IMPORTÂNCIA DO DIAGNÓSTICO PRECOCE DE CARCINOMA ESPINOCELULAR CABEÇA E PESCOÇO: RELATO DE CASO

IMPORTANCE OF EARLY DIAGNOSIS OF HEAD AND NECK SQUAMOUS CELL CARCINOMA: CASE REPORT

REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.7790023


Jaiana Silva Rodrigues1
Flavio Martins da Silva2
Leopoldo Luiz Rocha Fujii3
Pedro Ivo Santos Silva4
Bruno Coelho Mendes5
Chimene Kuhn Nobre6


RESUMO

Das 6,4 milhões de neoplasias malignas diagnosticadas, 10% dessas neoplasias malignas estão localizadas na cavidade oral. O carcinoma de células escamosas bucal (CEC) é o responsável por 90% a 95% de todos os tumores orais malignos. O CEC pode ser visto em adultos, predominante em ambos os gêneros, sendo notável predomínio na quarta a sexta década de vida. No entanto, algumas pesquisas mostram que existe uma prevalência maior referente ao gênero masculino. O diagnóstico precoce ajuda a proporcionar um melhor prognóstico ao paciente. O prognóstico do CEC é multifatorial, ou seja, depende do estágio clínico do câncer, localização anatômica em que se encontra a neoplasia maligna e condição sistêmica do paciente. O prognóstico nem sempre é favorável ao paciente, apesar dos avanços nos tratamentos de CEC, existem pacientes que ainda não tem acesso a esses tipos de tratamento no Brasil, proporcionando um prognóstico sombrio, se faz necessário, planos de ação para aumentar o acesso ao diagnóstico precoce, favorecendo a sobrevida desses pacientes oncológicos. Este estudo descreve um caso clínico envolvendo uma mulher do sexo feminino, 92 anos, etnia branca, previamente diagnosticada com carcinoma espinocelular, sendo submetida a intervenção cirúrgica em ambiente hospitalar para confirmação do diagnóstico por meio de exame de biópsia anatomopatológica. O tratamento recomendado foi baseado conforme o estágio do tumor.

Palavras chave: Neoplasia de células escamosas, Cirurgia bucal, Neoplasia bucal.

ABSTRACT

Of the 6.4 million diagnosed malignant neoplasms, 10% of these malignant neoplasms are located in the oral cavity. Oral squamous cell carcinoma (SCC) accounts for 90% to 95% of all malignant oral tumors. SCC can be seen in adults, predominantly in both genders, with a notable predominance in the fourth to sixth decade of life. However, some studies show that there is a higher prevalence for males. Early diagnosis helps provide a better prognosis for the patient. The prognosis for SCC is multifactorial, that is, it depends on the clinical stage of the cancer, the anatomical location of the neoplasm and the patient’s systemic condition. The prognosis is not always favorable to the patient, despite advances in CPB treatments, there are patients who still do not have access to these types of treatment in Brazil, providing a poor prognosis, if necessary, action plans to increase access to diagnosis early for more patients, favoring survival. This study is a clinical case report, female patient, 92 years old, of Caucasian ethnicity, previously diagnosed with squamous cell carcinoma (SCC), surgical intervention occurred in a hospital environment, to confirm the diagnosis through the anatomopathological examination of the biopsy performed on the patient. Recommended treatment was based on tumor stage.

Keywords: Squamous cell neoplasm, Oral surgery, Oral neoplasm.

1 INTRODUÇÃO

O Câncer Bucal é considerado a segunda causa de mortes por doenças em todo mundo e tem se tornando um problema de saúde cada vez mais agravante. A Sua prevalência é maior em pessoas do sexo masculino, a taxa de sobrevida média do paciente diagnosticado após cinco anos com câncer é de apenas 55% (OLIVEIRA et 

Dos novos casos de tumores malignos diagnosticados no brasil, o câncer bucal é o que possui a maior incidência, em média de 780 mil novos casos. Os principais agentes causadores de risco são o uso crônico de tabaco e álcool, além da exposição solar. O vírus do HPV também tem sido associado ao câncer bucal, acometidos com maior frequência na região orofaringe (SILVA et al., 2020).

