IMPLANTAÇÃO DE SERVIÇO AMBULATORIAL DE FISIOTERAPIA NEUROFUNCIONAL PARA REABILITAÇÃO DE PACIENTES PÓS CIRÚRGICOS – RELATO DE EXPERIÊNCIA

IMPLEMENTATION OF AN OUTPATIENT NEUROFUNCTIONAL PHYSIOTHERAPY SERVICE FOR THE REHABILITATION OF POST SURGICAL PATIENTS – EXPERIENT REPORT

IMPLEMENTACIÓN DE UN SERVICIO DE FISIOTERAPIA NEUROFUNCIONAL AMBULATORIA PARA LA REHABILITACIÓN DE PACIENTES POSQUIRÚRGICOS – RELATO DE EXPERIENCIA 

REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.8118346


Carla Nogueira Soares1; Lorena de Oliveira Tannus2; Lucas Altino de Sousa3; Adriana de Castro Lima4; Bruno Russo Porchera5; Juliana Ruffeil Tavares Hesket6; Thiago Cardoso Vianna7; Brenda Ramos de Souza8; Priscila Xavier de Araujo9


RESUMO

Pacientes que passaram por intervenção cirúrgica neurológica possivelmente precisarão de reabilitação para restaurar suas funções, mobilidade e sua independência funcional após os procedimentos cirúrgicos realizados.  A fisioterapia vem avançando diariamente no campo da reabilitação neurofuncional, buscando cada dia técnicas mais atuais nos tratamentos das sequelas neurológicas. Este artigo científico tem como objetivo delinear a implantação de um serviço ambulatorial de fisioterapia neurofuncional (AFN) no Município de Marabá, no estado do Pará. Este serviço especializado e individualizado, será implantado para pacientes pós-cirúrgicos no intuito de agilizar o atendimento logo após alta hospitalar, minimizando o efeito das sequelas temporárias e ou permanentes. Através de seus serviços, o AFN busca fornecer tratamento especializado e individualizado para os pacientes e seus familiares e/ou cuidadores. Os primeiros atendimentos demonstraram pacientes com faixa etária entre 18 e 80 anos. Em relação ao sexo identificou- se 80% do sexo masculino e 20% do sexo feminino. As patologias mais atendidas são Acidentes Vascular Encefálico e Traumatismo Crânio Encefálico. Sobre o número total de atendimentos foram 88. Além disso, observou-se que houveram 18 faltas registradas (P1:2, P2:4, P3:4, P4:2, P5:2) e 1 desistência (P3). Sendo assim, o processo de implantação do serviço ambulatorial frente ao atendimento de pacientes com sequelas neurológicas que aguardavam há alguns meses na fila para atendimento, tem sido de extrema importância para a reabilitação e reinserção destes pacientes para a sociedade.

Palavras-chave: pós-cirúrgico, ambulatório, fisioterapia neurofuncional.

ABSTRACT

Patients who underwent neurological surgical intervention will possibly need rehabilitation to restore their functions, mobility and functional independence after the surgical procedures performed. Physical therapy has been advancing daily in the field of neurofunctional rehabilitation, seeking more current techniques in the treatment of neurological sequelae. This scientific article aims to outline the implementation of an outpatient neurofunctional physiotherapy (AFN) service in the Municipality of Marabá, in the state of Pará. This specialized and individualized service will be implemented for post-surgical patients in order to speed up the care immediately after hospital discharge, minimizing the effect of temporary and/or permanent sequelae. Through its services, the AFN seeks to provide specialized and individualized treatment for patients and their families and/or caregivers. The first consultations showed a patient aged between 18 and 80 years. Regarding gender, 80% were male and 20% were female. The most attended pathologies are Stroke and Traumatic Brain Injury. Of the total number of attendances, there were 88. In addition, it was observed that there were 18 absences recorded (P1:2, P2:4, P3:4, P4:2, P5:2) and 1 withdrawal (P3). Therefore, the process of implementing the outpatient service in relation to the care of patients with neurological sequelae who had been waiting in line for a few months for care has been extremely important for the rehabilitation and reintegration of these patients into society.

