REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.7213250
Autores:
Claudio Allan de Oliveira Silva1
Gabriel Carvalho Silva1
Gustavo Soares Conserino1
Renan Souza Viana Silva1
Priscila Ferreira Silva2
RESUMO
A COVID-19 foi declarada como pandemia no dia 11 de março de 2020 pela OMS (Organização Mundial da Saúde). Tendo em vista o cenário na qual o mundo atual se encontra no combate ao referido patógeno após sua rápida proliferação pelo globo, este trabalho tem como objetivo principal evidenciar a importância das consequências neurológicas que são causadas pelo vírus Sars-Cov-2, para que os impactos no âmbito da saúde possam ser reduzidos e melhor gerenciados pelos profissionais da comunidade. À medida que estudos e pesquisas são realizadas, o novo coronavírus é considerado recente e complexo pelos cientistas. Nota-se em uma parcela da população infectada uma incidência relevante de manifestações neurais, o que vem chamando a atenção das autoridades sanitárias e colaboradores presentes no dia a dia hospitalar/laboratorial. No presente estudo foi realizada uma pesquisa conjunta de caráter exploratório baseada em referências bibliográficas contidas na literatura, através do método hipotético-indutivo, com a finalidade de realizar um levantamento de informações pertinentes ao tema e fornecer dados robustos para o projeto. Durante a revisão bibliográfica três tópicos fundamentais foram levantados para construir o desenvolvimento do trabalho: caracterização do vírus, patogenia e consequências neurológicas. O primeiro visando compreender as estruturas da partícula viral e sua importância na infecção; o segundo com a finalidade de entender os mecanismos de ação existentes do vírus SARS-CoV-2 na interação vírus-hospedeiro; e o último para coletar estudos que apontam a existência de lesões no sistema nervoso causadas pela COVID-19. Com isso, conclui-se que pacientes infectados com o novo coronavírus podem apresentar sintomas e lesões neurais. No entanto, mais estudos são necessários para uma melhor compreensão da profundidade que o patógeno possui. Ademais, é necessária uma conscientização mais expressiva da comunidade para facilitar o combate frente a estes episódios.
Palavras chaves: Sars-Cov-2, Pandemia, Consequências neurológicas, Conscientização.
ABSTRACT
COVID-19 was declared a pandemic on March 11, 2020, by the WHO (World Health Organization). Because of the scenario in which the world currently finds itself in fighting this pathogen after its rapid proliferation around the globe, this paper’s main objective is to highlight the importance of the neurological consequences that are caused by the Sars-Cov-2 virus so that the health impacts can be reduced and better managed by community professionals. As studies and research are conducted, the new coronavirus is considered new and complex by scientists. In a part of the infected population, a relevant incidence of neural manifestations has been noticed, which has drawn the attention of health authorities and collaborators present in the hospital/laboratory daily routine. In the present study, joint exploratory research was carried out based on bibliographic references in the literature, through the hypothetical-inductive method, to gather information pertinent to the theme and provide robust data for the project. During the literature review, three fundamental topics were raised to build the development of the work: virus characterization, pathogenesis, and neurological consequences. The first aimed at understanding the structures of the viral particle and its importance in infection; the second aimed at understanding the existing mechanisms of action of the SARS-CoV-2 virus in the virus-host interaction; and the last aimed at collecting studies that point to the existence of lesions in the nervous system caused by COVID-19. With this, it is concluded that patients infected with the new coronavirus can show symptoms and neural lesions. However, more studies are needed for a better understanding of the depth that the pathogen has. Furthermore, a more expressive awareness of the community is needed to facilitate the fight against these episodes.
Keywords: Sars-Cov-2, Pandemic, Neurological consequences, Awareness.
INTRODUÇÃO
A covid-19, doença causada pelo vírus Sars-Cov-2, foi decretada como pandemia pela Organização Mundial da Saúde (OMS) no dia 11 de março de 2020 após uma rápida proliferação ao redor do planeta com a ocorrência de síndromes gripais seguidas de síndromes agudas respiratórias inicialmente na cidade de Wuhan, na China. Alguns fatores de risco foram determinados para um quadro mais grave da doença, bem como a diabetes e hipertensão. Já a letalidade é variável de acordo com a capacidade do sistema de saúde e política de prevenção de cada nação. Locais de baixa renda e acesso dificultado à instalações da saúde tendem a aumentar a referida taxa (Couto, Barbieri & Matos., 2021 apud SOARES, M. G. da S. et al., 2021).
