REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/ni10202502081550
Ozeias Pereira de Oliveira1; Carlos Wagner Oliveira2; Cicera Simoni da Silva3; Estelita Lima Cândido4; Francisco Wellington Sousa Oliveira5; Francisco Roberto de Azevedo6
RESUMO
A dengue, em particular, é a arbovirose mais incidente nas Américas, sendo causada pelo vírus da dengue, que possui quatro sorotipos distintos. Objetivou-se analisar a eficácia das vacinas contra a dengue nos diferentes sorotipos do vírus, avaliando sua capacidade de prevenir a infecção, reduzir a gravidade da doença e contribuir para o controle da transmissão em trânsito endêmico. Trata-se de uma Revisão Integrativa da Literatura (RIL), de caráter qualitativo e descritivo. Utilizados na busca dos artigos seguem a terminologia DeCS – Descritores em Ciências da Saúde, desenvolvidos pela Medical Subject Headings (MeSH) da Biblioteca Nacional de Medicina dos EUA. O estudo prossegue da seguinte forma, terminologias ligados a operadores booleanos (Aedes Aegypti AND Dengue vaccine OR QDenga OR Dengvaxia). Todos os artigos encontrados foram coletados no software Zotero (versão 5.0.80) por meio de estratégia de busca. Foram identificados 579 estudos no Portal de Periódico da CAPES. Após a aplicação dos critérios de inclusão, 459 foram excluídos. A triagem dos títulos e resumos resultou na exclusão de mais 97 estudos. Dos 23 artigos selecionados para leitura completa, 7 foram excluídos por não atenderem à questão da pesquisa ou aos critérios estabelecidos. Assim, 16 estudos foram incluídos na análise final. A implementação de programas de imunização contra a dengue deve ser cuidadosamente planejada, levando em consideração as características epidemiológicas regionais, o perfil imunológico-alvo e os custos associados. A promoção de iniciativas de conscientização e educação em saúde também é necessária para aumentar a adesão e garantir o sucesso das políticas públicas.
Palavras chaves: Dengue; vaccine; QDenga; Dengvaxia.
ABSTRACT
Dengue fever, in particular, is the most common arbovirus in the Americas, and is caused by the dengue virus, which has four distinct serotypes. The objective of this study was to analyze the efficacy of dengue vaccines against the different serotypes of the virus, assessing their ability to prevent infection, reduce the severity of the disease, and contribute to controlling transmission in endemic transit. This is an Integrative Literature Review (ILR) of a qualitative and descriptive nature. The terminology used in the search for articles follows the DeCS terminology – Health Sciences Descriptors, developed by the Medical Subject Headings (MeSH) of the US National Library of Medicine. The study proceeds as follows, terminologies linked to Boolean operators (Aedes Aegypti AND Dengue vaccine OR QDenga OR Dengvaxia). All articles found were collected in the Zotero software (version 5.0.80) through a search strategy. A total of 579 studies were identified in the CAPES Journal Portal. After applying the inclusion criteria, 459 studies were excluded. Screening of titles and abstracts resulted in the exclusion of an additional 97 studies. Of the 23 articles selected for full reading, 7 were excluded because they did not meet the research question or the established criteria. Thus, 16 studies were included in the final analysis. The implementation of dengue immunization programs should be carefully planned, taking into account regional epidemiological characteristics, the target immunological profile and associated costs. Promotion of awareness and health education initiatives is also necessary to increase adherence and ensure the success of public policies.
Keywords: Dengue; vaccine; QDenga; Dengvaxia.
1 INTRODUÇÃO
As arboviroses são atualmente um dos principais problemas de saúde pública no mundo, gerando grande impacto econômico. Doenças como dengue, chikungunya e zika, transmitidas pelo mosquito Aedes aegypti, têm apresentado um aumento significativo nos últimos anos em todo o Brasil, resultando em mais casos graves devido à alta patogenicidade e rápida disseminação dessas doenças. A dengue, em particular, é a arbovirose mais incidente nas Américas, sendo causada pelo vírus da dengue, que possui quatro sorotipos distintos. Estima-se que 3 bilhões de pessoas estejam em risco de contrair a doença, com 390 milhões de infecções e 20 mil mortes ocorrendo anualmente (TEICH; ARINELLI; FAHHAM, 2017; DONALISIO; FREITAS; VON ZUBEN, 2017).
