IMPLICAÇÕES DA TERAPIA OCUPACIONAL NO DESENVOLVIMENTO DA AUTONOMIA DE CRIANÇAS COM TEA NA CIDADE DE MANAUS

REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.7352675


Luciana de Oliveira Lima Carvalho1
Ginara Jadaça Oliveira2
Ivana Maués Marques1
Simone Valente Lima Baptista1
Angela Maria Lima de Azevedo1


RESUMO

Os transtornos do espectro autista são transtornos que compartilham déficits expressivos na interação social como sua principal característica definidora. Esse déficit social é bastante severo, e sua gravidade e seu início precoce levam a mais problemas gerais e disseminados tanto na aprendizagem como na adaptação. Será que as implicações da terapia ocupacional no desenvolvimento da autonomia de crianças com transtornos do espectro autista são positivas? O obejtivo principal do artigo é avaliar as implicações da terapia ocupacional no
desenvolvimento da autonomia de crianças com transtornos do espectro autista, através do teste de Triagem de desenvolvimento de Denver. Será identificada as áreas de desenvolvimento afetadas na criança com TEA, através do teste de Denver que permite avaliar rapidamente o estado de determinadas funções e assim definir estratégias para uma boa implicação da terapia ocupacional na estimulação do desenvolvimento e autonomia psicomotora da criança. Contudo identificou-se que o terapeuta ocupacional atua potencializando o desenvolvimento da autonomia de crianças com TEA por meio da integração sensorial e do brincar, favorecendo
os processos de autonomia em suas atividades de vida diária.

Palavras-Chave: Autista. Terapia Ocupacional. Autonomia. Desenvolvimento.

ABSTRACT 

Autism spectrum disorders are disorders that share significant deficits in social interaction as their main defining characteristic. This social deficit is quite severe, and its severity and early onset lead to more general and widespread problems in both learning and adaptation. Are the implications of occupational therapy for the development of autonomy in children with autism spectrum disorders positive? The main objective of the article is to evaluate the implications of occupational therapy in the development of autonomy in children with autism spectrum disorders, through the Denver Developmental Screening test. The areas of development affected in children with ASD will be identified through the Denver test, which allows a quick assessment of the state of certain functions and thus defines strategies for a good implication of occupational therapy in the stimulation of the child’s psychomotor development and autonomy. However, it was identified that the occupational therapist works by enhancing the development of autonomy in children with ASD through sensory integration and play, favoring the processes of autonomy in their activities of daily living. 

Key words: Autistic. Occupational therapy. Autonomy. Development. 

1. INTRODUÇÃO  

Os transtornos do espectro autista são transtornos que compartilham déficits expressivos na interação social como sua principal característica definidora. Esse déficit social é bastante severo, e sua gravidade e seu início precoce levam a mais problemas gerais e disseminados tanto na aprendizagem como na adaptação. (Volkmar & Wiesner-2018) 

As descrições iniciais do transtorno surgiram em 1911, sendo exposto por Bleuler como uma característica básica de esquizofrenia. Em 1943, Leo Kanner, através do seu artigo “ Os distúrbios autísticos de contacto efetivo”, diferenciou o autismo das psicoses, sendo ainda assim considerado até a década de 80 pela Classificação Internacional de Doenças 9ºedição (CID) como uma psicose infantil (TAMANHA et.al,2008) 

Segundo Volkmar & Wiesner-2018, a causa do autismo gerou certo conflito nas primeiras duas décadas seguintes a sua primeira descrição, a especulação começou na década de 1950, concentrandose nos fatores psicossociais, entretanto durante as décadas de 1960 e 1970, começaram a se acumular as evidencias mostrando que o transtorno era uma condição com base cerebral e fortemente genética.    

Segundo Kao ,2012-  o TEA é um transtorno de desenvolvimento que afeta a interação social recíproca e de comunicação com presença de comportamento repetitivos e estereotipados, com início dos sintomas antes dos três anos (Ministério da saúde,2013). O que podemos observar durante as terapias nessas crianças, é que os sinais e sintomas tornam a aquisição de habilidades para as atividades cotidianas e na infância difíceis de serem alcançadas e, por isso precisam de cuidados de uma equipe multidisciplinar.  

