IMPORTÂNCIA DA TERAPIA COGNITIVO-COMPORTAMENTAL NO PROCESSO DE EMAGRECIMENTO

REGISTRO DOI:10.5281/zenodo.10205255


¹Joraine Pires Lara Antunes
²Orientadora Camila Meneguzzi


RESUMO

O presente estudo buscou fazer uma relação entre o uso da Terapia Cognitivo-Comportamental (TCC), no tratamento de pessoas obesas ou com sobrepeso. A TCC mostrou-se ser uma abordagem que possui estudos comprovando sua eficácia nesse contexto. A obesidade, o sobrepeso e os transtornos alimentares são doenças físicas que afetam o psicológico do indivíduo, podendo apresentar diversas comorbidades. O principal desafio encontrado foi a aquisição de novos hábitos juntamente com a dificuldade em mantê-los, o que afeta toda a vida do indivíduo. O objetivo da TCC no atendimento a essa demanda é desenvolver novos comportamentos e modificar a cognição visando autonomia do paciente. É importante envolver a família e outras áreas da saúde para um tratamento mais eficaz e com menos recaídas. Algumas técnicas identificadas como as principais utilizadas são: questionamento socrático, para a minimização da distorção corporal; psicoeducação, para um maior entendimento do sujeito sobre a doença e o processo; reestruturação cognitiva, visando modificar pensamentos automáticos e crenças nucleares; entre outras. As crenças são entendimentos generalistas, profundos e enraizados do sujeito que, quando em relação ao peso, alimentação e corpo, podem gerar sentimentos de frustrações, fracasso e baixa autoestima. Por fim, conclui-se que a TCC é eficaz nesse processo podendo alterar os comportamentos da pessoa por meio de crenças e pensamentos automáticos mais funcionais, resultando em um processo saudável de emagrecimento e posterior manutenção de peso e hábitos.

Palavras-chave: obesidade; crenças; terapia cognitivo-comportamental; reestruturação cognitva.

ABSTRACT

The present study aimed to establish a relationship between the use of Cognitive-Behavioral Therapy in the treatment of obese or overweight individuals. CBT has proven to be an evidence-based approach with studies confirming its effectiveness in this context. Obesity is a physical condition that affects an individual’s psychological well-being and can lead to various comorbidities. The main challenge encountered was the adoption of new habits along with the difficulty in maintaining them, which impacts the individual’s entire life. The goal of CBT in addressing this demand is to develop new behaviors and modify cognition to achieve weight control. It is important to involve the family and other healthcare areas for a more effective treatment with fewer relapses. Some of the primary techniques identified and utilized include Socratic questioning to minimize body distortion, psychoeducation to enhance the individual’s understanding of the condition and the process, and cognitive restructuring aimed at changing automatic thoughts and core beliefs, among others. Beliefs are general, deep-seated understandings of the individual that, when related to weight, nutrition, and body, can generate feelings of frustration, failure, and low self-esteem. In conclusion, CBT is effective in this treatment, capable of altering a person’s behaviors through more functional beliefs and automatic thoughts, resulting in a healthy weight loss process and the subsequent maintenance of weight and habits.

Keywords: obesity; beliefs; cognitive-behavioral therapy; cognitive restructuring.

INTRODUÇÃO

A Terapia Cognitivo-Comportamental (TCC) concentra-se no estudo da relação interna entre pensamentos, emoções e comportamentos, nos quais a cognição serve como mediadora de relacionamentos. A relação entre o sujeito e o mundo exterior é o fator decisivo na expressão comportamental das emoções (Beck, 2009).

A TCC tem suas raízes em diferentes correntes teóricas que se desenvolveram ao longo do tempo. Sua história remonta ao início do século XX, quando surgiram as primeiras abordagens que buscavam entender a relação entre pensamentos, emoções e comportamentos (Luz e Oliveira, 2013). Na década de 1970, a TCC foi consolidada como uma abordagem terapêutica eficaz, baseada em evidências científicas.

Desenvolvida pelo psiquiatra norte-americano Aaron T. Beck, na década de 1960, a abordagem surge como um referencial teórico alternativo às teorias psicológicas predominantes na época, como a Psicanálise. O modelo cognitivo de psicopatologia proposto por Beck enfatiza o papel central do pensamento na evocação e manutenção da depressão, ansiedade e raiva (Beck, Rush, Shaw, & Emery, 1979).