No Brasil, a dengue surgiu no final do século XIX, com os primeiros registros em Curitiba (PR) e Niterói (RJ). A primeira epidemia foi registrada em Boa Vista (RR) entre 1980 e 1982, envolvendo os sorotipos 1 e 4. Em 1986, novas epidemias ocorreram no Rio de Janeiro e em algumas capitais do Nordeste. As doenças transmitidas pelo Aedes aegypti apresentam sintomas clínicos semelhantes, como febre, dores de cabeça, dores nas articulações, náuseas e manchas vermelhas na pele, embora existam algumas diferenças entre elas. Atualmente, todas as Unidades da Federação (UFs) do Brasil registram transmissão autóctone desses vírus, muitas vezes com manifestações graves e número elevado de óbitos (FREITAS, 2020; CAMPOS et al., 2018).
As mudanças climáticas e o aumento do intercâmbio internacional têm facilitado a disseminação das arboviroses ao redor do mundo, tornando mais difícil o diagnóstico diferencial entre as doenças. O aumento da morbimortalidade traz desafios diretos para os serviços de saúde, especialmente pela ausência de vacinas e outras medidas efetivas de controle viral. De acordo com a Portaria de Consolidação nº 4, de 28 de setembro de 2017, dengue, chikungunya e zika são doenças de notificação compulsória, devendo todos os casos suspeitos ou confirmados ser reportados ao Serviço de Vigilância Epidemiológica da Secretaria Municipal de Saúde (SMS), com investigações contínuas para o fortalecimento das ações de vigilância (FUNDAÇÃO OSWALDO CRUZ, 2015; BRASIL, 2019).
A primeira vacina foi desenvolvida pelo inglês Edward Jenner, que inoculou o vírus da varíola bovina em uma criança de oito anos. Acredita-se que a varíola tenha surgido nas margens do Rio Nilo, na África, devido à convivência de humanos com animais como camelos e roedores. Após o desenvolvimento da vacina, o método foi gradualmente adotado por diversos países, chegando ao Brasil em 1804. No início do século XX, Oswaldo Cruz coordenou uma campanha de vacinação obrigatória para erradicar a febre amarela, que enfrentou resistência e culminou na Revolta da Vacina, um movimento social contra a imunização compulsória (WERMELINGER, 2022).
Com o progresso da ciência e das políticas públicas, novas vacinas foram desenvolvidas para combater as arboviroses em alguns países, incluindo o Brasil. O clima tropical do país favorece a proliferação de insetos, como o Aedes aegypti, o que contribui para a persistência dessas doenças no território.
Nesse sentido, o desenvolvimento de vacinas surge como uma estratégia importante para o controle dessas doenças, complementada por ações voltadas à redução da população de mosquitos, como a capacitação de profissionais de saúde, assistência social e serviços de coleta de lixo para o controle de vetores, desta forma, tem como objetivo revisar os dados científicos mais recentes sobre a segurança e eficácia dessas vacinas em diferentes grupos populacionais, analisar as estratégias de pré-vacinação e monitoramento pós-vacinação, e avaliar os desafios e oportunidades para a implementação eficaz das vacinas em regiões endêmicas. Além disso, buscar explorar as implicações das vacinas para a saúde pública e sugerir recomendações para orientar as campanhas de vacinação. (LARA, 2020; CEARÁ, 2017).
2.OBJETIVOS
Analisar a eficácia das vacinas contra a dengue nos diferentes sorotipos do vírus, avaliando sua capacidade de prevenir a infecção, reduzir a gravidade da doença e contribuir para o controle da transmissão em trânsito endêmico.
3. MÉTODOS
Trata-se de uma Revisão Integrativa da Literatura (RIL), de caráter qualitativo e descritivo. Os estudos de revisão possibilitam à comunidade acadêmica uma síntese de diversos estudos já publicados sobre uma área de interesse específica (Souza; Silva; Carvalho, 2010).