De todas as malignidades bucal, o carcinoma espinocelular (CEC) corresponde cerca de 90% do tipo histopatológico mais comum de câncer bucal, as maiores incidências estão localizadas nos sítios da língua e assoalho bucal. Considerado uma neoplasia invasiva e com predileção a metástase, clinicamente são lesões que em fases iniciais se apresentam assintomáticas (ALVES-SILVA et al., 2021). O diagnóstico precoce do CEC diminui as chances de um tratamento mais invasivo e aumenta as chances de cura e de uma maior sobrevida ao paciente. O tratamento varia de acordo com o tamanho do tumor, localização e estágio que o CEC se encontra, geralmente a cirurgia é indispensável, seguido de radioterapia/quimioterapia ou a combinação de ambos (RIO; SOUZA; SILVA, 2020).

O objetivo deste trabalho é descrever um relato de caso clínico, enfatizando a importância da detecção precoce do câncer bucal e discutindo métodos práticos que os cirurgiões-dentistas podem empregar para prevenir o diagnóstico tardio. Paciente do sexo feminino, 92 anos, de etnia branca, previamente diagnosticada com carcinoma espinocelular oral (CEC), compareceu ao Hospital Central em Porto Velho/RO para intervenção cirúrgica sob anestesia geral, para confirmação do diagnóstico através do exame anatomopatológico via biópsia. O tratamento recomendado foi baseado conforme o estágio do tumor.

O trabalho descrito é baseado em um procedimento cirúrgico realizado por meio de um Cirurgião Bucomaxilofacial, levando à coleta de dados específicos. Dada a importância da detecção precoce do câncer bucal, este estudo tornou-se importante com a finalidade de encontrar meios em diagnosticar pacientes com lesões potencialmente malignas em estágios iniciais na região da cabeça e pescoço.

2 REVISÃO DE LITERATURA

Das 6,4 milhões de neoplasias malignas diagnosticadas em todo o mundo, 10% estão localizadas na cavidade oral (ROCHA et al., 2019). De acordo com a pesquisa realizada pela Agência Internacional de pesquisa sobre o Câncer (IARC) em 2018, o carcinoma de células escamosas oral (CEC) foi o tipo de câncer com as maiores taxas de mortalidade e incidência dos 36 tipos de câncer estudados em 185 países (MIRANDA et al., 2022). Tanto no Brasil quanto no Reino Unido, o carcinoma de células escamosas oral (CEC) é o responsável por 90% a 95% de todos os tumores orais malignos. Estima-se que no mesmo ano, houve 4.316 óbitos por esse tipo de neoplasia maligna na região cavidade oral, e 3.936 óbitos na região de orofaringe (VERÍSSIMO et al., 2022). Como resultado, no País, apresenta um significativo problema de saúde pública, onde as suas taxas de mortalidade e incidência estão entre as mais elevadas do mundo (PAULA et al., 2021).

Dos CEC diagnosticados no Brasil, a região norte se destaca por apresentar a menor incidência e a menor taxa de hospitalização, porém entre as regiões brasileiras, é a que apresenta o maior índice de mortalidade. Indica potencialmente uma falta de disponibilidade de serviços de oncologia, diagnósticos tardios e menor acesso a esses tipos de tratamento (ALVES et al., 2022). É fundamental notar que há mais serviços de tratamento oncológico oferecidos nas regiões sudeste e sul, o que pode facilitar o acesso mais rápido aos cuidados e uma menor mortalidade (SILVA et al., 2020).

A neoplasia maligna conhecida como carcinoma espinocelular, também é chamado de carcinoma células escamosas ou carcinoma epidermóide (ROCHA et al., 2019). Apesar do câncer ser considerado uma doença genética, fatores ambientais podem ter um impacto significativo na etiopatogenia do câncer, além da radiação solar, o álcool e o tabaco são apontados como fatores ambientais fundamentais do câncer de boca. Certos tipos de vírus, como o papiloma vírus humano (HPV), também podem causar esses tipos de neoplasias malignas. Além desses fatores ambientais, os fatores sistêmicos podem também contribuir para o desenvolvimento do câncer como; dieta carente em vitaminas e com alta taxa de gorduras, alguns tipos de síndromes e doenças autoimunes (CATHARINI et al., 2020).

