IMPLEMENTAÇÃO DO PROTOCOLO DA SEPSE GERENCIADA EM SERVIÇOS DE URGÊNCIA E EMERGÊNCIA

IMPLEMENTATION OF THE MANAGED SEPSIS PROTOCOL IN URGENCY AND EMERGENCY SERVICES

REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.7940375


Gleison Lucas Santos do Nascimento1; Carine Vitória Lemes Ferreira2; Carlos Henrique Nunes Pires3; Luana Lopes Iria4; Darlene Andrade Oliveira5; Guilherme Sell de Mendonça e Silva6; Ramon Silva Ramos7; Maria Elisângela Santos Lira8; Daislaine de Jesus Lima9; Fernando da Palma de Jesus10; Carina Luzyan Nascimento Faturi11; Sandra da Silva Calage12; Denise  Espindola Castro13; Dandara Martins Santos14; Cristiane Bahia dos Santos15; Raimunda Ferreira de Sousa16;


RESUMO

Introdução: Sepse é uma disfunção orgânica com potencial fatal causada por uma resposta desregulada do hospedeiro à infecção, ou seja, é resultante de um processo infeccioso. Em casos mais graves, pode evoluir com alterações circulatórias e metabólicas, que são classificadas como choque séptico. Objetivo: Avaliar a conveniência da implementação dos protocolos clínicos de manejo da sepse como uma medida de apoio ao reconhecimento e tratamento da sepse, principalmente em serviços de emergência, assim como seu impacto nos indicadores de tratamento, incidência e mortalidade. Metodologia: Trata-se de uma revisão integrativa da literatura com propósito de captar, reconhecer e sintetizar o conhecimento acerca da temática proposta. Resultados e Discussão: A implementação das diretrizes da Campanha de Sobrevivência à Sepse (CSS) para a prática dentro dos serviços de urgência e emergência é um obstáculo em razão da natureza dinâmica do ambiente de atendimento emergencial. Desta forma, os protocolos para o reconhecimento precoce da sepse não são comumente usados nos serviços de emergência, contudo, nosso estudo demonstrou que, a implementação dos protocolos contribui positivamente na identificação precoce de pacientes com sepse, choque séptico e séptico grave, tendo como finalidade iniciar em tempo oportuno o tratamento adequado e manejo direcionado, atendendo as recomendações da CSS. Além disso, a implementação dos protocolos demonstrou redução na taxa de mortalidade por sepse. Conclusão: Em síntese, diante do cenário mundial e relevância do tema, é imprescindível a implementação de protocolos de gerenciamento da sepse, como medida de apoio a identificação precoce e ao tratamento direcionado da sepse, sobretudo, em serviços de emergência. Vale ressaltar a escassez de estudos nacionais que relatam a implementação de protocolos para o manejo da sepse, bem como seu impacto nos indicadores de tratamento, destarte, é indispensável a realização de futuras pesquisas neste contexto.

Palavras-chave: Sepse; Protocolos Clínicos; Serviços Médicos de Emergência.

ABSTRACT

Introduction: Sepsis is an organ dysfunction with fatal potential caused by a dysregulated host response to infection, that is, it is the result of an infectious process. In more severe cases, it can evolve with circulatory and metabolic alterations, which are classified as septic shock. Objective: To assess the convenience of implementing clinical sepsis management protocols as a measure to support the recognition and treatment of sepsis, especially in emergency departments, as well as its impact on treatment, incidence and mortality indicators. Methodology: This is an integrative literature review with the purpose of capturing, recognizing and synthesizing knowledge about the proposed theme. Results and Discussion: Implementation of the Sepsis Survival Campaign (CSS) guidelines for practice within urgent and emergency departments is an obstacle due to the dynamic nature of the emergency care environment. Thus, protocols for the early recognition of sepsis are not commonly used in emergency services, however, our study demonstrated that the implementation of protocols contributes positively to the early identification of patients with sepsis, septic shock and severe septic shock, with the aim of initiate adequate treatment and targeted management in a timely manner, meeting the recommendations of the CSS. In addition, implementation of the protocols demonstrated a reduction in the mortality rate due to sepsis. Conclusion: In summary, given the global scenario and the relevance of the topic, it is essential to implement sepsis management protocols, as a support measure for early identification and targeted treatment of sepsis, especially in emergency services. It is worth mentioning the scarcity of national studies that report the implementation of protocols for the management of sepsis, as well as their impact on treatment indicators, thus, it is essential to carry out future research in this context.