Os termos utilizados na busca dos artigos seguem a terminologia DeCS – Descritores em Ciências da Saúde, desenvolvidos pela Medical Subject Headings (MeSH) da Biblioteca Nacional de Medicina dos EUA. O estudo prossegue da seguinte forma, terminologias ligados a operadores booleanos (Aedes Aegypti AND Dengue vaccine OR QDenga OR Dengvaxia). Todos os artigos encontrados foram coletados no software Zotero (versão 5.0.80) por meio de estratégia de busca. Os termos são consultados no título e resumo ou no texto completo, se possível, quando o título e o resumo não esclarecem o conteúdo do artigo.
O estudo seguiu seis etapas propostas por Mendes; Silveira e Galvão (2008): I) identificação do tema ou questão de pesquisa para a elaboração da revisão; II) estabelecimento de critérios para inclusão e exclusão de estudos ou busca na literatura; III) categorização dos estudos; IV) avaliação dos estudos incluídos na revisão integrativa; V) interpretação dos resultados; VI) apresentação da revisão/síntese do conhecimento.
Foram excluídos artigos não revisados por pares, artigos de revisão, análises secundárias e estudos que não focam diretamente na eficácia das vacinas contra os sorotipos do vírus da dengue.
Após a aplicação de critérios de inclusão e exclusão, foi feita a identificação e seleção inicial dos artigos, mediante a leitura dos títulos e resumos, separando os relacionados com o objetivo do estudo. Além disso, foi produzida uma tabela contendo os principais achados dos estudos incluídos na pesquisa.
Figura 01 – Fluxograma do tipo Prisma para identificação, seleção e inclusão dos artigos na revisão sistemática
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Refletindo a diversidade de estudos disponíveis em diferentes bases e o processo seletivo rigorosamente, estudos ao longo do processo de seleção, com a amostra final consistindo de 13 estudos, que atenderam aos critérios de inclusão estabelecidos e foram considerados relevantes para a pesquisa.
Os dados foram organizados em uma tabela, elaborada pelo pesquisador contendo aspectos relevantes dos estudos incluídos, como: autor/ano, tipo de estudo, procedência do estudo e resultados (Tabela 1).
Tabela 2: Caracterização dos estudos incluídos na revisão sistemática.
Autor/Ano | Tipo de estudo | Procedência do estudo | Resultados |
Donalisio MR, Freitas ARR, Zuben APB Von, 2016 | Descritivo | Brasil | O investimento para combate ao vetor foi de R$ 1,5 bilhão no Brasil, com custos médicos diretos de R$ 374 milhões e custos totais de R$ 2,3 bilhões em 2016. Estados como Minas Gerais, São Paulo, Bahia e Rio de Janeiro cumpriu os maiores custos. |
Dai et al., 2023 | Experimental | Brasil | A sensibilidade e especificidade do ensaio foram de 96,6% e 99,4%. A taxa de infecção sintomática por DENV foi significativamente maior entre crianças virgens de DENV do que entre crianças imunes a DENV vacinadas com Dengvaxia. O estudo apresentou previsões de ensaios e algoritmos na prática clínica. |
Parque e outros, 2021 | Estudo de coorte | Coreia do sul | garante a eficácia da vacina contra a dengue em áreas endêmicas. Os resultados sugerem que a vacina é mais eficaz em indivíduos previamente expostos ao DENV do que naqueles não expostos, destacando a importância do rastreamento pré-vacinal. |
Ylade e outros, 2024 | Revisão integrativa | Filipinas | Analisou o impacto da imunização contra a dengue nas Filipinas. O estudo revelou desafios na implementação de programas de vacinação devido à hesitação vacinal e à baixa cobertura de imunização. |
Salje et al., 2021 | Modelagem | Tailandia | Utilizou modelos matemáticos para estimar a eficácia da vacinação em diferentes cenários de endemicidade. O estudo destacou que a vacinação pode reduzir significativamente a carga de dengue em populações-alvo. |
Limothai e outros, 2021 | Observacional | Tailandia | Investigou a relação entre os níveis de anticorpos pré-existentes e a eficácia da vacina. Os resultados indicaram que indivíduos com alta soroprevalência apresentaram maior proteção inicial contra a dengue após a vacinação. |