Desde então o mundo vem sofrendo grande impacto no sistema sanitário. No entanto vem fazendo uma frente de combate ao cenário pandêmico através de uma grande mobilização da comunidade da saúde em todos os países. Visando a redução de novos casos, as nações adotaram uma série de medidas de controle para desacelerar o avanço do vírus, bem como quarentena à pessoas expostas ao vírus, distanciamento social e orientação quanto ao uso de máscaras e álcool em gel para todas as pessoas (OPAS., 2021).
Needham (2020, apud SOARES M. G. da S. et al., 2021) afirma que “a doença provocada pela covid-19 apresenta como sintomatologia tosse, febre, dispneia, hemoptise e fadiga, já em casos mais graves existe a ocorrência da síndrome do desconforto respiratório agudo (SDRA), falência múltipla de órgãos e pneumonia. Similarmente, o SARS-CoV-2 também possui a capacidade de infectar diferentes células do corpo humano. Com o destaque para células do sistema nervoso central, que podem ser infectadas juntamente com as do sistema respiratório. Estudos comprovam também a existência de sintomas neurológicos em pacientes com COVID-19, tais como: dor de cabeça, anosmia, disgeusia, tontura e consciência prejudicada”.
Existem uma série de relatos na literatura que dizem respeito à perda motora causada pela covid-19, sendo que alguns pacientes sequer retornaram a ter após um determinado período de recuperação realizado. Uma vasta quantidade de casos neurológicos graves foram relatados em diversos serviços hospitalares e laboratoriais, como por exemplo acidente vascular cerebral (AVC), encefalites virais, meningites, entre outras manifestações clínicas associadas ao novo corona vírus (MORIGUCHI et al., 2020 apud DA GAMA; CAVALCANTE, 2020).
Muitos pacientes são assintomáticos ou manifestam sintomas declarados leves (ASADI-POOYA, SIMANI, 2020 apud DA GAMA e CAVALCANTE, 2020). Entretanto, devido ao recente aumento considerável de casos com sintomas neurológicos, existe uma certa necessidade de esclarecer a relação patológica existente entre a infecção pelo vírus Sars-Cov-2 e o sistema nervoso, assim como as consequências e manifestações geradas por este acometimento (DA GAMA; CAVALCANTE, 2020).
O estudo em questão visa salientar as consequências neurológicas que são causadas pelo vírus Sars-Cov-2, por possuir uma relevância importante para o cenário pandêmico na qual a patologia se encontra na atualidade, chamando a atenção da comunidade para o potencial do agente patológico em causar infecções mais letais do que o convencional no trato respiratório (VARGAS, G. Estudo indica que Covid-19 pode causar danos cerebrais. CDTS/Fiocruz, 2020).
Observa-se uma grande quantidade de estudos que corroboram a existência de manifestações clínicas neurais causadas pelo novo corona vírus. Tal ação pode vir à gerar menos impactos em episódios com ocorrência de danos neurais causados pela covid-19, fazendo com que especialistas possam tomar medidas mais específicas frente à estas emergências neurológicas (QUEIROZ, G. Complicações neurológicas da Covid-19. PEBMED, 2021).
O projeto busca contribuir para a diminuição de impactos na saúde e dar mais visibilidade ao potencial que o patógeno possui em causar danos no sistema nervoso.
OBJETIVOS
Geral
Evidenciar a ocorrência de manifestações neurológicas decorrentes do vírus Sars-Cov-2 após uma infecção.
Específicos:
- Identificar os mecanismos de ação existentes no corpo humano do vírus Sars-Cov-2 posteriores ao contágio.
- Correlacionar a incidência de danos neurológicos em uma parcela da população que não contraiu o patógeno e pessoas infectadas pelo mesmo.
- Facilitar o diagnóstico das manifestações neurológicas através da conscientização sobre sua importância.
METODOLOGIA
O presente estudo trata-se de uma pesquisa descritiva com abordagem e revisão bibliográfica. Seguindo o método hipotético-indutivo para a elaboração do trabalho, será realizado um levantamento e construção de informações com base em artigos científicos e estudos inseridos em bases de dados nacionais e internacionais nos idiomas português e inglês, sendo eles: Portal PEBMED, Scielo, Google Acadêmico (Google Scholar), Centro de Desenvolvimento Tecnológico em Saúde da Fundação Oswaldo Cruz (CDTS/FioCruz), Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS).