Keywords: Sepsis; Clinical Protocols; Emergency Medical Services.

INTRODUÇÃO

Sepse é uma disfunção orgânica com potencial fatal causada por uma resposta desregulada do hospedeiro à infecção, ou seja, é resultante de um processo infeccioso. Em casos mais graves, pode evoluir com alterações circulatórias e metabólicas, que são classificadas como choque séptico. É altamente prevalente com elevados índices de morbimortalidade, bem como gera altos custos para a saúde pública. Sua identificação precoce e tratamento adequado são fatores essenciais para a modificação deste cenário. A implementação de protocolo clínico da sepse gerenciado é uma ferramenta primordial neste contexto, pois propicia as instituições o uso da padronização do atendimento ao paciente séptico, reduzindo a morbimortalidade e proporcionando melhores desfechos terapêuticos (EVANS et al., 2021).

A sepse é diagnosticada em conjunto por no mínimo dois dos sinais abaixo: taquicardia; febre, hipotermia abaixo de 36°C; taquipneia; além de outros sinais identificados por exames de laboratório como aumento ou redução de leucócitos e acúmulo de ácido lático no organismo, segundo o Hospital Sírio Libanês (2015). 

Na contemporaneidade, embora haja grandes avanços na identificação, diagnóstico e manejo em pacientes com sepse, ainda persiste como uma significativa causa de mortalidade no mundo todo. Em 2017, cerca de 48,9 milhões de casos incidentes de sepse foram registrados em todo o mundo e 11,0 milhões mortes relacionadas à sepse foram relatadas, representando 19,7% de todas as mortes globais. A incidência de sepse padronizada por idade caiu 37,0% e a mortalidade diminuiu 52,8% de 1990 a 2017. Ainda assim, mesmo com importante declínio da incidência e mortalidade, a sepse permanece com uma das principais causas morbidade e mortalidade (RUDD et al., 2020). 

Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS, 2020), a sepse mata 11 milhões de pessoas todo ano, grande parte são crianças e idosos, além disso, ainda incapacita milhões de pessoas em todo o mundo. A mortalidade no Brasil chega a 65% dos casos em unidades de terapia intensiva (UTIs), enquanto a média mundial está em torno de 30 a 40%.  Atingindo cerca de 15 a 17 milhões de pessoas por ano no mundo. No Brasil, por sua vez, estima-se 600 mil de pacientes sépticos e aproximadamente 240 mil óbitos por ano, segundo dados do ILAS – Instituto Latino-Americano de Sepse.

O ILAS, organização sem fins lucrativos fundada em 2005, promove ações com o objetivo de melhorar a qualidade assistencial aos pacientes sépticos, bem como avalia as repercussões advindas a longo prazo em sobreviventes e os custos para o sistema de saúde. Segundo o ILAS, a sepse já foi conhecida como septicemia ou infecção no sangue, atualmente é mais conhecida como uma infecção generalizada, em decorrência de um conjunto de manifestações graves em todo o organismo. Outrossim, refere também que a sepse é a principal causa de morte nas UTIs e mortalidade hospitalar tardia, excedendo o infarto do miocárdio e o câncer.

Diante do exposto, a sepse pode ser considerada uma das principais causas de hospitalização e mortalidade. Ademais, a sepse grave e choque séptico resultam em crescentes internações e mortes dentro das UTIs (AZKÁRATE et al., 2016). 

