IMPLEMENTAÇÃO DO PLANO DE PARTO COMO FERRAMENTA DE PROMOÇÃO DA HUMANIZAÇÃO E PREVENÇÃO DA VIOLÊNCIA OBSTÉTRICA

REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/th102412141356


Josefa Taynara Gomes dos Santos
Ana Maria Leandro Tavares
Maíla Gabriel Alves
Jennyfer Morato Alves
Cicera Tavares de Lucena
Márcia Gomes Rufino
Andressa de Sousa Almeida
Daniela Guilhermino Gonçalves
Rommyshineder Coelho Lima
Aline da Silva Almeida
ANTÔNIA OZANA ALVES CAITANO
Francisca de Souza Rocha
Valquíria Pinheiro Pereira Pires
Thiago Santana Duarte
Macerlane de lira Silva


RESUMO

O objetivo do estudo foi Analisar como a implementação do plano de parto contribui para a promoção da humanização do parto e a prevenção da violência obstétrica.  A presente pesquisa é do tipo exploratória, descritiva, com uma abordagem quantitativa. O cenário escolhido para desenvolver a pesquisa foi à cidade de Bonito de Santa Fé. O local da pesquisa foi as 05 Equipes de Saúde da Família e o hospital municipal do  referido município.  O total de participantes envolvidos na pesquisa foi de 25 indivíduos, 11 profissionais de saúde e 14 puérperas, os quais foram submetidos a uma análise detalhada de seus dados sociodemográficos, proporcionando uma compreensão abrangente do perfil demográfico dos participantes. Todos os participantes (100%) afirmaram estar familiarizado com o plano de parto, o que demonstra que o conceito é amplamente conhecido entre os profissionais da área. No que diz respeito à elaboração do Plano, apenas 36,3% afirmam ajudar regularmente os pacientes a elaborar o plano de parto, enquanto 36,3% ajudam às vezes e 27,4% não participam desse processo. Isso revela uma lacuna significativa entre o conhecimento e a aplicação prática do plano de parto, indicando barreiras como falta de tempo, treinamento ou recursos institucionais. Quando indagadas, as puérperas, a respeito do conhecimento sobre o Plano de Parto, a maioria (64,3%) nunca ouviu falar sobre o plano de parto, evidenciando uma falha no acesso à informação. Em síntese, a pesquisa evidencia que, os profissionais têm conhecimento sobre o plano de parto, mas há discrepância na implementação prática. Isso pode ser atribuído a fatores como falta de integração da ferramenta nas rotinas hospitalares ou baixa adesão da equipe interdisciplinar.

Palavras Chaves: Plano de Parto. Humanização do Parto. Experiência do Parto.

ABSTRACT

The birth process is a unique moment in a woman’s life, marked by deep and complex meanings. The search for humanizing this moment has become a priority in maternal health care, aiming not only at physical safety, but also at promoting positive and respectful experiences. The general objective of this study was to analyze how the implementation of the birth plan contributes to the promotion of humanization of childbirth and the prevention of obstetric violence. This research is exploratory and descriptive, with a quantitative approach. The setting chosen to develop the research was the city of Bonito de Santa Fé. The research site was the 05 Family Health Teams and the municipal hospital of the aforementioned municipality. The total number of participants involved in the research was 25 individuals, 11 health professionals and 14 postpartum women, who were subjected to a detailed analysis of their sociodemographic data, providing a comprehensive understanding of the demographic profile of the participants. All participants (100%) stated that they were familiar with the birth plan, which shows that the concept is widely known among professionals in the field. Regarding the preparation of the Plan, only 36.3% stated that they regularly help patients to prepare the birth plan, while 36.3% help sometimes and 27.4% do not participate in this process. This reveals a significant gap between knowledge and practical application of the birth plan, indicating barriers such as lack of time, training or institutional resources. When asked about their knowledge of the Birth Plan, most postpartum women (64.3%) had never heard of the birth plan, evidencing a lack of access to information. The research shows that professionals are aware of the birth plan, but there is a discrepancy in practical implementation. This can be attributed to factors such as lack of integration of the tool into hospital routines or low adherence of the interdisciplinary team.

