IMPORTÂNCIA DA CITOLOGIA NO DIAGNÓSTICO DE PIODERMITE EM CÃO RELATO DE CASO

REGISTRO DOI:10.5281/zenodo.10146105


Amanda Missão Mesquita1
Fernanda Carolina Montico2
Franciele Dante De Mello3
Tamara Caroline Oliveira Almeida4
Orientador(a): Prof ª. Drª. Leslie Domingues5


RESUMO

A Piodermite é considerada uma das manifestações cutâneas mais frequentes na rotina clínica dermatológica, podendo ser oriunda de alguma doença de base, sendo manifestada através de lesões características, com a causa comum de microrganismos que pertencem à microbiota do animal, causando um processo inflamatório.

A citologia é considerada um método de diagnóstico preciso, com custo benefício e com resultados conclusivos, que podem esclarecer suspeitas clínicas. A citologia em quadros infecciosos é considerada importante para o rápido diagnóstico e possibilitando ao clinico iniciar o melhor tratamento de forma ágil e definir o diagnóstico. Com a citologia é possível classificar os processos inflamatórios, hiperplásicos ou neoplásicos.

O presente trabalho teve por objetivo relatar o caso de um cão da raça pitbull, diagnosticado com piodermite, destacando a relevância da citologia como parte essencial na rotina clínica, complementando o exame clínico para o processo de diagnóstico.

O animal foi atendido por um especialista em dermatologia, constatando ao exame clinico foliculite, alopecia, pápulas e lesões hemorrágicas, que demostravam o desenvolvimento de um processo inflamatório. Conduzindo assim, para análise citológica por swab das lesões, que se revelou fundamental na avaliação diagnóstica. Nesse contexto, a observação da presença de bactérias do gênero Coccus foi indicativa de uma possível infecção bacteriana subjacente. A ocorrência conjunta de neutrófilos e linfócitos sugere uma resposta imunológica ativa do organismo contra essa infecção, evidenciando a complexidade do processo. Esses achados na citologia, juntamente com os achados clínicos, contribuíram de maneira significativa para a identificação do caso como piodermite, ressaltando a importância da análise citológica na prática clínica.

A patologia embora comum, se não tratada pode levar o animal a um agravamento em seu quadro, comprometendo seu bem estar. No presente relato observou-se uma melhora responsiva em dias após a administração de fármacos de terapia sistêmica em conjunto com a terapia tópica.

Palavras-chave: Citologia, Diagnóstico, Piodermite, cão, dermatologia.

 ABSTRACT

Pyoderma is considered one of the most frequent skin manifestations in dermatological clinical routine, and may arise from some underlying disease, manifested through characteristic lesions, with the common cause of microorganisms that belong to the animal’s microbiota, causing an inflammatory process.

Cytology is considered an accurate, cost-effective diagnostic method with conclusive results, which can clarify clinical suspicions. Cytology in infectious conditions is considered important for rapid diagnosis and enabling the clinician to initiate the best treatment quickly and define the diagnosis. With cytology it is possible to classify inflammatory, hyperplastic or neoplastic processes.

The present work aimed to report the case of a pitbull dog, diagnosed with pyoderma, highlighting the relevance of cytology as an essential part of the clinical routine, complementing the clinical examination for the diagnostic process.

The animal was treated by a dermatology specialist, who revealed folliculitis, alopecia, papules and hemorrhagic lesions on clinical examination, which demonstrated the development of an inflammatory process. Thus leading to cytological analysis by swab of the lesions, which proved to be fundamental in the diagnostic evaluation. In this context, the observation of the presence of bacteria of the Coccus genus was indicative of a possible underlying bacterial infection. The joint occurrence of neutrophils and lymphocytes suggests an active immune response by the body against this infection, highlighting the complexity of the process. These cytological findings, together with the clinical findings, contributed significantly to the identification of the case as pyoderma, highlighting the importance of cytological analysis in clinical practice.