Iniciativas como a Campanha de Sobrevivência à Sepse (CSS) e a Global Sepsis Alliance (GSA) são primordiais para determinar uma melhor identificação dos pacientes sépticos e a maior notificação da doença. As Diretrizes Internacionais para o Manejo da Sepse e Choque Séptico da CSS é a base para a implementação do protocolo de diagnóstico e tratamento da sepse nas instituições de saúde. A fim de padronizar condutas baseadas em evidências científicas para a sepse, garantindo boas práticas assistenciais. 

O protocolo é uma ferramenta imprescindível como mecanismo de consulta para a identificação precoce e abordagem da sepse. Demonstram melhor capacidade prognóstica para o manejo adequado e em tempo oportuno nos pacientes sépticos. A implementação dos protocolos clínicos da sepse reduz a mortalidade, o tempo de internação hospitalar, os custos do tratamento, promove o retorno precoce do paciente a suas atividades habituais, além disso, é um diferencial na qualidade do atendimento multiprofissional. Portanto, a sua implementação para o diagnóstico precoce de pacientes com risco de sepse deve ser considerada em serviços de emergência e internação. 

O objetivo deste estudo é avaliar a conveniência da implementação dos protocolos clínicos de manejo da sepse como uma medida de apoio ao reconhecimento e tratamento da sepse, principalmente em serviços de emergência, assim como seu impacto nos indicadores de tratamento, incidência e mortalidade. 

METODOLOGIA

Trata-se de uma revisão integrativa da literatura com propósito de captar, reconhecer e sintetizar o conhecimento acerca da temática proposta. Esta pesquisa conduziu às seguintes etapas: estabelecimento da questão norteadora; busca na literatura obedecendo aos critérios de inclusão e exclusão; avaliação dos estudos pré-selecionados; interpretação dos resultados e apresentação da revisão integrativa (MENDES, SILVEIRA & GALVÃO, 2008).

A questão da pesquisa foi elaborada a partir da estratégia Problema, Conceito e Contexto (PCC): P – impactos da implementação do protocolo da sepse gerenciada, C – protocolo da sepse gerenciada e C – serviços de urgência e emergência. Formulou-se a pergunta: quais os impactos da implementação do protocolo da sepse gerenciada em serviços de urgência e emergência?

O levantamento bibliográfico foi realizado nas bases de dados Medical Literature Analysis and Retrieval System Online (MEDLINE) através Biblioteca Virtual em Saúde (BVS), National Library of Medicine (PubMed), Scientific Eletronic Library Online (SciELO), Scopus e Web of Science, com aplicação dos Descritores em Ciências da Saúde: Sepse/ Sepsis; Protocolos Clínicos/Clinical Protocols; Serviços Médicos de Emergência/Emergency Medical Services. Foi realizado cruzamento entre os descritores controlados, utilizando-se o operador booleano “AND’’, resultando na estratégia de busca: Sepse/Sepsis AND Protocolos clínicos/Clinical protocols AND Serviços Médicos de Emergência/Emergency Medical Services.

Os critérios de inclusão foram: artigos originais, completos, publicados nos últimos 5 anos, em português, inglês e/ou espanhol, que respondessem à questão norteadora; estivessem disponíveis online na íntegra. Excluíram-se os artigos não pertinentes à proposta do tema central, produções científicas em formato de tese, monografia, relato de experiência e resumo. 

Nesta busca primária foram identificados 112 artigos nas bases de dados. A partir da pesquisa dos descritores no título e aplicação dos filtros com os critérios de inclusão, foram identificados apenas 37 estudos. Destes, 24 foram excluídos após leitura do título e resumo por não responder à questão de pesquisa (Figura 1). Dos 13 estudos restantes, 6 foram eliminados por não estarem relacionados ao foco central do tema, obtendo-se 07 artigos como corpus analítico. Para a seleção dos estudos aplicou-se o protocolo Preferred Reporting Items for Systematic Reviews and Meta-Analyses (PRISMA) Flow Diagram.

