IMUNOTERAPIA NO CÂNCER: PROGRESSO E DESAFIOS NO TRATAMENTO ONCOLÓGICO

CANCER IMMUNOTHERAPY: PROGRESS AND CHALLENGES IN ONCOLOGICAL TREATMENT

REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/ni10202410100804


Wallison Pablo Sousa Lopes; Clévia Maria de Sousa; Iany Santos Rocha; Thaís Ferreira Campos; Rafael Assis Pestana dos Santos; Isabela Marzenta; André Alves Rodrigues Nunes; Aisley Alyne Alvim de Oliveira; Leticia Kaori Yoshihara; Jackelyne Gabrielle Jesus de Miranda


RESUMO

O tratamento do câncer evoluiu significativamente nas últimas décadas, especialmente com a introdução da imunoterapia, que estimula o sistema imunológico a atacar células cancerígenas. Essa abordagem inovadora, em contraste com as terapias convencionais, como quimioterapia e radioterapia, tem demonstrado melhorar as taxas de tratamento e possibilitar respostas prolongadas. Os inibidores de checkpoint imunológico, como pembrolizumabe e nivolumabe, têm sido marcos importantes na imunoterapia, aumentando a resposta imune contra tumores e, quando combinados com quimioterapia, potencializando a eficácia do tratamento. A personalização da imunoterapia, através da análise molecular e identificação de neoantígenos, representa uma estratégia promissora para otimizar resultados e superar desafios. Contudo, a variação na resposta terapêutica e os efeitos colaterais, como colite e dermatite, permanecem preocupações. Além disso, a terapia com células CAR-T e anticorpos monoclonais têm mostrado resultados promissores, oferecendo novas opções de tratamento. Apesar do potencial transformador da imunoterapia, a heterogeneidade tumoral e a resistência imunológica ainda são desafios que necessitam de atenção. Este artigo revisa os recentes avanços e inovações na imunoterapia do câncer, discutindo suas implicações clínicas e os desafios que ainda precisam ser superados para melhorar a eficácia e a acessibilidade das terapias, enfatizando a importância de uma abordagem multidisciplinar na pesquisa e desenvolvimento de novos tratamentos. Palavras-chave: Câncer, Imunoterapia, Tratamento.

ABSTRACT

Cancer treatment has evolved significantly in recent decades, especially with the introduction of immunotherapy, which stimulates the immune system to attack cancer cells. This innovative approach, in contrast to conventional therapies such as chemotherapy and radiotherapy, has been shown to improve treatment rates and enable prolonged responses. Immune checkpoint inhibitors, such as pembrolizumab and nivolumab, have been important milestones in immunotherapy, boosting the immune response against tumors and, when combined with chemotherapy, enhancing treatment efficacy. The personalization of immunotherapy, through molecular analysis and identification of neoantigens, represents a promising strategy for optimizing results and overcoming challenges. However, variation in therapeutic response and side effects, such as colitis and dermatitis, remain concerns. In addition, CAR-T cell therapy and monoclonal antibodies have shown promising results, offering new treatment options. Despite the transformative potential of immunotherapy, tumor heterogeneity and immune resistance are still challenges that need attention. This article reviews recent advances and innovations in cancer immunotherapy, discussing their clinical implications and the challenges that still need to be overcome to improve the efficacy and accessibility of therapies, emphasizing the importance of a multidisciplinary approach in the research and development of new treatments.

Keywords: Cancer, Immunotherapy, Treatment.

INTRODUÇÃO

O tratamento do câncer passou por mudanças significativas nas últimas décadas sob influência dos avanços científicos e tecnológicos. Os programas de tratamento tradicionais, como cirurgia, quimioterapia e radioterapia, foram ampliados e complementados de forma mais precisa e eficaz. Uma destas abordagens é a imunoterapia, que representam um salto em frente na abordagem desta doença devastadora (Zuqui, 2023).

