IMPORTÂNCIA DA  RESILIÊNCIA PARA OS PROFISSIONAIS DE SAÚDE NO CONTEXTO LABORAL: PRECEITOS E CONCEPÇÕES

REGISTRO DOI:10.5281/zenodo.11522015


Sandrielli Letícia Zambrano Marcondes
Rosa Maria Braga Lopes de Moura


RESUMO

De acordo com os autores selecionados para construção do presente artigo “resiliência está relacionada à compreensão dos riscos e fatores de proteção, podendo ser transformado na capacidade de o ser humano não adoecer, mesmo quando exposto a condições prejudiciais à saúde e ao desenvolvimento”. Diante dessa premissa, o presente estudo objetivou analisar a importância da resiliência para os profissionais de saúde no contexto laboral. Desse modo, a revisão de literatura foi realizada nas bases de dados Scielo e Pubmed com os descritores “resiliência”, “profissionais de saúde”, “saúde mental” bem como “os prejuízos à saúde mental dos profissionais de saúde”.

Palavras-chave:  Profissionais, Resiliência, Saúde.

INTRODUÇÃO

O termo resiliência surgiu, originário do latim resilio que significa “ser elástico”. Esse surgimento no cenário científico moderno, compôs o vocabulário da física e da engenharia (TIMOSHEIBO, 1983).

A resiliência está relacionada à compreensão dos riscos e fatores de proteção, podendo ser transformado na capacidade de o ser humano não adoecer, mesmo quando exposto a condições prejudiciais à saúde e ao desenvolvimento. Desse modo, com o incentivo da investigação das motivações do ser humano, o construto resiliência começou a ser investigado sob a ótica do desenvolvimento humano (SELIGMAN, 2000).

Brolese et al (2017) afirmam que a compreensão do processo de resiliência pode propiciar uma melhor qualidade de vida para o profissional de saúde.

Por outro lado, as experiências relacionadas ao trabalho podem causar doenças e afetar os profissionais de saúde (SILVA et al., 2010; SOUSA, 2015).

Desse modo, o objetivo desse estudo foi analisar a importância da resiliência para os profissionais de saúde pontuando as benesses de desenvolver  essa competência comportamental no contexto laboral.

RESULTADOS E DISCUSSÃO  

A resiliência é um processo determinado pela construção de si, ao longo da vida, reconhecendo-se que existem fatores externos e internos que permitem a potencialização das capacidades que possibilitam o desenvolvimento de perspectivas positivas sobre si e sobre a realidade. Assim, resiliência significa “ressignificar” o evento que causou o abalo, avaliando-o como uma oportunidade de desenvolvimento e individuação e como uma chance de fortalecer o elo com a vida. Posturas vitimizadas podem ser alteradas por posturas otimistas em relação ao futuro (ARAUJO, 2011).

Para Davidson (2013), a resiliência é marcada por maior ativação no lado esquerdo do córtex pré-frontal em comparação com o direito. Segundo ele, o córtex préfrontal é a sede da atividade cognitiva de mais alta ordem do discernimento, do planejamento e de outras funções executivas. Durante suas pesquisas foi levantada a possibilidade de que o córtex pré-frontal esquerdo talvez inibisse a amigdala, facilitando assim a recuperação após as adversidades.

Este pensamento surgiu com base nos grandes feixes de neurônios que ligam determinadas regiões do córtex préfrontal à amigdala. A utilização da ressonância magnética permitiu que nos dias de hoje fosse entendido que, quanto maior for a massa branca (os axônios que conectam um neurônio a outro) que liga o córtex pré-frontal à amigdala, mais resiliente é a pessoa. Inibindo a amígdala, o córtex pré-frontal consegue acalmar os sinais associados às emoções negativas, permitindo que o cérebro planeje e atue de forma efetiva, sem ser distraído pelas emoções negativas (DAVIDSON, 2013).

Taboada (2006) explica que a resiliência é capacidade de ressignificação e superação diante das adversidades da vida, e trazendo assim, a adaptação mais saudável a esse contexto. Com relação ao estresse, por exemplo, os autores afirmam que a pessoa deixa de culpar os outros e passa a responsabilizar-se por aquilo que está acontecendo.