A TCC se expandiu e se diversificou, sendo aplicada no tratamento de uma ampla gama de problemas de saúde mental, incluindo transtornos de ansiedade, transtornos alimentares, depressão, transtorno obsessivo-compulsivo, entre outros. Assim sendo, diversos estudos já realizados utilizam a TCC como uma possibilidade no tratamento à obesidade e ao sobrepeso, haja visto que muitos pacientes necessitam de acompanhamentos multidisciplinares para que possam passar pelo processo de emagrecimento de forma saudável, tanto física quanto psicologicamente (Finger e Potter, 2011).

Percebe-se que, na atualidade, o sobrepeso e a obesidade têm se tornado crescentes desafios para a saúde pública. Essas condições estão associadas a uma série de problemas de saúde, como hipertensão, diabetes, colesterol, asma e outros transtornos crônicos. Tais questões afetam não apenas adultos, mas também crianças e adolescentes, aumentando ainda mais a gravidade do problema (Porto et al, 2020).

Segundo dados de 2018 da Organização Mundial de Saúde (OMS), cerca de 13% da população mundial adulta possui obesidade, enquanto pelo menos 26% da população pode ser classificada com sobrepeso. Assim, compreende-se que uma das maiores problemáticas que envolvem o tratamento da obesidade e do sobrepeso é a dificuldade de adquirir novos hábitos alimentares e mantê-los de forma contínua.

O Índice de Massa Corporal (IMC) é frequentemente utilizado como uma medida para determinar se uma pessoa está com sobrepeso ou obesidade. O cálculo do IMC é realizado dividindo o peso da pessoa em quilogramas pela altura em metros ao quadrado. Com base nessa fórmula, é possível estabelecer uma classificação para o estado de peso de um indivíduo. Segundo os critérios comumente adotados, resultados de IMC entre 25 e 29,9 são considerados indicativos de sobrepeso. Já valores iguais ou superiores a 30 são classificados como obesidade (Porto et al, 2020).

Ainda conforme a OMS (1993), a obesidade é classificada como uma condição médica caracterizada pelo acúmulo excessivo de gordura no corpo, resultado de um desequilíbrio entre a ingestão de energia na alimentação e o gasto energético do organismo para sua manutenção e realização das atividades diárias, em outras palavras, ocorre um consumo alimentar maior do que o gasto energético correspondente. Segundo Luz e Oliveira (2013) a obesidade muitas vezes se manifesta de forma silenciosa, tornando difícil para o indivíduo perceber os sintomas e buscar ajuda profissional. Diversos fatores estão relacionados a essa doença, incluindo aspectos genéticos, emocionais, ambientais e psicossociais.

Sendo a obesidade um fenômeno cujo centro reside na vertente comportamental, para ser combatida com sucesso, no sentido de atingir os objetivos traçados para um peso saudável, são necessárias mudanças nos hábitos alimentares, na condição física e na atenção à saúde mental. Para as pessoas com obesidade mórbida, alcançar estes objetivos é ainda mais difícil devido à gravidade e complexidade das suas condições gerais de saúde, que requerem medidas de tratamento mais drásticas, uma vez que a maioria desses indivíduos falham com os tratamentos tradicionais de perda de peso. Esta falha mantém a pessoa com obesidade num círculo vicioso de frustação, ansiedade, estresse e depressão, que influenciam ainda mais nos comportamentos alimentares inadequados e exacerbam a morbilidade (Marcelino e Aristocrata, 2011).

Diante das informações levantas, o artigo apresenta a contribuição da TCC no processo do emagrecimento, as principais técnicas utilizadas neste contexto e seu potencial de provocar mudanças no comportamento dos indivíduos relacionados à perda de peso. Traz-se também os conceitos de pensamentos automáticos disfuncionais e sua influência nas mudanças de comportamento, bem como a aquisição de novas habilidades emocionais para alcançar um repertório comportamental desejado no emagrecimento.

