IMPACTS ON THE PERFORMANCE OF ACTIVITIES OF DAILY LIVING IN POST COVID-19 PATIENTS
REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.7869144
Monica Carrara Protazio1
Nicole Beltrame Medeiros de Souza2
Prof. Dr. Alexandre Lins Werneck3
Profa. Dra. Lilian Castiglioni4
Profa. Dra. Maysa Alahmar Bianchin5
RESUMO
Introdução: COVID-19 é uma doença sistêmica e suas complicações impactam na rotina. O Terapeuta Ocupacional intervém nas atividades diárias, aumentando a independência. Objetivo: Avaliar, identificar e descrever os impactos nas AVDs em pacientes com COVID-19 moderado a grave, atendidos em um hospital de referência no interior de São Paulo, por meio da aplicação de questionário semiestruturado e escala de Barthel modificada. Métodos: Estudo transversal, descritivo, quantitativo, analítico, aprovado pelo comitê de ética da FAMERP [5.286.745]. Foram previamente selecionados 700 prontuários eletrônicos. Deste total, foram novamente selecionados 60 prontuários, que preencheram os critérios prévios de seleção. Por fim, 45 pacientes foram considerados habilitados para análise, visto que atenderam todos os critérios de inclusão. Os participantes foram abordados por contato telefônico para aplicação do questionário semiestruturado referente aos componentes motor, cognitivo, sensorial e emocional, além de acompanhamentos na reabilitação e sobrecarga dos cuidadores. E a Escala de Barthel utilizada para avaliar a independência ao realizar as AVDs. Resultados: MI foi de 46 ± 8,972 anos, sendo 51,11% homens. Houve mudanças na rotina, predominando sintomas ansiosos e depressivos, lentificação no processamento e execução das atividades, dificuldades para deambular, descer e subir escadas durante atividades domiciliares, necessidade de adaptações e graduações e supervisão para realização da alimentação, higiene pessoal, banho, vestir-se e transferências. Em relação ao acompanhamento na reabilitação, a maioria não realizou acompanhamento, gerando impactos de sobrecarga aos cuidadores. Conclusão: Houve impactos nas AVDs de pacientes com COVID-19 e prejuízos nos seus componentes de desempenho sensório-motor, perceptivo-cognitivo e emocional.
Descritores: Independência funcional, Terapia Ocupacional, Covid-19, Atividades Diárias.
ABSTRACT
Introduction: COVID-19 is a systemic disease and its complications impact the routine. The Occupational Therapist intervenes in daily activities, increasing independence. Objective: To evaluate, identify and describe the impacts on the DLAs in patients with moderate to severe COVID-19, seen at a reference hospital in the interior of São Paulo, through the application of a semi-structured questionnaire and the modified Barthel scale. Methods: Cross-sectional, descriptive, quantitative, analytical study, approved by the FAMERP ethics committee [5.286.745]. A total of 700 electronic medical records were previously selected. From this total, 60 records that met the previous selection criteria were reselected. Finally, 45 patients were considered eligible for analysis, since they met all inclusion criteria. The participants were approached by telephone contact to apply the semi-structured questionnaire regarding motor, cognitive, sensory, and emotional components, as well as rehabilitation follow-ups and caregiver burden. And the Barthel Scale was used to assess independence in performing the DLAs. Results: MI was 46 ± 8.972 years, 51.11% were male. There were changes in routine, predominantly anxious and depressive symptoms, slower processing and execution of activities, difficulties in walking, going down and climbing stairs during home activities, need for adaptations and graduations and supervision for feeding, personal hygiene, bathing, dressing and transferences. Regarding the rehabilitation follow-up, most of them didn’t follow up, generating impacts of overload to the caregivers. Conclusion: There were impacts on the DLAs of patients with COVID-19 and losses in their sensory-motor, perceptual-cognitive, and emotional performance components.
Descriptors: Functional Independence, Occupational Therapy, Covid-19, Activities of Daily Living.