The pathology, although common, if left untreated can lead the animal to worsen its condition, compromising its well-being. In the present report, a responsive improvement was observed in days after the administration of systemic therapy drugs in conjunction with topical therapy.

Keywords: Cytology, Diagnosis, Pyoderma, dog, dermatology

LISTA DE FIGURAS

Figura 1 – Imagens fotográficas de cão da raça Pitbull, demonstrando remissão das

lesões cutâneas no quadro de piodermite ……………………………………………………………….16

Figura 3 – Diagnóstico Citológico de Piodermite em cão da raça Pitbull, realizado na

clínica Veterinária Vetderm, Sorocaba-SP. Análise das lesões cutâneas utilizando Swab, mostra a presença de  neutrófilos e bactéria do gênero Coccus………………………………………………………………………………………………………………17

Figura 4 – Imagens fotográficas de cão da raça Pitbull, demonstrando remissão das lesões cutâneas no quadro de piodermite …………………………………………………………………………18

Caixa de Texto: B.I.D
S.I.D
S.P
S.Pseudintermedius
S.R.D

Caixa de Texto: Bis in die.
Semel in die.                    
São Paulo.
Staphylococcus pseudintermedius.
Sem Raça Definida.

LISTA DE ABREVIATURAS

            SUMÁRIO

 1-INTRODUÇÃO…………………………………………………………………………………………… 9

  2-REVISÃO DE LITERATURA

2.1 Prevalência e Patogenia……………………………………………………………………………. 10

2.2 Sinais Clínicos ……………………………………………………………………………………….. 11

2.3 Diagnóstico ……………………………………………………………………………………………. 12

2.4 Tratamento …………………………………………………………………………………………….. 13

3-RELATO DE CASO …………………………………………………………………………………… 14

4-DISCUSSÃO ……………………………………………………………………………………………… 17

5-CONSIDERAÇÕES FINAIS ……………………………………………………………………… 19

REFERÊNCIAS …………………………………………………………………………………………….20

                                                                                                                                           9

1.INTRODUÇÃO

Piodermite é considerada uma infecção bacteriana da derme, com a causa comum de microrganismos que pertencem à microbiota do animal, e manifestada devido a alguma enfermidade de base pré-existente, que pode estar associadas a processos alérgicos, seborréicos, distúrbios de queratinização, endocrinopatias, imunodeficiências e infestação por ectoparasitas. É considerada uma das manifestações cutâneas mais frequentes em clínica,  identificada através de lesões características (SANTANA, 2017).

A piodermite é diferenciada pela profundidade da infecção, na aparência das lesões e seus sinais clínicos, podendo ser superficial e profunda. A piodermite profunda, pode levar ao desenvolvimento de condições como foliculite, furunculose e celulite (DIAS; SANDY et all, 2022).

A citologia é considerada uma ferramenta fundamental na dermatologia veterinária por conta dos casos similares das patologias. Com a citologia é possível identificar a morfologia da celularidade, agente etiológicos ou oportunistas da patologia dermatológicas (MENCALHA, 2019).

A citologia pode ser utilizada em vários tipos de afecções, como pruriginosas, postulares, crostas, nodulares, em placas, descamativas ou com alopecia e fornece informações importantes sobre a pele do animal, podendo definir o diagnóstico e o melhor tratamento. É possível realizar a pesquisa de agentes infecciosos ou parasitários. Pela citologia é possível classificar os processos inflamatórios, hiperplásicos ou neoplásicos e o grau de neoplasias (SANTOS, LUZ, OLIVEIRA, RIBEIRO, 2022).

O presente trabalho tem como objetivo relatar o caso clinico de um cão doméstico da raça Pitt bull acometido com piodermite, atendido na clínica Veterinária Vetderme em Sorocaba – SP, bem como realizar a revisão de literatura acerca da tal enfermidade, tendo em vista a recorrência de casos em clinicas veterinárias de pequenos animais e a importância do diagnóstico clinico e o uso da citologia para resolução do caso e melhora do prognóstico do animal.

