IMUNOTERAPIA NO TRATAMENTO DO CÂNCER: CONCEITOS FUNDAMENTAIS, AVANÇOS TERAPÊUTICOS E ANÁLISES DAS VANTAGENS E DESVANTAGENS

IMMUNOTHERAPY IN CANCER TREATMENT: FUNDAMENTAL CONCEPTS, THERAPEUTIC ADVANCES AND ANALYSIS OF ADVANTAGES AND DISADVANTAGES

REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.10109935


Bruna B. Guimarães¹
Julia O. Gonçalves¹
Mainer H. Pinto¹
Sabrina A. de Oliveira¹
Aline A. Antunes²
Gustavo J.V. Pereira³


RESUMO

O câncer é uma das doenças que mais acometem pessoas no mundo, exigindo cada vez mais opções de tratamentos oferecidos pelos centros de saúde. Além dos tratamentos convencionais – quimioterapia e radioterapia – temos atualmente a ascensão de uma terapêutica muito importante e que tem crescido exponencialmente ao longo dos anos: a imunoterapia. Este tratamento consiste em ativar o sistema imunológico do paciente em busca de deter o avanço da doença. Esta forma de terapia é inovadora, mostrando sua grande taxa de efetividade ao longo dos anos, e com um futuro promissor para ser um tratamento útil para todos os tipos de cânceres. Em contrapartida, temos suas desvantagens, principalmente frente à saúde pública, que decorre, principalmente, do alto custo desta terapia.

Palavras-chave: Imunoterapia. Câncer. Tratamento Oncológico. Vantagens e desvantagens da imunoterapia.

1. INTRODUÇÃO

Caracterizado como “a ferida que nunca cicatriza”, o câncer é identificado pela proliferação desordenada de células anormais, chamadas de neoplásicas. Os tumores podem ser caracterizados como benignos, nos quais as células possuem multiplicação ordenada e lenta, possuindo delimitações organizadas; enquanto as malignas dispõem de crescimento rápido e incontrolável, com a capacidade de adentrar outros tecidos do corpo humano (INCA, 2022).

O câncer é uma das doenças que mais causam mortes no mundo, ocasionando em torno de 10 milhões de mortes em 2020, das quais aproximadamente 260 mil foram no Brasil (WHO, 2020; CANCER TODAY, 2020). Sua expectativa de crescimento é de 704 mil novos casos no Brasil de 2023 a 2025, principalmente nas regiões Sul e Sudeste, onde está localizada a maioria da população do país. A maior ocorrência de câncer é o de pele não maligno (31,3%), de mama feminina (10,5%), próstata (10,2%) e, por fim, cólon e reto (6,5%) (INCA, 2022; INCA 2023).

Os principais e mais conhecidos tratamentos oncológicos existentes hoje em dia são a quimioterapia e a radioterapia. A quimioterapia consiste no uso isolado ou em conjunto de medicamentos a depender do tipo de câncer, que podem classificar a quimioterapia entre vermelha (mais forte, com mais efeitos colaterais) e branca (mais branda). Suas vias de aplicação são: intravenosa, oral, intramuscular, subcutânea, tópica e intratecal. Já a radioterapia é caracterizada pela emissão de radiação ionizante, interceptando o ciclo celular das células cancerígenas (IPEN, 2018).

Além disso, as terapêuticas auxiliares e integrativas também podem ser consideradas, bem como a imunoterapia, sendo o objetivo deste estudo compilar as informações deste tipo de tratamento, tal qual seu mecanismo de funcionamento, suas vantagens e desvantagens e compreender o porquê de ainda ser pouco usado em relação às terapias convencionais.

2. DESENVOLVIMENTO

2.1. O SISTEMA IMUNOLÓGICO

    O corpo humano está diariamente exposto a diversos agentes patogênicos, necessitando de uma barreira de resguardo para se proteger. Ao longo da vida, são produzidas células alteradas, mas o nosso sistema imunológico possibilita a defesa e interrupção deste processo. A integridade deste sistema, a capacidade de reparo ao DNA danificado por agentes cancerígenos e a ação de enzimas específicas pela eliminação de substâncias cancerígenas são exemplos de mecanismos de defesa (INCA, 2022).