Apesar do fato de que o CEC pode ocorrer em qualquer parte anatômica da cavidade oral, algumas áreas, como a borda lateral da língua, o assoalho bucal e a região de laringe são em 50% dos casos as áreas mais acometidas. Clinicamente, as lesões podem se manifestar-se de várias maneiras, incluindo as seguintes; exofíticos (formação de massa tumoral), endofíticos (invasiva/ulcerada), verrucosa, leucoplasia (placa branca), eritroplasia (placa vermelha) ou eritroleucoplasia (placas esbranquiçadas e avermelhadas). O CEC geralmente são neoplasias agressivas, com tendência de alto nível de disseminação local e alta potencialidade metastática (RIOS; SOUZA; SILVA, 2020).

Normalmente, o CEC pode ser visto em pacientes adultos, predominante em ambos os gêneros, sendo notável predomínio na quarta à sexta década de vida. No entanto, algumas pesquisas mostram que existe uma prevalência maior referente ao gênero masculino, acima da quarta década de vida e de etnia branca (FEITOSA et al., 2019). Quando é notado pela primeira vez uma lesão, mas não cicatriza e continua a progredir, é fundamental realizar um exame de biópsia para determinar se é cancerígena ou não. Estudos recentes têm mostrado métodos com biomarcadores de câncer oral, como a biópsia líquida promissora para este tipo de diagnóstico precoce (JÚNIOR et al., 2021). Na atualidade, a pesquisa histopatológica por meio de biópsia representa o objetivo de um diagnóstico mais preciso da CEC (JÚNIOR et al., 2021). Embora a seriedade da CEC, a detecção precoce dessa neoplasia maligna pode aliviar o sofrimento do paciente e proporcionar um tratamento menos agressivo e com melhor taxa de sobrevida. (MIRANDA et al., 2022).

O diagnóstico precoce ajuda a proporcionar um melhor prognóstico ao paciente. O prognóstico do CEC é multifatorial, ou seja, depende do estágio clínico do câncer, localização anatômica em que se encontra a neoplasia e condição sistêmica do paciente. Os tumores localizados na região do lábio inferior, apresentam um prognóstico mais favorável quando relacionado ao tumor localizado na região palatina por exemplo, isso porque, na região do lábio inferior a lesão fica mais exposta, facilitando a identificação pelo paciente e/ou profissional da saúde (CARVALHO; RAMOS; PIRES, 2022). Os métodos de tratamento oncológico convencionais incluem cirurgia, radioterapia e/ou quimioterapia. No caso do câncer bucal, a cirurgia para retirada do tumor é o tratamento de escolha, podendo ou não estar associado à radioterapia (SANTOS et al., 2013). O prognóstico de sobrevivência é determinado pelo estágio do tumor. Estima-se que para tumores menores de 4 cm sem metástase até o momento do diagnóstico, a taxa de sobrevida de 5 anos varia de 53% a 68% dos casos (ARAÚJO et al., 2020). Como o Câncer Bucal geralmente possui um prognóstico sombrio devido às altas taxas de mortalidade, o diagnóstico precoce é um dos principais tratamentos para os pacientes com carcinoma espinocelular. O autoexame realizado pelo paciente pode auxiliar nesse diagnóstico ao atentar para lesões indolores que não cicatrizam após 15 dias na região bucal. Importante lembrar que caso descoberto alguma lesão ou anormalidade, o profissional mais indicado para avaliar a situação é o Cirurgião-Dentista (FRANCISCO et al., 2021).

Entre 2020 e 2022, no Brasil são esperados 15.190 novos casos de câncer na região de cabeça e pescoço, isso reforça como é importante o comprometimento da rede de atenção básica de saúde que está devidamente capacitada em realizar exames clínicos para detecção precoce de lesões potencialmente malignas. Ter patologista treinados em laudos anatomopatológicos, realização de biópsia por Cirurgiões dentistas sempre que necessário, frisando um sistema eficaz, capaz de garantir uma gama de cuidados, inclusive o início imediato do tratamento oncológico nos casos confirmados (MINISTÉRIO PÚBLICO DA SAÚDE, 2020).