2.REVISÃO DE LITERATURA
2.1 PREVALÊNCIA E PATOGENIA

A principal dermatopatia, levada ao atendimento clínico da especialidade de dermatologia, é a piodermatite. As inúmeras origens das piodermites são consideradas desafios aos médicos veterinários, sendo comumente vistas na rotina clínica (LARSSON, 2016).

Raças como Pastor Alemão, Bull Terrier, também algumas de pelo curto como Pinscher, Dogue Alemão, Teckel, Dobermann e Boxer apresentam predisposição à doença (SÁ; ISAEL et all, 2018).

Segundo um estudo feito pelo Hospital Veterinário Universitário da UFPI, Bom Jesus – Brasil, a maiorias dos casos atendidos foram de 14,3% sobre dermatologia, e as raças mais acometidas foram pitbull, pinscher, poodle e animais sem raça definida (SRD), com idade entre 2 a 12 anos (SÁ; ISAEL et all, 2018).

A piodermite é uma infecção bacteriana da pele que se caracteriza pelo acúmulo de uma substância conhecida como exsudato neutrofílico. Em mais de 90% dos casos, o agente Staphylococcus pseudintermedius desempenha o papel principal como o causador da infecção. Essa condição dermatológica, na maioria das vezes, surge como uma consequência de uma doença subjacente e pode estar relacionada a diversos outros problemas de saúde, como alergias, problemas de pele seborreicos, distúrbios endócrinos, imunodeficiências e infestações por ectoparasitas (MICHELETTI, 2022).

Muitas bactérias são habitantes naturais da pele dos animais, o que torna essencial distinguir uma infecção bacteriana e a presença comum dessas bactérias. Essa diferenciação é importante para determinar a gravidade da infecção e, nesse contexto, o exame citológico se torna a abordagem mais apropriada (SÁ; ISAEL et all, 2018).

A piodermite é categorizada de acordo com a profundidade da infecção e/ou com base na forma como se manifesta clinicamente de acordo com as lesões, sendo dividida em categorias como externa, superficial e profunda (ALVES; PRISCILA et all, 2019).

A patogênese das piodermites varia de acordo com as condições de saúde do hospedeiro. Em cães com dermatite atópica, há uma redução das defesas da barreira da pele e uma diminuição na produção de peptídios antimicrobianos, o que torna mais fácil para as bactérias colonizarem e aderirem à pele. Em casos de doenças hiperproliferativas, como a disqueratose primária, há um maior número de pontos de ligação disponíveis na epiderme, permitindo que mais bactérias se fixem. Além disso, ocorre alcalinização no pH tegumentar da pele, juntamente com falhas nos folículos e na epiderme, que criam um ambiente favorável para a invasão bacteriana. A situação se configura quando as infecções bacterianas penetram profundamente no interior do folículo piloso e quebram a camada de células que reveste o folículo, causando impacto tanto na camada mais profunda da pele, conhecida como derme, quanto no tecido que se encontra logo abaixo da pele, chamado de tecido subcutâneo. As áreas que são afetadas podem se expandir em direção à superfície da pele, resultando na formação de passagens estreitas, úlceras abertas e pequenas aberturas que liberam líquido (FARIAS; SOLOMON, 2016).

As infecções bacterianas profundas, conhecidas como piodermites profundas, geralmente se originam de infecções superficiais que se agravam. A progressão da infecção superficial pode alcançar tecidos mais profundos, como  o tecido subcutâneo e a derme (MENCALHA, 2019).                                                                                                                                                                 

2.2 SINAIS CLÍNICOS

As lesões observadas cutâneas primarias são pápulas eritematosas, podendo elas serem vistas em piodermatites profundas e superficiais. A presença de pus, nos locais foliculares ou intraepidérmicos, pode ser observada de modo que a infecção se avance, podendo dar origem às colaretes epidérmicos, pústulas inclusive podem ser vistos em casos de piodermites (SANTANA; MONIQUE DIAS, 2017).