    O nosso sistema imunológico é integrado por um sistema de células distribuídas numa rede complexa de órgãos, como o fígado, o baço, os gânglios linfáticos, o timo e a medula óssea, e circulando na corrente sanguínea. Esses órgãos são denominados órgãos linfoides. Dentro destes órgãos temos células que são de extrema importância para a defesa de ataque contra agentes invasores. Dentre as células mais conhecidas temos os linfócitos, que têm, por exemplo, um papel de extrema importância na defesa do processo de carcinogênese (INCA, 2022).

    O progresso de doenças infecciosas em um indivíduo se dá pelas interações complexas entre patógenos e hospedeiros. Durante uma infecção temos alguns atos imprescindíveis que se dão pela entrada de agentes infecciosos. Os patógenos, dependendo do local onde se replicam e da sua dimensão, desencadeiam uma resposta imunológica ao organismo que chamamos de imunidade inata, e muitas infecções se solucionam por meio deste sistema. Quando esta barreira não é suficiente e o microrganismo consegue ultrapassá-la, temos um sistema imune adicional, a imunidade adaptativa (NETO, UF, 2020).

    2.2. A IMUNIDADE INATA, ADAPTATIVA E CELULAR

    A imunidade inata, também conhecida por memória natural, não pleiteia uma exposição anterior a um antígeno (memória imunológica) para ser eficaz. Esta imunidade reconhece principalmente padrões moleculares vastamente difundidos ao invés de um antígeno específico. Os componentes deste sistema incluem células fagocíticas (p.ex., neutrófilos, macrófagos), que fagocitam e degradam antígenos invasores. Outro componente são os leucócitos polimorfonucleares, as células dendríticas e as células linfoides inatas (p. ex., células NK), que reconhecem e induzem a apoptose, destruindo células infectadas ou células tumorais. Estas utilizam de mecanismos de reconhecimento de peptídeos celulares para identificar células estranhas e degradá-las (DELVES, PJ, 2021).

    A imunidade adaptativa, ao contrário da imunidade inata, requer uma primeira exposição a um antígeno para ser plenamente eficaz, e, para se desenvolver após o primeiro contato com um novo invasor demanda tempo. A partir daí, a resposta se torna mais rápida (DELVES, PJ, 2021).

    A imunidade celular é uma variável do sistema adaptativo, com mecanismos de defesa capazes de combater microrganismos extra e intracelulares, e células tumorais. Este sistema também é um grande responsável pelas condições autoimunes. Neste complexo temos a presença de células T. As células T CD8+ têm capacidade de eliminar células infectadas e tumorais por meio de indução de apoptose. Já as células T CD4+ e suas interações com o antígeno, determinam uma resposta auxiliar aos demais leucócitos. Por meio de alguns acontecimentos da imunidade inata, temos a produção de IL-12 e Interferon Gama, que acarreta na conversão de células T CD4+ em células TH1. Os macrófagos são excitados pela liberação de IL-12 e interferon gama desde as células Th-1. Células Th-1 passam a secretar citocinas de forma autossuficiente, as quais se preparam para uma resposta imunológica vigorosa, que resultam em uma condição pró-inflamatória, desempenhando um papel essencial na erradicação, por exemplo, de vírus. (NETO, UF, 2020).

    Este tipo de imunidade demonstra o fenômeno de células de memória, onde a interação com antígenos e alterações nas superfícies moleculares e intracelulares, permitem que as células T adquiram uma resposta mais rápida e específica quando expostas novamente ao mesmo antígeno. As células T têm a capacidade de “lembrar” de antígenos que já combateram e sabem exatamente como sobrepujá-los caso se apresentem novamente. Esta é a base na qual está por trás o mecanismo de vacinação (NETO. UF, 2020).

    2.3. A IMUNOTERAPIA

    A imunoterapia, também reconhecida como terapia biológica, representa uma estratégia terapêutica mais inovadora que se fundamenta na ativação do sistema imunológico do organismo com o propósito de combater o câncer. Destaca-se pela capacidade de induzir uma resposta imunológica direcionada contra as células cancerosas, explorando os mecanismos inatos de defesa do corpo. Um elemento crítico dessa abordagem terapêutica reside no uso de anticorpos monoclonais, que desempenham uma função essencial no bloqueio de funções celulares tumorais específicas. Esses anticorpos possuem a habilidade de se ligar a receptores na membrana celular das células cancerosas, desencadeando a atração do sistema imunológico para o local afetado e estimulando a erradicação das células malignas.

