IMPACTOS DA ATUAÇÃO DO FARMACÊUTICO NO USO RACIONAL DE MEDICAMENTOS: REVISÃO DE LITERATURA

IMPACTS OF PHARMACIST PERFORMANCE ON THE RATIONAL USE OF MEDICINES: LITERATURE REVIEW

REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/ch102025010061457


Thecio Augusto Gomes de Moraes1
Jandira Ribeiro da Costa1
Matheus Oliveira Carvalho Sousa1
Franciele Alves de Araújo1
Ana Neuza Silva Neres1
Francisco Rafael da Silva1
Orientadora: Dra. Mônica do Amaral Silva2


Resumo

O medicamento é um produto farmacêutico, elaborado de forma técnica, com finalidades preventivas, curativas, paliativas ou diagnósticas, devendo ser utilizado sob a orientação de um profissional qualificado, como o farmacêutico. O objetivo deste estudo é identificar a importância da orientação do profissional farmacêutico quanto ao uso racional de medicamentos em farmácias, buscando compreender os riscos associados ao seu uso desordenado. A metodologia empregada foi a revisão integrativa, estruturada com base nas diretrizes do modelo PRISMA (Preferred Reporting Items for Systematic Reviews and Meta-Analyses). Esse modelo orienta o processo de organização da pesquisa, a escolha criteriosa dos estudos e a elaboração de relatórios, garantindo, assim, a qualidade e a transparência da análise. No total, foram identificados 254 artigos, dos quais 6 foram selecionados para compor a revisão integrativa. Conclui-se que a atuação do farmacêutico no uso racional de medicamentos é de extrema relevância para a promoção da saúde pública e a redução dos riscos associados ao uso inadequado de fármacos.

Palavras-chave: Uso racional. Medicamento. Farmácia.

1. INTRODUÇÃO

A automedicação é definida como a prática de utilizar medicamentos de venda livre ou reaproveitar medicamentos anteriormente prescritos sem a devida orientação médica e/ou de outros profissionais de saúde. Além disso, envolve o uso de substâncias para tratar sintomas ou doenças que o próprio indivíduo diagnosticou. O uso inadequado de medicamentos é um dos principais desafios de saúde em escala global. De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), mais da metade de todos os medicamentos são prescritos, distribuídos ou vendidos de maneira incorreta, e metade dos pacientes não faz o uso correto desses medicamentos (Ruiz, 2022).

O medicamento é um produto farmacêutico, elaborado de forma técnica, com finalidades preventivas, curativas, paliativas ou diagnósticas, devendo ser utilizado sob a orientação de um profissional qualificado, como o farmacêutico. Quando uma pessoa faz uso de medicamentos por conta própria, sem embasamento técnico e sem o acompanhamento de um profissional, essa prática é considerada uso irracional de medicamentos (Moreira; Bottoni, 2022).

A Atenção Farmacêutica envolve atitudes, princípios éticos, comportamentos, habilidades, compromissos e corresponsabilidades voltadas para a prevenção de doenças, promoção e recuperação da saúde, em um trabalho integrado e multiprofissional. Trata-se da interação direta entre o farmacêutico e o paciente, com o objetivo de alcançar resultados específicos por meio de uma farmacoterapia racional e mensurável, focada em melhorar a qualidade de vida do paciente (Silva; Nogueira, 2021).

A Portaria nº 3.916/98, do Ministério da Saúde, estabelece a Política Nacional de Medicamentos no Brasil. Seu objetivo principal é garantir o acesso da população a medicamentos essenciais, com qualidade, segurança e eficácia, promovendo seu uso racional. A portaria define diretrizes para a regulação, produção, controle de qualidade, prescrição e dispensação de medicamentos, além de promover o desenvolvimento da assistência farmacêutica e incentivar o uso de medicamentos genéricos. Ela também busca otimizar os recursos financeiros na área da saúde, garantindo o melhor uso dos medicamentos no país (Brasil, 1998).

Portanto, o farmacêutico é o responsável pela farmacoterapia, com o objetivo de obter resultados efetivos a partir da prescrição, visando à melhora da qualidade de vida do paciente. Esse trabalho envolve a prevenção e solução de problemas relacionados à farmacoterapia de forma organizada e registrada, sempre com foco no paciente. Além disso, o profissional promove o autocuidado por meio de ações educativas e de saúde, colaborando ativamente com a equipe multiprofissional de saúde (Corteletti, 2019).

A orientação farmacêutica desempenha um papel fundamental na promoção do uso seguro e eficaz dos medicamentos. Ao garantir que os pacientes compreendam corretamente suas prescrições e sigam as recomendações de maneira adequada, o farmacêutico contribui para a redução de erros na medicação, o controle de doenças crônicas e a prevenção de complicações. Além disso, essa orientação tem impacto direto na educação em saúde, promovendo o autocuidado responsável e a adesão a tratamentos, o que, por sua vez, ajuda a diminuir a sobrecarga dos sistemas de saúde. Diante disso, surge a seguinte questão: Quais impactos a orientação farmacêutica traz para a sociedade atualmente?