Nos casos mais intensos a piodermatite leva a formação de nódulos, que podem romper e formar pápulas crostosas. Sendo essas lesões de menor valor para o diagnostico, pois podem mimetizar distúrbios de cornificação. As escoriações auto traumáticas podem dificultar no diagnóstico das lesões primarias, pois o prurido é uma característica presente na piodermite. Também podem ocorrer lesões hemorrágicas, que é um processo resultante da ruptura folicular (LARSEN, 2018).

Em comparação a outros animais, a piodermatite acomete mais os cães, suas razões não estão claramente esclarecidas, mas provavelmente está ligada a algum fator anatômico, ou fisiológico (KNEGT; FERNANDA, 2019).

2.3 DIAGNÓSTICO

O exame citológico realizado através de raspado das áreas afetadas é uma abordagem sensata para identificar a presença de colonização bacteriana nesses casos. Essa análise pode fornecer informações cruciais para o diagnóstico e tratamento adequado (MICHELETTI, 2022).

A coleta de amostras deve incluir a impressão ou esfregaço de pústulas completas, áreas circundantes, colaretes epidérmicos, crostas ou trajetos de drenagem, fornecendo informações valiosas para uma avaliação clínica adequada (SÁ; ISAEL et all, 2018).
É aconselhável realizar o exame citológico através da coleta de raspados das áreas afetadas, para identificar a presença de bactérias, e, ao mesmo tempo permitir avaliar a extensão da infecção. Nesse procedimento, é possível observar neutrófilos em estado de degeneração e bactérias que foram fagocitadas (MICHELETTI et all, 2022).

O exame citológico se baseia na avaliação individual das células, fornecendo informações sobre a sua origem. Isso permite, por exemplo, a detecção e diferenciação de inflamação, hiperplasia, infecções e a identificação de tumores, independentemente de serem cancerígenos ou não. Para obter resultados clinicamente relevantes, diversos fatores influenciam, incluindo a coleta de amostras de alta qualidade que representem adequadamente a lesão, sem artefatos ou contaminação. Além disso, a coloração utilizada deve destacar tanto os aspectos citoplasmáticos quanto os nucleares, levando em consideração a espécie animal, o histórico clínico e a descrição macroscópica das lesões (OLIVEIRA; ANGÉLICA et all, 2021).

As amostras citológicas podem ser coletadas de diferentes maneiras, dependendo da natureza da lesão. Para lesões superficiais, é possível usar fita adesiva. Em casos de nódulos ou pústulas maiores, a coleta pode ser feita por punção aspirativa. E quando há fístulas, a zaragatoa é uma opção adequada (ALVES; PRISCILA et all, 2019).

A citologia por esfoliação é um método de coleta de material úmido, que pode incluir secreções serosas, soro-sanguinolentas, pus e substâncias oleosas. Nesse processo, utiliza-se uma espátula odontológica ou, em alguns casos, a parte não cortante de uma lâmina de bisturi para coletar as amostras. Já a citologia por imprint ou impressão envolve a coleta direta de amostras, podendo ser feita com uma lâmina de microscopia ou fita adesiva de acetato transparente. A escolha entre essas técnicas pode depender da preferência do profissional, levando em consideração o local em questão. Por exemplo, em áreas como as regiões interdigitais e as pálpebras, a fita adesiva costuma ser mais eficaz (MENCALHA, 2019).

Nas piodermites profundas, a amostra é obtida utilizando swabs ou por meio de aspiração com agulha fina. A avaliação citológica identifica neutrófilos fagocitando Coccus ou bacilos, além de, ocasionalmente, detectar eosinófilos e macrófagos quando há uma reação granulomatosa presente (FARIAS; SOLOMON, 2016).

É importante destacar que a análise citológica de lesões de piodermite demonstra uma sensibilidade diagnóstica de 93%, conforme indicado pela presença de neutrófilos e Coccus intracelulares (LIMA; DALILA et all, 2022).

