IMPLEMENTAÇÃO DO TRANSPORTE HIDROVIÁRIO NA REGIÃO METROPOLITANA DE BELÉM, UM COMPARATIVO COM O RODOVIÁRIO E SEUS IMPACTOS SOCIAIS E AMBIENTAIS

REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/cs10202501300444


David Henrique Guimarães


RESUMO 

O estudo avalia a implementação do transporte hidroviário na Região Metropolitana de Belém  (RMB), contrastando com o transporte rodoviário, focando em impactos ambientais e sociais.  A pesquisa destaca a extensa rede hidrográfica de Belém como um potencial inexplorado para a mobilidade sustentável. Com base em dados comparativos, o transporte hidroviário apresenta  vantagens significativas, como redução de emissões de CO₂, menor consumo de combustível e  maior capacidade de lotação, ao mesmo tempo em que reduz poluição sonora e  engarrafamentos. Propostas incluem a criação de rotas hidroviárias integradas, como as linhas  Azul, Verde, Amarela, Laranja e Roxa, ligando distritos afastados e áreas centrais. O modelo  sugere tarifas acessíveis, integração modal e infraestrutura eficiente nos terminais. Apesar dos  benefícios apontados, o estudo reconhece desafios na implementação e recomenda análises  adicionais para viabilizar a transição. Essa abordagem pode transformar Belém em um exemplo  de mobilidade sustentável. 

Palavras-chave: Mobilidade urbana, transporte hidroviário, sustentabilidade, emissão de  CO₂, Belém.

ABSTRACT 

This study evaluates the implementation of waterway transport in the Metropolitan Region of  Belém (RMB), comparing it to road transport and focusing on environmental and social  impacts. It highlights Belém’s extensive hydrographic network as an untapped resource for  sustainable mobility. Based on comparative data, waterway transport offers significant  advantages, including reduced CO₂ emissions, lower fuel consumption, and higher passenger  capacity, while alleviating noise pollution and traffic congestion. Proposals involve creating  integrated waterway routes, such as the Blue, Green, Yellow, Orange, and Purple lines,  connecting remote districts to central areas. The model suggests affordable fares, modal  integration, and efficient terminal infrastructure. Despite the identified benefits, the study  acknowledges implementation challenges and recommends further analyses to ensure a smooth  transition. This approach positions Belém as a potential leader in sustainable urban mobility. 

Keywords: Urban mobility, waterway transport, sustainability, CO₂ emissions, Belém.

1. INTRODUÇÃO 

O desenvolvimento histórico da cidade de Belém do Pará, conta como principal  particularidade, sua localização costeira, a qual pode ser plenamente justificada por  estratégias de defesa do período colonial, bem como a possibilidade de trocas comerciais na  época. Nesse sentido, pode-se entender a extensa hidrografia da região, como um importante  pilar para o crescimento urbano em diversos aspectos, especialmente no sentido de  aproveitamento econômico e emprego estratégico de soluções para a mobilidade urbana,  tendo em vista as diversas possibilidades referentes a tráfego de mercadorias, rotas comerciais  e transporte de pessoas. Assim, pretende-se nesse trabalho, especificamente, abordar a  viabilidade da ampliação do transporte hidroviário em razão de condicionantes ligados à  proximidade e formas de apropriação da água em assentamentos urbanos. 

Atrelada a essa perspectiva, observa-se o crescimento das problemáticas relacionadas  à fluidez do trânsito de automóveis na região metropolitana, a precariedade das rotas de  transporte público, e por fim, a intensificação de emissão de gases poluentes. Por essas razões,  o presente artigo está estruturado com base em duas premissas principais: o comparativo do  uso de transportes hidroviários com os rodoviários, ressaltando variáveis relativas aos gastos  com combustível, tempo de transporte e emissão de poluentes, e a proposta de criação de rotas  integradas a regiões portuárias com o objetivo de atender a população da cidade. 

