IMPACTOS PSICOSSOCIAIS DO DIABETES MELLITUS TIPO 1 EM PACIENTES DIAGNOSTICADOS: REVISÃO DE LITERATURA

PSYCHOSOCIAL IMPACTS OF TYPE 1 DIABETES MELLITUS IN DIAGNOSED PATIENTS: LITERATURE REVIEW

REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.10109923


Leide Maria Soares de Sousa¹
Nataly Araújo da Silva¹
Mayrla Cardielle Silva de Brito¹
Ana Clara Araújo Pessoa Santos¹
Bianca de Jesus Quintino¹
Sheylla Raquel Diniz Cavalcante Aguiar¹
Renata de Andrade Marques¹
George Antonios Ferreira Issa Haonat¹
Antonios George Issa Haonat Neto¹
Carolina Castello Branco de Andrade¹


RESUMO


Diabetes Mellitus tipo 1 é uma doença endócrina crônica que interfere em todo o metabolismo, ocorrendo devido mecanismos autoimunes e outras condições multifatoriais. Tal patologia é caracterizada como uma importante causa de morbidade de mortalidade prematura. É prevalente na infância e no início da adolescência, em torno dos quatro aos quatorze anos de idade. Os principais sintomas apresentados são poliúria, polidipsia, polifagia e emagrecimento. Normalmente, é uma importante causa de complicações e emergências clínicas. Nessas condições, torna-se necessário o acompanhamento com monitorização contínua da glicemia e o tratamento com base em insulinoterapia basal e prandial. Além disso, medidas não farmacológicas também devem ser instauradas, como mudança do estilo de vida, abrangendo acompanhamento físico e nutricional. Por ser uma patologia que não possui cura, o diagnóstico em crianças e adolescentes causa anseios no núcleo familiar, visto que suas rotinas estarão alteradas definitivamente. Dessa forma, o estudo apresenta como objetivo principal analisar as principais repercussões clínicas do DM1 no âmbito psicossocial.

Palavras-chave: Diabetes Mellitus. Insulina. Monitorização. Impactos.

ABSTRACT

Type 1 Diabetes Mellitus is a chronic endocrine disease that interferes with the entire metabolism, occurring due to autoimmune mechanisms and other multifactorial conditions. This pathology is characterized as an important cause of morbidity and premature mortality. It is prevalent in childhood and early adolescence, around four to fourteen years of age. The main symptoms presented are polyuria, polydipsia, polyphagia and weight loss. It is typically an important cause of complications and clinical emergencies. Under these conditions, continuous monitoring of blood glucose and treatment based on basal and prandial insulin therapy becomes necessary. In addition, non-pharmacological measures must also be implemented, such as lifestyle changes, including physical and nutritional monitoring. As it is a pathology that has no cure, the diagnosis in children and adolescents causes anxiety in the family, as their routines will be definitively changed. Therefore, the main objective of the study is to analyze the main clinical repercussions of DM1 in the psychosocial sphere.

Keywords: Diabetes Mellitus. Insulin. Monitoring. Impacts.

1. INTRODUÇÃO

Diabetes Mellitus (DM) é uma doença endócrina crônica, que interfere em todo o metabolismo e pode ser classificada em duas formas: DM tipo 1 e DM tipo 2. O Diabetes Mellitus tipo 1 ocorre devido mecanismos autoimunes e outras condições multifatoriais, que causam destruição das células beta do pâncreas, produtoras de insulina. Tal patologia se relaciona a uma problemática crescente no âmbito da saúde, sendo importante causa de morbidade de mortalidade prematura. (BRASÍLIA, 2019)

Trata-se de uma patologia predominante na infância, em especial no início da adolescência. O início da doença geralmente é súbito, causando uma variedade de sintomas, como: poliúria, polidipsia, polifagia e emagrecimento. Comumente, está relacionada a importantes complicações clínicas, devido lesões de órgãos-alvo pela hiperglicemia constante, ocasionando complicações micro e macrovasculares, tais como: nefropatia, retinopatia, neuropatia e aterosclerose. Em relação a emergências clínicas, a principal a ser destacada nesse contexto é a cetoacidose diabética. (GÓES; VIEIRA; JÚNIOR, 2007).

Por ser uma doença típica da infância e que apresenta a capacidade de cursar com complicações clínicas graves, é necessário o monitoramento constante da criança acometida, de forma que seja possível identificar sinais de gravidade precocemente e intervir de maneira adequada. Os principais sinais de gravidade que podem ser identificados são febre, vômitos persistentes, desidratação, perda de peso acentuada, diminuição do nível de consciência, hálito cetônico, hiperventilação e dor abdominal atípica. Para evitar tais intercorrências e sintomas graves, torna-se necessário o monitoramento constante da glicose com o auxílio de familiares. (RODRIGUES; CALLIARI; RODACKI, 2023)

O tratamento é baseado em medidas farmacológicas e não farmacológicas, incluindo acompanhamento nutricional, prática de exercícios físicos e insulinoterapia. Devido a complexidade de sua terapêutica, a doença necessita de investimentos financeiros e pessoais, por apresentar custo elevado para o sistema de saúde e necessitar de comprometimento assíduo por parte do paciente e seus familiares. Essa condição ocasiona repercussões psicossociais definitivas na vida dos indivíduos envolvidos, interferindo na dinâmica pessoal e familiar. (TEJO; VELASQUÉZ, 2018)

O presente estudo tem o objetivo de analisar as principais repercussões do DM 1 no âmbito pessoal, familiar e social dos pacientes portadores da doença, baseado em evidências bibliográficas referentes a complexidade de seu tratamento e acompanhamento.