Durante o processo de seleção e busca por artigos científicos localizados na literatura, e relacionados com o referido tema proposto para a pesquisa, serão utilizados termos como “Covid-19”, “SARS-CoV-2”, “pandemia”, “alterações neurológicas na covid-19”, “nervous system and covid-19”, “neurological consequences caused by covid-19”.
DESENVOLVIMENTO
CARACTERIZAÇÃO DO VÍRUS
A partícula viral, propriamente dita, é formada por uma série de componentes estruturais (Figura 1), os quais se destacam: uma molécula de RNA, o nucleocapsídeo, o envelope, as proteínas de membrana, glicoproteínas spike e o dímero hematoglutinina-esterase (FANG LI, 2017 e SONG et al. 2019 apud PEREIRA, A.; TOMÉ DA CRUZ, K. A.; SOUSA LIMA, P. 2021).
O vírus Sars-Cov-2 é um vírus envelopado, sendo este constituído de diferentes elementos estruturais, como por exemplo: lipídios, carboidratos e proteínas (SONG et al. 2019 apud PEREIRA, A.; TOMÉ DA CRUZ, K. A.; SOUSA LIMA, P. 2021).
As glicoproteínas S formam estruturas chamadas de espículas com um formato de coroa, a qual se projetam do envelope para o meio externo, sendo essenciais para a interação entre vírus e hospedeiro. Receptores específicos realizam o reconhecimento das espículas na superfície da membrana plasmática da célula hospedeira. Após tal ato, ocorre uma fusão da partícula viral e a liberação do material genético do patógeno no interior da célula (YUAN et al. 2020 apud PEREIRA, A.; TOMÉ DA CRUZ, K. A.; SOUSA LIMA, P. 2021).
Figura 1: Estrutura da partícula viral de Sars-Cov-2
O RNA do vírus está localizado no interior da partícula viral e encontra-se associado a proteínas denominadas nucleocapsídeos (N). Na superfície do envelope estão as proteínas de membrana (M), as glicoproteínas spike (S) e as proteínas hematoglutinina-esterase (HE). Fonte: Arquivos do Mundi, v.25. n.1, p. 73-90, 2021: https://periodicos.uem.br/ojs/index.php/ArqMudi/article/view/55455/751375151925.
As proteínas de membrana (M) possuem um papel central na montagem da partícula viral, atuando na regulação do tamanho e formato de tal partícula após a interação de proteínas do envelope com o RNA viral. As mesmas também estão associadas à aglutinação de fatores virais e de membrana da célula hospedeira com o intuito de conduzir o processo de formação de novas partículas virais durante a replicação que o patógeno for realizar (NEUMAN et al. 2011 e YOSHIMOTO, 2020 apud PEREIRA, A.; TOMÉ DA CRUZ, K. A.; SOUSA LIMA, P. 2021).
A Hematoglutinina esterase (HE) é uma proteína que possui um mecanismo de ação ligado ao trato respiratório, pois realiza o reconhecimento do ácido siálico presente na membrana das células pulmonares (KLAUSEGGER et al. 1999 apud PEREIRA, A.; TOMÉ DA CRUZ, K. A.; SOUSA LIMA, P. 2021).
O material genético do vírus Sars-Cov-2, localizado no interior da partícula, está associado às proteínas N (nucleocapsídeo), cuja função é proteger o genoma viral como um tudo (YAN et al. 2020 apud PEREIRA, A.; TOMÉ DA CRUZ, K. A.; SOUSA LIMA, P. 2021).
Quando existem um conjunto de variações moleculares nos sítios de reconhecimento que envolvem ação enzimática, consequentemente há grande implicância nos níveis de virulência do agente patológico (BELOUZARD et al. 2009 apud PEREIRA, A.; TOMÉ DA CRUZ, K. A.; SOUSA LIMA, P. 2021).
A interação entre patógeno e hospedeiro pode ser aumentada com a interferência de proteases, como por exemplo: furina, tripsina e outros grupos enzimáticos. Estas causam ativação dos sítios glicoproteicos virais, ocasionando a quebra dessas estruturas (OU et al. 2020 e PARK et al. 2016 apud PEREIRA, A.; TOMÉ DA CRUZ, K. A.; SOUSA LIMA, P. 2021).