3 MATERIAL E MÉTODOS

O procedimento metodológico utilizado foi um relato de caso, com suporte teórico fornecido por artigos científicos, utilizando as seguintes bases de dados: MEDLINE, BVS e SCIELO, constando publicações a partir do ano de 2013 até 2022. As palavras chaves utilizadas foram: neoplasia de células escamosas, cirurgia bucal e neoplasia bucal. Foram utilizados os seguintes critérios de inclusão: artigos que exploram o tema proposto, métodos bem descritos e modelo bem estabelecido na literatura. Os critérios de exclusão estabelecidos foram: artigos que não estavam disponíveis em português, inglês ou espanhol, artigos sem resumo, artigos sem texto completo e artigos com fontes de pesquisa questionáveis. Assim, a primeira etapa desse processo foi a identificação do paciente, o exame clínico e o desenvolvimento do protocolo a ser utilizado durante a intervenção cirúrgica para o encaminhamento da biópsia para exame histopatológico. Após a análise do caso clínico, foi realizada a descrição do referencial teórico.

4 CASO CLÍNICO

Em março de 2022, mulher de 92 anos, aposentada, etnia branca, procedente de Humaitá/MA, e com histórico médico de doença de Alzheimer, compareceu acompanhada pela sua filha, responsável pelos cuidados da mãe, na consulta clínica, no Hospital das Clínicas em Porto Velho/RO, encaminhada com diagnóstico sugestivo de Câncer Bucal por um cirurgião-dentista, para realização de uma biópsia em ambiente hospitalar. Na avaliação clínica foram realizadas; anamnese referente a queixa principal, história da doença atual, histórico médico pregressa, histórico buco dental, hábitos (nocivos e higiênicos) e antecedentes familiares da paciente a respeito de doenças hereditárias, a acompanhante foi responsável em detalhar as perguntas realizada a paciente, pois a paciente apresentava dificuldades em se comunicar. O exame físico intrabucal, confirmou a presença de uma lesão. Na Figura 1, apresenta uma lesão exofítica, irregular, séssil profunda e extensa no rebordo alveolar do lado esquerdo da maxila, com aproximadamente 12 cm de comprimento e 5 cm de largura, com áreas eritroleucoplasia e osso alveolar subjacente aparentemente intacto. Durante o transoperatório foi adotado um conjunto de medidas empregadas com a finalidade de proteger a saúde dos responsáveis pela intervenção cirúrgica e da paciente. Para tal, foram tomadas as seguintes medidas: controle dos riscos físicos, químicos e biológicos, controle dos riscos ergonômicos e acidentais. Todos os instrumentos utilizados foram esterilizados, utilizando EPI (Equipamento de proteção individual). A cirurgia foi executada sob anestesia geral e intubação orotraqueal, devida a indicação comprovativa da paciente, após a sedação e estabilidade do sedativo na paciente. A Figura 1, os elementos inferiores que foram extraídos durante o procedimento cirúrgico. 

Figura 1 Lesão exofítica, irregular, base séssil profunda e extensa no rebordo alveolar do lado esquerdo da maxila.

Fonte: Hospital das Clínicas, Porto Velho, 2022.

A Figura 2 mostra as áreas onde as duas biopsias incisionais foram feitas, a primeira biopsia incisional, foi retirada 1mm a frente da lesão exofítica e 2 mm da área lesionada, e a segunda incisão da biópsia foi retirada na borda da lesão sangrante, com aproximadamente 3mm. 

Figura 2 Área da retirada das duas peças para as biópsias incisionais

Fonte: Hospital das Clínicas, Porto Velho, 2022.

A figura 3 apresenta os tecidos circundantes foram, então, reparados com suturas e os dois fragmentos da lesão encaminhado para exame anatomopatológico.

Figura 3 fragmentos da lesão encaminhado para exame anatomopatológico. Resultado do exame histopatológico foi compatível com Carcinoma espinocelular (CEC).

Fonte: Hospital das Clínicas, Porto Velho, 2022.