DESENVOLVIMENTO

Obesidade, sobrepeso e transtornos alimentares

A TCC é uma abordagem de intervenção semiestruturada, objetiva, que busca identificar e corrigir as condições que favorecem o desenvolvimento e manutenção das alterações cognitivas e comportamentais. Para este referencial, o sistema de crenças de um indivíduo exerce papel determinante em seus sentimentos e comportamentos (Duchesne & Almeida, 2002).

Para os transtornos alimentares, os programas de tratamento da TCC baseiam-se principalmente nas técnicas para a redução da ansiedade, automanejo do comportamento e modificação de cognições desadaptadas. Comparados com a terapia para alguns transtornos – por exemplo, a depressão – os componentes comportamentais dos transtornos alimentares recebem maior ênfase no tratamento. Isto ocorre porque as perturbações comportamentais (como jejuns ou vômitos) são fatores centrais dessas doenças que devem ser controlados (Channon & Wardle, 1994).

O aumento significativo da incidência de sobrepeso e obesidade é uma tendência global crescente, sendo reconhecido como um problema de saúde pública de grande relevância em nações desenvolvidas e em desenvolvimento. A obesidade é classificada como uma condição crônica, caracterizada pelo excesso de gordura corporal, e envolve uma interação complexa de fatores, incluindo aspectos sociais, culturais, ambientais, comportamentais, psicológicos, genéticos e metabólicos (Brasil, 2004).

Dado o grande número de brasileiros que enfrentam algum grau de obesidade, juntamente com a natureza crônica e multifatorial dessa condição, que é desafiadora de gerenciar, esta pesquisa começou por questionar quais são os fatores psicológicos que representam obstáculos ao processo de perda de peso.

Portanto, é necessário compreender se os fatores psicológicos, incluindo cognições disfuncionais, desregulação emocional, padrões comportamentais inadequados, como o uso da alimentação como uma forma de lidar com sentimentos desagradáveis, juntamente com pressões culturais, exercem uma influência significativa na aquisição e na manutenção da obesidade, tornando assim o processo de emagrecimento mais desafiador.

Existe um acordo unânime entre diversos autores (Perez & Romano, 2004; Bernardi, Cichelero & Vitolo, 2005; Cataneo et al., 2005; Claudino & Zanella, 2005; Cade et al., 2009) sobre a presença de fatores psicológicos no desenvolvimento e na manutenção da obesidade, que complicam o processo de perda de peso e a adoção de hábitos saudáveis. Esses fatores psicológicos estão associados a diversas formas de sofrimento emocional, como ansiedade, raiva, tristeza, culpa, preocupação e a experiência de estressores psicossociais, além de uma deterioração da imagem corporal e da autoestima.

Os Transtornos alimentares são influenciados por várias causas e são o resultado da interação entre fatores biológicos, culturais e experiências individuais. A Terapia Cognitivo-Comportamental (TCC) concentra-se em identificar e corrigir as circunstâncias que promovem o surgimento e a persistência das mudanças cognitivas e comportamentais observadas em casos clínicos.

Beck (1997) argumenta que o modelo cognitivo sugere que o pensamento disfuncional, comum a todos os distúrbios psicológicos, afeta o humor e o comportamento das pessoas. A melhoria emocional e comportamental ocorre quando as pessoas aprendem a avaliar seu pensamento de forma mais realista e adaptativo. Para uma melhoria da resistência, os terapeutas cognitivos concentram-se nas opiniões básicas do paciente sobre si mesmo, o mundo e os outros, destacando que a mudança dessa atitude é essencial para aliviar sintomas psicopatológicos e sofrimento emocional em longo prazo.

Técnicas da Terapia Cognitivo Comportamental (TCC) utilizadas no contexto do emagrecimento

As mudanças a respeito da visão do corpo no decorrer dos séculos, resultou no problema de saúde que temos hoje: a obesidade. O excesso de peso está ligado a questões como o acesso a comidas industrializadas com altos níveis de açúcar e gordura. A obesidade eleva os custos com a saúde e estão associadas a outras patologias, como diabetes, câncer, hipertensão, problemas psicossociais, problemas cardiovasculares entre outros. Também está relacionada com fatores comportamentais, emocionais e cognitivos (Batista, Matos, Tomaz).