Key Words: Birth Plan. Humanization of Childbirth. Childbirth Experience.

1 INTRODUÇÃO  

O processo de parto é um momento singular na vida de uma mulher, marcado por significados profundos e complexos. A busca pela humanização desse momento tem se tornado uma prioridade na atenção à saúde materna, visando não apenas à segurança física, mas também à promoção de experiências positivas e respeitosas. Nesse contexto, a implementação do Plano de Parto na Atenção Primária em Saúde emerge como uma estratégia fundamental para envolver as gestantes na tomada de decisões relacionadas ao seu parto, contribuindo assim para a promoção da humanização e a prevenção da violência obstétrica (POSSATI et al., 2017).

A humanização do parto é um conceito que transcende a mera aplicação de procedimentos médicos, enfatizando a importância da escuta, respeito à autonomia da mulher e a valorização da experiência única desse momento. Paralelamente, a violência obstétrica, infelizmente, persiste como uma realidade preocupante em muitos contextos de assistência à saúde materna, destacando a necessidade urgente de intervenções que revertam esse cenário (FIRMINO et al., 2020).

Jardim e Modena (2018) destacam a frequência de relatos de violência na assistência ao parto, incluindo a negação da presença do acompanhante escolhido, falta de informações sobre procedimentos, cesáreas desnecessárias, privação de direitos como alimentação e deambulação, exames vaginais repetitivos sem justificativa, uso excessivo de ocitocina, episiotomia sem consentimento, e a manobra de Kristeller. Todos esses eventos podem resultar em danos permanentes, tanto físicos quanto mentais e emocionais.

De acordo com dados da Organização Mundial de Saúde (OMS), mulheres em todo o mundo enfrentam situações de violência, desrespeito e abusos durante a assistência ao parto, conforme destacado por Jardim e Modena (2018).  No Brasil, segundo o Departamento de Informática do Sistema Único de Saúde (DATASUS) em 2015, os partos hospitalares representam 98,08% do total, com um aumento de partos cesáreas de 46,56% para 53,88% entre 2007 e 2011. O Ministério da Saúde (2015) revela uma taxa de cesariana de 56%, variando entre 40% no sistema público e 85% no privado (ZANARDO et al., 2017).  

Diante desse cenário, o Ministério da Saúde implementou o Programa de Humanização no Pré-natal e Nascimento (PHPN) por meio da Portaria/GM No 569, de 1º de junho de 2000, com o objetivo de melhorar o acesso, a cobertura e a qualidade do acompanhamento pré-natal, assistência ao parto e puerpério, promovendo os direitos de cidadania (MISAU, 2011).

Outra iniciativa relevante é a Rede Cegonha, estabelecida pela Portaria Nº 1.459, de 24 de junho de 2011, visando garantir o direito à atenção humanizada durante a gravidez, parto e puerpério, assegurando um nascimento seguro e o desenvolvimento saudável da criança (BRASIL, 2011).  

A pesquisa visa preencher lacunas importantes no conhecimento, fornecendo insights que possam embasar políticas e práticas direcionadas à promoção da saúde materna e ao aprimoramento dos serviços de assistência obstétrica. Ao compreender como o Plano de Parto é percebido, adotado e implementado na Atenção Primária em Saúde, esperamos contribuir para a construção de um cenário mais humanizado e respeitoso para as mulheres durante o processo de parto.

Logo, esta pesquisa se justifica pela necessidade de preencher lacunas locais no conhecimento sobre como a implementação do Plano de Parto na Atenção Primária em Saúde pode ser percebida, adotada e integrada. A escassez de estudos específicos para esta região limita a compreensão de sua eficácia em diferentes realidades, sendo crucial fornecer dados relevantes para embasar políticas de saúde e práticas clínicas mais alinhadas com as necessidades das gestantes.  