A imunoterapia emergiu como uma das abordagens mais promissoras para o tratamento do câncer, revolucionando as estratégias tradicionais de tratamento e oferecendo uma nova esperança aos pacientes com diversas neoplasias malignas. Ao contrário dos tratamentos convencionais, como a quimioterapia e a radiação, que afetam diretamente as células tumorais, a imunoterapia visa estimular o sistema imunológico do paciente a identificar e destruir as células cancerígenas. Esta abordagem inovadora não só melhorou as taxas de sobrevivência em muitos tipos de câncer, mas também mostrou a possibilidade de respostas a longo prazo, uma vez que o sistema imunitário pode continuar a lutar no organismo mesmo após a interrupção do tratamento (Soares, 2024).

Um dos avanços mais significativos na área da imunoterapia tem sido o desenvolvimento de inibidores de checkpoint imunológico. Essas substâncias farmacológicas, tais como o pembrolizumabe e o nivolumabe, atuam no bloqueio das proteínas que restringem a atividade das células T, resultando numa resposta imunológica mais intensa contra os tumores. Estudos recentes indicam que a combinação de inibidores de checkpoint com outras modalidades de tratamento, como a quimioterapia, pode aumentar a eficácia terapêutica e melhorar a sobrevida dos pacientes (de Gouveia, 2024). 

A personalização da imunoterapia, por meio da análise molecular do tumor e da identificação de neoantígenos, representa uma estratégia promissora para superar os desafios do tratamento. Pesquisas recentes sugerem que a combinação de vacinas terapêuticas com inibidores de checkpoint pode aumentar a resposta imunológica e melhorar os resultados em pacientes que não respondem aos tratamentos padrão (de Gouveia, 2024). 

Neste artigo, revisaremos os avanços recentes na imunoterapia do câncer, discutindo suas inovações e os desafios que ainda permanecem. A análise incluirá um panorama das novas estratégias em desenvolvimento, as implicações clínicas das descobertas recentes e as perspectivas futuras para a terapia imunológica no combate ao câncer.

DESENVOLVIMENTO

A revolução na imunoterapia é uma grande mudança no tratamento do câncer. Esta abordagem inovadora baseia-se na ativação do sistema imunológico do paciente para combater as células cancerígenas. A terapia genética tem resultados muito bons, por vezes uma resposta duradoura e, em alguns casos, até uma cura. O tratamento com inibidores de checkpoint, como os inibidores PD-1/PD-L1, mostrou sucesso significativo no melanoma avançado, carcinoma de células não pequenas e outros tipos de câncer. Esta é uma nova esperança para pacientes que anteriormente tinham opções de tratamento limitada (Zuqui, 2023).

Outro desenvolvimento importante é o desenvolvimento de medicamentos que envolvam a prevenção de postos de controle de doenças. Combinações de inibidores PD-1 e CTLA-4, como nivolumabe e ipilimumabe, têm sido muito eficazes contra o melanoma metastático, levando a uma combinação que aumenta a resposta imune antitumoral. Estes compostos têm a capacidade de superar a resistência aos medicamentos, o que é um desafio comum na monoterapia (Soares, 2024).

O ligante de morte programada 1 – PD-L1 – é composto por células hematopoiéticas como macrófagos, mastócitos, células T e células B; mas também, por células não hematopoiéticas como as endoteliais, epiteliais e tumorais. A ligação do PD-L1 com o PD-1 inativa a imunidade inata de células T citotóxicas em ação contra o tumor, devido a inativação das quinases que estão presentes na ativação de células T. Já o CTL4-A incapacita a ativação das células T e de células dendríticas nos linfonodos (Silva, 2021).

A eficácia dos inibidores PD-1, como pembrolizumabe e nivolumabe, foi bem documentada. Por exemplo, no câncer de pulmão de células não pequenas (NSCLC), estes tratamentos mostraram resultados impressionantes, com taxas de resposta sustentadas numa elevada percentagem de pacientes. Esses tratamentos são mais eficazes em pacientes com níveis elevados de PD-L1 nos tumores, um biomarcador que pode orientar as opções de tratamento (Soares, 2024).

