,47 mortes por 100 mil mulheres, número alarmante que declara cada vez mais necessário a implementação de terapêuticas avançadas e eficazes no combate do câncer além de minimizar os efeitos adversos negativos causados às pacientes. (BRASIL, 2022; INSTITUTO NACIONAL DE CÂNCER JOSÉ ALENCAR GOMES DA SILVA, 2020a). 

O Câncer de mama é considerado um conjunto de inúmeras doenças distintas justamente por possuir vários subtipos e sua classificação depende, dentre outros fatores, do local onde se originou, sua extensão, potencial de crescimento e presença ou não de receptores hormonais que fazem com que hormônios como estrogênio e progesterona possam estimular o crescimento do tumor, além de possuir ou não a expressão em quantidade elevada do receptor do fator de crescimento epidérmico humano tipo 2 (HER2), o qual estimula processo de divisão celular. Essas características são fundamentais para explicar o motivo pelo qual dois indivíduos com câncer de mama não seguirem o mesmo tratamento. 

Dessa forma, nos dias atuais são ofertadas diversas terapias empregadas para o tratamento do câncer de mama que diferem entre si no que diz respeito ao mecanismo de ação, eficácia de cura e efeitos colaterais, embora todas visam conter o crescimento e a propagação do câncer, elas são divididas em cirurgia, quimioterapia, radioterapia, terapia hormonal, terapia direcionada, e a imunoterapia, um tratamento alternativo anticancerígeno que vem revelando altos índices de cura. 

O sistema imunológico possui uma série complexa de mecanismos para detectar e erradicar as células cancerosas, mas essas mesmas consideradas protetoras contra o câncer também podem ser as responsáveis por promover a seleção das células tumorais que estão preparadas para enganar o sistema imunológico. As imunoterapias tem como principal objetivo o reconhecimento do câncer pelo sistema imunológico a fim de reativar a resposta imune antitumoral e assim superar as vias que levam ao escape das células cancerosas. A erradicação das células cancerígenas pelo sistema imune é um processo gradual, o qual se inicia com o reconhecimento destas levando a formação de uma resposta imune adaptativa contra essas células atípicas, culminando com a eliminação das mesmas. A inserção da biologia molecular na farmacologia proporcionou uma evolução notória no tratamento neoplásico, pois permitiu mitigar os efeitos mais indesejáveis do tratamento inespecífico, o dano a células saudáveis e a incapacidade de eliminar a doença por completo. (KENNEDY; SALAMA, 2020). 

A destruição imunológica de tumores por clusters de células de diferenciação tumor específico 8 T (CD8 T) é um processo composto por várias etapas e cada um desses passos pode ser regulado para fortalecer ou reduzir a resposta e para evitar danos aos tecidos saudáveis. Primeiramente, os neoantígenos tumorais devem estar presentes em um tumor, e devem ter sidos apresentados às células apresentadoras de antígenos (APC), como as células dendríticas (CD) onde seus antígenos possam ser apresentados às células imunes nos linfonodos, as células T tumor específico devem “reconhecer” esses antígenos através do complexo peptídico do MHC e devem receber os sinais estimulatórios corretos e antes dele ser ativado e começar a proliferação. As células T tumor específicas ativadas então saem dos linfonodos drenantes (dLN) e circulam ao redor antes de adentrarem no tumor. Após entrarem essas células T encontram uma série de mecanismos imunossupressores que precisam superar, e possivelmente irão necessitar de uma re-estimulação pelas células APCs dentro do tumor. Uma vez que essas células T ativadas tenham passado por essas etapas, as mesmas atacam o tumor em um processo que envolve o reconhecimento do antígeno expresso pelo tumor e a liberação de moléculas potentes como a perforina e as granzimas que, em última análise, matam o tumor e a célula tumoral. Células de memória também podem ser geradas a partir deste processo, o que pode ser importante no controle de micrometástases emergentes (STEVEN; FISHER; ROBINSON, 2016). 

Para evitar qualquer dano indesejado causado por células T ativadas aos tecidos circundantes, o sistema imunológico desenvolveu uma variedade de mecanismos internos, ou “pontos de verificação” (PD-1 e CTL-4) os quais são utilizados para modular a duração e a amplitude da resposta imunológica. Esse mecanismo amortece a resposta imunológica e protege contra danos devido à inflamação e à autoimunidade. Isso é alcançado principalmente pela regulação positiva de receptores “co-inibitórios” que agem para “desligar” células T ativadas. Em última análise, é o equilíbrio entre os sinais co- estimulatórios e co-inibitórios que dita o destino das células T ativadas (STEVEN; FISHER; ROBINSON, 2016). 

