IMPACTOS DA PANDEMIA NA SAÚDE OCULAR

IMPACTS OF THE PANDEMIC ON EYE HEALTH

REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/ar10202505212323


Maria Eduarda Santana Bruneto¹
João Victor Santana Bruneto²


Resumo:

A COVID-19, causada pelo SARS-CoV-2, iniciou-se em 2020 e resultou em impactos significativos para a saúde global. Embora seja uma doença primariamente respiratória, a COVID-19 está associada a várias manifestações extrapulmonares, incluindo alterações oftalmológicas como conjuntivite, olho seco, fotofobia e sensação de corpo estranho. Além dos efeitos do vírus, mudanças no estilo de vida durante a pandemia, como o aumento do tempo de tela e o uso prolongado de máscara, e eventos adversos relacionados à vacinação contribuíram para complicações oculares. Este estudo visa explorar e sintetizar as evidências atuais sobre o impacto da pandemia de COVID-19 na saúde ocular.

Palavras-chave: COVID-19, manifestações oculares, saúde ocular, uso de telas, vacinação, pandemia.

Abstract:

In 2020, the COVID-19 pandemic began, a disease caused by the severe acute respiratory syndrome coronavirus 2 (SARS-CoV-2). This period resulted in numerous deaths and significant consequences for the population’s health. COVID-19 is an illness with a wide range of symptoms, the most frequently observed being cough, fever, fatigue, anosmia, ageusia, nasal congestion, dyspnea, and headache. In addition, gastrointestinal complaints such as diarrhea, abdominal pain, anorexia, and vomiting were reported, as well as ophthalmological complaints. Throughout the pandemic, more studies on the ocular alterations caused by COVID-19 were conducted. Various manifestations were identified, including xerophthalmia, foreign body sensation, photophobia, and even conjunctivitis as an early sign of coronavirus infection. This demonstrated that COVID-19 had impacts far beyond the respiratory system. Ophthalmologic consequences were not only due to the virus itself but also to the lifestyle changes imposed during the pandemic and the vaccines administered to the population. Screen time increased drastically during this period, significantly affecting the population’s eye health. Since then, diagnoses of dry eye syndrome and digital eye strain have continued to rise. Likewise, ocular complications such as uveitis and optic neuritis have been associated with coronavirus vaccination. Therefore, this article aims to discuss the overall impact of the pandemic on the population’s eye health.

Keywords:COVID-19, eye health, pandemic, screen use, vaccine, ocular complications.

Introdução:

Em 2020, foi iniciada a pandemia pelo COVID-19, doença causada pelo coronavírus da síndrome respiratória aguda grave 2 (SARS-CoV-2). Período em que resultou-se em milhares de mortes e consequências na saúde da população. COVID-19 é uma doença com diversos sintomas, os observados com maior frequência eram, tosse, febre, fadiga, anosmia, ageusia, obstrução nasal, dispnéia e cefaléia. Ademais, tinham-se queixas gastrointestinais, como diarreia, dor abdominal, anorexia e vômitos, e queixas oftalmológicas.

Ao longo da pandemia, mais estudos sobre as alterações oculares causadas pelo COVID-19 foram analisadas. Constatou-se diversas manifestações, como xeroftalmia, sensação de corpo estranho, fotofobia, e até conjuntivite como sinal precoce da infecção pelo coronavírus. Demonstrando que o COVID-19 teve impactos muito além que apenas respiratórios.

Consequências oftalmológicas não foram decorrentes apenas pelo vírus, mas também pelo estilo de vida estipulado durante a pandemia e a vacina ofertada à população. O aumento de tela durante este período aumentou drasticamente, tendo uma grande influência na saúde ocular da população. Desde este período, o diagnóstico de síndrome do olho seco e fadiga ocular digital só aumentaram. Assim como, complicações oftalmológicas foram associadas à vacinação contra coronavírus, como a uveíte e a neurite. Portanto, este artigo tem como intuito discutir sobre o grande impacto da pandemia, ao todo, na saúde ocular da população.