2 OBJETIVOS  

Objetivo Geral  

  • Analisar como a implementação do plano de parto contribui para a promoção da humanização do parto e a prevenção da violência obstétrica. 

Objetivos específicos   

  • Averiguar a compreensão e conhecimento das puérperas sobre a humanização de prénatal na Atenção Primária em Saúde;
  • Avaliar a implementação da humanização no atendimento pré-natal, com foco em como a adoção do Plano de Parto contribui para promover a humanização do parto e prevenir a violência obstétrica;
  • Examinar os impactos do Plano de Parto na experiência de parto das puérperas.   

3 METODOLOGIA   

Tipo de estudo  

A presente pesquisa é do tipo exploratória e descritiva, com uma abordagem quantitativa. O estudo exploratório se baseia em questões e problemas, procurando corresponder à investigação da pesquisa baseada na experiência. Seu objetivo é desenvolver hipóteses, aumentar a familiaridade do pesquisador com o meio, fato ou fenômeno, para elaborar uma pesquisa futura mais específica ou para mudar e esclarecer conceitos (CRESWELL; CRESWELL, 2018).

O estudo descritivo tem o propósito descrever as características populacionais ou de fenômenos, tem como objetivo identificar possíveis relações entre variantes, através da coleta de informações com técnicas padronizadas (GIL, 2020).  

A abordagem quantitativa, conforme destacado por Fachin (2017), é definida pela ênfase em dados e proporções numéricas. Essa abordagem utiliza métodos estatísticos e matemáticos para coletar, analisar e interpretar dados, permitindo a identificação de padrões, correlações e tendências. A quantificação dos resultados proporciona objetividade e precisão, facilitando a generalização dos achados para populações maiores e a realização de comparações entre diferentes grupos ou variáveis.  

Cenário e local de estudo  

O cenário escolhido para desenvolver a pesquisa foi à cidade de Bonito de Santa Fé. A população da cidade de Bonito de Santa Fé (PB) chegou a 10.252 pessoas no Censo de 2022, o que representa uma queda de -5,23% em comparação com o Censo de 2010.  O local da pesquisa foi as 05 Equipes de Saúde da Família e o hospital municipal do  referido município.   

Participantes da pesquisa  

A pesquisa incluiu puérperas que são acompanhadas pela Atenção Primária em Saúde e profissionais de saúde que estejam envolvidos no cuidado obstétrico. Os critérios de inclusão abrangem profissionais de enfermagem atualmente em atividade e interessados em participar. No entanto, foram excluídos da pesquisa aqueles em licença ou afastamento durante o período do estudo, garantindo assim a consistência na coleta de dados.

A amostragem se deu da seguinte maneira:

  • Puerperas: Seleção por conveniência, com a participação voluntária das puérperas;
  • Profissionais de Saúde: Amostragem intencional, garantindo representação de diferentes profissões de saúde envolvidas no processo obstétrico.   

Os critérios para inclusão e exclusão de participantes neste estudo são fundamentais para garantir a relevância e a segurança dos dados coletados. Puérperas elegíveis devem estar sob acompanhamento na Atenção Primária em Saúde, ser maiores de 18 anos e estar em gestação de baixo ou alto risco, além de demonstrar disposição voluntária para participar. Foram excluídas puérperas com complicações médicas significativas que possam interferir na participação ativa no estudo, assim como aquelas incapazes de fornecer consentimento informado.  

Já os profissionais de saúde incluídos devem estar diretamente envolvidos no atendimento obstétrico, como médicos, enfermeiros, técnicos de enfermagem e parteiras, com pelo menos seis meses de experiência na área e disposição para colaborar voluntariamente. Foram excluídos profissionais com menos de seis meses de experiência na área obstétrica, aqueles que não participam diretamente dos cuidados obstétricos, e os que não puderem participar de entrevistas ou preencher questionários.  