Há vários tipos de imunoterapia e a sua classificação varia conforme sua atuação no organismo ou medicamentos utilizados, ao ser levado em consideração sua forma de atuação, pode ser classificada como ativa ou passiva, e específica e inespecífica. A imunoterapia ativa visa atuar no próprio sistema imune através de substâncias estimulantes e restauradoras da função imunológica (imunoterapia inespecífica) ou com vacinas de células tumorais (imunoterapia específica), já a imunoterapia passiva é projetada para atuar diretamente no tumor com anticorpos antitumorais que vão ter por objetivo gerar capacidade imunológica para o combate à doença. (FEMAMA) 

Dessa maneira, é possível compreender a atuação de cada subtipo de imunoterapia no tratamento do câncer de mama, sendo as principais e mais utilizadas atualmente, as vacinas antitumorais que são projetadas para induzir imunorreatividade específica do tumor; os anticorpos monoclonais, os quais impedem que os “pontos de verificação” sejam bloqueados por meio da sua reação contra antígenos específicos de células cancerígenas e as citocinas que são agentes imunomoduladores inespecíficos que irão estimular e potencializar a resposta imune.

A imunoterapia ativa específica utiliza vacinas de células tumorais, sendo em geral produzidas a partir das próprias células tumorais do paciente ou por substâncias coletadas a partir das células tumorais. O seu propósito é direcionado para tratar cânceres já estabelecidos, ou seja, tumores metastáticos, visto que o principal objetivo é fortalecer as defesas naturais do organismo contra a doença, compensando o déficit do sistema imunológico sobre o câncer. As células dendríticas pulsadas com antígenos tumorais são o principal composto da imunoterapia com o uso de vacina terapêutica, as quais serão induzidas a ativar células T tumor-específica com posterior eliminação de células tumorais após a apresentação de antígeno tumoral as células T tumor-específicas do paciente. (PENATTI, 2019) 

Já a imunoterapia ativa inespecífica, envolve agentes imunológicos como as citocinas, que são proteínas de sinalização produzidas pelas células brancas do sangue, que atuam na comunicação entre as células no decorrer da resposta imune do corpo. Desse modo, são utilizadas para ativação de células específicas ou ainda para aumentar a resposta imune do corpo contra o câncer, sendo os interferons e as interleucinas os dois principais tipos de citocinas mais usados. (PENATTI, 2019; FEMAMA) 

Além disso destaca-se a imunoterapia passiva, a qual utiliza efetores imunológicos, como os anticorpos monoclonais que ao serem inseridos nos pacientes com tumores, proporcionam resposta rápida e imunidade não duradoura, já que não há ativação do sistema imune do paciente. Atualmente existem mais de 100 tipos de anticorpos monoclonais, mas apenas alguns como o transtuzumabe, rituximabe, atenzolizumabe e pembrolizumabe e alemtuzumabe já são aprovados pelo Food and Drug Administration (FDA) para utilização clínica. Sendo o transtuzumabe a primeira droga com ação em sítios específicos nas células tumorais, a ser utilizado com sucesso no câncer de mama, podendo ser empregado desde carcinomas de mama em estágio iniciais, até nos tumores metastáticos. (SHARMA et al., 2019; MOJA et al., 2012) 

A principal indicação para uso desse anticorpo monoclonal são câncer de mama metastático que tenham superexpressão do HER2, sendo que podem ser empregados como monoterapia em pacientes que já tenham sido tratados com quimioterápicos ou em combinação em pacientes que não tenham recebido quimioterapia. Ademais, deve-se considerar que pacientes com superexpressão do HER2 possuem um pior prognóstico, uma vez que desenvolvem forma mais agressiva do câncer de mama, possuindo altos índices de recidiva e metástase, além de oscilação na resposta ao uso de quimioterápicos. (GOLDHIRSCH,2013) 

O transtuzumabe por ser um anticorpo monoclonal (mAbs), possui anticorpos monovalentes que se ligam ao mesmo epítopo e são produzidos a partir de um único clone do linfócito B. Sua atividade terapêutica se dá através da ligação com o sítio extracelular do receptor, presente nas proteínas transmembranas, para o fator de crescimento epidérmico humano tipo 2 (HER2), ao se ligar há o bloqueio dessa porção extracelular do receptor, dessa forma bloqueiam a ligação destes receptores com o fator de crescimento, inibindo as vias de sinalização que estão relacionadas a proliferação celular, com isso executam efeito citotóxico e citostático. (MOJA et al., 2012; HUDIS, 2007) 