5 DISCUSSÃO

De todos os tumores malignos que se desenvolvem no corpo humano, 10% são encontrados na cavidade bucal, sendo a sexta maior incidência em todo mundo. O câncer bucal é a segunda neoplasia maligna localizada na região de cabeça e pescoço, ficando atrás somente do câncer de pele (KUZE et al., 2021). Os estudam mostram que a população masculina tem maior risco de desenvolver câncer bucal após os 40 anos, devido a fatores de risco como tabagismo, alcoolismo, papiloma vírus humano (HPV) e predisposição genética (CARVALHO et al., 2018; OLIVEIRA et al., 2021). De todas as malignidades bucal, o carcinoma espinocelular (CEC) corresponde cerca de 90% do tipo histopatológico mais comum de câncer bucal, as maiores incidências estão localizadas nos sítios da língua e assoalho bucal (RIOS; SOUZA; SILVA, 2020). Quando comparados aos dados da literatura, podemos notar que a predominância é maior em sexo masculino, após os 40 anos de idade, o que não vem de encontro com o caso relatado. No caso descrito, o CEC localiza-se na região à esquerda do rebordo alveolar; entretanto, segundo dados da revisão da literatura, a região da língua e da parede bucal é onde o Carcinoma Espinocelular é mais comumente encontrado.

Clinicamente no início o CEC quase sempre é assintomático, apresenta- se como áreas ulceradas, que não cicatrizam ou demoram para cicatrizar com presença ou não de sangramentos, conforme a evolução a dor se manifesta de forma tardia, juntamente com outros problemas como dificuldade para falar, deglutição e perda de peso (SANTOS et al., 2013; FEITOSA et al., 2019). É uma patologia que se manifesta com características histopatologicamente, em ilhas e cordões invasivos de células epiteliais escamosas malignas. O carcinoma espinocelular pode apresentar características como sendo lesão exofítica de superfície assimétrico, formato e volume aumentado, verruciforme ou papilar. (ROCHA et al., 2019; BRITO; PIRES; PRADO, 2022; MINETTO et al., 2022). O relato de caso demonstra que as características histopatológicas observadas no paciente clinicamente condizem com o que vem sendo descrito nos estudos pesquisado, incluindo uma lesão exofítica de superfície irregular, com formato e volume extenso.

O CEC quando diagnosticado precocemente tem uma taxa de cura próximo de 90% dos casos, existe uma maior ênfase no cirurgião-dentista, em poder desenvolver um exame clínico detalhado, bem como possíveis exames complementares, de forma a fornecer um diagnóstico mais exato nesta área (CARVALHO; DUQUE, 2021). Muitas vezes, as lesões não se manifestam como sintomas dolorosos, que o paciente não consegue detectar na fase inicial, geralmente são lesões assintomáticas, fazendo que o paciente não detecte inicialmente esse tipo de neoplasia maligna. Como não há indicação na literatura para estimular a realização do autoexame, pois o paciente não dispõe de um parâmetro que indique a normalidade da sua cavidade bucal (KUZE et al., 2021). O que vem de encontro no caso relatado, assim como demonstrado na literatura, onde o CEC não foi detectado inicialmente pela paciente ou profissional da saúde. Sendo um dos fatores do possível favorecimento do diagnóstico tardio, a disposição degenerativa cognitiva progressiva da doença de Alzheimer que a paciente tinha. Observamos em nossas pesquisas que a importância de o paciente realizar o autoexame de sua cavidade oral é pouco mencionada na literatura.

Sabe-se que a taxa de sobrevivência para pacientes diagnosticado de forma tardia é de cerca de 20% após 5 anos, enquanto a taxa de sobrevida para lesões diagnosticadas precocemente é de cerca de 80% (INCA, 2020). Mostra que, o diagnóstico precoce, em conjunto com a biópsia incisional, é um excelente método para aumentar a sobrevida de pacientes com CEC como outros tipos de tumores malignos (CARVALHO; RAMOS; PIRES, 2022). De acordo com a literatura revisada, podemos concluir que uma combinação de medidas, como um exame clínico detalhado e uma biópsia combinada, é uma das formas mais eficazes de detectar precocemente um câncer bucal. Não foi o caso da paciente, no qual a falta de informação da população em geral a respeito dos sintomas de um Câncer Bucal, ao contrário, o acesso às consultas odontológicas foi dificultado devido à residência da paciente está localizada na zona rural do estado do Amazonas-AM, ocasionou atraso no diagnóstico do CEC.