A busca, análise e inclusão das publicações foram realizadas mediante a leitura de título e resumo. Posteriormente, os estudos foram lidos na íntegra, sendo incluídos apenas aqueles que responderam à questão norteadora para compor o corpus da revisão integrativa.

Para a caracterização dos artigos e extração de informações dos artigos foi elaborado um quadro sinóptico, contendo: autor(es) e ano de publicação, título do estudo, objetivos e ênfase nos resultados e conclusões. 

RESULTADOS 

Foram identificados 112 artigos na busca primária. Após aplicação dos critérios de exclusão e elegibilidade, 07 estudos compuseram a amostra final desta revisão, conforme apresentado na Figura 1.

FIGURA 1: Fluxograma de seleção dos artigos incluídos na revisão. Bahia, Brasil, 2023.

Fonte: os autores (2023).

Os metadados importantes foram retirados dos artigos para se proceder à devida análise por meio da elaboração de um quadro sinóptico, contendo a caracterização do estudo e extração de informações dos artigos: Autor(es) e ano, Título, Objetivo, Resultados e Conclusão, conforme apresentado a seguir no quadro sinóptico 1.

QUADRO SINÓPTICO 1.
Caracterização dos estudos: Autores/Ano de publicação, Título, Objetivo, Resultados e Conclusão.

