IMPORTÂNCIA DO SUPORTE NUTRICIONAL E DA SUPLEMENTAÇÃO EM PACIENTES SUBMETIDOS A PROCEDIMENTOS BARIÁTRICOS

REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/th10249181458


Ronaldo Ribeiro Soares
Julia de Souza Ferreira
Amanda Oliva Spaziani


1. Resumo

Introdução: A cirurgia bariátrica é uma intervenção eficaz no tratamento da obesidade mórbida, proporcionando perda de peso significativa e melhora das comorbidades associadas, como diabetes tipo 2, hipertensão e apneia do sono. No entanto, essas cirurgias podem causar deficiências nutricionais importantes devido às alterações na absorção e ingestão de nutrientes, o que exige um suporte nutricional contínuo e suplementação adequada para prevenir complicações a longo prazo.

Objetivos: Explorar a importância do suporte nutricional e da suplementação para pacientes submetidos a procedimentos bariátricos, abordando as necessidades específicas de proteínas, vitaminas, minerais e outros macronutrientes. Destacar as melhores práticas de acompanhamento nutricional e a necessidade de uma abordagem multidisciplinar para otimizar os resultados clínicos e promover a saúde e o bem-estar desses pacientes.

Metodologia: Realizou-se uma revisão sistemática da literatura utilizando bases de dados como SciELO, PubMed, BVS Saúde e Google Acadêmico. Foram selecionados artigos publicados entre 2010 e 2024, utilizando palavras-chave como “suporte nutricional”, “suplementação”, “pacientes bariátricos” e “deficiências nutricionais”. Os critérios de inclusão abrangeram estudos em português, espanhol e inglês que abordassem as necessidades nutricionais e complicações em pacientes bariátricos.

Resultados: A revisão revelou que, após a cirurgia bariátrica, muitos pacientes desenvolvem deficiências nutricionais devido à má absorção e intolerâncias alimentares. A suplementação de proteínas, vitaminas (especialmente B12 e D) e minerais como cálcio e ferro é fundamental para prevenir complicações como anemia e osteoporose. A introdução de uma dieta equilibrada, rica em nutrientes e fibras, juntamente com a hidratação adequada e o controle de lipídios, é essencial para a saúde a longo prazo. A cirurgia também pode alterar a microbiota intestinal, impactando a perda de peso e os resultados metabólicos, e complicações como o supercrescimento bacteriano no intestino delgado podem agravar a absorção de nutrientes.

Conclusão: O suporte nutricional adequado e a suplementação são cruciais para prevenir deficiências nutricionais e garantir a saúde dos pacientes bariátricos a longo prazo. A abordagem multidisciplinar é fundamental para personalizar as intervenções, assegurando não apenas a recuperação pós-operatória, mas também a promoção do bem-estar e da qualidade de vida dos pacientes.

2. Introdução

A obesidade é uma preocupação crescente em todo o mundo, com a Organização Mundial da Saúde (OMS, 2017) relatando que a quantidade de pessoas com obesidade mais que dobrou desde a década de 1980. No Brasil, a situação é semelhante à global, com o país enfrentando um desafio sério no combate à obesidade, cuja taxa de ocorrência tem aumentado de maneira alarmante nas últimas décadas (Associação Brasileira para o Estudo da Obesidade e Síndrome Metabólica [Abeso], 2016; Ministério da Saúde [MS], 2018a).1

Em resposta a esse problema, a obesidade mórbida resultou em um aumento significativo nos procedimentos cirúrgicos bariátricos. Atualmente, a gastrectomia vertical laparoscópica (GVE) e o bypass gástrico em Y de Roux laparoscópico (RYGB) são os métodos mais comuns, embora o bypass gástrico de uma anastomose (OAGB) tenha ganhado popularidade recentemente. Essas cirurgias promovem perda de peso rápida e redução das comorbidades associadas à obesidade, como hipertensão, hiperlipidemia, diabetes mellitus tipo 2 e síndrome da apneia obstrutiva do sono. No entanto, apesar dos benefícios clínicos, a cirurgia bariátrica pode levar a deficiências de macronutrientes e micronutrientes devido à ingestão reduzida, mudanças nos padrões alimentares, intolerâncias alimentares, sintomas gastrointestinais e má absorção.2