Estes critérios são essenciais para assegurar que os participantes selecionados possam contribuir efetivamente com os objetivos da pesquisa e que os resultados sejam válidos e aplicáveis ao contexto estudado.   

Etapas de desenvolvimento   

Inicialmente, a carta de anuência (APÊNDICE A) foi encaminhada à coordenação da Secretaria de Saúde do município de Bonito de Santa Fé, no Estado da Paraíba, bem como às direções das Unidades Básicas de Saúde (UBS) e do Hospital. Neste documento, foram fornecidos esclarecimentos sobre os objetivos e a metodologia proposta para o trabalho, com o intuito de obter a autorização para a realização da pesquisa nos locais mencionados. Em seguida, o projeto foi submetido ao exame do Comitê de Ética em Pesquisa (CEP), tendo sido aprovado pelo parecer nº 7.223.248.

Uma vez obtida à aprovação do CEP, o trabalho, juntamente com seus objetivos de estudo, foi apresentado aos profissionais de enfermagem das UBS e do Hospital Municipal de Bonito de Santa Fé, no Estado da Paraíba. Após a aceitação e autorização por parte destes, mediante assinatura do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE) (APÊNDICE B), foram iniciadas as etapas de coleta de dados.   

A coleta de dados foi realizada por meio de um questionário semiestruturado (APÊNDICE C), abordando uma variedade de aspectos relacionados à comunicação com pacientes autistas. Essa abordagem permitiu obter uma compreensão abrangente da perspectiva dos profissionais de enfermagem nas Unidades Básicas de Saúde e no Hospital do município de Bonito de Santa Fé, no Estado da Paraíba.   

Instrumento e coleta de dados  

O instrumento utilizado para a pesquisa foi um questionário semiestruturado com um roteiro previamente estabelecido, que abordam o objetivo do estudo.  

A entrevista é um método utilizado por pesquisadores, com o intuito de colher informações sobre um determinado assunto, por meio de indagações aplicadas aos entrevistados de modo profissional (MARCONI; LAKATOS, 2010).  

Aspectos éticos e legais  

O projeto foi encaminhado ao Comitê de Ética em Pesquisa (CEP) com Seres Humanos do Centro Universitário Santa Maria, sendo este um órgão Institucional, criado e mantido para garantir padrões éticos no desenvolvimento de pesquisa.   

Para realização desse estudo foi observado os pressupostos da resolução 510/2016 do Conselho Nacional de saúde (CNS)/MS que trata de pesquisas e testes em seres humanos (BRASIL, 2016).  

Ao primeiro contato com os participantes, será esclarecido todos os aspectos relativos à pesquisa, em seguida, será fornecido o TCLE (APÊNDICE B), onde o mesmo apresentará a proposta do estudo através de uma linguagem acessível e objetiva, que permitirá o melhor entendimento dos sujeitos, assegurando-lhes a importância de sua participação no estudo, assim como liberdade de participar ou não, o direito a desistência bem como o sigilo durante qualquer fase da pesquisa, sem danos a sua assistência, trabalho, família ou imagem. Além da solicitação de publicação dos resultados em eventos científicos acadêmicos.   

4. RESULTADOS E DISCUSSÃO

O total de participantes envolvidos na pesquisa foi de 25 indivíduos, 11 profissionais de saúde e 14 puérperas, os quais foram submetidos a uma análise detalhada de seus dados sociodemográficos, proporcionando uma compreensão abrangente do perfil demográfico dos participantes.

Dados sociodemográficos dos participantes

Em relação à idade, houve um predomínio de puérperas na faixa etária de 20-29 anos (50%), seguido de 40 anos ou mais (35,7%). A menor representação está entre 30-39 anos (14,3%), o que pode refletir padrões regionais ou sociodemográficos de gravidez.

Gráfico 04: Distribuição das participantes puérperas por Faixa etária, Bonito de Santa Fé, 2024.