Segundo Paula et.al,2011, no Brasil estudos recentes indicam que a prevalência do autismo é de aproximadamente 0,3%, com maior incidência no sexo masculino, sendo a proporção de 4,2 nascimentos de meninos e 1 nascimento feminino. E no mundo indicam que a prevalência do autismo está em torno de 40-90/10.000 indivíduos. (ELSABBAGH et.al,2012; FOMBONE, 2009)  

Conforme os manuais de consulta, o diagnóstico clinico. Atualmente existe polemica em torno dos critérios, uma vez que no Manual Diagnostico e Estatístico de Transtornos Mentais 5ºedição-2013, o termo mais amplo antes utilizado, “Transtornos Invasivo do Desenvolvimento” (TID) – que compreendia autismo, síndrome de Asperger, de Rett e o TID não especificado, foi substituído por transtorno de espectro autista (TEA). Alguns autores comentam que as implicações dessas mudanças para fechamento de diagnóstico ainda são pouco claras. (TAMANHA et.al,2008) 

O diagnóstico precoce tem sido uma grande aliada, pois ajuda na produção de estratégias de intervenção que vão trazer resultados mais satisfatórios na melhora das habilidades do desenvolvimento da criança, do que se fosse realizado tardiamente. (STONE et. Al,1999) 

Segundo Kleinman et.al.,2008; Woolfenden et. al.,2012; Ministério da Saude,2013, muitas crianças ate os três anos não recebem diagnostico devido a instabilidade dos sintomas e a avalição diagnostica de alguém com suspeita de TEA requer uma equipe multidisciplinar 

Sobre os instrumentos de avaliação utilizados pela terapia ocupacional em crianças com autismo, em diferentes países nota-se que os procedimentos são, em geral, feitos juntamente com outros profissionais. Na terapia ocupacional é possível observar o desempenho da criança nas atividades de vida diária (AVD), atividades instrumentais da vida diária (AIVD), no brincar, na participação social,  no contexto escolar. De uma maneira mais profunda e especifica podem-se avaliar habilidades cognitivas como atenção, percepção, nível de alerta e comportamento, coordenação, habilidades motoras fina e grossa, desenvolvimento global, processamento sensorial e habilidades sociais. (SILVA; MARTINEZ, 2002). 

A escassez de estudos sobre o desempenho funcional e sobre a consequência da terapia ocupacional em crianças autista restringem os profissionais que lidam com essas crianças predizer resultados e expectativas possíveis de serem alcançadas. Informações sobre aspectos funcionais da criança são muito importantes para todos os envolvidos no processo do cuidado, uma vez que a expectativa dos pais de crianças com TEA estão relacionadas à comunicação funcional da criança em diversos contextos, quanto com os componentes específicos de desempenho e áreas de ocupação. 

Desta maneira, o objetivo do presente estudo é avaliar as implicações da terapia ocupacional no desenvolvimento da autonomia de crianças com transtornos do espectro autista. 

2. DESENVOLVIMENTO 

Segundo APA-2013, o Transtorno do Espectro autista é definido como um distúrbio desenvolvimento neurológico que se apresenta desde a infância, apresentando desordens social, habilidades de linguagem, cógnitas e sociais. 

O TEA é um transtorno de desenvolvimento que afeta a interação social recíproca e de comunicação com presença de comportamento repetitivos e estereotipados, com início dos sintomas antes dos três anos (Ministério da saúde,2013). O que podemos observar durante as terapias nessas crianças, é que os sinais e sintomas tornam a aquisição de habilidades para as atividades cotidianas e na infância difíceis de serem alcançadas e, por isso precisam de cuidados de uma equipe multidisciplinar. (Kao ,2012) 

A despeito da diversidade de sintomas, existem comportamentos universais que caracterizam o TEA e que compões a atual díade descrita no DSM-5. Desse modo, os domínios que fazem patê do critério diagnostico do TEA são: Déficits na comunicação social e interação social, padrões restritivos ou repetitivos de comportamentos, interesses ou atividades. Ressalta-se que esses sintomas devem necessariamente ter início nos primeiros anos da infância, bem como ocasionar prejuízo nas atividades da criança e em sua autonomia. (APA-2013) 

Segundo APA-2013, O Transtorno espectro autista é um transtorno do neurodesenvolvimento,  caracterizado por déficits persistentes na comunicação social e interação social em vários contextos.  