Gontijo (2024), em seu estudo mostra que a imunoterapia isolada ou em combinação com medicamentos específicos pode ser a opção de tratamento definitiva. A prevenção de pontos de controle de doenças demonstrou ser mais eficaz do que o tratamento quimioterápico padrão. Em comparação com a quimioterapia, a quimioterapia tem menos efeitos colaterais porque utiliza as células imunológicas do corpo para matar as células cancerígenas. Porém, não está totalmente isento de efeitos colaterais como inflamação, que pode demorar para iniciar esse tipo de tratamento.

O uso desses medicamentos foi cuidadosamente avaliado clinicamente, mas alguns pacientes podem apresentar danos ao tecido inflamatório conhecidos como efeitos colaterais. Os mais comuns são: diarreia, colite, erupção cutânea, dermatite, aumento de transaminases, hipofisite e tireoidite. A combinação de anti-CTLA-4 e anti-PD1 mostrou um risco aumentado destes efeitos secundários, mas a maioria deles foi de curta duração e respondeu aos corticosteróides. Em alguns casos, é necessário tratamento com medicamentos imunossupressores, como azatioprina ou micofenolato mofetil (Jorge, 2019).

Outra área estuda é a terapia com células adotivas, onde as células receptoras de antígenos quiméricos (T CAR) vem sendo uma ferramenta precisa no tratamento imunoterápico. Essas células incluem linfócitos T CD8 retirados de pacientes que recebem quimioterapia. Após a remoção, os linfócitos são mantidos em meio nutriente e são apresentados antígenos específicos do tecido tumoral. O contato com esses antígenos, bem como com estímulos biológicos puros, permite que as células quiméricas produzam receptores em suas membranas chamados receptores de antígenos quiméricos (CAR) que desencadeiam uma resposta tumoral, pode-se dizer que a célula T CAR foi criada através de engenharia genética, e o método de uso para o paciente é aceito como transferência de células T CAR (Júnior, 2020).

Os tratamentos com CAR-T têm mostrado resultados impressionantes em pacientes com leucemia linfoblástica aguda (LLA) e linfoma não-Hodgkin, alcançando taxas de remissão em muitos casos. Produtos comerciais, como o tisagenlecleucel (Kymriah) e o axicabtagene ciloleucel (Yescarta), foram aprovados para uso clínico, demonstrando a eficácia dessa abordagem (Freire, 2019).

Existem também, os anticorpos monoclonais, que são derivados de um único clone de linfócitos B que se liga a um epítopo antigênico específico. Eles contêm um componente que media a citotoxicidade mediada por anticorpos (ADCC) e a citotoxicidade mediada por células. e um segmento FAB com alta afinidade por antígenos específicos 16. Na terapia do câncer, existem anticorpos monoclonais específicos (mAbs) cujo principal mecanismo de ação é o ADCC contra células cancerígenas. Os exemplos mais comuns de Naked mAbs (Jorge, 2019).

Muitos anticorpos monoclonais são usados no tratamento de câncer, como o trastuzumabe (Herceptin), que é usado para tratar câncer de mama HER2 positivo, e o rituximabe (Rituxan), usado em linfomas e leucemias. Esses anticorpos podem agir de diversas maneiras, incluindo a marcação das células tumorais para destruição pelo sistema imunológico ou a inibição de sinais que promovem o crescimento do tumor (Penatti, 2019).

Existem as vacinas preventivas, que visam evitar infecções de determinados agentes que podem levar ao surgimento do câncer, como as vacinas contra o HPV, vírus associado ao surgimento de câncer em cabeça e pescoço, região anal e cérvix uterino (Jorge, 2019)

Além das vacinas preventivas, ainda existem as vacinas de células tumorais envolve injetar no paciente células tumorais enfraquecidas (autólogas ou alogênicas) que foram modificadas para estimular uma resposta imunológica. Durante a preparação, sua capacidade de “camuflagem” é removida, permitindo que as células malignas sintetizem moléculas inflamatórias, citocinas ou uma combinação das duas. Esta nova atividade pode revelar antígenos tumorais que estimulam a resposta imune (Júnior, 2020).

A imunoterapia, um dos novos tratamentos para o câncer, apresenta muitos desafios que precisam ser superados para aumentar sua eficácia e ampliar seu uso. Estes desafios são complexos e multifacetados e requerem uma abordagem holística e colaborativa para os resolver (Soares, 2024).