2.4 TRATAMENTO

No caso de piodermite superficial, o tratamento de escolha é a antibioticoterapia durante 21 dias (aproximadamente) podendo prolongar-se de 7 até 14 dias após a cura clínica. Em casos de piodermite profunda, o tratamento de escolha é a terapêutica, a qual tem a duração de 28 a 42 dias, também podendo prolongar-se o uso dos medicamentos após o término, por 14 dias (SANTANA; MONIQUE, 2017).

A associação do tratamento tópico com o tratamento sistêmico é escolhida na maioria dos casos, pois associados, contém um favorecimento maior em proporção a resposta terapêutica, também diminuindo as chances de reiteração da doença (ISAEL; SÁ, et all, 2018).

Os antibióticos de escolha para o tratamento sistêmico da piodermite são cloranfenicol, gentamicina e cefalexina, pois dados descrevem que as cepas de Staphylococcus mostraram 100% de sensibilidade em teste “in vitro” em amostras clínicas de cães com a doença, em vista a 14 antibacterianos testados (ALVES; PRISCILA, et all, 2020).

A cefalexina utiliza-se na dose de 20 a 30 mg/kg, a cada 12 horas. Gentamicina na dose de 6mg/kg, a cada 24 horas. Cloranfenicol na dose de 25-50 mg/kg, a cada 8 horas (LARSSON, 2016).

Um dos principais antibacterianos tópicos para serem usados na piodermite canina, é a Clorexidina 2-4%, que pode ser encontrada em formas de loção, pomada e xampu, que é recomendada para casos de piodermite superficial e profunda, e dermatite de Malassezia. Recomenda-se banhos com o xampu de escolha a cada 4 dias, com o produto em contato com a pele de 10 a 15 minutos (SANTANA; MONIQUE, 2017).

O xampu de clorexidina de 2-4% tem efeito antisséptico, antibacteriano e antifúngico (LARSSON, 2016).

Em doenças alérgicas e dermatológicas na medicina veterinária faz-se habitualmente o uso de corticosteroides, essencialmente pela ação anti-inflamatória. Os glicorticoides podem ser utilizados na terapia de reposição hormonal, antialérgica, anti-inflamatória e também em terapias de imunossupressão (THO; J et all, 2019).

Os esteroides que estão no primeiro grupo de indicação para o tratamento são, dexametasona, fluocinolona e hidrocortisona, buscando a potência anti-inflamatória desejada. A dexametasona recomenda-se a concentração de 0,1%; para a fluocinolona sugere-se o uso entre 0,01 a 0,02%, nos pacientes que estejam com inflamação severa. Já a hidrocortisona é utilizada entre 1 e 2% (LARSSON, 2016).

3.RELATO DE CASO

Foi atendido na Clínica Veterinária Vetderme Dermatologia Veterinária, um canino, de 5 anos de idade, macho, da raça Pitt Bull, com pelagem branca, um histórico de prurido intenso e lesões dermatológicas que evoluíram ao longo de 1 mês.

Ao exame físico foram observadas áreas alopécicas eritematosas, por vezes hiperpigmentadas com liqueinificação, escoriações, xerose, descamação e presença de pápulas e pústulas. Além do animal ter predisposição racial, com pelagem curta e branca, as lesões generalizadas demonstram um processo inflamatório.

Foi realizado o exame parasitológico de pele, que descartou acaríase. Também sendo descartado a dermatite actínica, pois a mesma não apresenta prurido e, o animal já estava sendo mantido fora do contato direto com sol.