Keywords: post-surgical, outpatient, neurofunctional physiotherapy.

RESUMEN

Patients who underwent neurological surgical intervention will possibly need rehabilitation to restore their functions, mobility and functional independence after the surgical procedures performed. Physical therapy has been advancing daily in the field of neurofunctional rehabilitation, seeking more current techniques in the treatment of neurological sequelae. This scientific article aims to outline the implementation of an outpatient neurofunctional physiotherapy (AFN) service in the Municipality of Marabá, in the state of Pará. This specialized and individualized service will be implemented for post-surgical patients in order to speed up the care immediately after hospital discharge, minimizing the effect of temporary and/or permanent sequelae. Through its services, the AFN seeks to provide specialized and individualized treatment for patients and their families and/or caregivers. The first consultations showed a patient aged between 18 and 80 years. Regarding gender, 80% were male and 20% were female. The most attended pathologies are Stroke and Traumatic Brain Injury. Of the total number of attendances, there were 88. In addition, it was observed that there were 18 absences recorded (P1:2, P2:4, P3:4, P4:2, P5:2) and 1 withdrawal (P3). Therefore, the process of implementing the outpatient service in relation to the care of patients with neurological sequelae who had been waiting in line for a few months for care has been extremely important for the rehabilitation and reintegration of these patients into society.

Palabras clave: postoperatorio, consulta externa, fisioterapia neurofuncional.

1. INTRODUÇÃO

Entende-se por doenças neurológicas patologias que acometem o sistema nervoso central e sistema nervoso periférico incluindo alterações do encéfalo, dos nervos periféricos, medula espinhal e da junção neuromuscular. Sua origem pode ser diversa: genética ou hereditária e congênita, ou seja, durante o desenvolvimento embrionário ocorreu uma alteração na formação do sistema nervoso central ou periférico; e a forma adquirida, ou seja, irá surgir, devido a influência do ambiente, durante as diferentes fases da vida. A doença neurológica compõe os seguintes grupos: as doenças vasculares; doenças desmielinizantes; doenças infecciosas; tumores do sistema nervoso central ou periférico; traumatismos cranianos encefálicos ou raquidianos; doenças inflamatórias; alterações do desenvolvimento e doenças degenerativas (Martins et al, 2019).

Algumas patologias Neurológicas, dentre elas o Acidente Vascular Encefálico (AVE) e o Traumatismo Crânio Encefálico, necessitam de tratamentos cirúrgicos. As neurocirurgias têm como finalidade tratar o que está causando o dano através dos procedimentos como craniotomia, craniectomia e/ou trepanação. Nas neurocirurgias, também podem ocorrer a inserção de cateteres intracranianos para que haja a drenagem ventricular e/ou monitoramento da pressão intracraniana (PIC), em situações de hipertensão craniana (Rodrigues,2016).

Os danos neurológicos que decorrem das lesões acabam por limitar o desempenho das funções do indivíduo, podendo causar consequências importantes no âmbito familiar, na qualidade de vida e nas relações pessoais. A capacidade funcional do indivíduo desenvolver tarefas simples do dia-a-dia podem ser significativamente prejudicadas pelas sequelas deixadas por estes danos (Martins et al, 2019).

Assim a reabilitação é de suma importância no processo de saúde do paciente. Nesta etapa, a fisioterapia tem grande relevância na reinserção desses pacientes no contexto social, uma vez que o fisioterapeuta é o responsável não somente pela realização do diagnóstico cinético-funcional e tratamento fisioterapêutico mais adequado a cada caso, como também pela orientação ao paciente e seu cuidador num contexto de atendimento humanizado que envolve o paciente e a família

A Fisioterapia Neurofuncional é bem difundida na atualidade, com surgimento na década de 40 por meio de pesquisadores como Rood, Kabat e Knott, Brunnstrom e Bobath. No passado as informações eram obtidas de forma empírica, ou seja, baseada em experiências clínicas. Entretanto, atualmente está embasada em conceitos neurofisiológicos que são obtidos após condutas bem-sucedidas, a partir de pesquisas intensas e trabalho árduo baseado em evidências, onde o tratamento está direcionado para a recuperação funcional do paciente (Leal,2016).

De acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS) entende-se por reabilitação medidas que auxiliam pessoas com incapacidades ou com possibilidades de adquirir alguma deficiência a manterem sua funcionalidade ideal no seu dia a dia (Caetano et al, 2018).

O termo reabilitação pode ser entendido de acordo com duas maneiras: como procedimentos voltados ao indivíduo e como trabalho onde as condutas de reabilitação são empregadas. Ainda de acordo com o Ministério da Saúde, entende-se que reabilitar é uma união de conjuntos e ações que são orientadas e desenvolvidas com objetivo de melhorar e/ou devolver ao indivíduo a sua capacidade funcional, bem como desenvolver potencialidades, habilidades, aptidão física, cognitivas, sensoriais, dentre outras, contribuindo então para a autonomia e reinserção do indivíduo na sociedade. Contudo, a habilitação/reabilitação é fundamentada numa abordagem interdisciplinar, agregando o envolvimento de profissionais, cuidadores e familiares no processo de cuidar. (BRASIL, entre 2013 e 2018).

Os centros de reabilitação iniciaram sua implantação no Brasil já no final da década de 50, com a implantação de um centro de demonstração de técnicas de reabilitação da Organização Mundial de Saúde, instalado no Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo, em 1956. Este modelo baseava-se numa proposta de concepção médica sobre as incapacidades e a reabilitação física, o que legitimava o modelo hegemônico de reabilitação no Brasil. (Machado et al, 2018)

Uma pesquisa exploratória desenvolvida por Sousa (2015) aponta vantagens e desvantagens na implantação de um centro de reabilitação (CER). A pesquisa foi realizada entre janeiro e março de 2014 em 5 municípios que compõem a microrregião I da região Centro Sul Fluminense no Rio de Janeiro. Foram selecionados 27 participantes que desempenham a função de gestão em seus municípios e que estavam ligados diretamente com a temática teórica da Política Nacional de Saúde da Pessoa com Deficiência. Foram apontadas pelos gestores algumas vantagens como: facilidade de acesso e oferta de serviços especializados, e compreenderam a importância da implantação como uma iniciativa relevante para os usuários do programa de reabilitação. Foram apontadas como vantagens administrativas a garantia de serviço de qualidade e baixo custo, e melhoria no setor de transporte.

Nos últimos anos houve um aumento significativo no número de cirurgias neurológicas realizadas em todo o mundo, resultando em uma crescente demanda por cuidados de reabilitação especializados. A intervenção fisioterapêutica no pós-operatório é essencial, pois contribui para aprimorar a habilidade motora, incluindo velocidade, destreza e coordenação dos movimentos, resultando em uma melhoria significativa na qualidade de vida dos pacientes (RIBEIRO, 2021).

Diante disso, eis que surge a seguinte questão: como a implantação de um ambulatório especializado em fisioterapia neurofuncional auxiliaria na melhora da qualidade de vida e reinserção destes pacientes neurológicos na sociedade?

Sendo assim, objetiva-se relatar a experiência acerca do desenvolvimento e implantação do Ambulatório de Fisioterapia Neurofuncional (AFN) no município de Marabá, Estado do Pará, contribuindo para pais, cuidadores, familiares e profissionais da área da saúde, referente a pacientes com sequelas neurológicas, para que posteriormente esse ambulatório torne-se um centro de referência em reabilitação composto por uma equipe multidisciplinar.