    Uma característica notável da imunoterapia é sua capacidade de mitigar os efeitos adversos em comparação com outras modalidades de tratamento (PADILHA; LUDMILA. 2020)

    A homeostase do sistema imunológico é mantida graças a mecanismos que permitem às células T reconhecerem os antígenos como próprios, que normalmente estão presentes nas outras células do próprio organismo. Esses mecanismos, chamados coletivamente de tolerância imunológica, desempenham um papel crucial na prevenção de respostas autoimunes ao longo da vida. No entanto, é importante notar que cada célula do nosso corpo sofre danos diariamente em seu material genético e erros durante o processo de duplicação celular, estimados em mais de 20.000 e 10.000 respectivamente (MOTA, 2020).

    O aparato complexo e eficaz de reparação desses danos evita a propagação de erros, mantendo as células em seu estado normal durante a duplicação. Quando esses mecanismos de reparação não conseguem cumprir sua função e as células descendentes perpetuam o erro, novos antígenos passam a ser expressos na superfície dessas células (MOTA, 2020).

    Entretanto, a imunoterapia transcende o mero estímulo do sistema imunológico. Ela também se concentra na regulação da resposta imunológica por meio de pontos de controle imunológico, onde sinais estimulatórios e inibitórios equilibram a ação das células efetoras, predominantemente células T. Esses pontos de controle, quando bloqueados por anticorpos monoclonais, têm demonstrado sucesso em modelos animais, restaurando a resposta imunológica contra o câncer (JÚNIOR et al, 2023).

    Os anticorpos monoclonais, derivados de um único linfócito B, constituem componentes essenciais no tratamento de tumores. Sua habilidade de se ligar seletivamente a um determinante antigênico específico confere-lhes eficácia no bloqueio de fatores de crescimento ou receptores de células cancerosas, bem como na indução direta de apoptose das células tumorais. Adicionalmente, eles ativam o sistema imunológico por meio da região constante dos anticorpos, desencadeando a citotoxicidade mediada por células dependentes de anticorpos. Este processo envolve a ação de macrófagos, células NK e possivelmente granulócitos.

    2.4. OS ANTICORPOS MONOCLONAIS

    Os anticorpos monoclonais (mABs, na sigla em inglês) são imunoproteínas que possuem a capacidade de reconhecimento e ligação à antígenos específicos, desencadeando respostas imunológicas direcionadas e gerando menos efeitos tóxicos do que a quimioterapia quando aplicados ao tratamento oncológico. Esse método terapêutico foi desenvolvido devido ao avanço das técnicas de biologia molecular e celular. Essas imunoproteínas, que possuem um complexo mecanismo de ação, são imunoglobulinas originadas de um mesmo clone de linfócito B. A preservação do tecido saudável se dá por conta da reação à antígenos específicos de determinadas células, demonstrando o quão inovador este tratamento é no ataque seletivo de células tumorais. (MOTA, 2020).

    A sua notável especificidade reduz grandemente os efeitos secundários, tornando-os um excelente tratamento. Estes anticorpos podem ser utilizados inteiros ou em combinação com outras moléculas que exercem um efeito específico e controlado sobre um determinado alvo. (MACIEL: THAYANA, 2022).

    Os mABs, proteínas cujo mecanismo de ação é complexo, possibilitando a alteração das funções e ações dessas moléculas que possuem relevante atividade na carcinogênese (processo de formação do câncer), bloqueando fatores ou receptores importantes para as células. Portanto, os anticorpos têm sido considerados uma tecnologia inovadora para o tratamento de certos tipos de câncer e espera-se que atinjam e matem seletivamente as células tumorais. (VIDAL; FIGUEIREDO; PEPE, 2018)