AUTORES/ANO TÍTULOOBJETIVORESULTADOSCONCLUSÃO
SUNGKAR, Y.; CONSIDINE, J.; HUTCHINSON, A., 2018. Implementação de diretrizes para gerenciamento de sepse em departamentos de emergência: uma revisão sistemática.Examinar o efeito da implementação de diretrizes para o tratamento da sepse no pronto-socorro no tempo para a administração de antibióticos. Demonstraram que a promoção de uma diretriz de sepse no pronto-socorro, que fornece aos médicos uma abordagem estruturada para o reconhecimento de pacientes com possível sepse e orientação para o tratamento imediato da sepse, pode diminuir o tempo para a administração de antibióticos no pronto-socorro.A implementação de diretrizes de sepse em departamento de emergência de adultos diminui os tempos de administração de antibióticos, internações em UTI e mortalidade de pacientes internados e aumenta a proporção de medições de lactato realizadas durante o atendimento no  departamento de emergência.
SHAH, T.; STERK, E.; RECH, M. A., 2018. A ferramenta de triagem de sepse do departamento de emergência diminui o tempo para antibióticos em pacientes com sepse. Avaliar o impacto de uma ferramenta de triagem de sepse implementada em um centro médico acadêmico ED em conformidade com o pacote de sepse de 3 horas.Embora não tenha sido observado aumento na adesão ao pacote de 3 horas da CSS, houve aumento numérico na adesão ao pacote. É importante ressaltar que observamos um aumento na administração de antibióticos em 1 h e 3 h em 30,9% e 79,2%, respectivamente, no grupo pós-ferramenta. Isso tem implicações importantes, pois a terapia antimicrobiana tardia após hipotensão documentada tem sido associada ao aumento da mortalidade.As ferramentas de triagem de sepse não são uma prática universal no pronto-socorro, mas podem ajudar a identificar precocemente pacientes com choque séptico e séptico grave, a fim de iniciar o tratamento e atender aos componentes do pacote de 3 horas.
MIRANDA; SILVA; DUARTE, 2019. O conhecimento do enfermeiro frente ao protocolo da sepse em um serviço de emergência de hospital público de grande porte.Descrever o conhecimento dos enfermeiros quanto a identificação precoce da Sepse em uma Emergência de um Hospital de Grande Porte do Recife.Quanto ao gênero observou-se que a predominância foi do sexo feminino com 80,00%, dos casos, a variável faixa etária foi visto que a mais acometida corresponde entre 30 e 35 anos incompletos com 33,33%.  Quanto ao protocolo 93,33% referem ter na unidade, onde 66,66% afirmaram ter recebido treinamento, também visto que 80,00% têm conhecimento sobre sinais e sintomas da SIRS.A sepse, atualmente, é um grande problema vivenciado nos hospitais com altos custos nos setores públicos e privados.
BOTER, N.R et al, 2019. A ativação de um código de sepse em urgências se associa a uma menor mortalidadeAvaliar o impacto da implantação de um código de sepse (CS) na evolução de pacientes com sepse grave (SG)/choque séptico (SS). Determinar os fatores independentes associados à mortalidade.Foi realizada uma comparação entre dois grupos: o primeiro com a ativação do código da sepse e o segundo sem ativação do código da sepse, baseado nas recomendações da Campanha de Sobrevivência à Sepse. Dentre os desfechos, identificaram-se que o primeiro grupo atingiu amplamente os objetivos do Código da sepse, realizaram o diagnóstico e o tratamento mais precoce em relação ao segundo grupo.A implementação de um CS melhora o cumprimento das recomendações da Campanha de Sobrevivência à Sepse e diminui as internações em terapia intensiva, permanências médias e mortalidade.
WHITFIELD, P. L. et al, 2020. Implementação de um protocolo de sepse de código para adultos e seu impacto na obtenção da pontuação perfeita da medida central do SEP-1 no pronto-socorroDeterminar o impacto de um protocolo de Sepse do Código para Adultos na taxa de PSA SEP-1 entre pacientes que deram entrada no departamento de emergência (DE) com sepse grave ou choque sépticoA mortalidade hospitalar foi reduzida de 4% para 0% após a implementação do protocolo. O início do protocolo também resultou em uma redução significativa no tempo para o início da terapia antimicrobiana adequada, empírica e eficaz, com base nos resultados da cultura em 48 e 111 minutos, respectivamente. A adição de um protocolo de sepse para adultos no departamento de emergência aumentou significativamente a taxa de PSA SEP-1, reduziu a mortalidade de pacientes internados e melhorou o tempo para o início da terapia antimicrobiana eficaz.
BORGUEZAM, CB et al, 2021.Protocolo clínico gerenciado: impacto da implementação nos indicadores de qualidade do tratamento da sepse.Avaliar o impacto da implementação de um protocolo de controle de sepse nos indicadores de qualidade do tratamento de pacientes sépticos em uma unidade de emergência de um hospital universitário.A amostra do estudo incluiu 631 pacientes, 95 da fase pré-intervenção e 536 da fase de intervenção. A implementação do protocolo aumentou em 14 vezes as chances dos pacientes receberem o tratamento recomendado. A implementação do protocolo reduziu o tempo de internação em 6 dias (p<0,001) e diminuiu a mortalidade (p<0,001).O estudo mostrou que a implementação do protocolo gerenciado teve impacto na melhoria dos indicadores de qualidade do tratamento da sepse.

Fonte: os autores (2023).

DISCUSSÃO

No Brasil, publicações recentes evidenciam um aumento da incidência da sepse nos últimos anos. Um estudo observacional, analítico e retrospectivo de dados secundários obtidos pelo Sistema de Informação Hospitalar de pacientes sépticos admitidos entre 1 de janeiro de 2010 e 31 de dezembro de 2019, revelou 1.044.227 casos de sepse no país, perfazendo um coeficiente de prevalência média de 51,3/100 mil habitantes. Foram registrados 463 mil óbitos por sepse, com coeficiente médio de 22,8 óbitos/100 mil habitantes. As maiores taxas ocorreram entre os idosos, de raça parda e não houve uma diferença significativa entre os sexos (ALMEIDA et al., 2022; LOBO et al., 2019). 

Segundo a OMS (2020), aproximadamente metade dos 49 milhões de casos de sepse a cada ano ocorrem entre crianças, ocasionando em torno de 2,9 milhões mortes. Ressalta também que a maioria dos óbitos poderiam ter sido evitados através do reconhecimento precoce e do manejo clínico adequado. Além do mais, refere que essas mortes costumam ser decorrentes de doenças diarreicas ou infecções respiratórias inferiores. 