2. RELATO DE EXPERIÊNCIA

2.1 IDEALIZAÇÃO DO PROJETO

O AFN surgiu a partir da idealização de um serviço voltado para dar assistência a pacientes adultos e pediátricos com sequelas neurológicas que não têm acesso ao serviço privado de reabilitação devido às condições socioeconômicas. Este projeto visualiza o apoio de instituições de ensino particulares que ofertam o curso de fisioterapia através de estágio e projeto de extensão. O serviço ambulatorial de fisioterapia neurofuncional foi implantado no Posto de Saúde São Padre Pio dos Capuchinhos na Clínica de Fisioterapia Center Fisio Frei Hernane, que tem suas atividades atreladas à filantropia. 

Inicialmente, ocorriam atendimentos voltados apenas para área da especialidade de fisioterapia em ortopedia, porém, observou-se a grande demanda relacionada a pacientes neurológicos que estavam cadastrados e aguardavam serem chamados para iniciarem o tratamento fisioterapêutico. Essa espera demorava meses, e quando esses pacientes eram chamados, as sequelas já estavam em graus mais avançados causando grandes prejuízos funcionais. 

Vale ressaltar que no município de Marabá não há serviço ambulatorial especializado em reabilitação neurofuncional voltado a pacientes de baixa renda, logo, os pacientes necessitam ser cadastrados no serviço público do município e aguardam serem regulados para clínicas particulares prestadoras de serviço para prefeitura municipal. 

O AFN surge com a finalidade de garantir as ações de cuidado continuado e integrar a rede de atenção à saúde desta população. Buscando através do atendimento ambulatorial fornecer educação em saúde, prestar cuidado direto, prevenir intercorrências e complicações, além de minimizar o estresse familiar e auxiliar no acesso a recursos de assistência (CUNHA, et al., 2022).

Procedimentos Operacionais Padrão (POPs) foram elaborados e publicados em formato de livro digital. O serviço foi inaugurado após autorização do posto, elaboração e publicação dos POPs, iniciando-se os atendimentos seguindo as determinações do POP de agendamento. Atendimentos iniciais foram registrados com objetivo de validar o serviço.

2.2 A INSERÇÃO SOCIAL

O desenvolvimento e implantação do diminuiu o tempo de espera de pacientes com sequelas neurológicas permanentes ou temporárias, que necessitavam de reabilitação logo após a alta hospitalar, tendo como benefício a recuperação mais rápida de suas capacidades cinético funcional e minimizando os efeitos deletérios das sequelas já instaladas. 

2.3 DESENVOLVIMENTO DOS PROCEDIMENTOS OPERACIONAIS PADRÃO (POPS)

A assistência a pacientes neurológicos com sequelas permanentes ou temporárias requer competências e habilidades específicas. É de suma importância o acompanhamento individualizado destes pacientes bem como de sua família ou cuidadores.

A garantia dessa assistência padronizada, deu-se através do desenvolvimento dos POPs. De acordo com o Ministério da Saúde, os serviços de saúde devem seguir normas e diretrizes determinadas por critérios técnicos (BRASIL, 2015). Neste contexto, é imprescindível a padronização de cada ação desenvolvida pelo AFN, objetivando garantir qualidade ao serviço que será prestado e que a rotina seja seguida dentro do ambulatório. 

Foram desenvolvidos 11 POPs, classificados em POPs de organização, de atendimento, de medidas de proteção, de limpeza e higiene e outros POPs, publicados em formato de livro digital por Soares e colaboradores (2022).

2.4 ATENDIMENTOS INICIAIS – PERFIL DOS PACIENTES

Após o desenvolvimento e aprovação dos POPs, o serviço foi inaugurado e iniciou-se os atendimentos. A tabela 1 descreve informações relacionadas aos primeiros pacientes atendidos no serviço que apresentam sequelas instaladas. 