    Os anticorpos monoclonais originalmente desenvolvidos eram murinos (produzidos por camundongos) e tinham menor eficácia terapêutica devido à resposta imunológica do organismo. Essa resposta imune está relacionada à sua origem animal. A busca pela minimização da imunogenicidade dos anticorpos monoclonais murinos foi demonstrada durante a realização de ensaios clínicos e no processo de registro de medicamentos. Foi observada uma tendência crescente em ensaios clínicos de anticorpos monoclonais humanos e humanizados. O desenvolvimento de anticorpos humanos tem mostrado um enorme progresso, com um número crescente de anticorpos aprovados por agências reguladoras em todo o mundo, sendo a oncologia uma das principais áreas de aplicação desta terapia. Os avanços na produção em larga escala desses anticorpos monoclonais, em que os anticorpos murinos são substituídos por anticorpos quiméricos, humanizados e humanos, proporcionam tratamentos mais seguros aos pacientes, reduzindo a resposta imunológica gerada. (MACIEL: THAYANA, 2022)

    Os mAbs podem ser classificados em quatro categorias principais: murinos, quiméricos, humanizados e humanos. Para tornar esses mAbs mais seguros e menos imunogênicos, foram desenvolvidos os anticorpos quiméricos, (Tabela 1), que consistem na combinação da região variável de camundongos com a região constante de anticorpos humanos. Os mAbs humanizados (Tabela 2), foram projetados com regiões hipervariáveis de camundongos e uma estrutura complementar de anticorpos humanos, enquanto os mAbs humanos (Tabela 3), são totalmente compostos por sequências de aminoácidos derivadas de anticorpos humanos. Os anticorpos quiméricos possuem uma estrutura aproximadamente 70% humana, enquanto os humanizados têm entre 85% e 90% de estrutura humana. (MACIEL: THAYANA, 2022)

    Tabela 1: Dois mABs quiméricos comercializados, seu nome comercial, seu antígeno alvo e a indicação clínica para cada tratamento oncológico.

    NomeNome comercialAntígeno AlvoIndicação Clínica
    RituximabeMabthers®CD20Linfoma não-Hodgkin; leucemia linfocítica crônica; artrite reumatoide e vasculites
    CetuximabeErbitux®EGFRColorretal; cabeça e pescoço

    Fonte: Adaptado de JÚNIOR etal, 2023.

    Tabela 2: Três mABs humanizados comercializados, seu nome comercial, seu antígeno alvo e a indicação clínica para cada tratamento oncológico.

    NomeNome comercialAntígeno AlvoIndicação Clínica
    TrastuzumabeHerceptin®HER2Mama; gástrico
    NimotuzumabeCimaher®EGFRGliomas (população pediátrica)
    ObinutuzumabeGazyva®CD20Leucemia linfocítica crônica

    Fonte: Adaptado de JÚNIOR et al, 2023.

    Tabela 3: Três mABs humanos comercializados, seu nome comercial, seu antígeno alvo e a indicação clínica para cada tratamento oncológico.

    NomeNome comercialAntígeno AlvoIndicação Clínica
    NivolumabeOpdivo®PD1Melanoma; pulmão; células renais
    OfatumumabeArzerra®CD20Leucemia linfocítica

    crônica (LLC)
    PanitumumabeVectibix®EGFRColorretal

    Fonte: Adaptado de JÚNIOR et al, 2023.

    2.5. IMUNOTERÁPICOS AUTORIZADOS NA ATUALIDADE

    De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), houve um aumento significativo nos gastos com novos medicamentos para o tratamento do câncer entre 2005 e 2015, embora esse aumento não tenha necessariamente resultado em uma melhoria substancial na expectativa de vida dos pacientes. Nos Estados Unidos, em 2008, o custo médio de um tratamento de 18 semanas com o medicamento cetuximabe, um tipo de anticorpo monoclonal, já atingia cerca de 80 mil dólares por paciente. Similarmente, o bevacizumabe, outro medicamento biológico, custava, em média, 90 mil dólares por paciente para tratar o câncer de mama metastático. Essa tendência de aumento dos preços de medicamentos não é exclusiva dos Estados Unidos e é observada no Brasil, onde os medicamentos biológicos representam uma parcela significativa das aquisições pelo Ministério da Saúde. Isso se deve não apenas à crescente adoção desses produtos como terapia de primeira escolha, mas também ao alto valor associado a essa categoria de medicamentos (VIDAL; FIGUEIREDO; PEPE, 2018).