Realizou-se o exame de Perfil I (Hemograma, Alt, Creatina, Fosfatase Alcalina, Ureia e Proteína Total e Frações). Os resultados não apresentaram alterações, o que demonstra que o animal não possui uma doença Endócrina como doença de base para piodermite. No primeiro momento a alimentação foi excluída como causa do prurido, pois o animal faz uso de ração hipoalergênica e com proteína hidrolisada anteriormente ao aparecimento das lesões, descartando a sensibilidade a alimentação. Conforme dados científicos a dermatite trofoalérgica, ou hipersensibilidade alimentar, é uma reação aos alimentos que desenvolve resposta alérgica no organismo. Algumas fontes de proteínas e carboidratos podem ser as principais fontes de agentes alergênicos, o tratamento pode ser realizado através da exclusão da dieta com tais alimentos (ESPIR; ANA, 2022).

O paciente faz uso do antiparasitário Sarolaner para controle de DAPPC. A Dermatofitose foi descartada com a citologia que não localizada a presença de fungos Trichophyton. Foi descartada a dermodiciose, pois não foi encontrado presença de ácaro Demodex em citologia. No retorno, foi prescrito o isolamento do animal em contato com cimento para descartar a possível dermatite de contato (LOPES, 2021).

Foi realizada a citologia da pele com swab na região do dorso com o maior número de lesões, onde foi identificada a  presença de bactérias do gênero Coccus, neutrófilos e linfócitos (Fig 3).

Os dados bibliográficos da literatura mostram que é frequentemente encontrado bactérias Coccus, e bacilos, com inflamação piogranulomatosa na piodermite (MENCALHA, 2019). Assim como relatado neste trabalho, e tendo como diagnóstico do animal a piodermite.

O animal iniciou terapia sistêmica via oral com, Prednisona 20 mg 0.5/kg (SID) durante 30 dias, para controle do prurido, como antibioticoterapia administrou-se a cefalexina 500 mg, 30 mg/kg (BID),  o suplemento Betaglucano 90 mg, 1 comp/10 kg (SID) e terapia tópica com xampu a base de miconazol 2,5% e clorexidine 2% por 2 vezes na semana.

Em 7 dias com o uso do tratamento  o paciente já apresentava melhora nas lesões sem aparecimento de novas lesões. No retorno de 30 dias e finalizado o tratamento com anti-inflamatório não esteroidal e antibacteriano, o animal não apresentava mais lesões, e a pele estava totalmente regenerada, apresentando apenas áreas de alopecia em decorrência das lesões. Manteve-se para controle o uso suplemento Betaglucana e terapia tópica com xampu a base de miconazol 2,5% e clorexidine 2%, incluindo a utilização de solução hidratante após o banho.  O animal se manteve em acompanhamento dermatológico por um período de 4 meses e não houve recidivas de novas lesões, e o prurido foi controlado, mantendo o animal em isolamento dos possíveis agentes ou alérgeno que desencadeiem a dermatite de contato, tais como a grama  e o cimento, que o animal passou a ter mais contato no período anterior ao surgimento das lesões e também, a exposição direta ao sol para evitar o desenvolvimento de dermatite actínica.

 

DISCUSSÃO:

O paciente deste relato apresentou sinais clínicos condizentes ao quadro de piodermite encontrados na literatura, tais como alopecia, prurido (coceira intensa) e a presença de vários tipos de lesões, como pápulas, pústulas, crostas, erosões e fístulas (canais anormais que podem se formar na pele). Elas eram observadas em várias partes do corpo, podendo também se manifestar de maneira generalizada por todo o corpo. Essas características das lesões são importantes para o diagnóstico e acompanhamento do caso clínico ( SANTOS, 2019).

O diagnóstico foi estabelecido de acordo com os sinais clínicos apresentados e exame citológico. Com a análise citológica baseada na avaliação microscópica individual das células, foi permitido uma compreensão detalhada de sua origem e estrutura, o que, por sua vez, possibilita a identificação e diferenciação de processos como inflamação, hiperplasia e infecções (OLIVEIRA; ANGÉLICA et all, 2021).