O estudo SPREAD (Sepsis Prevalence Assessment Database in Emergencies Department) dirigido pelo ILAS, apontou que 30% dos leitos de UTI (Unidade de Terapia Intensiva) do Brasil estão ocupados por pacientes com sepse ou choque séptico. A letalidade nesses pacientes foi de 55%. Assim, todos os profissionais devem ser capazes de reconhecer os sinais e sintomas de sepse e providenciar a conduta imediata para que o tratamento possa ser feito. Isso torna o desafio amplo e não apenas restrito a áreas como terapia intensiva e serviços de urgência/emergência, abrangendo de forma plena a instituição (MACHADO et al., 2017).

Em um estudo epidemiológico observacional orientado pelo STROBE (Strengthening the Reporting of Observational studies in Epidemiology) com 631 pacientes de um hospital universitário, os autores relataram que a implementação de um protocolo seguindo as recomendações da Campanha de Sobrevivência à Sepse, associado ao uso de lista de verificação e a participação de um gerente de protocolo de sepse, obteve um impacto positivo nos indicadores de qualidade do tratamento da sepse, ampliando as possibilidades de um paciente receber um pacote de medidas, bem como os cuidados recomendados (BORGUEZAM et al., 2021).

De acordo com um estudo analítico, evidenciaram que os enfermeiros têm conhecimento suficiente acerca dos protocolos e manuais para o manuseio do atendimento ao paciente com sepse. Portanto, tem capacidade para identificar a sepse nas primeiras horas, sendo assim possível o tratamento precoce e adequado, obtendo-se um melhor prognóstico (MIRANDA, SILVA & DUARTE, 2019).

Em um estudo de coorte de um departamento de emergência, realizou uma comparação entre dois grupos: o primeiro com a ativação do código da sepse e o segundo sem ativação do código da sepse, baseado nas recomendações da Campanha de Sobrevivência à Sepse. Dentre os desfechos, identificaram-se que o primeiro grupo atingiu amplamente os objetivos do Código da sepse, realizaram o diagnóstico e o tratamento mais precoce em relação ao segundo grupo. Além disso, o segundo grupo obteve mais pacientes admitidos na unidade de terapia intensiva, maior permanência hospitalar e alta taxa de mortalidade. Desse modo, revelou que a implementação de protocolos clínicos da sepse é altamente eficaz para melhor prognóstico da sepse (BOTER et al., 2019). 

Sungkar, Considine e Hutchinson (2018) examinaram o efeito da implementação de diretrizes para o tratamento da sepse no pronto-socorro, e concluíram que a promoção de uma diretriz de sepse fornece aos médicos uma abordagem estruturada para o reconhecimento de pacientes com possível sepse e orientação para o tratamento imediato da sepse, reduz o tempo para a administração de antibióticos, as internações em UTI e a mortalidade de pacientes internados, além disso, evidenciaram que aumenta a proporção de medições de lactato realizadas durante o atendimento no departamento de emergência.

Whitfield et al (2020) realizou um estudo de coorte observacional retrospectivo em um pronto-socorro de hospital terciário, reportando que a implementação de um protocolo de código de sepse para adultos na emergência aumentou significativamente a taxa de obtenção do escore perfeito PSA SEP-1. Também observaram reduções na mortalidade dos pacientes internados e no tempo para o início da terapia antimicrobiana de forma eficaz.