INTRODUÇÃO
COVID-19
A COVID-19 é uma doença extremamente contagiosa, causada pelo novo coronavírus SARS-CoV-2 e foi considerada pela OMS uma pandemia mundial em 11 de março de 2020 após diversas tentativas de se conter o vírus na China em dezembro de 2019. O microrganismo se espalhou rapidamente pelo mundo¹. É de conhecimento que os sintomas da COVID-19 são inespecíficos e a apresentação da doença pode variar de assintomático até uma forma de pneumonia letal. Quando sintomáticos, os indivíduos podem ter o surgimento de sintomas semelhantes aos de gripe, como febre, dor de cabeça e mal-estar geral, além de haver tosse intensa e dificuldade para respirar. Em alguns casos, é necessário o internamento hospitalar devido à gravidade dos sintomas que podem colocar a vida em risco².
Embora a COVID-19 afeta principalmente os pulmões, algumas sequelas, como problemas cardíacos, diabetes ou doenças renais, bem como de ordem motora, sensorial e cognitiva podem se desenvolver após a recuperação da infecção pelo coronavírus².
PÓS COVID-19
O Pós COVID-19 são efeitos a longo prazo da COVID-19. Essa síndrome pode ser subdividida em duas categorias: a “Subaguda” na qual os sintomas e as disfunções estão presentes de 4 a 12 semanas e a “Crônica” em que sintomas persistem além das 12 semanas e não são atribuíveis a outros diagnósticos3,4.
Os danos sistêmicos se apresentam em um amplo espectro clínico com sobreposição de sintomas heterogêneos Entre os sintomas e disfunções mais prevalentes destacam-se a fadiga, fraqueza muscular, dispneia, artralgia, dor torácica, disosmia, disgeusia, transtorno de estresse pós-traumático, ansiedade e depressão, distúrbios cognitivos, os distúrbios do sono, redução da capacidade funcional e um declínio na qualidade de vida5.
Tem-se notado que muitos pacientes apresentam sequelas duradouras da COVID-19. Mais da metade (63%) dos pacientes que manifestam a doença na forma moderada a grave relataram pelo menos uma sequela funcional6. Estes apresentam sintomas persistentes, diminuição da qualidade de vida, aumento da dependência para cuidados pessoais e desempenho prejudicado nas atividades que compõem o cotidiano ocupacional7.
A gravidade da sintomatologia é aumentada em pacientes Pós COVID-19 que necessitaram de longa permanência em Unidade de Terapia Intensiva (UTI) e está associada ao uso de ventilação mecânica invasiva (VMI), corticoides, sedativos bloqueadores neuromusculares8.
Desse modo, podemos considerar a importância e a necessidade do manejo multidisciplinar na síndrome pós COVID-19.
O PÓS COVID-19 E AS ATIVIDADES DE VIDA DIÁRIA (AVDs)
O pós COVID-19, como já citada anteriormente, acomete diversos sistemas, sendo necessário o manejo multidisciplinar, pois há diminuição da qualidade de vida com um aumento da dependência dos sujeitos no desempenho de suas ocupações, especialmente na realização das Atividades de Vida Diária (AVDs)7.
O Conselho Federal de Fisioterapia e Terapia Ocupacional – COFFITO, cumprindo sua função de normatizar o exercício profissional, publicou em 2006 a Resolução Coffito nº 316, orienta que é de exclusiva competência do Terapeuta Ocupacional avaliar as habilidades funcionais do indivíduo, elaborar a programação terapêutico-ocupacional e executar o treinamento das funções para o desenvolvimento das capacidades de desempenho das Atividades de Vida Diária (AVDs) e Atividades Instrumentais de Vida Diária (AIVDs) para as áreas comprometidas no desempenho ocupacional, motor, sensorial, perceptivo-cognitivo, mental, emocional, comportamental, funcional, cultural, social e econômico de pacientes9.