O tratamento oncológico do CEC, como, cirurgia, quimioterapia, radioterapia ou ambos, necessita de uma variedade de procedimentos e cuidados multidisciplinares para o paciente antes, durante e após a fase ativa do tratamento do câncer (BORGES et al., 2018). No caso da cavidade bucal, deve- se realizar um plano de tratamento para diversas circunstâncias antes do início do tratamento oncológico, com o objetivo de proporcionar bem-estar ao paciente (ROCHA; ORRICO; MASSUCATO, 2021; PAULA et al., 2021). Após receber o diagnóstico de CEC, a paciente foi encaminhada para o Hospital do Amor. Para iniciar seu tratamento oncológico, no entanto, o estágio avançado do tumor da paciente, idade e histórico médico da doença de Alzheimer, os responsáveis pela paciente decidiram não prosseguir com o tratamento oncológico porque exigiria uma ressecção cirúrgica associada à radioterapia/quimioterapia. Vindo a falecer após 05 meses da confirmação do exame anatomopatológico para CEC.

É necessário saber identificar e tratar o Câncer bucal precocemente, a fim de reduzir a mortalidade e seus efeitos prejudiciais na qualidade de vida. Entretanto, apesar de ocorrer em uma região fácil ao exame clínico, as lesões são diagnosticadas muito mais tarde. De acordo com um estudo nacional constatou que somente 6,25% dos tumores são classificados como in situ, estágio I, enquanto os estágios II, correspondem com18,19%; estágio III com 34,45% e o estágio IV com 41,12%. Essa circunstância indica uma demora ao atendimento adequado para esses pacientes oncológicos (LIMA; O’DWYER, 2018). Conforme na literatura, pacientes em estágios mais avançados apresentam maior mortalidade. Alguns estudos da revisão da literatura revelaram que o diagnóstico precoce é o melhor método para tratar, prevenir e melhorar a qualidade de vida desses pacientes. No entanto, a revisão também apontou que apesar de ser amplamente discutido o assunto, o conhecimento sobre esse tema é pouco aplicado na prática dos cirurgiões-dentistas, e que medidas simples poderiam ser implementadas nas regiões brasileiras de forma personalizada, trazendo benefícios a curto prazo, médio e longo prazo. Medidas educacionais, tais como; educação continuada através de palestra e debates sobre temas relevantes para a prevenção e tratamento no mês de conscientização do Câncer Bucal, maio Vermelho para estudantes de odontologia e programas de reciclagens anuais a respeito de câncer bucal para cirurgiões-dentistas, com base em estudos epidemiológicos globais e regionais atualizados.

6 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Sabendo que a detecção precoce do câncer bucal está ligada a conjunto de medidas, podemos buscar estratégias que ajudem a aumentar a conscientização sobre o câncer bucal, como:

  • Educação continuada sobre temas relevantes e atuais relacionados ao câncer bucal tanto para cirurgiões-dentistas e para estudantes de odontologia, por meio de palestras e debates que podem ser executados de forma objetiva, como por exemplo, no mês de conscientização do Câncer Bucal; maio vermelho.
  • Utilizar dados epidemiológicos para desenvolver estratégias eficazes para conscientização entre a população.

A capacitação dos cirurgiões-dentistas para que os habilitem a realizar biópsias de lesões potencialmente malignas com eficácia e segurança.

REFERÊNCIAS

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1Acadêmica de Odontologia. E-mail: username@domínio.com. Artigo apresentado a FIMCA, como requisito para obtenção do título de Bacharel em Odontologia. Porto Velho/RO, 2022.
2Professor Orientador. Professor do curso de Odontologia. E-mail: bucofacial@gmail.com
3Professor Orientador. Professor do curso de Odontologia. E-mail: fujii.llr@uol.com.br
4Professor do curso de Odontologia. E-mail: pedroivo.silva@gmail.com
5Professor do curso de Odontologia. E-mail: brunocoelho.mnds@gmail.com
6Professora do curso de Odontologia. E-mail: chimenekn@gmail.com