Ademais, as alterações no trânsito gastrointestinal decorrentes da cirurgia bariátrica têm implicações importantes na ingestão alimentar, como deficiências de vitaminas e minerais e a síndrome de dumping. Esta última, ao restringir o consumo de doces e gorduras, modifica o padrão dietético e requer orientações nutricionais adequadas. É essencial que os pacientes recebam recomendações que incluam o aumento do consumo de alimentos ricos em fibras, o fracionamento das refeições, a exclusão de líquidos durante as refeições e a redução da ingestão de carboidratos simples. Assim, torna-se evidente a necessidade de uma dieta específica e adaptada para aqueles que se submetem a essas cirurgias, visando minimizar as deficiências nutricionais e garantir resultados positivos a longo prazo.3

3. Objetivo

Este estudo tem como objetivo explorar o papel crucial do suporte nutricional e da suplementação para pacientes submetidos a procedimentos bariátricos. Busca-se entender como essas intervenções podem influenciar a recuperação pós-operatória e apoiar a manutenção da perda de peso a longo prazo. A pesquisa irá examinar as necessidades nutricionais específicas desses pacientes, enfatizando a importância de uma dieta bem equilibrada, juntamente com suplementos vitamínicos e minerais, para prevenir deficiências nutricionais. Além disso, o estudo avaliará as melhores práticas de acompanhamento nutricional, destacando a necessidade de uma abordagem multidisciplinar que envolva nutricionistas, médicos e outros profissionais de saúde para otimizar os resultados clínicos e promover a saúde geral dos pacientes bariátricos.

4. Metodologia

Este estudo consiste em uma revisão bibliográfica sistemática, de natureza quantitativa, sobre o tema “Suporte nutricional e suplementação em pacientes bariátricos”. Foram considerados os termos de busca presentes nos Descritores em Ciências da Saúde (DeCS), juntamente com os operadores booleanos (AND ou OR), utilizando as palavras-chave: Suporte nutricional; Suplementação; Pacientes bariátricos; Dieta; Deficiências nutricionais. A pesquisa foi realizada de 02 de agosto de 2024 a 28 de agosto de 2024, empregando livros, revistas e plataformas digitais, como SciELO, PubMed, BVS Saúde e Google Acadêmico, como bases de dados para a seleção dos artigos científicos. Os dados coletados foram agrupados em categorias como necessidades nutricionais e complicações nutricionais.

Os critérios de inclusão abarcaram artigos e publicações com data de publicação entre 2010 e 2024, em português, espanhol ou inglês, que apresentassem algum dos descritores no título ou resumo. Foram excluídos artigos incompletos, que não contivessem os descritores previamente definidos, que não possuíssem validade científica ou que não estivessem disponíveis em português, espanhol ou inglês.

5. Necessidades nutricionais

5.1 Proteínas

Após a cirurgia bariátrica, muitos pacientes podem desenvolver intolerância a alimentos ricos em proteínas devido à mastigação inadequada e à diminuição de ácido clorídrico e enzimas digestivas. Para minimizar esse problema, é fundamental treinar a mastigação e fracionar as refeições. Aproximadamente 50% do prato deve ser composto por proteínas, especialmente carnes magras e ricas em ferro, como carne bovina, frango, peixe e ovos. A ingestão diária de proteínas deve ser de 2 a 3 colheres de sopa por refeição, preferencialmente preparadas de forma assada, cozida ou grelhada para reduzir o teor calórico.4

No café da manhã e lanches, devem-se priorizar fontes proteicas ricas em cálcio, como leite desnatado, queijos tipo cottage, ricota e iogurtes sem açúcar, que ajudam a manter o equilíbrio das bactérias intestinais. A suplementação de proteínas, como Whey Protein, é essencial ao longo da vida, iniciando desde a fase de alimentação líquida, preferencialmente em fórmulas isoladas e hidrolisadas, sem lactose, glúten ou sacarose, e diluídas em água ou leite desnatado para melhor absorção.4