As AVDs são atividades que o indivíduo realiza com enfoque no cuidado com seu próprio corpo. Consideradas de extrema importância para a vida em sociedade, pois permitem a sobrevivência básica e o bem-estar. Estas têm importância no cotidiano ocupacional dos sujeitos, pois são compostas de significados pessoais e sociais10.
Desse modo, o objetivo deste trabalho é avaliar, identificar e descrever os impactos nas AVDs em pacientes com COVID-19 moderado a grave, atendidos no Hospital Escola do Interior do estado de São Paulo, pela aplicação de questionário semiestruturado e escala padronizada de Barthel.
METODOLOGIA
Trata-se de um estudo quantitativo do tipo exploratório, desenvolvido em um hospital escola no interior do Estado de São Paulo. A pesquisa foi aprovada pelo Comitê de Ética, da Faculdade de Medicina de São José do Rio Preto, parecer Nº 5.286.745 em 2022 sob o protocolo CAAE: em acordo com a Resolução do CNS Nº466, de 2012. Após aprovação do estudo, estruturamos dois questionários usando o Google Formulários; um foi a escala padronizada de Barthel Modificada, voltada para avaliar as AVDs e, o outro, foi um questionário semiestruturado com questões relacionadas à caracterização da amostra e identificação dos impactos do COVID-19 nas AVDs.
Na análise foram coletadas informações referentes a: idade, sexo, data da internação com COVID-19 e tempo de internação. Os critérios de inclusão foram pacientes internados com COVID-19, dos 18 anos aos 60 anos, independentemente de sexo, condições socioeconômicas, etnia e escolaridade. Caso o paciente estivesse impossibilitado de responder a pesquisa, familiares e/ou cuidadores do paciente poderiam responder por ele. Os critérios de exclusão foram pacientes diagnosticados positivos para o COVID-19 que permaneceram internados por menos de quinze dias e pacientes que durante pesquisa no prontuário constava óbito.
Foi realizado o levantamento de 700 censos retroativos a partir do Sistema eletrônico MV, para mapeamento dos pacientes que ficaram internados por 15 ou mais dias com COVID-19 na instituição. Após levantamento dos censos, foram escolhidos aleatoriamente 60 prontuários entre junho de 2020 e novembro de 2021 para serem analisados. Na análise, coletamos informações referentes a: idade, sexo, antecedentes médicos e data da internação com COVID-19, além do tempo de internação. Após a análise dos prontuários, os indivíduos que se enquadraram nos critérios de inclusão foram selecionados para a próxima etapa do projeto, a ligação telefônica e a aplicação das escalas.
Em sequência, foi realizado contato telefônico com os 60 pacientes selecionados para convidá-los a participar da pesquisa. Dos pacientes convidados, 45 relataram interesse em participar e concordaram com o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido; 15 pacientes não manifestaram interesse na pesquisa e não quiseram participar. Para os pacientes que se interessaram e estavam em consonância com os critérios de inclusão, foi apresentado o projeto e iniciada a aplicação das escalas com pontuação marcadas pela própria pesquisadora via computador.
A Escala de Barthel foi utilizada para avaliar o grau de independência do indivíduo ao realizar atividades básicas, composta por 10 atividades de vida diária (AVDs), podendo ser dividida em alimentação, higiene pessoal, uso do banheiro, banho, continência do esfíncter anal e vesical, vestir-se, transferências, deambulação, subir e descer escadas e manuseio da cadeira de rodas. Cada item pode receber pontuação de 0 para dependente e 10 independente11.
O Questionário semiestruturado foi composto por 9 questões para acréscimos de informações obtidas na Escala, bem como sobre relatos dos impactos nas atividades diárias após COVID-19, relacionadas aos aspectos físicos, sensoriais, cognitivos, emocionais, além do acompanhamento na reabilitação e sobrecarga de cuidadores.
Após a coleta, os dados foram planilhados no Excel®e analisados por meio dos programas estatísticos Statistical Package For Social Sciences (SPSS, IBM, versão 23, 2014) e GraphPad Instat 3.10 (2009). A análise estatística descritiva foi realizada a partir dos cálculos das medidas de tendência central e dispersão e contagens de frequências.