Um dos principais desafios a serem enfrentados é a variação de resposta terapêutica nos pacientes aos imunoterápicos, sendo atribuída principalmente a fatores intrínsecos de cada indivíduo, fatores de risco e heterogenicidade do sistema imunológicos, tornando assim, difícil o processo de padronização e previsibilidade dos tratamentos (de Araújo, 2024).

Outro fator importante, são as reações de toxicidades, o que merecem um cuidado integral e rigoroso, com estratégias de manejo, uma vez que, podem ser graves e com grande impacto na qualidade de vida dos pacientes (de Araújo, 2024).

CONCLUSÃO

A imunoterapia representa um avanço no tratamento do câncer e oferece uma nova esperança para pacientes com opções limitadas. Os inibidores de checkpoint e outras abordagens inovadoras mostraram resultados positivos que demonstram a capacidade do sistema imunológico de combater a doença. No entanto, desafios associados, como variabilidade tumoral, supressão imunológica e efeitos colaterais, devem ser abordados para maximizar o potencial deste tratamento

A terapia individualizada, ao identificar biomarcadores e análises moleculares de tumores, promete melhorar a eficácia da imunoterapia e reduzir o risco de toxicidade. O desenvolvimento contínuo de novas combinações terapêuticas e novas abordagens, como vacinas e terapia celular, mostra um grande potencial para expandir as opções de tratamento e melhorar os resultados clínicos.

À medida que a oncologia avança, é importante manter uma abordagem multidisciplinar, incorporando conhecimentos de biologia tumoral, patologia e medicina clínica. Ao continuar a investir na investigação e na inovação, os produtos farmacêuticos podem tornar-se ainda mais poderosos na luta contra o cancro, proporcionando tratamentos mais eficazes e personalizados e melhor qualidade de vida aos pacientes. 

REFERÊNCIAS

DE ARAUJO, Isabela Ayres et al. Avanços e Desafios da Imunoterapia no Tratamento Oncológico: Uma Revisão Atualizada. AR International Health Beacon Journal (ISSN 2966-2168), v. 1, n. 4, p. 185-194, 2024.

DE GOUVEIA, Caroline Macedo Ribeiro et al. Oncologia: impacto da imunoterapia na sobrevida de pacientes com câncer de pulmão de não pequenas células estágio IV. Revista Coopex., v. 15, n. 3, p. 6043-6060, 2024.

FREIRE, Diego. Imunoterapia: a virada do sistema imunológico contra o câncer. Ciencia e cultura, v. 71, n. 4, p. 13-15, 2019.

GONTIJO, Juliana Gorgulho Campos; FREITAS, Ana Clara Rezende; GARCIA, Gustavo Souza Gontijo. Avanços e desafios no tratamento do câncer de pulmão: uma revisão sistemática. Brazilian Journal of Implantology and Health Sciences, v. 6, n. 7, p. 1468-1479, 2024.

JORGE, Juliano José. Imunoterapia no tratamento do câncer. Arq Asma Alerg Imunol, v. 3, n. 2, p. 133-8, 2019.

JÚNIOR, Aldren Thomazini Falçoni et al. Imunoterapia: uma revisão sobre os novos horizontes no combate ao câncer. Revista de Medicina, v. 99, n. 2, p. 148-155, 2020.

PENATTI, Vinícius Schammass. Imunoterapia no câncer de mama. Repositório de Trabalhos de Conclusão de Curso, 2019. SILVA, Alice Cristina Castro da; SILVA, Tábata de Oliveira. PD-1/PD-L1 como alvo de imunoterapia no câncer de pulmão de não pequenas células. 2021.

SOARES, Bruna Seffrin et al. Inovações na imunoterapia para o tratamento do câncer: um panorama atual. Journal of Medical and Biosciences Research, v. 1, n. 3, p. 1487-1501, 2024.

ZUQUI, Robert et al. EVOLUÇÃO DO TRATAMENTO DO CÂNCER: TERAPIAS ALVO E IMUNOTERAPIA. Revista Ibero-Americana de Humanidades, Ciências e Educação, v. 9, n. 7, p. 1292-1302, 2023.