5.2 Vitaminas e minerais

Uma terça parte do prato (30%) deve ser composta por alimentos ricos em vitaminas, minerais e fibras, representados por frutas e vegetais. Esses alimentos são essenciais para fortalecer o sistema imunológico, regenerar a pele e regular o metabolismo. É importante variar as cores dos alimentos para garantir o consumo de diferentes nutrientes, evitando o excesso, que pode ser prejudicial. Nutrientes como as vitaminas A, D, B12, B1, cálcio e ferro são fundamentais e devem ser incluídos na dieta. As vitaminas podem ser hidrossolúveis, como as do complexo B, que necessitam ser consumidas cruas para manter seu valor nutricional, e lipossolúveis, como a vitamina A, que é responsável pela saúde dos cabelos, pele e unhas.4

O consumo de alimentos coloridos ajuda a garantir a ingestão adequada de vitaminas: amarelos e vermelhos (ricos em vitamina A), verdes (ricos em vitaminas do complexo B), cítricos (ricos em vitamina C) e brancos (ricos em substâncias que previnem doenças cardiovasculares). A vitamina B1 é importante para prevenir complicações pós-operatórias, como o beriberi bariátrico. Polivitamínicos podem suprir as necessidades diárias, mas é crucial manter uma ingestão alimentar adequada. A vitamina B12, presente apenas em alimentos de origem animal, requer suplementação ao longo da vida após a cirurgia bariátrica, devido à absorção reduzida. Além disso, a vitamina D, essencial para o metabolismo ósseo, deve ser suplementada, junto com a exposição solar diária. As fontes alimentares de vitaminas e minerais geralmente se sobrepõem a outros grupos de macronutrientes, como a vitamina B12 e o zinco, encontrados em alimentos ricos em proteínas de origem animal.4

5.3 Carboidratos

O restante do prato deve ser composto por carboidratos, que são alimentos energéticos essenciais para o dia a dia. A preferência deve ser dada aos carboidratos integrais, como pães, arroz, massas e cereais, pois eles tendem a reduzir a absorção de açúcares e gorduras, beneficiando a saúde cardiovascular e promovendo maior saciedade.4

5.4 Lipídeos

As fontes de lipídios recomendadas incluem o óleo de canola e o azeite de oliva. O óleo de canola é valorizado por ser seguro para consumo humano e por seus efeitos benéficos, como a redução do crescimento de células tumorais, aumento da capacidade antioxidante, melhora da sensibilidade à insulina e tolerância à glicose, além da diminuição dos níveis de triacilglicerol total e colesterol LDL. Além disso, o óleo de canola pode ajudar na prevenção da alopecia em pacientes operados. O azeite de oliva, uma fonte lipídica comum na dieta mediterrânea, é rico em ácido oleico, um ácido graxo monoinsaturado (ω 9), que representa mais de 50% de sua composição.4

5.5 Suplementos nutricionais

O uso de suplementos nutricionais é obrigatório e requer controle metabólico periódico para avaliar a necessidade de cada nutriente específico. O Whey Protein pode melhorar a composição corporal em mulheres e prevenir a recidiva de peso. O ideal é que a ingestão de proteínas seja de até 30 g por refeição no primeiro ano após a cirurgia. Como a ingestão alimentar pode ser insuficiente, recomenda-se o uso de Whey Protein, com um a dois scoops por dia, fornecendo em média 25 g de proteínas por dose.4

Além disso, a vitamina B12 deve ser administrada na dose intramuscular mensal de 5000 mcg ou via oral, 350 mcg por dia. Para o ferro, a recomendação é de 18 mg via oral para homens e 50-100 mg para mulheres em idade reprodutiva. Em casos específicos, pode ser necessária a administração de ferro endovenoso, especialmente se a ferritina estiver abaixo de 30 mg/dl. O cálcio deve ser suplementado em 2000 mg por dia, e é aconselhável o uso de um polivitamínico que atinja 200% da RDA para micronutrientes.4

5.6 Hidratação

A água é essencial para diversas reações do organismo e desempenha um papel fundamental no funcionamento adequado dos sistemas intestinal, cerebral, pulmonar, renal e cardiológico. O consumo recomendado é de 30 ml por kg de peso ideal por dia, o que pode ajudar a evitar a formação de cálculos biliares e renais.4