RESULTADOS
Os dados referentes ao questionário semiestruturado, relacionado à caracterização da idade e gênero dos participantes quanto às sequelas (sensório-motoras, cognitivas e emocionais), os impactos na rotina pós COVID-19 e acompanhamento na reabilitação foram analisados e compilados e serão apresentados a seguir na forma descritiva.
Referente à caracterização de gênero e idade dos 45 participantes, 51,11% eram do sexo masculino e 48,89% do sexo feminino, tendo estes de 18 a 60 anos, com uma média de idade de 46 ± 8,972 anos.
Sobre as sequelas pós COVID-19 prevaleceram as relacionadas a problemas pulmonares (26,67%), aos déficits cognitivos (22,22%), fraqueza global (20%), e fadiga (20%). Com relação às mudanças na rotina, a necessidade de auxílio global para desempenhar suas AVDs foi relatada por 26% e, 18% para suas AIVDs; lentificação no processo e execução das atividades foi relatado por 18%; necessitar afastamento de sua atividade laboral (15%); dificuldades para permanecer de médios a longos períodos em ortostatismo, durante atividades domiciliares e na comunidade reportado por 15%; adoção de adaptações e graduações no desempenho das atividades (15%) e necessidade de estabelecer estratégias para gerenciamento medicamentoso (11%).
Com relação aos impactos, os aspectos físicos mais predominantes foram referentes a fraqueza global (membros superiores e inferiores) (40%) e fadiga (20%). Nos aspectos sensoriais, hipoestesia nos membros superiores foi apresentada por 30%, prejuízo na habilidade de propriocepção por 20% e parestesia nos membros inferiores por 15%. A respeito dos componentes cognitivos, foram relatados déficits de memória (55%) e lentificação do processamento das informações (20%). No campo emocional os sintomas de desânimo, ansiedade e depressão se sobressaíram, contudo, prevaleceram os sintomas depressivos com 60%.
Quanto ao acompanhamento em serviços de reabilitação, 60% responderam que não realizaram acompanhamento na reabilitação e 30% referiram encaminhamentos para reabilitação na cidade de origem, para as especialidades de Fisioterapia (45%), Pneumologia (30%) e Terapia Ocupacional (15%).
É válido ressaltar que os 45 participantes, familiares e/ou cuidadores responderam por 28,9%, pois os participantes não se encontravam em condições para o fazê-lo. E no que se refere à questão relacionada à sobrecarga dos cuidadores, 80% necessitam realizar mudanças na rotina pessoal para auxiliar nas atividades dos pacientes previamente independentes.
Os resultados da Escala de Barthel modificada, são apresentados nas Tabelas abaixo.
Tabela 1. Nível de independência na alimentação. São José do Rio Preto, São Paulo, Brasil. 2023
Tabela 2. Nível de independência na Higiene Pessoal. São José do Rio Preto, São Paulo, Brasil. 2023
Tabela 3. Nível de independência no Banho. São José do Rio Preto, São Paulo, Brasil. 2023
Tabela 4. Nível de independência para Continência do esfíncter anal. São José do Rio Preto, São Paulo, Brasil. 2023
Tabela 5. Nível de independência para Continência do esfíncter vesical. São José do Rio Preto, São Paulo, Brasil. 2023
Tabela 6. Nível de independência para Vestir-se. São José do Rio Preto, São Paulo, Brasil. 2023
Tabela 7. Nível de independência para Transferências (cama e cadeira). São José do Rio Preto, São Paulo, Brasil. 2023
Tabela 8. Nível de independência para Subir e descer escadas. São José do Rio Preto, São Paulo, Brasil. 2023
Tabela 9. Nível de independência para Deambulação. São José do Rio Preto, São Paulo, Brasil. 2023
Tabela 10. Nível de independência para Manuseio da cadeira de rodas. São José do Rio Preto, São Paulo, Brasil. 2023
DISCUSSÃO
As manifestações da COVID-19 são diversas, podendo ser prolongadas e ocasionar sequelas nos vários sistemas do corpo. Quando as manifestações ultrapassam quatro semanas e não estão relacionadas a outras causas estas são denominadas “pós COVID-1912.