    3. RESULTADOS E DISCUSSÕES

    O tratamento por imunoterapia, é uma alternativa atual, menos agressiva no combate a doenças neoplásicas, sua abordagem representa uma alternativa aos pacientes com câncer nos quais as terapias convencionais não alcançaram respostas satisfatórias. Este tratamento faz com que a defesa do organismo através dos glóbulos brancos, reaja contra as células, tornando-o sistema imune hábil para driblar barreiras imunossupressoras criadas pelas células cancerígenas. O tratamento age de forma isolada na célula alvo, evitando uma toxicidade fora da malignidade celular e reduzindo os danos às células saudáveis, mantendo-se íntegra outras estruturas celulares e minimizando efeitos colaterais sobre a vida do indivíduo (ACCAMARGO, 2021).

    Estudos feitos recentemente mostram a vantagem desse tratamento atual e a sua eficácia, o princípio da imunoterapia fundamenta-se no fenômeno da vigilância imunológica, realizado pelas células efetoras citadas, como linfócitos T, macrófagos e células natural killers que podem ser enganadas pela imunossupressão de um tumor, levando ao desenvolvimento do câncer. O tratamento imunoterápico ocorre em conjunto com a administração de tratamentos já existentes, pois ele foca seu trabalho na preparação do ambiente imunológico do tumor, a fim de potencializar a estratégia de tratamento (ACCAMARGO, 2021).

    A particularidade da imunoterapia através das células T, se destacam, pelo alto poder de reconhecimento e destruição de células cancerígenas. As células T são auto-reativas que, eventualmente, passam do processo de seleção negativa regulatória, tornando-se esse reconhecimento mais eficaz para uma resposta antitumoral. Ou seja, é ocasionado um alerta que faz com que o próprio sistema imunológico ataque estas células ou proteínas anormais, podendo assim contornar problemas e limitações das terapias convencionais. Algumas de suas evidências promissoras é a atenuação dos efeitos colaterais reduzidos, como disfunção gastrointestinal, que por consequência ocasiona a perda de peso, náuseas, vômitos, entre outros sintomas, portanto é gerado um conforto maior ao indivíduo que se submete a este tratamento, garantindo a integridade celular de células não tumorais (CIVES, M, 2021).

    Respostas duradouras, e maior taxa de efetividade são observadas mesmo após o término do tratamento, devido à destruição e reconhecimento de células cancerígenas no sistema imunológico. Meios de tratamento por imunoterapia na dependência de inibidores de checkpoint: anticorpos PD1/PD-L1 e os anticorpos anti-CTLA4 (ACCAMARGO 2021).

    Uma das abordagens da imunoterapia coexistente para estimular ligantes co-estimulatórios de células T, é através da inibição do antígeno 4 de linfócito T citotóxico (CTLA-4). O inibidor de CTLA-4 é uma molécula presente na superfície dos linfócitos T, responsável por diminuir a ativação linfocitária em consequência da resposta imune, os meios pelos quais o CTLA-4 inibe a função das células T são os mais abrangidos. CTLA-4 é uma glicoproteína transmembrana, que desempenha um papel fundamental no desenvolvimento da tolerância periférica as auto-proteínas, pois possui mecanismo inibitório de resposta inflamatória contra o câncer, evitando dano tecidual descontrolado, porém, este mecanismo acaba protegendo células de origem cancerígenas, e ao bloquear sua ação, melhora-se a resposta antitumoral. Um fármaco utilizado para esse bloqueio, é o fármaco Ipilimumabe que é um medicamento à base de anticorpos monoclonais que inibe o CTLA-4, estimulando a resposta imunológica, a eficácia do uso levou à estudos e reconhecimento de outros mecanismos de regulação imunológica, sendo um grande aliado ao tratamento oncológico (FRONT IMMUNOL, 2022).

    Já no estímulo de checkpoint o Inibidor de PD-1: que é uma proteína na superfície dos linfócitos T colaboram para manter as respostas imunes do corpo sob controle, agindo como interruptor, que impede que as células t ataquem outras células do corpo. Quando a PD-1 se liga a outra proteína chamada PDL-1 mostraram resposta clínica positiva em diversos tipos de tumores, atacando as células malignas (CANCER IMMUNOL, 2019).