Ao ser utilizado como agente terapêutico de forma isolada, o transtuzumabe gera resposta acima de 35% em casos de câncer mamário metastático, já quando utilizado em associação com outros esquemas quimioterápicos, proporciona efeito sinérgico e maiores taxas de resposta, em torno de 84%. Tendo em consideração os resultados benéficos do trastuzumabe, a partir do ano de 2012, foi disponibilizado pelo Sistema Único de Saúde (SUS), para o tratamento de câncer de mama HER2 inicial e localmente avançado (estágio III), sendo que em 2017 o anticorpo monoclonal foi também estendido para tratar o câncer de mama HER2 metastático. (FARKONA et al., 2016; MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2012) 

Vale ressaltar que o tratamento com o uso do trastuzumabe, apresenta relação com a cardiotoxicidade (redução da fração de ejeção ventricular esquerda e insuficiência cardíaca congestiva) em 0,5 a 4,1% dos pacientes. Porém, para minimizar esse efeito, atualmente emprega-se a associação com uso da doxorrubicina lipossomal que é um medicamento citotóxico que interfere no ADN das células cancerosas, impedindo-as de fazerem mais cópias. (SHARMA et al., 2019; EMA, 2022) 

4 CONSIDERAÇÕES FINAIS 

A principal importância da imunoterapia é a identificação de antígenos tumorais ideais, os quais permitem o desenvolvimento de biomarcadores que associados a quimioterapias oferecem uma abordagem que pode aumentar a capacidade de resposta terapêutica enquanto reduz os efeitos colaterais adversos. A prática clínica atual nos mostra que uma resposta eficaz máxima pode ser atingida através de vários e diferentes mecanismos antitumorais agindo em simultaneidade.

É necessário que ocorra o uso ponderado e racional entre genética, biotecnologia e ensaios clínicos relevantes, com o intuito de fomentar o uso de novas terapêuticas e estratégias para oferecer a melhor abordagem do câncer de mama. As terapias direcionadas ao câncer de mama tipo HER-2, com enfoque para uso da imunoterapia com transtuzumabe, propiciam um aumento satisfatório da sobrevida, sendo indicado como terapia de primeira linha no câncer de mama metastático e com aplicabilidade eficaz em tumores nos estágios iniciais. Nos dias atuais, o uso do anticorpo monoclonal, transtuzumabe é amplamente difundido e aceito, uma vez que notou-se resultados benéficos muito satisfatórios, tanto em termos de cura e melhora da expectativa de vida, quando comparados às terapêuticas tradicionais que já eram empregadas. Os estudos que abordam a atuação e eficácia da aplicação deste anticorpo monoclonal no câncer de mama evidenciaram aumento da sobrevida bem como menores índices de recidiva da doença, ao se comparar as pacientes que receberam os tratamentos quimioterápicos de forma isolada. Dessa forma, o uso do transtuzumabe como terapêutica adjuvante no tratamento do câncer de mama, foi o primeiro tratamento a obter êxito e atualmente tem o seu uso autorizado no Sistema Único de Saúde. (SANTOS, 2014) 

Dessa maneira, análises epidemiológicas a respeito da utilização da imunoterapia, bem como pesquisas que buscam por novas drogas e estratégias para o tratamento de carcinomas são essenciais para conhecer melhor o perfil dos pacientes, objetivando ofertar uma terapia cada vez mais moderna, eficiente e com menores porcentagens de efeitos adversos. Sendo assim, essa terapêutica criou a esperança de aumentar o tempo de vida dos pacientes portadores de câncer por alguns meses, e até mesmo conseguir uma vitória contra o câncer. 

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1,2 Acadêmicas do Curso de Medicina, Campus Maringá-PR, Universidade Cesumar – UNICESUMAR. Bolsista PIBIC/ICETI-UniCesumar gabvessoni@gmail.com 
3 Orientador, Doutor, Docente no Curso de Medicina, UNICESUMAR. Pesquisador do Instituto Cesumar de Ciência, Tecnologia e Inovação – ICETI.jean.besson@docentes.unicesumar.edu.br