Diante disso, a obesidade também pode ser tratada com psicoterapia, entendendo que, além de afetar o psíquico do sujeito, pode ser resultado de transtornos alimentares. A TCC possui evidencias de sua eficiência no tratamento dessa doença, utilizando-se de diversas técnicas e recursos para auxiliar no emagrecimento, que trazem resultados satisfatórios. Essa abordagem “[…] tem como objetivo terapêutico a obtenção e o desenvolvimento de competências comportamentais e resultados cognitivos, que, quando exercidos contribuem para que o peso do indivíduo possa ser controlado de maneira eficiente” (Batista, Matos, Tomaz, p. 5). A eficácia do tratamento é maior quando a TCC está associada a outras áreas de atuação, como nutrição, medicina clínica e psiquiatria (Lima, 2022).

A abordagem é aplicada a partir do modelo cognitivo de Beck, tendo o objetivo de reestruturar as crenças relacionadas ao comer compulsivamente ou com o controle alimentar, por exemplo, mas também com o peso e a autoimagem. Alguns exemplos de métodos são: “[…] reorganização cognitiva, preparação da autoinstrução, e definição de metas […]” (p. 6). Algumas técnicas disponíveis são monitoramento de hábitos alimentares e treino de resoluções de problemas (Batista, Matos, Tomaz).

De acordo com Lima (2022), uma técnica que pode ser utilizada é o questionamento socrático, que tem por objetivo modificar os pensamentos automáticos visando uma minimização da distorção corporal e reconhecimento do seu físico. Também podem ser utilizados métodos tradicionais de programas de nutrição No tratamento de transtornos alimentares é indicado realizar um auxílio na reeducação alimentar e nutricional do cliente, utilizando de técnicas como o empoderamento, que busca desenvolver habilidades do sujeito para tomada de decisão mais condizente com a melhoria de qualidade de vida. É importante integrar nesse contexto a família e a rede de apoio da pessoa como fonte de acolhimento, bem como o acesso a direitos de saúde por meio do SUS para diagnóstico e tratamento dessa doença e de outras possíveis comorbidades. O trabalho multidisciplinar faz com que o cliente se torne apoiado e tenha menos recaídas e a família integrada no processo garante resultados a longo prazo (Lima, 2022).

Lima (2022), traz resultados da TCC em tratamento da Bulimia Nervosa, concluindo-se que ela ajuda “a reduzir os excessos e os movimentos intestinais, melhora a insatisfação corporal e os sintomas de depressão” (p. 28). A autora traz também a consideração de alguns psicoterapeutas especializados em TCC que atendem a essa demanda, relatando que se deve enfatizar a prevenção a recaída, psicoeducação sobre a doença para o paciente e sua família e adoção de estratégias e programas embasados na TCC visando modificação de comportamento.

Desta maneira, a TCC oferta aos indivíduos técnicas e estratégias para lidar com padrões de pensamentos e também a modificação de comportamento, que leva a um novo repertório comportamental menos disfuncional. O tratamento pode ser realizado de maneira individual ou grupal, beneficiando o convívio social e elevação da autoestima. A psicoeducação é utilizada no começo do tratamento para esclarecer como se dará o processo, quais os riscos que a obesidade oferece, definição de metas e objetivos para o comprometimento do indivíduo (Batista, Matos, Tomaz, 2020).

A partir da reestruturação cognitiva, terapeuta e indivíduo “[…] identificarão mitos nutricionais, princípios que propiciem práticas disfuncionais, pensamentos automáticos e crenças intermediárias e nucleares para que assim haja uma troca por outros mais funcionais” (Batista, Matos, Tomaz, 2020, p.15). A técnica de resolução de problemas consiste em identificar maneiras mais funcionais de lidar com as situações e identificação de gatilhos, visando a elaboração de novas estratégias. O automonitoramento auxilia o paciente a analisar a proporção e comida ingerida, seus afetos, mecanismos compensatórios e seus pensamentos, por meio de registros para uma melhor compreensão da compulsão. Por fim, a prevenção de recaída busca auxiliar o sujeito a evitar novos episódios (Batista, Matos, Tomaz, 2020).