Tabela 1 – Dados dos primeiros atendimentos de pacientes neurológico do AFN

PacientesSexoIdadePatologias de baseCirurgiasNº de AtendimentosFaltas
P1M62Acidente Vascular Encefálico Isquêmico (AVCI)Nega266
P2M70Acidente Vascular Encefálico Isquêmico (AVCI)Nega244
P3M65Acidente Vascular Encefálico IsquêmicoNega104
P4F58Aneurisma + Acidente Vascular Encefálico HemorrágicoDrenagem Hematoma Subdural142
P5F18Traumatismo Crânio EncefálicoCraniotomia102
P6M80Acidente Vascular Encefálico IsquêmicoNega40

Fonte: Dados dos Autores (2023)

3. DISCUSSÃO

Os dados obtidos na tabela 1 indicam variação na faixa etária dos pacientes entre 18 e 80 anos. Em relação ao sexo identificou-se 4 homens (66,7%) e 2 mulheres (33,3%). Sobre o número total de pacientes foram 6 pacientes, totalizando 88 atendimentos. Observou-se durante esse período um alto índice de faltas totalizando 18 faltas. É importante ressaltar que os pacientes eram atendidos duas vezes por semana, e que, durante esse período houve apenas uma desistência do tratamento (P3).

Analisando a etiologia das condições de saúde dos pacientes atendidos, constatou-se que 4 (66,6%) se deram devido a AVCI, 1 (16,7%) devido a AVCH e 1 (16,7%) devido acidente de trânsito (motocicleta).

As doenças cardiovasculares são consideradas a principal causadora de morte no mundo. Fazendo parte do grupo dessas doenças, evidencia o Acidente Vascular Encefálico (AVE) isquêmico ou hemorrágico. Os AVEs isquêmicos são os mais comuns, e correspondem a 80% dos casos; os outros 20% correspondem aos hemorrágicos. Um quinto de todos os AVEs ocorrem em vasos da circulação posterior. Uma isquemia cerebelar de grande porte pode cursar com efeito de massa e aumentar de forma significativa o risco de hidrocefalia e compressão do tronco encefálico. A craniectomia é uma das alternativas de tratamento médico que quando realizada de forma precoce podem reduzir as complicações desse quadro. (MOON JW e HYUN DK, 2017).

De acordo com o Ministério da Saúde (2018) foi constatado que no primeiro semestre de 2018, o Nordeste contou com cerca de 20 mil internações por complicações do AVE. Com 5.992 casos, a Bahia ocupa a primeira posição no ranking de internações por AVE no Nordeste. Contabilizou-se que nos últimos três anos, aproximadamente 20 mil pessoas morreram por consequência do AVE no estado (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2018).

Embora estimar o prognóstico do AVE seja complexo, pacientes com infarto cerebelar têm tendência a apresentar melhores resultados do que pacientes com outros subtipos de AVE. A cirurgia é primordial nesses pacientes. Alguns autores evidenciam que o tratamento com cirurgia somente deve ser realizado quando o paciente apresentar redução importante do nível de consciência. Outros tendência a ser mais agressivos em suas condutas uma vez que se basearam nos sinais clínicos ou neurorradiológicos de deterioração que podem ser inespecíficos ou então detectados tardiamente (PALLESEN LP, et al., 2019).

Segundo Brown et al (2019) a craniectomia com ou sem inserção de Derivação Ventricular Externa (DVE) é um procedimento tido como eficiente na prevenção de lesões maciças posteriores a edema devido a acidente vascular encefálico de circulação posterior. Entende-se como craniectomia descompressiva um procedimento que visa reduzir a pressão intracraniana refratária, minimizando as lesões neurológicas.

Em um estudo de Martins et al (2019) o AVC é considerado uma das condições de saúde tida como mais prevalente. Corroborando com os achados deste estudo, Silveira e colaboradores (2019) demonstraram que referente ao diagnóstico, o mais prevalente foi o AVE (Acidente Vascular Encefálico), correspondendo a 7,36% (32 casos). Segundo os dados da OMS foi estimado que até 2030 o AVE continue sendo a segunda maior causa de mortes no mundo (Araújo, 2018). 