Fonte: Pesquisa direta, 2024.

No que diz respeito ao estado civil, a maioria das entrevistadas são solteiras (50%), seguidas de casadas (42,9%). Apenas 7,1% estão em união estável, evidenciando diversidade nos contextos familiares.

Gráfico 04: Distribuição das participantes puérperas por Estado Cívil, Bonito de Santa Fé, 2024.

Fonte: Pesquisa direta, 2024.

Referente à escolaridade, há uma prevalência de baixo nível educacional, com 42,9% apresentando ensino fundamental incompleto. A porcentagem de puérperas com ensino superior completo ou pós-graduação é baixa (7,1% cada), o que pode influenciar no acesso à informação sobre direitos e práticas de humanização no parto.

A respeito da renda familiar mensal, a maior parte (64,3%) vive com menos de um salário mínimo, reforçando a vulnerabilidade econômica dessa população. Apenas 35,7% possuem renda de um a dois salários mínimos, o que pode impactar o acesso a serviços e qualidade do cuidado.

Em se tratando dos profissionais de saúde, a distribuição entre as categorias profissionais participantes do estudo é equilibrada, com maior participação de técnicos em enfermagem (45,5%), seguido por enfermeiros (36,3%) e médicos (18,2%). Isso reflete a composição das equipes obstétricas, onde os técnicos e enfermeiros desempenham papéis fundamentais nos cuidados contínuos às gestantes, conforme gráfico 01.

Gráfico 01: Distribuição dos profissionais de saúde por Categoria Profissional, Bonito de Santa Fé, 2024.

Fonte: Pesquisa direta, 2024.

RESULTADOS DA ENTREVISTA REALIZADA COM OS PROFISSIONAIS

Experiência e familiaridade com o Plano de Parto

Em relação ao Tempo de Experiência na Obstetrícia, há duas faixas predominantes: profissionais com 1-5 anos (45,5%) e com mais de 10 anos (45,5%), enquanto apenas 9% têm entre 6-10 anos de experiência. Essa divisão indica uma coexistência de profissionais iniciantes e experientes, o que pode influenciar na diversidade de práticas e visões sobre o tema, podendo ser visualizado no gráfico 02.

Gráfico 02: Distribuição dos profissionais de saúde por Tempo de Experiência na Obstetrícia, Bonito de Santa Fé, 2024.

Fonte: Pesquisa direta, 2024.

A diversidade no tempo de experiência dos profissionais pode influenciar as práticas, com profissionais mais experientes talvez tendo maior resistência a mudanças, enquanto os mais novos podem carecer de treinamento adequado.

Contudo, todos os participantes (100%) afirmaram estar familiarizados com o plano de parto, o que demonstra que o conceito é amplamente conhecido entre os profissionais da área.

O Plano de Parto é uma das principais recomendações da Organização Mundial da Saúde (OMS), estabelecidas desde 1996 sob o título “Boas Práticas de Atenção ao Parto e Nascimento”. Seu objetivo é reformular e humanizar a assistência obstétrica em todo o mundo. Este documento possui caráter formal e legal, permitindo que as gestantes compartilhem, de forma antecipada, suas preferências e expectativas em relação aos cuidados que desejam receber durante o trabalho de parto e o nascimento. Ao considerar seus valores, desejos e necessidades individuais, o Plano de Parto busca minimizar intervenções não desejadas (MEDEIROS et al., 2019).

No que diz respeito à elaboração do Plano, apenas 36,3% afirmam ajudar regularmente os pacientes a elaborar o plano de parto, enquanto 36,3% ajudam às vezes e 27,4% não participam desse processo. Isso revela uma lacuna significativa entre o conhecimento e a aplicação prática do plano de parto, indicando barreiras como falta de tempo, treinamento ou recursos institucionais, conforme exposto no gráfico 03.