Crenças e pensamentos automáticos e disfuncionais e sua influência na mudança de comportamento

Dentro da TCC, o entendimento de crenças está relacionado com “[…] entendimentos duradouros, tão fundamentais e profundos que muitas vezes nem se expressam, e as pessoas consideram essas ideias como verdades absolutas” (p. 27-28), sendo rígidos e muito generalistas, refletindo o significado dos esquemas pessoais. As intervenções por sua vez, visam reestruturar esse conjunto (Lima, 2022).

As crenças de pessoas acima do peso podem definir sentimentos e comportamentos, estando relacionado a sua estética, sua alimentação e o significado que a comida tem para além da nutrição. Crenças de fracasso ligada à reparação de +6coisas ruins com comida, são um exemplo, podendo levar a baixa autoestima e até a quadros depressivos. A TCC provoca a mudança de pensamentos levando a transformação corporal, aliado a um conjunto de crenças, pensando em promover comportamentos favoráveis e qualidade de vida (Batista, Matos, Tomaz, 2020).

Pessoas obesas ou com sobrepeso podem ter crenças e pensamentos disfuncionais em relação ao peso, à alimentação e ao valor pessoal. É comum que vinculem o fato de ser magro com capacidades de autocontrole, competência e superioridade. Logo, isso interfere diretamente na autoestima da pessoa e pode desenvolver crenças disfuncionais de que “se sou gordo, então não tenho condições de me controlar/não tenho valor/sou inferior” (Ferreira, Bakos e Habigzang, 2015, p. 206)

Alguns fatores psíquicos que influenciam o desenvolvimento e o curso da obesidade em adultos é o estresse, ansiedade e depressão, influenciando também no processo de emagrecimento, portanto devendo ser levado em consideração durante o tratamento. O psicólogo deve auxiliar o indivíduo a lidar com esses pensamentos de forma direta, para que o sujeito não use da compulsão como maneira de aliviar tensões e comportamentos disfuncionais. Os pensamentos disfuncionais são elencados de maneira conjunta entre o paciente e o terapeuta, para que se adote a melhor estratégia de enfrentamento, reestruturando-os para um padrão funcional (Batista, Matos, Tomaz, 2020).

As emoções negativas podem aumentar os níveis de glicose no corpo, o que atua como um inibidor natural do apetite. A fome psicológica, geralmente associada à depressão ou alto estresse, é repentina, urgente e envolve a busca por alimentos específicos que não os satisfazem facilmente. Isso significa que emoções como tristeza, decepção, perda, inquietação e ansiedade muitas vezes levam as pessoas a recorrerem à comida e aos doces como forma de compensação (Balaias, 2010).

A TCC trabalha com o entendimento de que a maneira como as pessoas pensam afeta a maneira como elas sentem e agem, portanto trabalha na busca por pensamentos disfuncionais tornando-os funcionais, para que a pessoa se sinta melhor e mude seu comportamento. Em casos de atendimento a pessoas com sobrepeso, essa abordagem procura modificar as crenças disfuncionais a respeito de alimentação e dietas por meio da reestruturação cognitiva (Neufeld, Moreira, Xavier, 2012).

Algumas distorções cognitivas que são frequentes em casos de transtorno alimentar são “[…] abstração seletiva, supergeneralização, magnificação, pensamento dicotômico, personalização e pensamento supersticioso” (p. 188). Quando as distorções são identificadas na terapia, pode-se mudar os pensamentos automáticos da pessoa atendida. É comum que essas pessoas tenham um padrão de pensamento extremo e incondicional, que faz com que eles adotem regras de dietas rígidas e inflexíveis, onde qualquer pequeno desvio é visto de maneira distorcida como um ato de fracasso ou de falta de autocontrole em relação a comida (Souza, Garcia, 2021).

Neste contexto surge a baixa autoestima, pois os pacientes enxergam apenas as falhas e a insuficiência, sem entender que as regras estão exageradas e erradas. É normal também que as informações que confirmam as crenças sejam selecionadas, enquanto que as que contestam são distorcidas e ignoradas, mantendo o sistema de crenças enraizadas da pessoa. Tomando a TCC como base de tratamento, pode-se trazer ao sujeito uma reavaliação de suas crenças, alteração de pensamentos automáticos e controle de comportamentos disfuncionais. Os sintomas psicopatológicos dão direção ao tratamento (Souza, Garcia, 2021).