Para documentar a ocorrência de condições pós COVID-19, a Organização Mundial da Saúde recomendou o uso dos códigos da 10ª Revisão da Classificação Estatística Internacional de Doenças e Problemas Relacionados com a Saúde (CID-10) que traz o código U09.9. Nesse código são incluídos sequelas e efeitos tardios; COVID-19 infecção antiga; efeito residual de COVID-19; efeito tardio de COVID-19; sequela da COVID-19; e pós COVID-1913,14.
Em 2021 foi realizado um estudo sobre a avaliação e gestão de adultos após a COVID-19, demonstrando que as manifestações clínicas mais predominantes pertencem aos aspectos físicos e neuropsiquiátricos. Obtiveram como sintomas físicos mais comuns a fadiga em 87% dos casos, dispneia com 71% e o desconforto torácico com 44%. O estudo relatou também sintomas físicos menos comuns, como artralgia, mialgia, cefaléia, dentre outros. Quanto aos sintomas neuropsiquiátricos, prevaleceram o transtorno do estresse pós-traumático com 24% de frequência, ansiedade/depressão em 23% dos casos, perda de memória em 21% e redução da concentração em 16%15.
Em conformidade com a citação acima, os achados deste estudo, referentes aos aspectos físicos, cognitivos e emocionais foram predominantes à fraqueza global (membros superiores e inferiores) (40%), fadiga (20%) e problemas pulmonares (26,67%). A respeito dos componentes cognitivos e emocionais, sobressaíram os déficits de memória (55%) e lentificação do processamento das informações (20%), sintomas de desânimo, ansiedade e depressão.
Outro estudo, também em 2021, identificou prejuízo do sistema fisiológico mencionando no período pós COVID-19, os resultados e sintomas mais notáveis, como: dor de cabeça, fadiga extrema, falta de ar, fraqueza, acidente vascular cerebral, dor muscular, dor nas articulações, comprometimento sensorial (hipoestesia, parestesia e disfunção na propriocepção), piora do comprometimento cognitivo, depressão, ansiedade e insônia16. Quanto ao atual estudo também obtivemos resultados referentes aos aspectos sensoriais, sendo que 30% dos participantes apresentaram hipoestesia nos membros superiores, 20% prejuízo na habilidade de propriocepção e 15% parestesia nos membros inferiores.
Quanto à prevalência e a gravidade dos sintomas persistentes, isto é, crônicos, estes estão mais presentes principalmente em pacientes que foram internados em unidade de terapia intensiva (UTI) ou hospitalizados por um período prolongado.17.
Por meio do questionário semiestruturado do atual estudo, é possível correlacionar com os dados citados anteriormente nos outros estudos sobre os impactos nos aspectos físicos, cognitivos, sensoriais e emocionais15. No qual os pacientes do presente estudo também permaneceram por um longo período internados apresentaram declínios em seus aspectos físicos relacionados à fraqueza global e fadiga. Nos aspectos sensoriais, os pacientes apresentaram hipoestesia, diminuição da sensibilidade nos membros superiores e parestesia/formigamento nos membros inferiores, bem como prejuízos na sua capacidade proprioceptiva. Em relação ao componente cognitivo, prevaleceram déficits de memória e lentidão no processamento e execução das informações. No domínio emocional, destacaram-se os sintomas de depressão, ansiedade e desânimo, porém, prevaleceram os sintomas depressivos16,17.
Em relação à caracterização sobre a idade e gênero, a Organização Pan-Americana da Saúde em seu estudo sobre o tema evidencia que a probabilidade de contágio se distribui de forma equilibrada por todos os grupos etários, ou seja, a probabilidade de uma pessoa de 80 anos ser infectada por COVID-19 é igual à de uma pessoa de 30 anos. No entanto, confirma que globalmente mais homens morrem (57%) do que mulheres (43%). Em concordância, no atual estudo, dos 45 participantes que tinham entre 18 e 60 anos, a idade média foi de 46 anos, com desvio padrão de ± 8,972, sendo 51,11% homens e 48,89% mulheres. Esses resultados demonstraram que houve mais homens infectados e em idade considerada produtiva18.