PATOGENIA
A síndrome respiratória aguda grave causada pelo vírus Sars-Cov-2, até meados de setembro de 2020, causou mais de 26,5 milhões de infecções confirmadas e cerca de 875.000 mortes ao redor do mundo (NOBREGA, R. F., PEBMED, 2020).
Grande parte das infecções causadas pelo vírus Sars-Cov-2 se manifestam com infecções no trato respiratório superior e sintomas semelhantes ao da gripe. Entretanto, o referido agente é capaz de atingir outros órgãos do corpo, com envolvimento do sistema nervoso central e periférico em alguns pacientes. Contudo, ainda são necessários dados mais confiáveis a respeito da frequência dessas manifestações neurológicas e os fatores de risco associados (NOBREGA, R. F., PEBMED, 2020).
O período de incubação do vírus Sars-Cov-2 é de 1 a 14 dias, sendo que destes, em aproximadamente 3 a 7 dias surgem os sintomas iniciais da doença (YANG; WANG, 2020 apud PEREIRA, A.; TOMÉ DA CRUZ, K. A.; SOUSA LIMA, P. 2021).
A infecção viral ocorre primeiramente com uma interação ligante-receptor, na qual a glicoproteína S se liga ao receptor da enzima 2 conversora de angiotensina (ou ACE-2) do hospedeiro (LI et al. 2003 apud PEREIRA, A.; TOMÉ DA CRUZ, K. A.; SOUSA LIMA, P. 2021).
A glicoproteína S é composta por duas subunidades, chamadas de S1 e S2. A subunidade S1 liga-se ao receptor ACE-2, sendo responsável por fixar o vírus à célula hospedeira. Já a subunidade S2 tem como função a fusão da partícula viral com a membrana celular (HAMED, 2020 apud PEREIRA, A.; TOMÉ DA CRUZ, K. A.; SOUSA LIMA, P. 2021).
O vírus Sars-Cov-2 também se liga à mesma classe de receptor ACE-2 conversora de angiotensina (WAN et al. 2020 e YANG; WANG, 2020 apud PEREIRA, A.; TOMÉ DA CRUZ, K. A.; SOUSA LIMA, P. 2021).
Após a ligação e reconhecimento do receptor ACE-2, as células alvo promovem uma liberação de proteases nas vias secretórias do corpo humano. Assim, outras células ficam mais susceptíveis e vulneráveis à entrada do patógeno (BASSI et al. 2017; HOFFMAN et al. 2020; KIRCHDOERFER et al. 2018 e TIAN, X. et al. 2020 apud PEREIRA, A.; TOMÉ DA CRUZ, K. A.; SOUSA LIMA, P. 2021).
A partícula viral invade o citoplasma da célula hospedeira por endocitose, permanecendo em uma vesícula a princípio (WANG et al. 2008 e YANG; WANG, 2020 apud PEREIRA, A.; TOMÉ DA CRUZ, K. A.; SOUSA LIMA, P. 2021).
O vírus libera o seu material genético no citoplasma da célula alvo, dando início a um processo de tradução de estruturas de leitura aberta (V’KOVSKI et al. 2021 apud PEREIRA, A.; TOMÉ DA CRUZ, K. A.; SOUSA LIMA, P. 2021). Essas estruturas posteriormente formam um complexo de replicação viral, atuando como RNA polimerase dependente de um RNA (CHAN; KOK, 2020; GAO, Y. et al. 2020 e RÁCZ, 2015 apud PEREIRA, A.; TOMÉ DA CRUZ, K. A.; SOUSA LIMA, P. 2021).
Uma vez que a replicação viral é finalizada, o patógeno será liberado por exocitose, ficando disponível para atacar outras células. Este é um ponto primordial para a progressão da infecção e manifestação clínica da patologia (ANDERSEN et al. 2020 e DE WIT et al. 2016 apud PEREIRA, A.; TOMÉ DA CRUZ, K. A.; SOUSA LIMA, P. 2021).
Vale a pena mencionar que um eventual ciclo de replicação viral aumenta consideravelmente a chance da ocorrência de mutações devido ao extenso material genético. A elevação da frequência de mutações promove uma recombinação genética, a qual pode acarretar no surgimento de novas variantes do vírus, visto que estas podem vir a gerar novas cepas (BROOKS et al. 2014 apud PEREIRA, A.; TOMÉ DA CRUZ, K. A.; SOUSA LIMA, P. 2021).