2. REVISÃO DE LITERATURA

2.1. IMPORTÂNCIA DO DIAGNÓSTICO PRECOCE

O diagnóstico do DM1 é estabelecido através da demonstração laboratorial da hiperglicemia e da presença de alguns dos sintomas que compõem o quadro clínico típico. Os principais exames laboratoriais realizados para fins diagnósticos são glicemia de jejum, glicemia aleatória, hemoglobina glicada e teste de tolerância oral à glicose. Além disso, por se tratar de uma doença autoimune, também pode haver a detecção de autoanticorpos, sendo o anti-GAD e anti-IA2 os principais. (LINHARES et al, 2022)

Devido a patologia possuir evolução silenciosa e por se referir a uma doença metabólica crônica com importantes complicações caso não haja diagnóstico precoce, torna-se importante a realização de exames e acompanhamento médico constantes, visto que as principais complicações micro e macrovasculares podem surgir anos após o início da doença, e seu padrão evolutivo silencioso interfere na capacidade de estimar o tempo de acometimento pela patologia. Além disso, outras doenças autoimunes podem ocorrer concomitante com o DM1, como a doença celíaca, tireoidopatias e doença intestinal inflamatória. (LINHARES et al, 2022)

2.2. RELEVÂNCIA DO MONITORAMENTO E TRATAMENTO ADEQUADO

O tratamento do DM1 é baseado na aplicação de esquemas de insulina, através da via entérica. Dois tipos de insulina compõem o esquema terapêutico: basal e prandial. A insulina basal tem o objetivo de agir conforme a liberação pancreática de insulina, apresentando um amplo espectro de ação. Já a insulina prandial visa simular a liberação pancreática prandial de insulina, de forma que possa cobrir a hiperglicemia prandial e, nesse caso, é necessário ajuste constante da dose a ser utilizada em para cada refeição. Logo, os esquemas de administração de insulina podem ser por múltiplas aplicações diárias ou através da bomba de infusão contínua, devendo sempre haver adaptação das doses a serem utilizadas de acordo com cada situação, como os níveis glicêmicos pré-prandiais, quantidade prevista de glicemia a ser consumida na refeição e até mesmo antes de exercícios físicos. (NEVES et al, 2017)

Nessa análise, é necessário que o paciente diabético tenha em sua rotina a vigilância constante da glicemia, que é um ponto importante para auxiliar no tratamento, de modo a prevenir estados de hiperglicemia e, até mesmo a hipoglicemia, que é um fator adverso relevante associado ao tratamento. Assim, o nível glicêmico do paciente deve ser medido pelo glicosímetro, no mínimo quatro vezes ao dia. Dessa forma, pelos pacientes portadores de DM1 serem em sua maioria crianças, é necessário o apoio do âmbito familiar. (NEVES et al, 2017)

2.3. IMPACTOS PSICOSSOCIAIS

Devido o DM1 ser uma patologia endocrinológica que não possui cura, e que apresenta efeitos adversos importantes ao longo de seu tratamento, bem como possíveis complicações, o diagnóstico em crianças e adolescentes causa anseios no núcleo familiar, visto que suas rotinas estarão alteradas definitivamente.

Nesse contexto, torna-se necessário o ajuste de atividades diárias, bem como mudanças nos hábitos de vida do paciente pediátrico e de sua família. A família, em primeiro momento, passa a ser responsável pela monitorização da glicemia e pela aplicação da insulina e o paciente terá que conviver com essa nova realidade em todos os aspectos de sua vida, por tal situação poder alterar atividades diárias que antes eram realizadas sem nenhuma preocupação, como a prática de exercícios físicos. (TEJO; VELÁSQUEZ, 2018)

Em primeira instância, o apoio psicossocial pode ser necessário para o paciente e seus responsáveis, já que a condição diagnosticada possa representar situações de estresse e de sentimento de incompetência, visto que a dinâmica familiar estará alterada em prol da monitorização e cuidado do diabético. Além disso, o tratamento demanda custo e investimento, tornando-se uma variável importante em condições de renda socioeconômica baixa e até mesmo o desemprego. (TEJO; VELÁSQUEZ, 2018)

Com a análise direcionada aos impactos sofridos pelo próprio paciente, este poderá apresentar alterações de sono, estresse e ansiedade a respeito da aceitação e adaptação de seu diagnóstico. O paciente estará exposto a passar por situações desagradáveis no ambiente extrafamiliar, como nas escolas, por se tratar de uma doença que necessita de cuidados e monitorização em tempo integral. Assim, estará sujeito a passar por bullying, intimidação e sentimentos de vergonha, pelo fato de sua condição denotar estranheza para seus agressores. (ANDRADE; ALVES, 2019)

3. METODOLOGIA

A seguinte pesquisa se configura como uma Revisão de Literatura de caráter descritivo, realizado através da análise de informações bibliográficas encontradas em artigos colhidos no PubMed, Scielo e Google Acadêmico. Além disso, para fundamentação teórica, também foi consultada a Diretriz da Sociedade Brasileira de Diabetes.