    Esse campo de tratamento para o câncer é exponencial. O conhecimento do potencial do sistema imune contra células cancerígenas não é recente, a imunoterapia pode ser adaptada às características genéticas e imunes de cada paciente, tornando-a um tratamento personalizado e eficaz, sua baixa suscetibilidade ao problema de resistência ao tratamento é de menor risco, pois neste tratamento o sistema imunológico é fortalecido como um todo, criando um potencial para tratar diversos tipos de câncer (FREIRE, D, 2019).

    A comprovação na eficácia do tratamento são grandes nos dias atuais, embora a imunoterapia ainda seja estudada, a modulação da resposta imune reduz respostas de forma descontrolada, a ativação desse sistema é alcançada no controle de progressão tumoral , é comum vermos fármacos a base de anticorpos monoclonais que auxiliando nesse processo como ipilimumab, pembrolizumab, atezolizumabm, duravalumab e nilovumab (ESFAHANI, K, 2021).

    Os resultados obtidos pelos estudos clínicos demonstram uma animadora perspectiva positiva em relação a esse meio de tratamento para combate ao câncer. No entanto, os resultados mais positivos desse tratamento têm sido com terapias de células adotivas ( terapia por meio de transferência de célula t), como linfócitos infiltrantes tumorais (TILs) e , principalmente, as que utilizam células T CAR; essa tecnologia CAR-T Cell é um tipo de imunoterapia que utiliza os linfócitos T, células responsáveis por combater agentes patogênicos e matar células infectadas, Por meio dela, os linfócitos T são retirados do organismo, isolados e ativados sendo “reprogramados” para conseguirem identificar células do câncer. A aplicação dessas terapias ainda é um desafio, já que a produção das células adotivas não possui métodos consolidados de produção e envolve engenharia genética de alto custo (CANCER LETT, 2022).

    A imunoterapia pode ter efeitos colaterais, como desvantagem, pois está direcionada a estimular o sistema imunológico, o que pode levar a reações indesejadas, tais como como reações alérgicas inflamação de órgãos, fadiga náuseas, vômitos, diarreia, erupções cutâneas e problemas respiratórios. Portanto, é fundamental que o tratamento seja realizado sob a supervisão de profissionais de saúde especializados. Apesar dos benefícios da imunoterapia, seu tratamento pode levar meses ou anos, pois se trata de um prazo prolongado (NIH 2023).

    Também podemos citar como uma desvantagem, o tratamento não ser acessível para todos os tipos de câncer, pois a imunoterapia depende do tipo de tumor e fase clínica apresentada. No Brasil, os fármacos imunoterápicos atualmente aprovados são para os cânceres de pulmão, rim, bexiga, estômago, cabeça e pescoço, melanoma e alguns subtipos de cânceres de mama e pele. Cânceres que não respondem bem a imunoterapia podem ser citados alguns exemplos, tais como: câncer de mama e triplo negativo apresenta uma menor resposta comparada a outros subtipos; câncer de próstata possui uma resposta limitada ao tratamento de imunoterapia isolada, contudo em casos de combinação com outros tratamentos podem ser positivos; tumores sólidos com baixa carga mutacional como: estômago e pâncreas também são observados uma baixa efetividade. (ACCAMARGO, 2022).

    O comparativo com tratamentos convencionais ressalta que a imuno tem seu custo muito elevado, um exemplo é o medicamento pembrolizumab aprovado no Brasil, o tratamento pelo SUS pode ser limitado devido sua alta demanda, com isso é limitado o acesso de tratamento para muitos pacientes. Seu alto custo pode estar ligado a diversos fatores desde o desenvolvimento e produção do medicamento até a necessidade de teste e monitoramento recorrente durante o tratamento, devido aos resultados promissores de doenças tratadas com a imunoterapia é importante que a sociedade tenha acesso acessível a esse tratamento tão promissor caso haja necessidade (PAIANO, LCF, 2022).