A enzima conversora da angiotensina -2 foi descrita como sendo um mediador da lesão neuronal relacionada com o novo coronavírus. Foi comprovado que o mesmo patógeno pode infectar o endotélio cerebrovascular, além do parênquima cerebral do corpo humano. Isso pode resultar em um processo de necrose ou apoptose celular generalizada. Após um estudo realizado em post-mortem em indivíduo humano, foi indicado que o vírus em questão pode infectar neurônios e células da glia, isto é, o mesmo possui a possibilidade de assumir um porte de neurovirulência. Ademais, níveis séricos de citocinas elevados foram encontrados, como resultado da infecção, a chamada “tempestade de citrocinas”. Esta última pode tido um papel essencial para o desenvolvimento da lesão neurológica (AGHAGOLI, G. et al. 2021 apud SOARES, M. G. da S. et al. 2022).
É possível que após a infecção por SARS-CoV-2, a circulação sistêmica possa repartir e permitir que o referido agente entre em contato com o fluxo sanguíneo cerebral. Uma vez que as proteínas do vírus SARS-CoV-2 se comunicam com os receptores endoteliais ACE2, a barreira hematoencefálica pode ser elevada. Além disso, o processo inflamatório retarda o fluxo sanguíneo, gerando uma oportunidade para ocorrer uma neuroinvasão viral eminente. Assim, a circulação sistêmica poderia ser um meio de entrada do patógeno para o sistema nervoso central (SNC) (GASMI, A. et al. 2021 apud SOARES, M. G. da S. et al. 2022).
É possível considerar também que existe uma segunda via neuropatológica, a qual descreve uma invasão ao cérebro pelo bulbo olfatório e via transcricional nasal superior. Considerando tal informação, o vírus SARS-CoV-2 se propaga de forma transneuronal para zonas do cérebro (HARAPAN, B. N. & YOO, H. J. 2021 apud SOARES, M. G. da S. et al. 2022).
Em uma eventual lesão neuronal causada por infecção do vírus SARS-CoV-2, o patógeno possui contato com o sistema nervoso central (SNC) por meio de duas rotas principais: a via olfativa e a via da barreira hematoencefálica. A migração viral para o SNC pode ocorrer por endocitose com auxílio do aumento da permeabilidade vascular induzida pela ação de citocinas inflamatórias, além de um mecanismo de transferência indireta. Após ligar-se ao receptor de angiotensina ACE-2, o SARS-CoV-2 será engolfado no citosol neuronal. O agente patológico, uma vez dentro dos neurônios por transsinapse e endocitose, pode vir a destruir a bainha de mielina, gerando uma neuropatologia (WANG, F.; KREAM, R. M. & STEFANO, G. B, 2020 apud SOARES, M. G. da S. et al. 2022).
A Covid-19 em sua forma grave é caracterizada por um aumento de IL-2, IL-6, IL-7, fator de necrose alfa, entre outros. Pacientes infectados pelo patógeno podem apresentar uma tempestade de citocinas operando no corpo (LIOTTA E. M. e col., 2020 apud NOBREGA, R. F., PEBMED, 2020).
CONSEQUÊNCIAS NEUROLÓGICAS
(LIOTTA E. M. e col., 2020 apud NOBREGA, R. F., PEBMED, 2020) Foi realizada uma caracterização das consequências neurológicas e seus respectivos fatores de risco em pacientes hospitalizados com covid-19. Após uma análise, foram examinados sintomas e sinais neurológicos de 509 pacientes infectados pelo agente em questão, todos estes admitidos em uma rede de hospitais em Chicago, EUA. A gravidade dos pacientes fora comparada com a alteração ou não de exames neurológicos. As manifestações neurológicas estavam presentes na admissão em 215 pacientes (equivalente a 42,2% do total de infectados por Sars-Cov-2), na hospitalização em 319 pacientes (62,7%) e em qualquer momento durante o curso normal da patologia em 419 pacientes (82,3% do total de infectados).
No mesmo levantamento de dados, em uma escala de 0 a 100 em porcentagem, as manifestações neurológicas mais frequentes analisadas foram: Mialgias (44,8%), Cefaleia (37,7%), Encefalopatia (31,8%), Tontura (29,7%), Disgeusia (15,9%), Anosmia (11,4%). Acidente vascular, distúrbios do movimento, déficits sensitivos e motores, ataxia e convulsões eram incomuns (0,2 a 1,4% dos pacientes) (LIOTTA E. M. e col., 2020 apud NOBREGA, R. F., PEBMED, 2020).