6. Complicações nutricionais

Após a cirurgia bariátrica (CB), os pacientes enfrentam transformações abruptas em suas práticas alimentares, resultando em uma redução média de 1.800 calorias por dia e uma diminuição significativa na absorção de nutrientes essenciais, especialmente proteínas, que chega a apenas 0,5 g/kg/dia no primeiro ano pós-operatório. Essas mudanças alimentares impactam rapidamente a composição da microbiota intestinal. A pesquisa de Paganelli et al. (2019) indica que a cirurgia bariátrica provoca alterações persistentes na diversidade microbiana, contribuindo para a perda de peso e influenciando os resultados metabólicos pós-operatórios.5

Além da restrição alimentar, as implicações nutricionais da cirurgia incluem a má absorção de nutrientes, que demanda suplementação vitalícia de vitaminas e minerais. Uma complicação comum é o supercrescimento bacteriano no intestino delgado (SCBID), que agrava a absorção deficiente de macronutrientes e micronutrientes, como as vitaminas lipossolúveis e a B12. Essa condição é frequentemente decorrente da estase intestinal pós-cirurgia, sendo diagnosticada através de testes de respiração, que também oferecem uma abordagem prática para o tratamento.5

7. Conclusão

A cirurgia bariátrica é uma intervenção eficaz no tratamento da obesidade mórbida, proporcionando perda de peso significativa e redução de comorbidades associadas. No entanto, as transformações na dieta e na absorção de nutrientes que ocorrem após a cirurgia demandam uma atenção especial às necessidades nutricionais dos pacientes. A importância de um suporte nutricional adequado e de suplementação vitamínica e mineral ao longo da vida é indiscutível, sendo essencial para evitar deficiências nutricionais que podem comprometer a saúde e a qualidade de vida.

A promoção de uma dieta equilibrada, rica em proteínas, vitaminas, minerais e fibras, aliada ao monitoramento constante das condições de saúde e dos padrões alimentares, é fundamental para otimizar os resultados clínicos e garantir a manutenção da perda de peso a longo prazo. Além disso, a abordagem multidisciplinar, envolvendo profissionais de saúde como nutricionistas e médicos, é crucial para proporcionar o acompanhamento necessário, orientações adequadas e intervenções eficazes. Portanto, o cuidado nutricional deve ser uma prioridade contínua para todos os pacientes que se submeteram a cirurgias bariátricas, assegurando não apenas a recuperação pós-operatória, mas também a promoção da saúde geral e bem-estar ao longo da vida.

8. Referências

  1. Gebara, Telma Souza e Silva, Polli, Gislei Mocelin e Wanderbroocke, Ana Claudia. Alimentação e Cirurgia Bariátrica: Representações Sociais de Pessoas Obesas. Psicologia: Ciência e Profissão [online]. 2021, v. 41 [Acessado 28 Agosto 2024], e222795. Disponível em: <https://doi.org/10.1590/1982-3703003222795>. Epub 22 Out 2021. ISSN 1982-3703. https://doi.org/10.1590/1982-3703003222795.
  2. Smelt HJM, Pouwels S, Smulders JF, Hazebroek EJ. Patient adherence to multivitamin supplementation after bariatric surgery: a narrative review. Journal of Nutritional Science. 2020;9:e46. doi:10.1017/jns.2020.41
  3. Zaparolli, Marilia & Reichmann, Michele & Ramos, Magda & Schieferdecker, Maria Eliana & Silva, Guilherme & Taconeli, Cesar & Radominsi, Rosana & Campos, Antonio. (2018). Ingestão alimentar após cirurgia bariátrica: uma análise dos macronutrientes e adequação dos grupos alimentares à pirâmide específica. Nutricion Clinica y Dietetica Hospitalaria. 38. 10.12873/381MReichmann.
  4. Cambi MPC, Baretta GAP. Guia alimentar bariátrico: modelo do prato para pacientes submetidos à cirurgia bariátrica. ABCD Arq Bras Cir Dig. 2018;31(2):e1375. DOI: /10.1590/0102-672020180001e1375
  5. Alves, H. F. de A., Vieira, H. P. O., Vilanova, R. R., Guerra, S. L., & Netto, B. A. O. (2024). IMPACTOS PSICOLÓGICOS E NUTRICIONAIS NAS CIRURGIAS BARIÁTRICAS. Revista Contemporânea, 4(1), 4120–4146. https://doi.org/10.56083/RCV4N1-224