    4. METODOLOGIA

    O estudo apresentado tem como desígnio trazer uma revisão integrativa sobre o tema descrito, desse modo torna-se importante citar quais são as reais potencialidades e aplicações terapêuticas da imunoterapia como forma de tratamento do câncer, uma vez que abordamos as vantagens e desvantagens deste método. Para a coleta das informações estudadas e dados apresentados foi realizado o levantamento de artigos científicos de 2019 até o ano de 2023 nos bancos de dados, com base em dados e informações no Google Acadêmico, Pubmed e Scielo, e sites como A.C.Camargo, INCA, Revista Científica e MSD Manuals, utilizando os seguintes descritores: câncer, imunoterapia, sistema imunológico, anticorpos monoclonais e tratamentos oncológicos.

    5. CONCLUSÃO

    A imunoterapia faz parte de um grupo de tratamentos que serão cada vez mais conhecidos e praticados, tanto no Brasil quanto no mundo. Suas respostas duradouras, taxas de efetividade e adaptação para cada paciente são pontos satisfatórios para o seu uso, possuindo apenas alguns efeitos colaterais que podem ser controlados pela assistência médica.

    O tratamento, porém, possui como ponto negativo o seu custo muito alto, que é devido a sua produção, desenvolvimento e testes recorrentes. Com isso, apesar de ser eficaz e promissor, o seu uso acaba sendo limitado pelo Sistema Único de Saúde.

    REFERÊNCIAS

    1. World Health Organization. Cancer. Disponível em:<https://www.who.int/news-room/fact-sheets/detail/cancer>. Acesso em: 04 de setembro de 2023.
    1. INSTITUTO NACIONAL DE CÂNCER JOSÉ ALENCAR GOMES DA SILVA (INCA) Estimativa 2023: incidência do Câncer no Brasil. Disponível em: <https://www.gov.br/inca/pt-br/assuntos/cancer/numeros/estimativa>. Acesso em: 25 de agosto de 2023.
    1. INSTITUTO NACIONAL DE CÂNCER JOSÉ ALENCAR GOMES DA SILVA (INCA). Como o organismo se defende. Disponível em:<https://www.gov.br/inca/pt-br/assuntos/cancer/como-surge-o-cancer/como-o-organis mo-se-defende>. Acesso em: 12 de setembro de 2023.
    1. NETO, U.F. Sistema Imunológico Humano: uma revisão atualizada. Disponível em:<https://www.igastroped.com.br/sistema-imunologico-humano-uma-revisao-atualizad a/>. Acesso em: 12 de setembro de 2023.
    1. DELVES, P. J. Visão geral do sistema imunitário. Disponível em:<https://www.msdmanuals.com/pt-br/profissional/imunologia-dist%C3%BArbios-al%C 3%A9rgicos/biologia-do-sistema-imunit%C3%A1rio/vis%C3%A3o-geral-do-sistema-i munit%C3%A1rio?query=Imunidade%20inat>. Acesso em: 13 de setembro de 2023.
    1. John R. David e Cox Terhorst. Órgãos e células do sistema imunológico. Disponível em:<https://www.medicinanet.com.br/conteudos/acp-medicine/4548/orgaos_e_celulas_d o_sistema_imunologico john_r_david_e_cox_terhorst.htm>. Acesso em: 13 de setembro de 2023.
    1. Júnior, Joaquim, et al. “Atualização Sobre O Uso Da Imunoterapia No Tratamento Do Câncer.” Brazilian Journal of Health Review, vol. 6, no. 3, 6 June 2023, pp. 12101–12114, <https://doi.org/10.34119/bjhrv6n3-290>. Acesso em: 08 de setembro de 2023.
    1. Padilha, Marcos, e Ludmila Costa. “Aspectos Moleculares Da Imunoterapia e Eficácia Imunomoduladoras Dos Checkpoints Como Terapias Anticâncer.” Saúde Em

    Foco: Temas Contemporâneos, vol. 3, jan. 2020, pp. 104–111, downloads.editoracientifica.com.br/articles/201001771.pdf<https://doi.org/10.37885/201001771>. Acesso em: 02 de setembro de 2023.