A encefalopatia foi um fator de risco independente associado a pior resultado funcional e com maior mortalidade em 30 dias de hospitalização. A mesma foi mais frequente em pacientes mais velhos. Fatores de risco para encefalopatia também incluíram doença grave por infecção de Sars-Cov-2 e um histórico de qualquer distúrbio neurológico. Foi enfatizada a relevância de encefalopatia em Covid-19, sendo associada ao triplo do tempo de internação hospitalar (LIOTTA E. M. e col., 2020 apud NOBREGA, R. F., PEBMED, 2020).
O fato de existir a possibilidade da ocorrência de uma tempestade de citocinas atuando no corpo de um paciente infectado por Covid-19 pode contribuir significativamente para a ocorrência de encefalopatia. Sua etiologia em pacientes infectados por Sars-Cov-2 é multifatorial, incluindo doença sistêmica e inflamação, coagulopatia, neuroinvasão direta pelo vírus, endotelite ou até mesmo mecanismos autoimunes pós-infecciosos (LIOTTA E. M. e col., 2020 apud NOBREGA, R. F., PEBMED, 2020).
Objetivando uma coleta de estudos referentes às consequências neurológicas causadas pelo vírus SARS-CoV-2, foi realizada uma revisão integrada da literatura. Foram encontrados achados que dizem respeito a diversas consequências neurológicas causadas pelo novo coronavírus, sintomas e danos frequentes e inespecíficos/raros que podem vir a aparecer após a infecção, tanto pelo sistema nervoso central como pelo sistema nervoso periférico (SOARES, M. G. da S. et al. 2022).
Quadro 1. Achados da pesquisa referente ás consequências neurológicas
Fonte: SOARES, M. G. da S. et al. Consequências Neurológicas causadas pelo vírus SARS-CoV-2. Research, Society and Development, v. 10, n.14, e332101422073, 2021. Disponível em: https://rsdjournal.org/index.php/rsd/article/view/22073
Diversos danos neurológicos associados a uma infecção pelo vírus SARS-CoV-2 foram identificados, todos representados no quadro 1 acima. É levado em consideração que os danos mais graves estão mais presentes na população pertencente ao grupo de risco: idosos e pessoas com comorbidades. Entretanto, indivíduos fora do grupo do risco também podem sofrer agravos pela covid-19. Os estudos a respeito deste patógeno não estão direcionados com frequência ao sistema neurológico, porém há evidências, casos e estudos que alegam complicações neurológicas geradas após a infecção pelo vírus SARS-CoV-2 (SOARES, M. G. da S. et al. 2022).
Manifestações neurológicas na COVID-19 podem ser cruciais em alguns pacientes infectados. Alguns apresentam sintomas deste gênero como cefaleia, tontura ou um evento cerebrovascular. Existem também relatos de anosmia e ageusia, sendo que ambos são considerados como indicadores iniciais de infecção, sugerindo que o envolvimento neurológico precoce pode ser relevante, para que seja possível a prevenção de danos neurológicos mais potenciais a longo prazo decorrentes da infecção por SARS-CoV-2. Contudo, existem diversas consequências neurológicas na infecção, podendo incluir complicações oriundas a infecção viral, resposta imune, doença crítica, entre outros (AGHAGOLI et al. 2021 apud SOARES, M. G. da S. et al. 2022).
Os sintomas neurológicos populares da COVID-19 são as chamadas disfunções olfatórias e gustativas, sendo que o desenvolvimento dos tais ocorre nos estágios primários da patologia. São considerados marcadores de diagnóstico úteis. As células olfativas do epitélio humano expressam o receptor ACE-2, tornando sensível a infecção pelo patógeno, gerando anosmia (HARAPAN, B. N. & YOO, H. J. 2021 apud SOARES, M. G. da S. et al. 2022).