Diante da fragilidade de habilidades sociais no TEA e o potencial do brincar destacado por Munõz & Noiega (2016), torna-se perceptível a ligação intima entre as temáticas havendo repercussão do brincar na interação social. Durante o brincar colaborativo e compartilhamento de interesses e sentimentos, diante do exposto inclui-se o brincar enquanto recurso terapêutico, ocupação alvo de intervenção da terapia ocupacional. (Munõz & Noiega-2016). 

Bodfish et al (2000) identificaram quatro classes diferentes: 1- comportamentos motores estereotipados; 2- comportamentos ritualísticos; 3- comportamentos compulsivos; 4- comportamentos auto lesivos e; 5-interesses restritos. Os três primeiros seriam variações de um mesmo tipo de comportamento, com diferentes graus de complexidade. A estereotipia motora, a modalidade mais simples, é definida como conduta auto reforçadora, caracterizada por movimentos repetitivos tais como balançar o corpo, correr sem propósito ou remexer as mãos. AS condutas ritualísticas envolvem comportamentos estereotipados mais complexos, como o cumprimento de rotinas e resistência a mudanças. AS compulsões representas graus mais elevado de um complexo conjunto de comportamentos estereotipados que tipicamente vem associado a alterações fisiológicas e afetivas. 

De acordo com Bem- Sasson at al.- 2013, a severidade dos sintomas sensoriais em pessoas com TEA varia de acordo com a gravidade do transtorno e a idade cronológica. Indivíduos com déficits sosiocomunicativos e comportamentais maiores tendem a evidenciar sintomas sensoriais mais expressivos. Observa-se, ainda aumento na frequência de hiper- responsividade e comportamentos de busca de crianças autistas entre 6 e 9 anos. Valendo destacar que os padrões de comportamento resultantes das alterações sensoriais afetam não apenas o desempenho funcional da criança autista, mas trazem prejuízos a seus familiares. 

Apresentando padrões restritivos e repetitivos de comportamentos, interesses ou atividades, com sintomas precoces nos períodos do desenvolvimento, acarretando prejuízos no desenvolvimento da autonomia social da criança. Os principais sintomas estão ligados ao atraso de linguagem, compreensão do discurso, fala com ecolalia, uso de linguagem literal e unilateral e pouca ou nenhuma iniciativa social. Esses sintomas estão presentes desde do início da infância onde podemos analisar a partir do sexto mês,  acarretando limitações e prejuízos na vida diária da criança. Conforme CID-102, o autismo é um transtorno invasivo do desenvolvimento, definido pela presença de desenvolvimento anormal e/ou comprometimentos que se manifesta antes de três anos e pelo tipo caraterístico de funcionamento anormal em todas as três áreas de interação social, comunicação e comportamento restritivo e repetitivo. Essa nova classificação distúrbios anteriormente referidos com autismo infantil, transtorno invasivo do  desenvolvimento não-especifico, transtorno desintegrativo da infância e transtorno de Asperger.(APA2013). 

Diante das áreas afetadas a terapia ocupacional pode usar como recurso terapêutico o brincar, pare perigoso tentar encaixar o brincar dentro de uma definição conceitual, no entanto sabe-se que o brincar é um fenômeno universal, ligo, restringi-lo com palavras chega a descaracteriza-lo, Ferland visualiza o brincar como atitude particular, que parte do espirito e da mente participante. Porem culturalmente, o brincar possui uma conotação de atividade livre e recreativa, que ao longo dos anos passou a ser reconhecido e caracterizado como instrumento terapêutico. Podendo ser utilizado de modo estruturado em ambiente ambulatorial ou mesmo no contexto hospitalar para a promoção e reabilitação da saúde, a fim de estimular e aprimorar aspectos motor, cognitivo, sensorial, social e emocional do desenvolvimento infantil. (Ferland, F.-2006) 

3. CONSIDERAÇÕES FINAIS 

Portanto, conclui-se que a pesquisa atingiu os objetivos colaborando para ampliação do conhecimento na área, bem como fornecendo subsídios para futuras pesquisas, planejamento de ações e intervenções junto a esta população e para planejamento de políticas públicas.  