Segundo Ferreira, Bakos e Habigzang (2015), no contexto de problemas alimentares, a modificação de pensamentos e comportamentos que a TCC pode ofertar contribui tanto para o emagrecimento, quanto para mantê-lo. Um dos principais objetivos se centra no aprendizado da automonitoração de pensamentos e comportamentos relacionados a alimentação, abrangendo diversas técnicas para que isso seja possível, chegando a uma reestruturação cognitiva satisfatória.

A TCC de fato pode ser considerada como a abordagem que fornece as ferramentas e os métodos mais práticos existentes, que são suficientes para abordar tais questões e fazer recomendações para intervenção e novas interpretações das tarefas diárias e comportamentos alimentares. Deve-se apostar em técnicas como: psicoeducação, automonitoramento e estratégias de enfrentamento, além de suas manutenções de recaídas.

A TCC atua na identificação e correção de condições que favoreçam o desenvolvimento e a manutenção das alterações cognitivas e comportamentais que caracterizam os casos clínicos. Sendo assim, para a modificação dos comportamentos disfuncionais relacionados à obesidade, a TCC emprega várias técnicas, sendo algumas delas: automonitoração, técnicas para controle de estímulos (gatilhos) e o treinamento em resolução de problemas. Estas vão ajudar o indivíduo a desenvolver estratégias alternativas para enfrentar suas dificuldades sem recorrer à alimentação inadequada (Beck, 1997; Beck et al, 1985). Em geral, a TCC ainda emprega técnicas para prevenção de recaídas e consequente manutenção dos resultados alcançados com o tratamento (Duchesne et al., 2007; Leahy, 2006).

METODOLOGIA

A metodologia de pesquisa bibliográfica é um conjunto de procedimentos e técnicas utilizadas para realizar uma investigação com base em fontes bibliográficas, tais como livros, artigos científicos, teses, dissertações e outros materiais escritos. Essa abordagem de pesquisa é focada na análise e interpretação da literatura existente sobre um determinado tema, com o objetivo de coletar informações, embasar teorias, identificar lacunas de conhecimento e embasar argumentações. Metodologia bibliográfica é o conjunto de procedimentos adotados para selecionar, analisar, interpretar e sistematizar as informações contidas em obras científicas, técnicas e literárias, com o objetivo de embasar teoricamente um estudo ou pesquisa. Através desta metodologia, é possível realizar uma revisão sistemática da literatura, identificando as principais contribuições e lacunas existentes no conhecimento científico sobre determinado tema” (Santos, 2018, p. 25).

Para a formulação do presente trabalho, pesquisou-se nas plataformas “PubMed” e “Google Scholar”, utilizando palavras-chave relevantes como “terapia cognitivo comportamental”, “emagrecimento”, “obesidade”, “tratamento”, “técnicas’’ “pensamentos disfuncionais”, “transtornos alimentares” entre outros. Foram selecionados artigos científicos, teses e dissertações que abordassem o tema central, as principais contribuições teóricas, os métodos utilizados e os resultados encontrados. Artigos que não faziam parte dos objetivos do tema foram excluídos. Não houve uma delimitação específica de tempo. As informações relevantes foram extraídas e organizadas de acordo com os temas e subtemas elencados para o presente estudo.

RESULTADOS E DISCUSSÕES

Foi possível observar que muitos autores compartilham da opinião de que fatores psicológicos desempenham um papel de grande importância no surgimento e perpetuação da obesidade, tornando o processo de perda de peso uma tarefa desafiadora.

Esses fatores estão ligados a uma ampla gama de emoções, incluindo ansiedade, raiva, tristeza, culpa e preocupação, além de estressores psicossociais, distúrbios de imagem corporal e autoestima comprometida.

Levando em consideração o trabalho que a TCC desenvolve com pensamentos, comportamentos e emoções – foco na cognição. O modelo de tratamento usado por Beck dá ênfase aos pensamentos e a forma como eles impactam a vida e o repertório comportamental do sujeito. Sendo assim, esta abordagem possui eficácia no tratamento de diversos transtornos, mas também no contexto da obesidade.