    1. Mota, Augusto. “Imunoterapia Do Câncer: Uma Nova Era.” Revista CientíficaHospitalSantaIzabel, vol. 3, no. 1, 9 May 2020, pp. 9–19, revistacientifica.hospitalsantaizabel.org.br/index.php/RCHSI/article/view/35,<https://doi.org/10.35753/rchsi.v3i1.35>. Acesso em: 17 de setembro de 2023.
    1. Maciel, Igor, and Thayana Araujo. O USO de ANTICORPOS MONOCLONAIS NO TRATAMENTO ONCOLÓGICO. 2022.
    1. VIDAL, T. J.; FIGUEIREDO, T. A.; PEPE, V. L. E. O mercado brasileiro de anticorpos monoclonais utilizados para o tratamento de câncer. Cadernos de Saúde Pública, v. 34, n. 12, 29 nov. 2018.
    1. A. C. CAMARGO CANCER CENTER. Tudo sobre imunoterapia. Disponível em:<https://accamargo.org.br/sobre-o-cancer/tratamento-oncologico/tudo-sobre-imunote rapia>. Acesso em: 12 de setembro de 2023.
    1. MANDRIANI, B. et al. Adoptive T-cell immunotherapy in digestive tract malignancies: Current challenges and future perspectives. Cancer treatment reviews, v. 100, n. 102288, p. 102288, 2021.
    1. KATARU, R. P. et al. Tumor lymphatic function regulates tumor inflammatory and immunosuppressive microenvironments. Cancer immunology research, v. 7, n. 8, p. 1345–1358, 2019.
    1. FREIRE, D. Imunoterapia: a virada do sistema imunológico contra o câncer. Ciencia e cultura, v. 71, n. 4, p. 13–15, 2019.
    1. ESFAHANI, K. et al. A review of cancer immunotherapy: From the past, to the present, to the future. Current oncology (Toronto, Ont.), v. 27, n. 12, p. 87–97, 2020.
    1. HUANG, C.-P. et al. Intratumoral xenogeneic tissue-specific cell immunotherapy inhibits tumor growth by increasing antitumor immunity in murine triple negativebreast and pancreatic tumor models. Cancer letters, v. 545, n. 115478, p. 115478, 2022.
    1. Side effects of immunotherapy. Disponível em:<https://www.cancer.gov/about-cancer/treatment/types/immunotherapy/side-effects>. Acesso em: 10 de setembro de 2023.
    1. PAIANO, L.C.F.; NOBRE, E.S.M.; SOARES, C.A.O; JANUTH, N.V,; ALENCAR, T.W.A,; COELHO, V.V,; VALLEJO, N.M. Importância e desafios da imunoterapia para tratamento de câncer no Brasil. Disponível em:
    2. <https://periodicos.saolucasjiparana.edu.br/foruns/article/view/26/313>. Acesso em: 10 de setembro de 2023.
    1. World Health Organization. Cancer Today, Estimated crude mortality rates in 2020, all cancers, both sexes, all ages, South America. Disponível em:<https://gco.iarc.fr/today/online-analysis-map?v=2020&mode=population&mode_pop ulation=continents&population=900&populations=900&key=asr&sex=0&cancer=39&t ype=0&statistic=5&prevalence=0&population_group=0&ages_group%5B%5D=0&ag es_group%5B%5D=17&nb_items=10&group_cancer=1&include_nmsc=0&include_n msc_other=0&projection=natural-earth&color_palette=default&map_scale=quantile& map_nb_colors=5&continent=0&show_ranking=0&rotate=%255B10%252C0%255D>. Acesso em: 04 de setembro de 2023.
    1. PAIANO, Letycia Costa de França etal (org.). Importância e desafios da imunoterapia para tratamento de câncer no Brasil. 2021. Disponível em: https://periodicos.saolucasjiparana.edu.br/foruns/article/view/26. Acesso em: 21 ago. 2023.

    1 Discentes do Curso Superior de Biomedicina da Universidade Anhembi Morumbi Campus Mooca, e-mail: bruubonafe@gmail.com, sabrina.amador@hotmail.com, goncalvesjulia.2902@outlook.com, mhiiasmin@gmail.com.

    2 Docente do Curso Superior de Biomedicina da Universidade Anhembi Morumbi, Campus Mooca. Doutora em Biotecnologia Aplicada à Saúde. E-mail: alexandrinoaa@gmail.com.

    3 Docente do Curso Superior de Biomedicina da Universidade Anhembi Morumbi, Campus Mooca. Mestre em Ciências. E-mail: gustavo.vasco@ulife.com.br.