Na atual pesquisa sobre os impactos pós COVID-19 em indivíduos em idade produtiva, é preciso levar em consideração o desempenho no cotidiano, retratado no questionário semiestruturado na questão referente a mudanças na rotina. Visto que 26% precisaram de assistência global para desempenhar suas AVDs e AIVDs, 18% relataram lentificação no processamento e execução das atividades, 15% sentiram dificuldades para permanecer médios a longos períodos em ortostatismo durante atividades domiciliares e na comunidade, 15% adotaram adaptações e graduações no desempenho das atividades, 15% precisaram se afastar de sua atividade laboral e 11% necessitou estabelecer estratégias para gerenciamento medicamentoso.
Em 2022, um estudo apontou que os indivíduos que apresentaram consequências da COVID-19 se ausentaram do trabalho mais do que as atividades profissionais habituais, ocorrendo interrupções em sua rotina e estabelecendo um desempenho insatisfatório em sua ocupação de atividades de vida diária (AVDs)19.
A ocupação é de domínio da Terapia Ocupacional, podendo ser indicada como atividades que agregam significados pessoais e culturais e são influenciadas pela relação de vida de cada sujeito, tendo a função de organizar a rotina20. As ocupações são categorizadas e no presente estudo o foco são as Atividades de Vida Diária (AVDs), que são atividades direcionadas para cuidar do próprio corpo e efetuadas no cotidiano21.
A AVDs é distribuída em atividades, sendo elas: Alimentar, deglutir/comer; Banhar, e tomar banho no chuveiro; Usar vaso sanitário e realizar higiene íntima; Vestir; Cuidado com equipamentos pessoais; Higiene pessoal e Mobilidade funcional21.
O Índice de Barthel pertence ao campo de avaliação das AVDs, e avalia a independência funcional no cuidado pessoal e locomoção. Segundo a literatura, os tópicos do questionário foram selecionados para apontar o grau de cuidados primordiais. Na reabilitação, tem sido utilizado para analisar o período de internação, determinar prognósticos, precipitar resultados da alta e como um instrumento de avaliação22.
Em uma revisão sistemática de 2021, foi demonstrado declínio no desempenho das AVDs após a infecção por COVID-19, independentemente da escala aplicada. Os que tiveram piores resultados foram pacientes mais velhos e/ou pacientes que tiveram complicações durante a internação23.
Recentemente, um estudo foi conduzido para avaliar os impactos dos pacientes quanto ao seu estado de saúde pós COVID-19. Dos 30 participantes envolvidos, 11 apresentaram neuropatia como queixa mais frequente, além disso, muitos dos indivíduos relataram fraqueza muscular e dificuldade em realizar as AVDs. Verificou-se que os pacientes que permaneceram hospitalizados por um período mais prolongado apresentaram maiores consequências, e precisaram de ajuda parcial ou total nas atividades diárias19. Além disso, os participantes que tiveram o membro superior acometido relataram sentir mais dificuldade principalmente na alimentação e higiene19.
Em outro estudo realizado com 888 participantes apontou que 170 deles relataram a necessidade de auxílio ou supervisão para realizar as atividades diárias, tais como a alimentação (13,3%), higiene pessoal (21%), uso do banheiro (20%), tomar banho (6,5%), vestir-se (11%), subir e descer escadas (16%) e andar (12,4%)24.
Embora alguns participantes do atual estudo tenham relatado não precisar de ajuda para as atividades diárias, quando questionados sobre atividades mais específicas, todos apresentaram um nível de dependência em comparação ao período anterior à doença. Isso denota que as sequelas pós COVID-19 têm uma grande influência na realização das atividades de vida diária. Dessa forma, é evidente a importância da intervenção precoce por uma equipe multidisciplinar para prevenir impactos futuros na capacidade funcional19.