2. ESTUDO DE CASO E PROPOSTA DE MOBILIDADE 

A região metropolitana de Belém possui tráfego intenso todos os dias de zonas mais  afastadas para o centro, que por sua vez se localiza em uma extremidade da malha urbana, o  que causa congestionamentos vide a forma com que a cidade cresceu sem uma renovação de  sua malha de transporte, os congestionamentos trazem muitos malefícios ao meio ambiente,  devido a grande quantidade de carros que ficam mais tempo nas ruas liberando gases  poluentes e poluição sonora, a região metropolitana de Belém (RMB) sofre desse problema  há anos e diversas ações foram feitas para amenizar a situação, porém sem sucesso devido a  projetos mal executados. 

Essa proposta se diferencia de outras propostas como Aquino. 2015 e Dias. 2018; por  propor um sistema integrado e econômico para o usuário, tendo em vista o público-alvo as  pessoas que se deslocam de ônibus pelas regiões da RMB, considerando que a busca do  usuário é uma viagem rápida, econômica e confortável (Dias. 2018), deve-se considerar que  parte dos usuários não serão atraídos pelo meio devido a seus destinos serem mais ao interior  da RMB, portanto o sistema vai levar em consideração parte dos usuários de ônibus, não a  totalidade. 

Como será explicado a lancha de transporte público libera menos gases contaminantes,  sua grande capacidade o torna uma opção mais verde, que diminui tanto a poluição sonora  para a cidade quanto para a poluição do ar, para melhor atendimento da população pontos  estratégicos foram escolhidos para implantação de estações hidroviárias, próximo a ideia  original do governo do estado na elaboração do BRT, quando o mesmo ainda previa uma  linha hidroviária, portanto as seguintes linhas foram sugeridas: 

Linha Azul: A linha principal onde se espera maior concentração de usuários  irá contemplar o trajeto de Icoaraci-Porto de Belém-Ver o peso; 

Linha Verde: A linha verde terá como trajeto Ver o peso-Portal da Amazônia UFPA, atendendo a demanda do Guamá e dos estudantes da Universidade  Federal do Pará; 

Linha Amarela: Uma linha secundária que deve operar idealmente com uma  embarcação a horas específicas, onde ligaria a ilha do Combu a RMB, Combu UFPA-Portal da Amazônia;

Linha Laranja: A linha laranja ligaria a Ilha de Mosqueiro e Outeiro a  Icoaraci, Mosqueiro-Outeiro-Icoaraci; 

Linha Roxa: Por fim a linha roxa operaria de maneira similar a linha amarela,  tendo um barco com horários mais restritos, ligando a ilha de Cotijuba a  Icoaraci, Cotijuba-Icoaraci.  

Figura 1: Linhas hidroviárias propostas (Autor). 

Para assegurar o sucesso do projeto é necessário realizar uma operação eficiente, onde  as lanchas das principais linhas devem operar em ambos os sentidos de suas linhas, exceto as  linhas amarela e roxa que possuirão caráter secundário. Os terminais devem fornecer uma  estrutura onde os passageiros possam entrar e trocar de embarcações em um tempo curto e de forma organizada e segura, de forma a assegurar a velocidade do serviço, com telas  atualizando o tempo de chegada de cada lancha em seu terminal. 

Apesar da proposta tentar diminuir o número de ônibus circulando na cidade, parte da  frota restante pode se adequar a atender melhor os terminais hidroviários, criando uma  integração onde os terminais de ônibus nos principais pontos como Mosqueiro, Icoaraci e  Porto de Belém ajudariam as pessoas que têm como destino pontos mais distantes dos  terminais hidroviários. 

Para concretizar essa forma de deslocamento multimodal proposta, a criação de uma  passagem única deve ser criada, dando ao cidadão flexibilidade na hora de se deslocar,  podendo pagar por uma passagem única que lhe dá direito a diferentes benefícios dependendo  da sua escolha: 

Tipo 1: Prevê o direito a Ônibus- Lancha-Ônibus; 

Tipo 2a: Prevê o direito a Lancha -Ônibus; 

Tipo 2b: Prevê o direito a Lancha-Ônibus, sendo a embarcação exclusiva das  linhas amarela e roxa; 

Tipo 3a: Prevê o direito a somente a lanchas das principais linhas; 

Tipo 3b: Prevê o direito a somente a lanchas das linhas amarela e roxa. 