Embora várias ferramentas de triagem para identificação da sepse sejam constantemente avaliadas no ambiente hospitalar, poucos estudos exploraram o impacto do protocolo clínico da sepse no ambiente de emergência. Um estudo retrospectivo avaliou o impacto da implementação de diretrizes de gerenciamento da sepse no departamento de emergência e a adesão ao pacote da CSS, diante disso, observou importante melhora na pontualidade dos processos de atendimento e que a adesão pode melhorar os resultados dos pacientes sépticos. Por fim, completou que o tratamento oportuno da sepse com antibióticos apropriados, ressuscitação com fluidos e suporte hemodinâmico reduz as admissões na UTI e a mortalidade por sepse. É importante ressaltar que a terapia com antibióticos tardiamente após evento de hipotensão documentada tem sido associada ao aumento da mortalidade por sepse (SHAH, STERK & RECH, 2018).

A implementação das diretrizes da CSS para a prática dentro dos serviços de urgência e emergência é um obstáculo em razão da natureza dinâmica do ambiente de atendimento emergencial. Desta forma, os protocolos para o reconhecimento precoce da sepse não são comumente usados nos serviços de emergência, contudo, nosso estudo demonstrou que, a implementação dos protocolos contribui positivamente na identificação precoce de pacientes com sepse, choque séptico e séptico grave, tendo como finalidade iniciar em tempo oportuno o tratamento adequado e manejo direcionado, atendendo as recomendações da CSS. 

Pode-se concluir, a partir desta revisão que a identificação precoce da sepse, o tratamento oportuno e a adesão às recomendações da CSS demonstraram redução na taxa de mortalidade por sepse. No entanto, ainda há dados limitados sobre o uso do protocolo da sepse no ambiente de emergência. Por fim, mais estudos são necessários para avaliar a implementação de protocolos da sepse gerenciados com base nas novas diretrizes da CSS, com o propósito de ajudar os profissionais de saúde a reconhecer a sepse no ambiente de emergência.

CONCLUSÃO

A implementação de um protocolo clínico da sepse no ambiente de urgência e emergência proporciona um diagnóstico mais precoce e rastreamento microbiano mais eficaz o que possibilita o rápido início do tratamento e o uso mais otimizado das variáveis hemodinâmicas e das técnicas de suporte orgânico, concomitantemente, melhora o manejo dos pacientes sépticos e reduz potencialmente a mortalidade. 

Em síntese, diante do cenário mundial e relevância do tema, é imprescindível a implementação de protocolos de gerenciamento da sepse, como medida de apoio à identificação precoce e ao tratamento direcionado da sepse, sobretudo, em serviços de emergência. Vale ressaltar a escassez de estudos nacionais que relatam a implementação de protocolos para o manejo da sepse, bem como seu impacto nos indicadores de tratamento, destarte, é indispensável a realização de futuras pesquisas neste contexto.

REFERÊNCIAS

ALMEIDA, N.R.C. et al. Análise de tendência de mortalidade por sepse no Brasil e por regiões de 2010 a 2019. Rev Saude Publica, v. 56, n. 25, 2022. 

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BOTER, N.R et al. A ativação de um código de sepse em urgências se associa a uma menor mortalidade. Medicina Clínica (Barc), v. 152, n. 7, pág. 255-260, 2019. 

EVANS, L. et al. SURVIVING SEPSIS CAMPAIGN. Campanha de Sobrevivência à Sepse: Diretrizes Internacionais para o Manejo da Sepse e Choque Séptico 2021. Critical Care Medicine, v. 49, n. 11, 2021.

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LOBO, S. M. et al. Mortalidade por sepse no Brasil em um cenário real: projeto UTIs Brasileiras. Revista Brasileira de Terapia Intensiva, v. 31, n. 1, pág. 1-4, 2019.

MIRANDA, A.P.; SILVA, J.R.D.; DUARTE, M.G.D.L. O conhecimento do enfermeiro frente ao protocolo da sepse em um serviço de emergência de hospital público de grande porte. Revista Nursing (Ed. bras., Impr.) v. 22, n. 251, pág. 2834-2838, 2019.

MACHADO, F. R. et al. The epidemiology of sepsis in Brazilian intensive care units (the Sepsis Prevalence Assessment Database, SPREAD): an observational study. The Lancet, v. 17, n. 11, p. 1180-1189, 2017. 