É realmente importante ressaltar a relevância dos estudos sobre obesidade e transtornos alimentares, considerando os graves impactos que essas condições têm na saúde física e mental. A obesidade não afeta apenas o bem-estar físico, mas também tem implicações na saúde mental das pessoas afetadas. Além do estigma social, que é um dos principais desafios enfrentados por indivíduos com excesso de peso, a baixa autoestima e os sentimentos de isolamento são frequentemente observados.

Dando importância aos artigos lidos, é importante ressaltar como a obesidade, sobrepeso e transtornos alimentares estão interligados e  podem contribuir para o desenvolvimento da depressão, tornando-se uma interação complexa entre os aspectos emocionais e físicos da obesidade. A sensação de ser julgado e estigmatizado devido ao peso corporal pode criar um ciclo de negatividade que afeta diretamente as crenças do indivíduo e compromete sua saúde mental.

Além disso, a ansiedade é outra dimensão crítica da saúde mental que está ligada à obesidade. A pressão para se enquadrar nos padrões de beleza predominantes, a preocupação com a imagem corporal e as inseguranças relacionadas ao peso podem gerar preocupação. Ademais, as preocupações com a saúde e a capacidade de realizar atividades diárias podem aumentar os níveis de ansiedade.

Portanto, compreender os efeitos da obesidade na saúde mental vai além do estresse e envolve uma ampla gama de desafios emocionais que precisam ser abordados em abordagens terapêuticas, como a Terapia Cognitivo-Comportamental (TCC). A TCC pode desempenhar um papel fundamental na identificação e tratamento desses aspectos emocionais da obesidade, promovendo uma melhoria tanto na saúde física quanto na saúde mental dos indivíduos afetados.

A obesidade e o sobrepeso são problemas graves de saúde, que geram diversas comorbidades tão graves quanto, afetando os aspectos genéticos, emocionais, ambientais e psicossociais do sujeito, estando todas as idades e classes sociais sujeitas a essa situação. Essas pessoas costumam tratar-se de maneira muito rígida, impondo regras exageradas quando pensam em perder peso, o que causa frustração, estresse, ansiedade e depressão quando uma pequena coisa sai do controle da dieta geralmente estabelecida por eles mesmos. Essa rigidez auxilia no processo de tornar a busca por ajuda mais difícil e também de não conseguir manter novos hábitos alimentares depois da modificação do comportamento.

Também são afetadas pela comparação com os outros corpos e com o padrão esperado da sociedade, o que acaba piorando o sofrimento psíquico dessas pessoas. A terapia pode ser um recurso utilizado no combate a essa doença e no processo de emagrecimento, onde a pessoa irá entrar em contato com as suas questões subjetivas, entendendo qual é a sua relação com a comida, para além da nutrição.

Em um tratamento que utiliza da Terapia Cognitivo-Comportamental para abordar esse problema, várias coisas serão trabalhadas ao longo das sessões. Alguns destaques que se encontrou como resultado por meio dos artigos lidos são a modificação dos pensamentos automáticos e das crenças disfuncionais, que estão diretamente ligados ao comportamento do indivíduo.

Importante mencionar que durante a pesquisa, os estudos mencionaram a Terapia Cognitivo-Comportamental, baseada no modelo cognitivo de Beck, como objetivo de mudar a maneira como as pessoas pensam sobre comida, peso e como se veem como um todo. Ela usa técnicas como reorganização de pensamentos, estabelecimento de metas, acompanhamento do que vem e resolução de problemas.

Essa reestruturação cognitiva se torna possível ao sujeito adotar um novo repertório comportamental, mais saudável, além de proporcionar o entendimento e reorganização dos pensamentos automáticos disfuncionais, tornando-os funcionais. Essa técnica também permite uma nova compreensão do sujeito sobre a comida, alívio de estresse, ansiedade e depressão, diminuição de comportamentos compulsivos e estratégias de enfrentamento à organização cognitiva disfuncional.