Conforme destacado, é fundamental ressaltar que a análise citológica das lesões de piodermite revela uma notável sensibilidade diagnóstica. Esta sensibilidade diagnóstica é fundamentada na observação de características distintivas, como a presença de neutrófilos fagocitando Coccus intracelulares, o que contribui de maneira significativa para a precisão do diagnóstico nesses casos. Esses achados relevam a importância da análise citológica como uma ferramenta valiosa na identificação e compreensão de condições dermatológicas, como a piodermite (LIMA; DALILA et all, 2022).

Na abordagem clínica de rotina não é comum pedir análises de cultura e antibiograma em situações de piodermites não complicadas, uma vez que o principal agente causador dessas infecções, o S. pseudintermedius, é sensível aos antibióticos convencionais. Entretanto, quando as infecções são de natureza grave, persistentes ou crônicas e não respondem aos antibióticos comuns, é essencial conduzir esses testes devido ao surgimento de cepas de Estafilococos resistentes a múltiplos tratamentos (FARIAS; SOLOMON, 2016).

Em doenças alérgicas e dermatológicas na medicina veterinária, faz-se habitualmente o uso de corticosteroides, essencialmente pela ação anti-inflamatória. No que se refere à ação antipruriginosa dos corticoides, o tratamento terapêutico com a prednisona revelou sua eficácia ao aliviar a coceira e reduzir a inflamação das lesões já durante a primeira semana de administração do medicamento (THO; J et all, 2019).

É comum combinar o uso de xampus, juntamente com a terapia sistêmica. Esses shampoos podem ter propriedades que aliviam a coceira, ao mesmo tempo em que ajudam a limpar resíduos de tecido e secreções. Além disso, contribuem para controlar o crescimento das bactérias, acelerando a melhora dos sintomas clínicos.

Um dos antibacterianos de destaque no tratamento da piodermite em cães é a Clorexidina, disponível nas concentrações de 2-4%. Este composto pode ser encontrado em diferentes formulações, como loção, pomada e xampu, sendo especialmente indicado para o tratamento de casos de piodermite, tanto superficial quanto profunda (SANTANA; MONIQUE, 2017).

O xampu aplicado no tratamento tópico continha uma concentração de 2% de clorexidina, uma substância conhecida por suas propriedades antissépticas, antibacterianas e antifúngicas, as quais desempenharam um papel eficaz no controle da condição. (LARSSON, 2016).

O antibiótico cefalexina foi escolhido como a opção preferencial para o tratamento sistêmico, obtendo resultados satisfatórios, tendo em vista que estudos demonstraram que as cepas de Staphylococcus apresentaram alta sensibilidade em testes “in vitro” realizados em amostras clínicas de cães com a doença, em comparação aos resultados de outros antibióticos testados (ALVES; PRISCILA, et all, 2020).

CONSIDERAÇÕES FINAIS:

Pensando primordialmente em um ação rápida, para uma melhora no quadro do animal, esse relato nos traz a importância da citologia para o diagnóstico de uma piodermite, onde é imprescindível uma avaliação clínica minuciosa das lesões como triagem, e a partir dos sinais e sintomas, ser realizado a citologia cutânea, e assim, ser  iniciado um tratamento pensando no bem estar do animal.

A citologia geralmente fornece resultados mais rapidamente para uma abordagem  imediata, em comparação a outros exames, como a cultura, que pode levar dias até o crescimento bacteriano.

No entanto, é fundamental reconhecer que nem todos os casos de piodermites caninas são iguais. Existem situações em que as infecções assumem uma natureza grave, persistente ou crônica, onde não respondem adequadamente aos antibióticos comuns. Nesses cenários, torna-se essencial a condução de análises de cultura e antibiograma. A razão para essa abordagem mais detalhada reside na crescente preocupação com o surgimento de cepas de Estafilococos resistentes a múltiplos tratamentos. A decisão de solicitar análises de cultura e antibiograma em casos de piodermites caninas deve ser considerada com base na gravidade e na resposta clínica do paciente ao tratamento inicial (FARIAS; SOLOMON, 2016).                                                                                                                               

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