IMPLANTES EM HÉRNIAS INGUINAIS: COMPARAÇÃO ENTRE TELAS AUTOFIXANTES E POLIPROPILENO

REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/th102501030922


Lucas Wu1
 Ulisses Freire Vieira2
 Daniel Galdino da Rocha Almeida3
 Ana Paula Ferraz Toledo4
 Gustavo Mestriner de Souza5
 Felipe dos Santos Saboya6
 Vinícius Nivoloni7
 Gustavo Correia de Lima8
 Claudemir Borsato de Carvalho Neto9
 Marcela Lie Kavano10
 Mateus Hoelz Borghi11
 Murilo Passos dos Reis Ervilha12
 Felipe Fernando Martins Russi13
 Nicole Zamolo Duque14
 Rodrigo Roma Teixeira da Cunha15


Resumo

As hérnias inguinais estão entre as condições cirúrgicas mais comuns, e seu reparo é uma prática amplamente realizada nos centros cirúrgicos ao redor do mundo. A escolha do material empregado no reparo é crucial para o sucesso da cirurgia e a recuperação do paciente. Atualmente, as telas cirúrgicas são as principais alternativas, divididas em dois grupos principais: telas autofixantes e telas de polipropileno, cada uma com características, vantagens e limitações específicas. Este estudo visa comparar os resultados clínicos do uso dessas duas telas no tratamento de hérnias inguinais, com ênfase nos efeitos sobre a dor pós-operatória, complicações e taxas de recidiva. O método utilizado foi uma revisão de literatura, com análise de ensaios clínicos e estudos observacionais publicados nos últimos cinco anos. Os resultados mostram que as telas autofixantes estão associadas a menor dor pós-operatória e recuperação mais rápida devido à sua fixação sem sutura, reduzindo o trauma tissular e o risco de complicações, como lesões nervosas. Contudo, seu custo elevado e a limitação em casos de maior complexidade devem ser considerados, especialmente em cenários de saúde com recursos limitados. Em contrapartida, as telas de polipropileno, amplamente usadas devido ao baixo custo, apresentam taxas de recidiva aceitáveis e resultados satisfatórios, embora possam causar maior desconforto no pós-operatório devido à necessidade de suturas ou grampos para fixação. Concluindo, a escolha entre telas autofixantes e de polipropileno deve ser individualizada, considerando o perfil do paciente, o tipo de hérnia e a experiência do cirurgião. Enquanto as telas autofixantes são mais indicadas para pacientes que priorizam uma recuperação rápida e menos dolorosa, as de polipropileno continuam sendo uma opção sólida, sobretudo em cenários onde o custo-benefício é um fator essencial.

Palavras-chave: Telas autofixantes; Telas de polipropileno; Hérnias inguinais; Cirurgia.

1. Introdução

As hérnias inguinais representam uma das condições mais frequentes tratadas por cirurgiões, com milhões de procedimentos sendo realizados anualmente. A correção cirúrgica é o tratamento de escolha, e, tradicionalmente, as telas de polipropileno (PP) têm sido amplamente empregadas devido à sua eficácia e durabilidade. No entanto, o uso dessas telas está associado a algumas complicações, como dor pós-operatória e desconforto causado pela fixação com grampos ou suturas.

Nos últimos anos, as telas autofixantes (Self-Gripping Mesh – SGM) foram introduzidas como uma alternativa inovadora, dispensando o uso de fixadores mecânicos e potencialmente reduzindo complicações como dor e tempo operatório. Esta revisão de literatura tem como objetivo analisar e comparar os benefícios e limitações das telas autofixantes em relação às telas de polipropileno, com foco em fatores como dor pós-operatória, complicações e tempo de recuperação.

2. Método

Este estudo consiste em uma revisão de literatura baseada em artigos científicos publicados entre 2019 e 2024, com foco em comparações entre telas de polipropileno e telas autofixantes no reparo de hérnias inguinais. A busca foi realizada em bases de dados como PubMed, Scielo e Google Scholar, utilizando os seguintes termos: Telas autofixantes; Telas de polipropileno; Hérnias inguinais; Cirurgia.

Foram incluídos estudos clínicos, revisões sistemáticas e meta-análises publicados nos últimos cinco anos, que comparassem o uso de telas autofixantes e telas de polipropileno em pacientes submetidos a correção de hérnias inguinais. Estudos com populações pediátricas, bem como aqueles que abordavam outras técnicas cirúrgicas (laparoscopia ou robótica), foram excluídos.

Os artigos foram analisados e seus dados extraídos de forma sistemática, com foco em três principais desfechos: intensidade da dor pós-operatória, taxa de complicações (infeções, seromas, recidivas) e tempo de recuperação. Os resultados foram agrupados e apresentados em forma de síntese descritiva e gráficos comparativos.

3. Resultados

O estudo de Sankar (2024) não encontrou diferenças significativas nas variáveis demográficas entre os dois grupos. O grupo com malha de poliéster autofixante  apresentou tempos operatórios significativamente mais curtos (67,2 minutos vs. 88,1 minutos), menores escores de dor pós-operatória (3,30 vs. 4,60) e períodos de internação hospitalar mais curtos (3,2 dias vs. 5,2 dias) em comparação ao grupo com malha de polipropileno suturada. As taxas de formação de seroma e de recorrência de hérnia não diferiram significativamente entre os grupos. A análise de regressão multivariada indicou que o tipo de malha foi um preditor significativo para os escores de dor pós-operatória, com a malha autofixante associada a menor dor.

Os estudos revisados sugerem que a taxa de complicações, como hematoma e infecção, tende a ser semelhante entre os dois tipos de telas. No entanto, estudos de Matikainen (2022) sugerem uma incidência ligeiramente menor de hematomas e infecções no grupo das telas autofixantes, provavelmente devido à ausência de suturas e grampos.

Fonte: Sankar et al. Cureus 16(8): e66896. DOI 10.7759/cureus.66896, 2024

Fonte: Sankar et al. Cureus 16(8): e66896. DOI 10.7759/cureus.66896, 2024

4. Considerações Finais

A revisão da literatura científica revela que as telas autofixantes oferecem vantagens importantes em relação às telas de polipropileno, especialmente em termos de menor dor pós-operatória e recuperação mais rápida. A ausência de necessidade de fixação com suturas ou grampos parece resultar em menos trauma tecidual, o que explica essas melhorias. No entanto, o custo mais elevado das telas autofixantes permanece uma limitação importante, e sua indicação deve ser ponderada com base nas condições clínicas do paciente e nas preferências do cirurgião.

Além disso, enquanto os desfechos iniciais são promissores para as telas autofixantes, ainda faltam estudos de longo prazo que comparem diretamente a durabilidade e a taxa de recidiva das telas em um período superior a cinco anos. O custo-benefício dessas telas deve continuar sendo avaliado em futuros estudos clínicos randomizados de grande escala.

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