Pinheiro et al., 2021 | Longitudinal | Brasil | garantiu a eficácia da campanha de vacinação no Brasil e constatou que houve uma redução de 40% nos casos sintomáticos de dengue em áreas com alta cobertura vacinal. |
Henein e outros, 2021 | Meta-análise | Brasil | Revisou estudos clínicos de vacinas contra dengue. Conclui-se que a eficácia da vacina varia entre os diferentes sorotipos e é dependente da soroprevalência prévia da população. |
Teich e outros, 2017 | Relato técnico | Brasil | Estudo destacou a importância de estratégias complementares, como controle vetorial e educação em saúde, para maximizar o impacto da vacinação contra a dengue no Brasil. |
Wermelinger, 2022 | Relato de caso | Brasil | Relatou casos de falhas vacinais em indivíduos previamente expostos ao DENV. O estudo ressaltou a importância de abordagens individualizadas para vacinação. |
Donalísio et al., 2017 | Estudo descritivo | Brasil | Destacou o impacto econômico da dengue no Brasil, reforçando a necessidade de políticas públicas integradas que envolvem vacinação e controle vetorial |
Gould e outros, 2017 | Revisão integrativa | Brasil | Revisão sobre a biologia do vírus da dengue e o desenvolvimento de vacinas, destacando os desafios associados à imunização contra múltiplos sorotipos do vírus. |
Gregianini e outros, 2017 | Estudo epidemiológico | Brasil | Analisou a dispersão espacial da dengue no Brasil, identificando áreas de maior risco para implementação de programas de vacinação. |
Shepard e outros, 2011 | Modelagem | Brasil | Estimou o custo-benefício de programas de vacinação contra dengue em países endêmicos. Conclui-se que a vacinação é economicamente viável, especialmente em áreas com alta soroprevalência. |
Nunes et al., 2015 | Estudo epidemiológico | Brasil | Detectou 41 casos reais de CHIKV e 27 casos autóctones no Brasil. Demonstrou que a transmissão do CHIKV pode ocorrer em 94% dos municípios do país, fornecendo mapas de risco detalhados. |
4. RESULTADOS E DISCUSSÃO
Foram identificados 579 estudos no Portal de Periódico da CAPES. Após a aplicação dos critérios de inclusão, 459 foram excluídos. A triagem dos títulos e resumos resultou na exclusão de mais 97 estudos. Dos 23 artigos selecionados para leitura completa, 7 foram excluídos por não atenderem à questão da pesquisa ou aos critérios estabelecidos. Assim, 16 estudos foram incluídos na análise final (Figura 1).
Entre os 16 artigos selecionados, 9 eram estudos de natureza experimental, 2 eram baseados em simulação computacional (in silico), 2 utilizavam modelagem matemática e imunoinformática, 2 eram estudos de caso-controle e 1 era uma soropesquisa. 7 desses estudos investigaram a vacina Dengvaxia (CYD-TDV), 1 analisou as vacinas promissoras LAV-TDV e TAK-003 em fase de testes, e os demais avaliaram vacinas experimentais baseadas em proteínas recombinantes, epítopos, tecnologias de RNA ou antígenos derivados de plantas. Os estudos incluíram testes em mosquitos Aedes aegypti e modelos animais, como macacos rhesus e coelhos, enquanto 8 estudos envolveram populações humanas. A amostra total dos estudos incluiu 3.464 participantes, abrangendo crianças, adolescentes e adultos com idades entre 2 e 45 anos. A maioria dos estudos com humanos focou na segurança e imunogenicidade das vacinas, especialmente entre crianças e adolescentes.
A vacina CYD-TDV, conhecida comercialmente como Dengvaxia, foi projetada para proteger contra os quatro sorotipos do vírus da dengue (DENV1–4). Sua eficácia e segurança foram investigadas por diferentes abordagens neste estudo. Dai et al., (2023) avaliaram o ensaio ELISA NS1 DENV1–4 IgG, realizado até 20 anos após a infecção, teve sensibilidade de 96,6% e especificidade de 99,4%, e identificou maior taxa de infecção sintomática em crianças DENV-naïve em comparação com DENV-imunes. Outro estudo de fase II, com acompanhamento de 2 anos, mostrou que uma dose de reforço da vacina CYD-TDV restaurou os títulos de anticorpos, mostrando eficácia temporária e ativação de células B de memória, embora com baixa persistência (Park et al., 2021).