Os critérios de inclusão utilizados foram: artigos em Espanhol, Inglês e Português, artigos alinhados às palavras-chave, artigos correspondentes à temática proposta. Entre os critérios de exclusão, destacam-se artigos que discorriam acerca do Diabetes Mellitus tipo 2.

4. RESULTADOS E DISCUSSÕES

O Diabetes Mellitus tipo 1 é uma patologia que pode acometer pacientes em variadas faixas etárias, sendo típico em crianças e adolescentes, principalmente dos quatro aos quatorze anos de idade.

Trata-se de uma doença autoimune sem cura presenciada até então, apresentando incidência crescente no decorrer dos últimos anos, principalmente em crianças menores que cinco anos de idade. (LINHARES, 2022)

O DM1 representa uma doença que necessita de monitorização contínua e tratamento assíduo, interferindo em toda a dinâmica psicossocial do paciente diabético. Desta forma, configura-se como uma condição de alta complexidade, necessitando de adaptação e aceitação à nova rotina que foi imposta ao paciente e seu núcleo familiar. Torna-se necessário toda uma mudança do estilo de vida, hábitos alimentares, prática adequada de exercícios físicos e tratamento monitorizado, passando por um reajuste completo de seu cotidiano. (GÓES; VIEIRA; JÚNIOR, 2007)

Nessa análise, a adesão e aceitação do tratamento e de sua patologia, o apoio familiar, a monitorização glicêmica racional e a prevenção de efeitos adversos e complicações configuram como variáveis indispensáveis para oferecer uma qualidade de vida adequada ao paciente.

5. CONSIDERAÇÕES FINAIS

No momento, não existe cura para o Diabetes Mellitus tipo 1, patologia importante com altos índices de morbidade e mortalidade precoce, sendo prevalente em crianças e adolescentes. Com o desenvolvimento do DM1, o paciente e seu núcleo familiar fica a mercê do controle glicêmico e administração medicamentosa correta.

Os cuidados e monitorização prestados ao paciente diabético visam diminuir os efeitos adversos aliados ao tratamento e reduzir os índices de possíveis complicações graves no futuro, objetivando oferecer uma vida o mais normal possível ao paciente. Sendo assim, torna-se indispensável o apoio e acompanhamento familiar, além da oferta de um tratamento individualizo efetivo para cada paciente.

REFERÊNCIAS

ANDRADE, Carlos Jefferson do Nascimento; ALVES, Crésio de Aragão Dantas. Relação entre o bullying e o diabetes mellitus tipo 1 em crianças e adolescentes: uma revisão sistemática. Jornal de pediatria, v. 95, p. 509-518, 2019.

BRASÍLIA. Diretrizes da Sociedade Brasileira de Diabetes 2019-2020. Clannad, 2019. Disponível em: https://www.saude.ba.gov.br/wp-content/uploads/2020/02/Diretrizes-Sociedade-Brasileira-de-Diabetes-2019-2020.pdf. Acesso em: 30 out, 2023.

GÓES, Anna Paula P.; VIEIRA, Maria Rita R.; JÚNIOR, Raphael Del Roio Liberatore. Diabetes mellitus tipo 1 no contexto familiar e social. Revista paulista de pediatria, v. 25, p. 124-128, 2007.

LINHARES, Germana Lacerda et al. A importância do diagnóstico precoce e do manejo de diabetes mellitus tipo 1 na infância e seus desafios. Revista Contemporânea, v. 2, n. 3, p. 914-941, 2022.

NEVES, C. et al. Diabetes Mellitus Tipo 1. Revista Portuguesa de Diabetes, v. 12, n. 4, p. 159-167, 2017.

RODRIGUES, Monike Lourenço Dias; CALLIARI, Luis Eduardo Calliari; RODACKI, Melanie. Manejo dos dias de doença no DM1. Diretriz Oficial da Sociedade Brasileira de Diabetes (2023). DOI: 10.29327/5238993.2023-1, ISBN: 978-85-5722-906-8. Disponível em: https://diretriz.diabetes.org.br/manejo-dos-dias-de-doenca-no-dm1/#citacao. Acesso em: 30 out, 2023.

TEJO, Rocío Henríquez; VELÁSQUEZ, Ricardo Cartes. Impacto psicosocial de la diabetes mellitus tipo 1 en niños, adolescentes y sus famílias: revisión de la literatura. Rev Chil Pediatr, v. 89, p. 391-398, 2018. Disponível em: https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/29999147/. Acesso em: 31 out, 2023.