Sistemas eletrônicos devem ser usados para leitura das passagens, para dessa forma  agilizar o deslocamento, é importante ressaltar o custo da passagem, para o serviço ser atrativo  a passagem do Tipo 1 não deve ser mais cara do que 2,5 passagens de ônibus, o serviço deve  aceitar meia passagem, para estudantes e gratuidade para idosos deixá-lo mais acessível. 

Levando-se em consideração esses aspectos o sistema hidroviário em grande parte é mais vantajoso em diversos critérios que já foram abordados como: diminuição da emissão  de CO2, ganho de tempo para o passageiro, comodidade e ainda pode-se avaliar a redução da  frota de ônibus depois do projeto implementado. E vale lembrar que os ônibus contribuem  para a poluição sonora com a redução da frota consecutivamente os ruídos relacionados a esse  transporte também diminuirá. 

Em virtude dos fatos mencionados, Belém pode-se tornar referência em mobilidade  urbana de maneira mais sustentável. Além de usar seus recursos rodoviários e hidroviários de  forma mais planejada e eficiente.

3. COMPARATIVO DE EMISSÃO DE CO2 

A região metropolitana de Belém, apesar de cercada por rios, ainda se encontra muito  dependente do transporte rodoviário para acessar os pontos centrais da cidade. Grande parte  da população de Icoaraci desloca-se todos os dias de ônibus para o centro da cidade  enfrentando um trânsito intenso com congestionamentos cada vez mais longos, acarretando um tempo de viagem maior a cada ano, o que pode ser visto como um desperdício do potencial  hidroviário que Belém possui para atender a população no dia a dia (cotidiano). 

Em vista disso, será feito um comparativo das emissões de CO2 entre o sistema urbano  de ônibus atual, que atende Icoaraci, e um possível sistemas hidroviário interligando Icoaraci  até o Ver-o-peso. A figura 2 representa o trajeto da linha hidroviária proposta e o trajeto  rodoviário das linhas de ônibus.  

 Figura 2: (a) trajeto hidroviário sugerido e (b) trajeto urbano atual (Autor).  

Adotando como base o intervalo de tempo de uma hora de funcionamento do sistema  urbano atual, idealizou-se um sistema hidroviário que pudesse suprir completamente o  sistema urbano durante esse período, apenas para efeito comparativo das emissões de CO2,  assumindo como referência um serviço de transporte hidroviário anteriormente implementado em Belém no ano de 2016, a embarcação considerada foi a do tipo catamarã figura 3, com  capacidade de 150 passageiros. 

Figura 3: Embarcação utilizada na linha hidroviária Icoaraci/Ver-o-Peso (DIAS. 2018). 

Tomando como contraste o ônibus urbano existente atualmente, que possui uma  capacidade máxima de 70 passageiros, uma única embarcação poderia oferecer transporte  equivalente a pouco mais de 2 ônibus. Quanto à autonomia de cada transporte, temos valores  equivalentes, o ônibus da RMB do tipo Mercedes-Benz possui uma autonomia de 3 km/L, e  a embarcação da Scania Marine Engines também possui uma autonomia de 3,6 km/L. 

Existem 3 linhas de ônibus que suprem a rota Icoaraci até Ver-o-Peso, uma rota de  aproximadamente 20,4 Km de acordo com “Google maps”, sendo em média o fluxo de 9  ônibus por hora, com base nessa informação estipulou-se um total de 4 barcos do tipo citado  para suprir a demanda da rota atual, sendo o percurso marítimo estipulado pelo “Google  maps” de aproximadamente 18 km. 

Tendo a problemática toda sido montada, é possível determinar a emissão de CO2  através da equação:  

Os dados obtidos estão dispostos na tabela abaixo: 

Tabela 1: Tabela de comparativo entre ônibus e a embarcação estudada.