Metodologia:

Este estudo é considerado uma revisão sistemática da literatura, com o objetivo de analisar o grande impacto da pandemia do COVID-19, considerando tanto a infecção viral como o estímulo de vida adotado neste período, sobre as manifestações oftalmológicas associadas.

Foram utilizadas as seguintes palavras-chaves, “COVID-19”, “saúde ocular”, “pandemia”, “uso de telas”, “vacina” e “complicações oculares”, para a busca dos artigos, sendo utilizado a base de dados do PubMed e MDPI. Foi considerado apenas artigos publicados entre 2020 e 2025 e publicações em português e inglês. Foram excluídos artigos com foco em outras áreas médicas sem ter relação com a oftalmologia, estudos com baixa relevância, resumos de congresso e relatos de casos. A seleção dos artigos foi realizada em dois estágios. Inicialmente, pelo título e resumo, em que eliminou-se os trabalhos que não seguiam o objetivo deste estudo, e em seguida, foram analisados os critérios de inclusão e exclusão.

Resultados:

Foram incluídos três estudos, com temas relacionados aos impactos oftalmológicos relacionados à pandemia de COVID-19. Levou-se em conta seu conteúdo, acurácia e conclusões para ser possível a construção deste estudo.

Estudo Tipo de Estudo População/Contex toPrincipais Achados 
Nasiri et al.  (2021) Revisão sistemática e meta análisePacientes com COVID-19Conjuntivite (11,03%), vermelhidão, dor ocular, olho seco, secreção, coceira 
Bansal et al.  (2024)Revisão sistemática de casos clínicos Pacientes pós vacinação Uveíte, neurite óptica, papiledema, diplopia, perda visual temporária
TFOS Lifestyle (2023) Revisão narrativa baseada em evidênciasPopulação geral durante a pandemia Síndrome do olho seco, fadiga ocular, queimação e visão embaçada associadas a uso de máscaras e telas 

Discussão:

COVID-19 é considerada uma infecção respiratória aguda causada pelo coronavírus SARS-CoV-2, de alta transmissibilidade. Em 2020, foi determinada uma pandemia, pela sua grande distribuição geográfica no mundo. Seus sintomas variam entre leve a grave, os mais comuns incluem, febre, tosse, fadiga, dispnéia e cefaleia. Entretanto, tem-se os sintomas não específicos como sintomas gastrointestinais e oftalmológicos. Dentre os principais sintomas oftalmológicas, pôde-se destacar a xeroftalmia, sensação de corpo estranho, conjuntivite, lacrimejamento excessivo, prurido ocular e dor ocular.

Uma meta análise de 38 estudos, com 8.219 pacientes com COVID-19, determinou a prevalência de 11,03% (IC 95%: 5,71 a 17,72) de sintomas oculares entre os pacientes com coronavírus. A sensação de corpo estranho foi o sintoma ocular mais prevalente (16,0%), seguida por hiperemia (13,3%). Já a doença ocular com maior prevalência foi a conjuntivite (88,8%). Neste estudo foi evidenciado que a cada dez pacientes com coronavírus, pelo menos um apresentou manifestação ocular.

Durante a pandemia de COVID-19, o tempo atrás da tela aumentou drasticamente devido a aulas online, reuniões on-line e por entretenimento pelas telas. Como consequência, surgiram-se doenças oculares e sintomas oftalmológicos em todas as faixas etárias. O sintoma de sensação de olho seco, pode não estar diretamente associado à doença, mas sim, a este grande aumento de tempo olhando para telas. Durante a visualização das telas, a frequência de piscadas diminui muito, resultando em sintomas como a xeroftalmia. Ademais, o uso constante e prolongado de máscaras faciais podem também ter relação com este sintoma, pois a mudança na direção do fluxo de ar, que passa a ser para cima, durante a respiração ao usar a máscara, cria um fluxo de ar diretamente à superfície ocular, gerando o ressecamento ocular.