Para Walker (2017), a resiliência é a força psicológica para lidar com o estresse e as adversidades. É o reservatório mental de força que as pessoas podem recorrer em momentos de necessidade para conseguir passar por eles sem desmoronar. Psicólogos acreditam que indivíduos resilientes são mais capazes de lidar com essas adversidades e reconstruir suas vidas após uma catástrofe.

Segundo Osório (2017), a resiliência é uma habilidade importante e que pode melhorar com o tempo. Ao desenvolver uma perspectiva positiva, ter uma rede de apoio e tomar medidas efetivas para tornar as coisas melhores pode contribuir muito para se tornar mais resiliente diante dos desafios da vida.

O estresse envolve o aumento da ativação psicológica e física exigida pelo eixo hipotálamo-pituitária-adrenal ativado, que é incompatível com o sono normal. Com isso, os profissionais de saúde são mais suscetíveis aos efeitos negativos do estresse ocupacional, ou seja, menos resilientes, podendo sofrer distúrbios biológicos ou comportamentais (SOUSA, 2015).

De acordo com o autor supracitado, os profissionais da saúde, ainda que expostos a situações adversas, demonstram-se fortes e desenvolvem devidamente suas tarefas, entretanto, há os que sofrem com as situações vivenciadas e, que inclusive evoluem para doenças ocupacionais, fato esse que requer atenção a fim de ampliar a capacidade de resiliência, para melhor enfrentamento das adversidades do cotidiano.

De acordo com Zhang (2020), os fatores de risco para o adoecimento psíquico de profissionais de saúde, Observou-se que a exposição a grandes estressores apresenta um índice considerável, no que se refere aos fatores de risco para a saúde mental

Cao et al., (2019) reportam a necessidade de implementar programas de treinamento, para estabelecer um ambiente laboral de apoio e, dessa forma ampliar a capacidade de resiliência dos trabalhadores.

Em relação aos fatores protetivos associados à resiliência e à saúde, trabalho em equipe eficiente e justo trará inúmeros resultados, incluindo relacionamentos interpessoais agradáveis, habilidades e cooperação coletiva, fornecendo assim um bem-estar profissional. Essa situação oferece grande potencial e capacidade para o apoio de supervisores e colegas de trabalho, que compartilham da experiência em conjunto (CORREIO, 2016).

Em momentos desfavoráveis  da prática profissional, é fundamental estabelecer meios altruístas na busca de apoio entre os membros da equipe e compartilhar experiências em momentos desfavoráveis para estimular a vida, podem prevenir a exposição aos fatores de risco associados à saúde mental (SUN et al., 2020).

Com base nessas afirmações, vale refletir sobre a importância de se trabalhar a capacidade empática e resiliente dos profissionais de saúde sendo que  vivências relacionadas ao trabalho podem levar ao adoecimento psíquico.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Tendo em vista o aumento do adoecimento mental nos profissionais de saúde, torna-se necessário que atuações multifocais sejam realizadas para amenizar os fatores de risco modificáveis para a temática abordada.

Apesar da inegável contribuição para a compreensão do comportamento humano, ainda há de se estabelecer muito mais pontes para formar uma base confiável de conhecimento sobre o comportamento humano. Para além disso, observa-se no contexto atual, fragilidades emocionais, inseguranças e incertezas que convocam os profissionais de saúde a exercerem a resiliência.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ARAUJO, C.A. Introdução: resiliência ontem, hoje e amanhã (2011) In: ARAUJO, C.A.; MELLO, M.A.; RIOS, A.M.G. Resiliência: Teoria e Práticas de Pesquisa em Psicologia. V 1, n.223, p.6-17, São Paulo: Ithaka Books.

BROLESE, D F, LESSA, G, SANTOS, J L G DOS, MENDES, J S, CUNHA, K S DA, & RODRIGUES, J (2017) Resilience of the health team in caring for people with mental disorders in a psychiatric hospital Revista Da Escola de Enfermagem Da USP, 51(0).

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CORREIO, R A P P V, VARGAS, M A O, CARMAGNANI, M I S, FERREIRA, M L, & LUZ, K R (2016) Desvelando Competências do Enfermeiro de Terapia Intensiva Enfermagem em Foco, 6(1/4), 46-50.

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