Em relação ao trauma envolvendo acidente motociclístico apresentado na tabela 1, um estudo de Nascimento, et al., (2020) demonstra que o mecanismo de trauma do TCE grave mais frequente se deu pelo acidente motociclístico, variando de acordo com a faixa etária, índice de desenvolvimento humano da região e gravidade do trauma.

O TCE é tido como uma importante causa de morte e incapacidade mundial, definido como um trauma externo sofrido na região do crânio que resulta em alteração cerebral. Sua prevalência se dá em indivíduos com idade inferior a 45 anos (Magalhães, et al., 2017). 

As sequelas deixadas pelo TCE agravam-se devido às alterações comportamentais que decorrem de lesões particularmente pequenas e pela média baixa da idade das vítimas, que no Brasil corresponde a indivíduos entre 20 e 29 anos de idade (de Almeida, et al., 2016). É estimado que no Brasil mais de um milhão de pessoas apresentem sequelas neurológicas irreversíveis decorrentes do TCE (Magalhães, et., al 2017).

Sendo assim a fisioterapia é necessária para estes indivíduos, tanto por AVE, quanto por trauma, pois garante melhor desempenho no ato motor como velocidade, destreza e coordenação dos movimentos, melhorando a qualidade de vida. Importante ressaltar que quanto mais cedo o tratamento for iniciado, maiores e melhores serão as chances deste indivíduo ter um melhor desempenho na reabilitação (Ribeiro, 2021).

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Os resultados obtidos reafirmam a importância da implantação de um serviço ambulatorial especializado na área neurofuncional, indo de encontro com os dados da literatura que descrevem que o tratamento fisioterapêutico quando iniciado precocemente tem melhor resposta minimizando as sequelas e maximizando a qualidade de vida do indivíduo. 

O processo de implantação do AFN frente ao atendimento de indivíduos com sequelas neurológicas demonstrou ser de extrema importância, visto que é possível minimizar o fluxo destes no aguardo para iniciar o tratamento de forma gratuita.

Além disso, a publicação do livro de POPs servirá como literatura de base para o desenvolvimento de livros de procedimentos futuros, considerando a inovação contida na implantação do AFN.

No tocante à educação, entende-se que para os acadêmicos de fisioterapia das instituições privadas do município este serviço se torna porta de estágio, a qual os alunos têm a oportunidade de lidar e desenvolver habilidades nos atendimentos de pacientes neurológicos.

Conclui-se então que o AFN promoveu mudança na oferta de atendimento gratuito para pacientes neurológicos, gerando melhora na qualidade de vida e reinserção social. 

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1Mestranda em Cirurgia e Pesquisa Experimental. Instituição: Universidade do Estado do Pará (UEPA). E-mail: carla.nsoares@aluno.uepa.br
2Mestre em Cirurgia e Pesquisa Experimental. Instituição: Universidade do Estado do Pará (UEPA). E-mail: tannuslorena@gmail.com
3Especialista em Ortopedia e Traumatologia. Instituição: Centro Universitário Anhanguera Marabá. E-mail: lucas_altino@live.com
4Especialista em Ortopedia e Traumatologia. Instituição: Centro Universitário Anhanguera de Marabá. E-mail: adrianadecastro-fisio@hotmail.com
5Graduando em Medicina. Instituição: Universidade do Estado do Pará (UEPA). E-mail: bruno_russow@hotmail.com
6Graduanda em Medicina. Instituição: Centro Universitário do Estado do Pará (CESUPA). E-mail: Juliana18250186@aluno.cesupa.be
7Mestrando em Cirurgia e Pesquisa Experimental. Instituição: Universidade do Estado do Pará (UEPA). E-mail: thiagocvianna@alunouepa.br
8Mestrando em Cirurgia e Pesquisa Experimental. Instituição: Universidade do Estado do Pará (UEPA). E-mail: brendaramosdesouza@gmail.com
9Doutora em Farmacologia. Instituição: Universidade do Estado do Pará (UEPA). E-mail: priscila.araujo@uepa.br