A assistência ao parto deve ser baseada na segurança e fundamentada em evidências científicas, buscando promover a autonomia das mulheres e transformar positivamente essa experiência única tanto para elas quanto para os profissionais envolvidos. Observa-se, no entanto, uma escassez de estudos na área da Enfermagem que abordem as boas práticas no parto vaginal associadas à atuação da Enfermagem Obstétrica e ao modelo de assistência hospitalar. Nesse sentido, este trabalho busca contribuir para a melhoria da assistência obstétrica no município de Belo Horizonte, incentivando uma reflexão sobre os sujeitos envolvidos e as práticas realizadas ao longo do trabalho de parto, parto e nascimento (SILVA et al., 2019).

Gráfico 03: Distribuição dos profissionais de saúde quanto a Elaboração do Plano de Parto, Bonito de Santa Fé, 2024.

Fonte: Pesquisa direta, 2024.

A maioria dos profissionais (91%) atribuiu nota máxima (10) à importância do plano de parto na humanização do parto e prevenção da violência obstétrica, enquanto apenas 9% deram nota 7.

Esse resultado reflete o reconhecimento teórico da relevância do plano de parto, reforçando seu papel como ferramenta essencial para assegurar o respeito à autonomia da mulher e melhorar a experiência do parto.

Ao que diz respeito a aplicação dos princípios da humanização do parto, os resultados apontam uma percepção preocupante entre os profissionais sobre a aplicação dos princípios da humanização do parto na prática, onde mais da metade (54,7%) dos participantes considera que os princípios da humanização do parto são aplicados apenas ocasionalmente. Isso indica que, embora esses princípios estejam sendo discutidos e implementados em alguns contextos, sua aplicação ainda não é consistente e depende de fatores variáveis, como a equipe, recursos disponíveis ou condições institucionais.

Uma parcela significativa (36,3%) afirma que esses princípios não são aplicados. Esse dado revela falhas estruturais e culturais no ambiente obstétrico, como:

  • Resistência de profissionais às mudanças no modelo de assistência;
  • Falta de treinamento adequado;
  • Protocolos desatualizados que priorizam práticas intervencionistas em vez de centradas na paciente.

Apenas uma pequena minoria (9%) acredita que os princípios da humanização são adequadamente aplicados em sua prática. Esse dado reflete que iniciativas bem-sucedidas são exceções, possivelmente associadas a profissionais ou instituições mais alinhadas às diretrizes humanizadas.

RESULTADOS DA ENTREVISTA REALIZADA COM AS PUÉRPERAS

Experiência com o Plano de Parto

Quando indagadas a respeito do conhecimento sobre o Plano de Parto, a maioria das puérperas (64,3%) nunca ouviu falar sobre o plano de parto, evidenciando uma falha no acesso à informação.

Para promover a autonomia feminina, é fundamental que os profissionais de saúde atuem em favor do empoderamento das mulheres. Isso implica em oferecer informações e apoio, permitindo que elas fortaleçam sua cidadania. O empoderamento feminino amplia a compreensão das mulheres sobre suas condições sociais e de saúde, além de reforçar a percepção de seu papel na sociedade. Com isso, elas se tornam aptas a transformar as dinâmicas de poder existentes e a fazer escolhas conscientes em suas vidas (SILVA, NASCIMENTO, COELHO, 2015).

Entre as que conhecem o plano, 42,9% elaboraram um, indicando barreiras para sua implementação, seja pela falta de apoio institucional ou dificuldade de acesso a profissionais capacitados.

O apoio é fornecido principalmente por enfermeiras (42,9%), seguido por obstetras (21,5%) e doulas (7,1%), demonstrando a importância do papel das enfermeiras na orientação das gestantes.

Em um estudo realizado por Kottwitz, Gouveia e Gonçalves (2018) é ressaltado a importância de expandir os processos educativos voltados tanto para os profissionais de saúde quanto para as gestantes. Isso é fundamental para capacitá-las acerca de seu próprio corpo e auxiliá-las a tomar decisões informadas durante o parto. Nesse cenário, a atuação da Enfermagem Obstétrica se mostra essencial no processo educativo perinatal.