Foi realizado um estudo realizado em Wuhan(China) com 214 pacientes infectados com SARS-CoV-2. Descobriu-se que 36,4% dos pacientes apresentavam manifestações neurológicas da doença, incluindo sintomas relacionados ao SNC (24,8%), SNP (8,9%) e músculo esquelético e lesão (10,7%). Os danos neurológicos mais comuns foram a tontura (16,8%) e cefaleia (13,1%). Pacientes em estado grave eram os mais susceptíveis a serem afetados por sintomas neurológicos (45,5%) em detrimento dos pacientes mais estáveis. Após a realização de um exame post-mortem de um indivíduo infectado com covid-19, foi notado confusão e alteração do estado mental, além de neurônios do lobo frontal com presença do vírus por meio de um microscópio eletrônico. Algumas partículas virais foram achadas em células endoteliais capilares cerebrais, fornecendo assim uma evidência direta de SARS-CoV-2 em tecido cerebral humano, implicando uma rota hematogênica direta. Este estudo foi seguido por um segundo que, analisando e quantificando o vírus SARS-CoV-2 em amostras de tecido cerebral de 8 de 22 pacientes (36%) que faleceram de infecção por COVID-19, mostrando o potencial neurotrópico existente da doença (AGHAGOLI et al. 2021 apud SOARES, M. G. da S. et al. 2022).
As manifestações neurológicas causadas pelo vírus SARS-CoV-2 são diversas e incomuns (GASMI, A. et al. 2021 apud SOARES, M. G. da S. et al. 2022).
Um estudo em Tucson, Arizona(EUA), realizado entre abril e agosto de 2020, reuniu conteúdo e informações biológicas de 100 pacientes hospitalizados em unidade de terapia intensiva (UTI). Testaram positivo para COVID-19 89 pacientes e 11 tiveram o teste negativado. Níveis séricos de neurofilamento (Nfl) foram identificados em todos os pacientes e os comparou entre si. Os níveis médios de Nfl nos infectados por SARS-CoV-2 foram significativamente superiores em comparação aos demais observados em pacientes COVID-19 negativos. Controles saudáveis sugerem que indivíduos internados na UTI com o patógeno possam ter lesão no sistema nervoso central (SNC) (HAY, M. et al. 2021 apud SOARES, M. G. da S. et al. 2022).
Um outro estudo realizado em um departamento hospitalar de doenças infecciosas em Tongji reuniu informações relevantes sobre as manifestações neurológicas em uma infecção por vírus SARS-CoV-2. Após a realização de ressonâncias magnéticas quantitativas em pacientes pós COVID-19, foram encontrados atrofia na substância cinzenta, redução do fluxo sanguíneo cerebral e modificações na estrutura da substância branca, mostrando evidências da existência de consequências neurológicas na SARS-CoV-2 no período de recuperação a longo prazo (QIN, Y. et al. 2021 apud SOARES, M. G. da S. et al. 2022).
Segundo a literatura existente até o momento, é possível afirmar que as manifestações neurológicas por COVID-19 são existentes. Existem muitas consequências e fatores envolvendo o sistema neurológico. No entanto, nota-se uma expressiva maioria de estudos abordando o desenvolvimento de anosmia e algesia como fatores mais comuns, porém, mediante a outros estudos analisados, outras manifestações neurológicas também foram abordadas, citadas no quadro 1. Embora existam evidências para tal afirmação nos estudos supracitados, os casos são raros, considerando que os estudos a respeito de danos neurológicos associados ao vírus SARS-CoV-2 são recentes (SOARES, M. G. da S. et al. 2022).
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Ao analisar e revisar as informações contidas na literatura, foi possível evidenciar a ocorrência de manifestações neurológicas após o contato e infecção por SARS-CoV-2, bem como analisar seu mecanismo de ação durante o processo infeccioso.
O projeto não obteve êxito total no que diz respeito a correlacionar os casos de danos neurológicos em pacientes infectados e não infectados pelo fato de os estudos que abordam as consequências neurológicas associadas à COVID-19 serem recentes. Mais estudos e tempo são necessários para que uma linha de raciocínio mais aprofundada seja de fato estabelecida.
Em decorrência da emergência global na qual o mundo atual se encontra no combate ao patógeno, conclui-se que é cedo afirmar que o projeto realizado alcançará a conscientização que deseja. Isso porque os estudos e artigos ainda estão em fase inicial de abordagem.
Espera-se que, com o passar do tempo, a comunidade presente na saúde possa continuar gerenciando de maneira adequada o combate à pandemia de COVID-19 tendo em vista a necessidade de se conscientizar a respeito das consequências neurológicas causadas pela doença, visando um melhor diagnóstico no combate destas aparições em pacientes contendo o patógeno.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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1Discente da Universidade Anhembi Morumbi, São Paulo/SP, Brasil
2Docente do Instituto de Ciências Biomédicas – Universidade Anhembi Morumbi, São Paulo/SP, Brasil