A eficácia da TCC no processo de modificação de pensamentos e comportamentos permite ao sujeito ter maior entendimento sobre o seu problema, se abrir para novas informações sobre obesidade, sobrepeso e a perda de peso, auxiliando também na ressignificação do ato de comer, trazendo novos significados à comida, permitindo ao sujeito manter os novos hábitos por mais tempo. Neste processo também é importante a participação da família ou rede de apoio e de outras áreas da saúde como clínico geral, nutricionista, educador físico – as quais o SUS (Sistema Único de Saúde), permite o acesso –, trazendo melhores resultados e menos recaídas.

Durante o tratamento da TCC usa-se recursos, técnicas e métodos para alcançar os objetivos estabelecidos, sendo algumas delas: reestruturação cognitiva, preparação da autoinstrução, definição de metas, monitoramento de hábitos alimentares, treino de solução de problemas, questionamento socrático, empoderamento, prevenção de recaída, psicoeducação, auto monitoração de pensamentos e comportamentos, entre outros.

Portanto, a TCC desempenha um papel relevante na abordagem de questões relacionadas à obesidade, sobrepeso e transtornos alimentares, mudando a identificação e correção de fatores cognitivos e comportamentais que influenciam essas condições.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Diante do exposto, a Terapia Cognitivo-Comportamental (TCC) vem mostrando suas raízes e tem se destacado como uma abordagem terapêutica eficaz e respaldada por evidências científicas no tratamento de diversos problemas de saúde mental. No contexto do emagrecimento, a TCC tem sido explorada como parte integrante de abordagens multidisciplinares, reconhecendo a necessidade de cuidados físicos e psicológicos para alcançar um processo de emagrecimento saudável. O sobrepeso e a obesidade representam um desafio crescente para a saúde pública, afetando negativamente a qualidade de vida e a saúde física e emocional dos indivíduos.

O tratamento dos distúrbios alimentares é conduzido por uma equipe multidisciplinar, envolvendo a colaboração de psicólogos em conjunto com outros especialistas, como nutricionistas, médicos clínicos e psiquiatras. A inclusão da família no processo terapêutico pode ser benéfica, uma vez que ajuda a estabelecer uma estrutura de apoio que facilita a implementação de mudanças necessárias.

A dificuldade em adquirir e manter hábitos alimentares saudáveis tem sido uma das principais problemáticas enfrentadas no tratamento dessas condições. Portanto, foi possível compreender que as técnicas da TCC aplicadas no contexto do emagrecimento, com ênfase nos conceitos de pensamentos automáticos disfuncionais, possuem influência nas mudanças de comportamento. Além disso, busca explorar o processo de desenvolvimento de novas habilidades emocionais como parte fundamental para alcançar as habilidades comportamentais necessárias no emagrecimento.

A ausência de estudos recentes dessa temática no cenário brasileiro traz à tona a necessidade de que se avance nos estudos da saúde mental e física no país, considerando os resultados promissores obtidos em teoria e pesquisa sobre a prática da TCC no comportamento alimentar e na saúde emocional de indivíduos é importante explorar como a TCC pode ser usada para tratar transtornos alimentares e obesidade em indivíduos com excesso de peso, considerando seu impacto no processo de emagrecimento.

Também considerando de suma importância a necessidade de conduzir pesquisas futuras de longo prazo para acompanhar pacientes que passaram pela TCC e avaliar como essa terapia afeta a manutenção da perda de peso e a sustentabilidade da reestruturação cognitiva em suas crenças e mudança de hábitos.

Espera-se que os resultados desta pesquisa forneçam subsídios relevantes para profissionais da saúde mental, possibilitando uma compreensão mais aprofundada do papel da TCC no tratamento do sobrepeso e da obesidade. A partir desses resultados, poderão ser desenvolvidas intervenções mais efetivas e personalizadas, considerando as necessidades específicas de cada paciente. Dessa forma, o presente estudo visa contribuir para a promoção de uma abordagem integral e abrangente no tratamento do sobrepeso, proporcionando melhores resultados e uma maior qualidade de vida para os indivíduos que enfrentam esse desafio.

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¹ Joraine Iohana Pires de Lara Antunes  (4° ano de psicologia do Centro Universitário Univel
²Especialista, docente orientadora do curso de Psicologia do Centro Universitário – UNIVEL.