IMPACTOS METABÓLICOS DA RESISTÊNCIA INSULÍNICA E ATIVAÇÃO DO RECEPTOR MINERALOCORTICOIDE: RELAÇÕES COM DOENÇA CARDIOVASCULAR E DOENÇA RENAL CRÔNICA

REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/ni10202502270717


Matheus Ferreira de Oliveira
Nicoly da Cruz
Armindo Evander Bango Nzumba


Resumo

O diabetes mellitus tipo 2 (DM2) é uma das principais causas de morbidade e mortalidade globalmente, estando frequentemente associado à resistência insulínica e complicações cardiovasculares e renais. A ativação do receptor mineralocorticoide (MR) contribui para a inflamação crônica e disfunção endotelial, exacerbando as alterações cardiovasculares e renais. Este artigo explora os impactos metabólicos da resistência insulínica e da ativação do MR, destacando as relações com a doença cardiovascular e a doença renal crônica (DRC), além de discutir as terapias atuais, como os inibidores do cotransportador de sódio-glicose tipo 2 (SGLT2i).

Palavras-chave: disfunção diastólica, complacência ventricular reduzida, diminuição da TFG, resistência à insulina, síndrome metabólica.

Abstract

Type 2 diabetes mellitus (T2DM) is a major cause of global morbidity and mortality, often associated with insulin resistance and cardiovascular and renal complications. Activation of the mineralocorticoid receptor (MR) contributes to chronic inflammation and endothelial dysfunction, exacerbating cardiovascular and renal alterations. This article explores the metabolic impacts of insulin resistance and MR activation, highlighting their relationships with cardiovascular disease and chronic kidney disease (CKD), and discusses current therapies, such as sodium-glucose cotransporter 2 inhibitors (SGLT2i).

Introdução

O diabetes mellitus tipo 2 (DM2) representa uma das principais causas de mortalidade e morbidade globalmente, correspondendo a aproximadamente 90 a 95% dos casos de diabetes. Essa condição caracteriza-se pela deterioração progressiva da secreção de insulina, frequentemente associada à resistência insulínica. Fatores como obesidade e sedentarismo são determinantes importantes para sua patogênese, contribuindo significativamente para o desenvolvimento de complicações metabólicas e cardiovasculares (ADA, 2022).

Resistência Insulínica e Disfunção Cardiovascular

A resistência insulínica está fortemente correlacionada a alterações metabólicas que afetam múltiplos órgãos, particularmente o coração. A elevação dos ácidos graxos livres no plasma promove disfunção cardiovascular, incluindo fibrose miocárdica e remodelamento vascular, resultando em prejuízo do relaxamento ventricular e dos grandes vasos. Essas alterações comprometem a complacência ventricular, elevam a pressão de enchimento diastólico e reduzem a eficiência da ejeção cardíaca, impactando a hemodinâmica sistêmica (DeFronzo et al., 2021).

Ativação do Receptor Mineralocorticoide e Seus Impactos Sistêmicos

A ativação exacerbada do receptor mineralocorticoide (MR) tem sido identificada como um fator central na indução de inflamação crônica, estresse oxidativo, disfunção endotelial e fibrose. Evidências apontam que os adipócitos secretam substâncias que estimulam a produção de aldosterona pelas glândulas adrenais, exacerbando a retenção de sódio e água. Esse fenômeno culmina no aumento da pressão arterial e sobrecarga cardiovascular, além de intensificar a liberação de citocinas pró-inflamatórias e induzir estresse oxidativo, fatores fundamentais para o desenvolvimento da fibrose em diversos órgãos (Pitt et al., 2020).

Doença Renal Crônica e Alterações Fisiopatológicas

A doença renal crônica (DRC) caracteriza-se por um estado inflamatório sistêmico persistente, frequentemente associado ao DM2 e à resistência insulínica. Uma das primeiras alterações fisiopatológicas observadas na DRC é a natriurese prejudicada, resultando em retenção anormal de sódio e água. Esse processo decorre da redução progressiva da taxa de filtração glomerular (TFG), agravada pela ativação inadequada do sistema renina-angiotensina-aldosterona (SRAA), contribuindo para a hipertensão arterial resistente e a progressão da insuficiência renal (KDIGO, 2022).

Inibidores do Cotransportador de Sódio-Glicose Tipo 2 (SGLT2i)

Nas últimas décadas, avanços na terapia do DM2 incluíram a introdução dos inibidores do cotransportador de sódio-glicose tipo 2 (SGLT2i), uma classe de fármacos que reduz os níveis glicêmicos ao promover a excreção urinária de glicose. Estudos clínicos randomizados demonstraram que esses agentes não apenas reduzem a hiperglicemia, mas também apresentam efeitos benéficos na insuficiência cardíaca e na proteção renal. Os ensaios EMPEROR-Reduced e

EMPEROR-Preserved evidenciaram que a empagliflozina reduz significativamente o risco de hospitalização por insuficiência cardíaca e o declínio da TFG, independentemente da presença de diabetes (Packer et al., 2021).

Conclusão

A interação entre resistência insulínica, ativação excessiva do MR e a DRC configura um complexo mecanismo fisiopatológico, envolvendo inflamação crônica, disfunção endotelial e fibrose tecidual. A compreensão aprofundada desses processos é essencial para o desenvolvimento de abordagens terapêuticas mais eficazes, capazes de interromper a progressão dessas condições e melhorar a qualidade de vida dos pacientes.

Referências

American Diabetes Association (ADA). Standards of Medical Care in Diabetes—2022. Diabetes Care, 2022.

DeFronzo, R. A., et al. “Type 2 Diabetes Mellitus and Cardiovascular Disease: A Comprehensive Review.” Circulation, 2021.

KDIGO. Clinical Practice Guideline for the Management of Chronic Kidney Disease.

Kidney International Supplements, 2022.

Pitt, B., et al. “Mineralocorticoid Receptor Antagonists in Cardiorenal Disease.” The New England Journal of Medicine, 2020.

Packer, M., et al. “Empagliflozin in Patients with Heart Failure: EMPEROR-Reduced and EMPEROR-Preserved Trials.” The Lancet, 2021.


Universidade Cidade de São Paulo (UNICID)