A partir da tabela 1 é possível averiguar que as emissões de CO2 do barco em relação  ao sistema de ônibus são muito menores, isso se deve devido à grande capacidade de  passageiros que o barco possui, tendo em vista que a autonomia dos dois meios de transporte  é próxima. Porém deve-se levar em consideração que o barco polui de outras maneiras o  ambiente, além do CO2, como por exemplo a poluição térmica que é originada pela água de  arrefecimento dos motores e geradores das embarcações.

4. CONCLUSÃO  

 O propósito da pesquisa que gerou este texto, a princípio, era de analisar pontos  estratégicos referentes ao transporte hidroviário em contraste com o rodoviário em termos de  emissão de poluentes e capacidade de lotação, com o intuito de captar informações acerca dos  impactos ambientais gerais. Com o estudo estratégico realizado, obtiveram-se dados  comparativos relevantes, entre eles o gasto de combustível inferior das embarcações em  comparação com a frota de ônibus, e a baixa emissão de dióxido de carbono, cerca de 120 kg  a menos que a frota rodoviária para o mesmo percurso. Além disso, é importante destacar a  capacidade de lotação superior das embarcações, a qual permite diminuir as frotas por hora. 

 A região metropolitana de Belém é extensa e apresenta um intenso fluxo diário de  pessoas de distritos afastados, as quais dependem de um sistema de transporte eficiente, sendo  assim, a disposição dos bairros em regiões portuárias deve ser explorada a fim de atenuar  problemáticas relacionadas à mobilidade e tráfego urbano, por meio da integração de rotas  hidroviárias como as propostas por este artigo. Nesse sentido, entende-se que uma mudança  dessa magnitude no sistema de deslocamento é uma tarefa complexa e que necessita de  estudos mais aprofundados para possível implementação. Contudo, faz-se necessário  ponderar acerca da ampliação do transporte hidroviário de forma gradativa, tendo em vista o  crescimento populacional e os empecilhos decorrentes do transporte rodoviário. 

REFERÊNCIAS 

DIAS, Matheus. V; PEREIRA, Augusto; FERNANDES, Isabella; MONTEIRO, Kallyfer. O  TRANSPORTE HIDROVIÁRIO URBANO DE PASSAGEIROS EM BELÉM E OS  FATORES RELEVANTES PARA SUA IMPLEMENTAÇÃO. 32 Congresso de Pesquisa  e Ensino em Transporte da ANPET Gramado, 2018. 

PEREIRA, Carla. GRANDES INTERVENÇÕES URBANAS E IMPACTOS  SOCIOAMBIENTAIS: REFLEXÕES SOBRE O CASO DO ATERRO SANITÁRIO DE  MARITUBA/PA. Revista de Direito Urbanístico, Cidade e Alteridade, 2019. 

AQUINO, Suzane. UMA ANÁLISE DE CUSTO ENTRE O USO DE UM NAVIO DE  PASSAGEIROS COMPARATIVAMENTE AO TRANSPORTE PÚBLICO  RODOVIÁRIO NA REGIÃO METROPOLITANA DE BELÉM. XXXIV International  Sodebras Congress. São Paulo, 2015. 

TOBIAS, Maísa. TRANSPORTE HIDROVIÁRIO URBANO EM BELÉM: REALIDADE  E PERSPECTIVAS. ANTP, 2004. 

PINTO, Fatima. POTENCIAIS DE REDUÇÃO DE EMISSÕES DE DIÓXIDO DE CARBONO NO SETOR DE TRANSPORTES: UM ESTUDO DE CASO DA LIGAÇÃO  HIDROVIÁRIA RIO-NITERÓI. ENGEVISTA, 2004. 

TEOBALDO, Felipe. FATORES DA IMPEDÂNCIA AO USO DO TRANSPORTE  PÚBLICO EM BELÉM NA VISÃO DOS USUÁRIOS. Belém, 2018.