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SHAH, T.; STERK, E.; RECH, M. A. A ferramenta de triagem de sepse do departamento de emergência diminui o tempo para antibióticos em pacientes com sepse. The American Journal of Emergency Medicine, v. 36, n. 10, pág. 1745-1748, 2018. 

SUNGKAR, Y.; CONSIDINE, J.; HUTCHINSON, A. Implementação de diretrizes para gerenciamento de sepse em departamentos de emergência: uma revisão sistemática. Australasian Emergency Care, v. 21, n. 4, pág. 111-120, 2018. 

WHITFIELD, P. L. et al. Implementação de um protocolo de sepse de código para adultos e seu impacto na obtenção da pontuação perfeita da medida central do SEP-1 no pronto-socorro. The American Journal of Emergency Medicine, v. 38, n. 5, pág. 879-882, 2020. 


1Enfermeiro Especialista em Urgência e Emergência e Gestão hospitalar Centro Universitário Brasileiro – UNIBRA 
https://orcid.org/0000-0002-5418-7136
E-mail: enfgleison@icloud.com
2Graduanda em Enfermagem 
UNEX | Feira de Santana – Bahia 
https://orcid.org/0000-0002-9253-5162
E-mail: vitoria.ferreira@ftc.edu.br
3Enfermeiro Residente em Urgência e Trauma 
Hospital Municipal de Contagem
https://orcid.org/ 0000-0002-8408-0209 
E-mail: carloshenriqueenf1@gmail.com
4Graduando em Medicina 
https://orcid.org/0009-0005-1351-2552
E-mail: luana_lopesiria@hotmail.com
5Graduanda em Enfermagem
Universidade Federal de Sergipe (UFS) 
https://orcid.org/0009-0003-1328-1622
E-mail: darlene_andrade2502@hotmail.com
6Graduando em Medicina 
Universidade do Contestado – UNC  | Mafra – SC 
https://orcid.org/0009-0001-1567-998X
E-mail: guilhermesellm@hotmail.com
7Graduando em Medicina
Universidad Central Del Paraguay
https://orcid.org/0009-0008-4814-5862
E-mail: ramonramos1993@hotmail.com
8Enfermeira, Esp. Saúde Pública. Mestre em Ensino da Saúde
Universidade Federal de Alagoas 
https://orcid.org/0000-0003-3400-4352
E-mail: elisalira639@gmail.com
9Graduanda em Enfermagem 
UNEX | Feira de Santana – Bahia 
https://orcid.org/0009-0000-7096-8322
E-mail: limadaislaine@gmail.com 
10Graduando em Enfermagem pela Faculdade Atualiza e graduando em Farmácia pela Unime Salvador
https://orcid.org/0000-0002-9521-0232
E-mail: fernando_palma@msn.com
11Enfermeira Especialista em Terapia Intensiva-UFRGS
Hospital Ernesto Dornelles
https://orcid.org/0000-0003-2841-3408
E-mail: kfaturi@yahoo.com.br
12Enfermeira Faculdade de Desenvolvimento do Rio Grande do Sul
https://orcid.org/0009-0002-8187-0405
E-mail:sandracalage80@gmail.com
13Enfermeira Mestre em Ciências cirúrgicas
Universidade Federal do Rio Grande do Sul
https://orcid.org/0000-0001-9831-7441
E-mail: dk_castro@hotmail.com
14Enfermeira Especialista em Terapia Intensiva-UFRGS
Hospital de Clínicas de Porto Alegre-RS
https://orcid.org/0009-0000-7659-6750
E-mail: dandims@hotmail.com
15Graduanda em Enfermagem 
UNIFTC | Salvador – Bahia 
https://orcid.org/0009-0007-0325-7118
E-mail: bahiacristiane4@gmail.com 
16Enfermeira pós graduada em Urgência e Emergência
Universidade da Amazônia
https://orcid.org/0009-0001-1626-8736
E-mail: raimundasousaenf@gmail.com