Outra medida durante a pandemia que gerou efeitos negativos sobre a saúde ocular foi o uso de álcool em gel, este produto teve papel importante em casos de queimaduras na superfície ocular. O estudo realizou comparações entre o período pré-pandêmico e pandêmico, concluindo que a maioria dos casos de lesões oculares no período pré-pandêmico ocorreram em profissionais de saúde, já, durante a pandemia, foi mais observado em crianças. Outra medida analisada foi em relação ao isolamento da população pela pandemia, o que impedia os pacientes de irem à consultas médicas, incluindo oftalmologistas, o que resultou em uma menor busca pelo atendimento quando estava com queixas oculares. Como resultado, a prevalência de sintomas oculares aumentou neste período.

Ao decorrer da pandemia, diversos estudos foram realizados, para finalmente ser viável o desenvolvimento das vacinas contra o coronavírus. A vacinação foi essencial para o fim da pandemia. Contudo, com o tempo, foram observados diversos efeitos colaterais, incluindo complicações oftalmológicas. Segundo um estudo, que analisou 243 casos com complicações oculares, as complicações oculares mais prevalentes são classificadas como complicação inflamatória ocular, representando 47,3%, que inclui, uveíte anterior e posterior, esclerose, coroidite, ceratite, necrose retiniana aguda e iridociclite. A uveíte anterior foi considerada a mais comum após a vacinação, sendo 56% dos casos analisados, seguida pela neurite óptica como mais frequente, sendo cerca de 24,3% dos casos. Outra grande manifestação observada após a vacinação foi o edema corneano bilateral, que resultou na redução da acuidade visual. Entretanto, com o tratamento correto, sendo ele a prednisolona tópica, o edema tem grande melhora, assim como, a visão. Neste estudo, observou-se que todos os tipos de vacinas contra COVID-19 tiveram associação com complicações oculares, e a com maior relação foi a vacina da Pfizer. Apesar de todas estas complicações, as vantagens de receber a vacina de COVID-19 sobrepõem os riscos de complicações oculares.

Conclusão:

A COVID-19 foi um período de muitos impactos, gerou uma pandemia, população em isolamento, uso de máscaras faciais diárias, uso constante de álcool em gel e vacinas criadas com rapidez. Trata-se de uma doença com sintomas típicos e atípicos, dentre eles, percebe-se que afetou até a saúde ocular. Por este estudo, foram analisados diversos motivos que acarretaram em manifestações oftalmológicas, dentre eles, a própria doença (COVID-19), o uso constante de telas, o uso de máscara e a vacinação. Cada um desses motivos causando um impacto específico, em relação à saúde ocular. Logo, pelo estudo acima, pode-se concluir que é imprescindível a avaliação e observação dos sintomas e manifestações oculares em pacientes com COVID-19. Após a pandemia, os oftalmologistas devem acrescentar a COVID-19 como um possível diagnóstico diferencial para diversos sintomas oculares, especialmente a conjuntivite, quando este estiver associado a outros sintomas característicos da coronavírus.

Referências:

  1. NASIRI, E.; et al. Ocular manifestations of COVID-19: A systematic review and meta-analysis. *International Ophthalmology*, v. 41, p. 1-7, 2021. DOI: 10.1007/s10792-021-01655-6.
  2. BANSAL, R.; et al. Ophthalmic manifestations of COVID-19 vaccination: A systematic review of case reports. *Journal of Clinical Ophthalmology*, v. 34, n. 4, p.451-458, 2024. DOI: 10.1007/s00414-024-01839-z.
  3. TFOS LIFESTYLE. Impact of lifestyle changes during the COVID-19 pandemic on ocular health. *The Ocular Surface*, v. 21, p. 115-122, 2023. DOI: 10.1016/j.jtos.2023.02.003.

¹Superior Incompleto. Instituição: Uniceub em Brasília (CEUB). Endereço: Brasília – DF, Asa Norte, 707/907, Campus Universitário. E-mail: mariabruneto@gmail.com;
²Superior Incompleto. Instituição: Uniceub em Brasília (CEUB). Endereço: Brasília – DF, Asa Norte, 707/907, Campus Universitário. E-mail: joaobruneto03@gmail.com.