Dois estudos conduzidos nas Filipinas trouxeram dados importantes sobre a vacina CYD-TDV. No primeiro, com 2.778 crianças saudáveis de 9 a 14 anos, uma dose da vacina confere proteção contra a dengue com sinais de alerta e formas graves (Ylade et al., 2024). No segundo, envolvendo 417 vacinados e 194 no grupo placebo, foram usadas análises matemáticas que identificaram 87 infecções sintomáticas e 351 subclínicas. A vacina mostrou maior eficácia nos primeiros três anos, e os títulos de anticorpos foram bons preditores de proteção e risco (Salje et al., 2021). Um estudo sobre soropesquisa envolvendo 115 indivíduos saudáveis entre 10 e 22 anos comparou o ELISA IgG anti-dengue e o teste rápido de diagnóstico de IgG (RDT). Os resultados indicaram que o ELISA IgG anti-dengue é mais adequado para a introdução de vacinas e para identificar quais populações devem ser priorizadas (Limothai et al., 2021).
Pinheiro et al., (2021) comparou as vacinas contra a dengue Dengvaxia, LAV-TDV e TAK-003, destacando que todas contêm epítopos de células B para neutralização viral. LAV-TDV e TAK-003 também possuem epítopos de células T importantes para a proteção imunológica, algo que não está presente na Dengvaxia. Por fim, Henein et al., (2021) comparou anticorpos neutralizantes gerados por infecção com DENV1 ou DENV3 e por Dengvaxia em indivíduos que depois tiveram infecções por DENV1 ou DENV3. A vacina Dengvaxia foi eficaz em crianças com imunidade preexistente a DENVs, e a maioria delas desenvolveu anticorpos neutralizantes contra DENV4 após a vacinação. A eficácia das vacinas contra a dengue tem sido amplamente estudada e discutida, considerando especialmente o desafio de desenvolver uma vacina eficaz contra um vírus que apresenta quatro sorotipos diferentes.
A vacina tetravalente Dengvaxia, desenvolvida pela Sanofi Pasteur, tem indicação de eficácia variada entre diferentes sorotipos e grupos etários. Em um estudo de Park et al. (2021), a vacina apresentou uma resposta imunológica significativa, mas com variações na eficácia de proteção contra os diferentes sorotipos do vírus. A eficácia da vacina foi superior na prevenção da dengue grave em indivíduos que já foram expostos a pelo menos um sorotipo anterior, enquanto a proteção foi menos robusta em indivíduos virgens de dengue (DAI et al., 2023). Esse achado enfatiza a importância de estratégias de rastreamento pré-vacinação para identificar indivíduos em risco de ocorrência adversa à vacina.Outro aspecto crucial na discussão sobre a vacina da dengue é a segurança e o monitoramento pós-vacinação.
Estudos como o de Henein et al. (2021) demonstraram que a vacina pode levar a infecção por dengue em alguns casos, principalmente entre indivíduos não expostos anteriormente ao vírus. Essas infecções, conhecidas como infecções de “quebra”, podem revelar propriedades importantes dos anticorpos neutralizantes e suas correlações com a proteção. Isto destaca a necessidade de um monitoramento contínuo e uma abordagem personalizada para a vacinação, particularmente em áreas endêmicas, para minimizar o risco de formas graves de doença e garantir a segurança dos vacinados.A implementação efetiva da vacina contra a dengue também enfrenta desafios logísticos e sociais importantes. Teich et al. (2017) discutem o impacto econômico das arboviroses e como a vacinação pode aliviar a carga financeira associada aos surtos de dengue. No entanto, a acessibilidade da vacina pode ser afetada por fatores como desinformação e hesitação vacinal. É crucial que campanhas de conscientização sejam realizadas para educar a população sobre os benefícios e a segurança das vacinas. Além disso, políticas públicas eficazes devem ser formuladas para garantir a disponibilidade e a acessibilidade das vacinas em regiões de alta transmissão (WERMELINGER, 2022).
A imunização contra a dengue tem sido apresentada um desafio significativo, especialmente em países tropicais, onde a prevalência do vírus é elevada. Os dados apresentados por Donalisio et al. (2016) evidenciam o impacto financeiro expressivo das arboviroses no Brasil, com custos totais atingindo R$ 2,3 bilhões em 2016. Esses valores ressaltam a necessidade de medidas preventivas mais eficazes, como a vacinação, para reduzir os gastos relacionados ao manejo das arboviroses e mitigar os impactos econômicos e sociais associados à doença.