Com a redução da independência dos sujeitos, os familiares também acabam sofrendo mudanças inusitadas em seu cotidiano, podemos desencadear a sobrecarga em consequência da grande disponibilidade no suporte ao membro familiar adoecido25. No presente estudo, em relação à sobrecarga dos cuidadores informais, a maioria precisou realizar mudanças em sua rotina para auxiliar nas atividades dos pacientes previamente independentes.
Complementando, a função de cuidador informal pode acarretar uma sobrecarga intensa, afetando a saúde, o relacionamento com os demais familiares, o descanso, a vida social, o financeiro, os afazeres em domicílio, o trabalho, e entre outros fatores da vida familiar e pessoal25.
O cuidador informal auxilia o familiar dependente na execução das inúmeras AVDs, como: alimentar-se, realizar os cuidados de higiene, vestir-se, mobilidade funcional, dentre outras. Contribui também na estimulação de seu familiar no desempenho das tarefas, se capazes, para que não tenha um aumento da dependência funcional25.
Quanto ao acompanhamento em reabilitação e qual o tipo de reabilitação, na pesquisa desenvolvida, a maior parte dos pacientes não realizou acompanhamento em reabilitação, sendo uma minoria os que referiram encaminhamentos para reabilitação na cidade de origem, para as especialidades de Fisioterapia, Pneumologia e Terapia Ocupacional.
Em vista disso, a reabilitação pós-alta hospitalar é imprescindível para manter ou ampliar a independência funcional dos indivíduos com sequelas relacionadas a COVID-19. Desta forma, os serviços de reabilitação precisaram se adaptar para atender tais demandas, impactando em evoluções favoráveis nos ganhos clínicos e funcionais27.
Entre os profissionais atuantes na reabilitação, a atuação dos terapeutas ocupacionais é fundamental para trabalhar as capacidades funcionais do indivíduo, estimular as capacidades residuais e compensar os déficits funcionais, para que os pacientes possam se integrar à sociedade de acordo com suas limitações funcionais e alcançar o máximo de autonomia e independência possível28.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
A COVID-19, apresenta inúmeras comorbidades, desde leves a severas, afetando profundamente e gerando impactos na funcionalidade. Desta forma, conclui-se que neste estudo houve impactos nas AVDs de pacientes com COVID-19 e prejuízos nos seus componentes de desempenho sensório-motor, perceptivo-cognitivo e emocional.
A Terapia Ocupacional é fundamental na reabilitação dos pacientes acometidos pela doença. Desse modo, analisar os impactos da COVID-19 nas AVDs pode ser um modo de abrir caminhos para outras linhas de pesquisa ou mesmo aprofundamento no tema em outros projetos decorrentes.
Portanto, é crucial continuar conduzindo pesquisas nesta área para identificar as necessidades e demandas dos pacientes e, dessa forma, garantir que eles tenham acesso aos recursos e tratamentos necessários para uma vida plena e independente.
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1Terapeuta Ocupacional. Pós graduada no Programa Multiprofissional de Reabilitação Física da Faculdade de Medicina de São José do Rio Preto – FAMERP
2Terapeuta Ocupacional. Pós graduada no Programa Multiprofissional de Reabilitação Física da Faculdade de Medicina de São José do Rio Preto – FAMERP
3Mestre e Doutor em Ciências da Saúde – FAMERP
4Professora Doutora do Departamento de Epidemiologia e Saúde Coletiva da Faculdade de Medicina de São José do Rio Preto – FAMERP
5Terapeuta Ocupacional. Doutora Professora Adjunta do departamento de Ciências Neurológicas da Faculdade de Medicina de São José do Rio Preto – FAMERP Endereço para correspondência: Av. Brigadeiro Faria Lima, 5416 – Vila São Pedro, São José do Rio Preto – SP, 15090-000. Email:maysa@famerp.br