Entre os principais resultados identificou-se que o terapeuta ocupacional atua potencializando o desenvolvimento da autonomia de crianças com TEA por meio da integração sensorial e do brincar, favorecendo os processos de autonomia em suas atividades de vida diária.  

REFERÊNCIAS 

Arlingtin, VA; American Psychiatric Association- APA. Diagnóstic and Satistical Manual of Mental Disorders (5ºed.) ; American Psychiatric Publishing,2013 

Bem- Sasson; A.; Carter, M.; Briggs-Gowan, M. Sensory over-responsivity in elementar school: prevalence and social-emotional correlates. J Abnorm Child Psychol, V.37 .n.5- 2009. 

Bodfish, J. W.; Symons. F. J.; Parker, D.E.; Lewis, M. H. Varieties of repetitive behavior in autismo: 

Comparisons to mental retardatin. J autismo Dev Disord, V.30, n.3- 2000. 

Donvan, J., & Zuker, C. (2016). In a diferente key: The Story of  autismo. New York, NY: Penguin Random House. 

ELSABBAGH, M. et. al. Global Prevalence of Autism and Other Pervasive Developmental Disorders. Autism Research, v.05,2012;  

Ferland, F. (2006). O Modelo Ludico: o Brincar, a criança com deficiência e a terapia ocupacional. São Paulo:Roca. 

FOMBONE, E. Epidemiology of pevasive developmental disorders. Pediatric Research, v.65, n.06, 2009. 

KAO Y.et al. Comparing the functional performanceof children and youth with autism developmental disabilities, and without disabilities using the revised Pediatric Evaluation of disability inventory (PEDI) Item banks. American Journal of  occupational Therapy,v.66,n5, ,2012. 

Kleinman, J. M. et.al., Diagnostic Stability in Very Young Children with Autism Spectrum Disorders. J. Autism Dev. Disord., V.38,2008 

Muñoz AIM; Noiega MA, Resvision de la praica professional de terapia ocupacional em autismo. TOG ( Coruña). [Revista em Internet]- 2016 

PAULA, C. S. et. al.Brief Report: Prevalence of Pervasive Developemental Disorder in Brazil: A Pilot Study. Journal of Autism and Developemental Disorders, v.41,2011. 

SILVA, D. B. R.; MARTINEZ C. M. S. Modelos de Avaliação em terapia ocupacional: estudos de hábitos funcionais e de auto suficiência em crianças. Cad. Terapia ocupacional da UFSCar, v.10,n.02, 2002. 

STONE, W. L.;LEE, E. B.; ASHFORD, L.; BRISSIE, J.;HEPBURN, S. L.; COONROD, E. E.;WEISS, B.H., Can autismo be diagnose accurately in children under e years? J. Child Psychol. Psychiatry. V.40, n.02, 1999. 

TAMANHA, A. C.; PERISSINOTO, J.; CHIARI, B. M., Uma breve história sobre a construção dos conceitos do autismo infantil e da síndrome de Asperger. Rev. Soc. Bras.Fonoud. vl.13,n.03-2008.  

VOLKMAR, Fred R., & WIESNER, Lisa A. (2018). Autismo guia essencial para compreensão e tratamento- edição 1º- editora Atmed.   

Woolfenden, S. et. al. A Systematic review of the diagnostic stability of autism spectrum disorders. Research in Autism Spectrum disorders, v.06,2012.


1Graduandos do Curso de Terapia Ocupacional do Grupo Wyden Educacional na Faculdade Martha
Falcão.
2Professora do Grupo Wyden Educacional na Faculdade Martha Falcão.