O estudo de Dai et al. (2023) reforçam a importância de estratégias específicas no uso das vacinas contra a dengue. Uma pesquisa demonstrou que crianças não imunes ao DENV apresentavam maior risco de desenvolver desenvolvimento sintomático após a vacinação com Dengvaxia. Esses resultados sublinham a necessidade de triagens pré-vacinais para identificar a imunidade prévia dos indivíduos e garantir maior eficácia na imunização, reduzindo os riscos de efeitos adversos. A alta sensibilidade (96,6%) e especificidade (99,4%) do ensaio clínico reforçam as previsões de sua aplicação em cenários clínicos, contribuindo para maior segurança no processo de vacinação.
Por fim, o estudo de Nunes et al. (2015) chama atenção para a complexidade epidemiológica do vírus da dengue e de outras arboviroses, como o Chikungunya, no Brasil. A circulação simultânea de diferentes genótipos do vírus evidencia a necessidade de uma abordagem integrada, incluindo vigilância epidemiológica robusta e programas de imunização amplos e eficazes. Além disso, a projeção de transmissão em 94% dos municípios brasileiros ressalta a urgência de ações regionais para conter a propagação do vírus e proteger as populações mais vulneráveis. Em conjunto, esses estudos demonstram que, apesar dos desafios, a imunização contra a dengue é uma ferramenta essencial no combate à doença, com potencial para reduzir significativamente seus impactos em termos de saúde pública e economia.
4. CONSIDERAÇÕES FINAIS
A imunização contra a dengue representa um marco significativo no enfrentamento de uma das doenças tropicais mais prevalentes no mundo. Os esforços no desenvolvimento de vacinas e outros em fase experimental, mostram avanços promissores na redução da gravidade da doença e na mitigação de sua propagação. No entanto, uma eficácia variada entre os diferentes sorotipos do vírus e os fatores associados, como a idade e a exposição prévia, indicam a necessidade de estratégias mais personalizadas para alcançar melhores resultados em diferentes populações.
Apesar dos progressos alcançados, os desafios permanecem evidentes. A baixa eficácia em alguns sorotipos, o risco de desenvolvimento da dengue grave em indivíduos soronegativos e as limitações na distribuição e acesso às vacinas em áreas endêmicas reforçam a importância de integrar a imunização com outras medidas de controle, como o combate ao vetor e a educação em saúde. Além disso, estudos adicionais são essenciais para compreender melhor a resposta imunológica às vacinas e para desenvolver imunobiológicos que ofereçam proteção abrangente e rigor contra todos os sorotipos.
A vacinação contra a dengue é uma ferramenta indispensável no controle da doença, mas não deve ser considerada isoladamente. Sua eficácia e impacto serão ampliados quando combinadas com políticas públicas específicas, monitoramento epidemiológico contínuo e investimento em tecnologias de saúde. O compromisso global com a pesquisa e a correção de estratégias integradas é essencial para reduzir a carga da dengue, melhorar a qualidade de vida nas regiões afetadas e, eventualmente, controlar essa doença de maneira mais abrangente.
Nesse contexto, é fundamental investir em estudos que aprofundem o entendimento sobre a resposta imunológica aos diferentes sorotipos e desenvolvam vacinas com maior eficácia e segurança. Avanços em novas tecnologias de imunização, como vacinas de subunidades e baseadas em RNA, podem oferecer soluções mais robustas para proteção cruzada entre os sorotipos. Além disso, estratégias combinadas, como campanhas de vacinação em áreas prioritárias e ações integradas de controle vetorial, são essenciais para reduzir a incidência e o impacto da doença.
Por fim, a implementação de programas de imunização contra a dengue deve ser cuidadosamente planejada, levando em consideração as características epidemiológicas regionais, o perfil imunológico-alvo e os custos associados. A promoção de iniciativas de conscientização e educação em saúde também é necessária para aumentar a adesão e garantir o sucesso das políticas públicas. Com o avanço da ciência e a adoção de abordagens multidisciplinares, é possível vislumbrar um futuro com maior controle da dengue e seus impactos globais.
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