Ao fortalecer a presença e o papel desses profissionais, é possível diminuir a desigualdade de informações entre a equipe de saúde e a gestante durante o trabalho de parto.

Respeito e Satisfação com o Parto

A maioria das puérperas (64,3%) se sentiu respeitada e ouvida, embora 28,6% tenham relatado respeito parcial e 7,1% não se sentiram respeitadas, indicando que ainda há falhas na humanização do parto.

Metade das mulheres (50%) afirmou que o plano foi seguido, mas 28,6% indicaram seguimento parcial e 21,5% disseram que ele não foi respeitado, revelando a necessidade de maior comprometimento dos profissionais com as preferências da gestante.

A satisfação foi alta, com 42,9% atribuindo nota 10 e 21,5% nota 8. No entanto, uma pequena parcela deu notas baixas (7,1% atribuiu notas entre 1 e 5), refletindo experiências negativas.

O parto é um processo tanto fisiológico quanto biossocial, que abriga diversas características culturais, sociais, emocionais e afetivas. Em cada cultura, esse evento reflete os valores que moldam a realidade de um grupo. É nesse momento que a mulher passa a se identificar como mãe, intensificando sua identidade feminina. Assim, observa-se que as expectativas das mães e as condições em que seus filhos nascem influenciam significativamente se essa experiência será vivenciada de forma positiva ou negativa (GAMA et al., 2009).

Violência Obstétrica

A maioria (71,4%) não sofreu violência obstétrica, mas 21,5% relataram sim e 7,1% não tiveram certeza, mostrando que ainda existem práticas desrespeitosas no atendimento.

As principais formas foram intervenções médicas sem consentimento (66,7%) e comentários desrespeitosos ou humilhantes (33%), enfatizando a importância de uma abordagem mais humanizada. A maioria (85,8%) acredita que o plano ajudou a prevenir a violência obstétrica, destacando seu potencial como ferramenta de empoderamento e humanização.

As manifestações de violência obstétrica se concretizam através de tratamentos desumanos que são impostos às mulheres. O abuso físico, por exemplo, é frequentemente evidenciado em intervenções invasivas, como cesáreas agendadas sem justificativa médica, episiotomias desnecessárias e toques vaginais que causam dor. Por outro lado, a violência verbal se manifesta por meio de uma comunicação desrespeitosa e desprovida de empatia, que desvaloriza os desejos e as emoções da mulher. Os tipos de violência podem variar, sendo que os mais comuns incluem abandono, discriminação, limitações à liberdade de escolha, invasão da privacidade e descaso em relação aos cuidados que devem ser oferecidos (TESSER et al., 2015).

5. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Pode-se afirmar que, os resultados indicam avanços no cuidado obstétrico, mas também revelam desafios, tais como desinformação sobre o plano de parto que, apesar de ser reconhecido como uma ferramenta de prevenção da violência obstétrica, a maioria das puérperas não tem acesso ou conhecimento sobre ele. Assim como, inconsistência na humanização do parto, pois, embora a maioria tenha se sentido respeitada, ainda há relatos de condutas profissionais inadequadas e falhas na adesão às preferências da mulher. Ainda, desigualdade social, evidenciadas por baixa escolaridade e baixa renda, sendo esses fatores que limitam o acesso à informação e a práticas humanizadas.

A pesquisa evidencia que, os profissionais têm conhecimento sobre o plano de parto, mas há discrepância na implementação prática. Isso pode ser atribuído a fatores como falta de integração da ferramenta nas rotinas hospitalares ou baixa adesão da equipe interdisciplinar.

Logo, apesar de reconhecerem sua importância para a humanização do parto, nem todos os profissionais se envolvem diretamente no processo, o que limita os benefícios que o plano de parto pode oferecer às pacientes.

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APÊNDICE