O estudo justifica-se devido ao papel crucial que o farmacêutico desempenha na promoção da saúde e na segurança do paciente. A atuação desse profissional vai além da simples dispensação de medicamentos, abrangendo a educação dos pacientes, a prevenção de erros, a adesão ao tratamento e o combate à automedicação. O uso irracional de medicamentos é um problema de saúde pública global, com graves consequências como reações adversas, resistência antimicrobiana e aumento dos custos de saúde. Assim, investigar os impactos da orientação farmacêutica é essencial para promover o uso adequado de medicamentos e melhorar a qualidade de vida dos pacientes.

O objetivo geral deste estudo é identificar a importância da orientação do profissional farmacêutico quanto ao uso racional de medicamentos em farmácias, buscando compreender os riscos associados ao seu uso desordenado. Os objetivos específicos são: (1) analisar a atuação do farmacêutico no acompanhamento de pacientes em tratamento; (2) investigar as consequências do uso inadequado de medicamentos, como automedicação e uso excessivo, e sua relação com a falta de orientação adequada e (3) avaliar as estratégias e práticas adotadas pelos farmacêuticos nas farmácias.

2. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA OU REVISÃO DA LITERATURA

2.1 A Atuação do farmacêutico no acompanhamento de pacientes em tratamento

De acordo com a Resolução n˚ 585/2013 do Conselho Federal de Farmácia, que regulamenta as atribuições clínicas do farmacêutico, é reafirmado o papel crucial deste profissional. Cabe ao farmacêutico a responsabilidade de estabelecer uma relação de cuidado com o paciente, contribuindo para o planejamento e avaliação da farmacoterapia. Ele deve orientar o paciente sobre o uso adequado dos medicamentos, incluindo a forma de administração, horários e dosagens, visando a eficácia do tratamento. Além disso, o farmacêutico tem o dever de atuar em conjunto com outros membros da equipe de saúde, realizando intervenções farmacêuticas que auxiliem na escolha, inclusão, ajuste, substituição ou interrupção da farmacoterapia do paciente (Repolho, 2019).

O farmacêutico, em colaboração com outros profissionais de saúde, desempenha um papel essencial no manejo farmacoterapêutico de pacientes com diagnóstico de Diabetes Mellitus Gestacional. Isso se deve ao fato de que a automedicação e o uso indevido de medicamentos, assim como o uso de medicamentos em situações inadequadas, podem colocar o paciente em risco, piorando ou ocultando sua condição clínica. A adesão ao tratamento depende de diversos fatores, incluindo o acompanhamento e monitoramento contínuo quanto ao uso racional dos medicamentos e a compreensão do paciente sobre a necessidade e importância de seu uso correto, garantindo que o tratamento seja eficaz e eficiente. Dessa forma, contribui-se para uma melhor qualidade de vida da paciente com diabetes (Costs Júnior; Trevisan, 2021).

O farmacêutico é responsável por prevenir, identificar e solucionar problemas relacionados à farmacoterapia e ao gerenciamento de doenças, pois está capacitado para desempenhar diversas funções, como a atenção farmacêutica. A presença deste profissional visa aprimorar o cuidado e a atenção dados a cada paciente, fornecendo todas as informações necessárias sobre a terapia medicamentosa. Seu objetivo não é apenas garantir a adesão ao tratamento, mas também maximizar os resultados da terapia, diminuindo os problemas relacionados a medicamentos e aumentando a eficácia do tratamento. Sua atuação pode ocorrer de diferentes maneiras, incluindo a identificação de obstáculos à adesão ao tratamento, a reconciliação medicamentosa, e o esclarecimento de dúvidas sobre os medicamentos e seus possíveis efeitos adversos (Leão et al., 2021).

2.2 Consequências do uso inadequado de medicamentos

O grande número de medicamentos disponíveis no mercado, aliado às propagandas que divulgam informações sobre eles, gera confusão e torna mais difícil para os profissionais de saúde e a população acompanhar todas as opções existentes. Isso contribui para o uso irracional de medicamentos. A automedicação, por sua vez, oferece uma solução rápida para alívio de sintomas comuns, levando as pessoas a não considerarem a necessidade de procurar atendimento médico. A dificuldade de acesso à saúde pública, juntamente com uma antiga cultura de uso de medicamentos sem prescrição ou orientação profissional, pode acabar causando mais problemas para quem recorre à automedicação (Paula; Campos; Souza, 2021).

Atualmente, o uso inadequado de medicamentos, especialmente de antibióticos, tem aumentado significativamente. Isso favorece a seleção de microrganismos, o que resulta em bactérias que se tornam resistentes a certos medicamentos. O tratamento com medicamentos é geralmente a primeira escolha para melhorar o quadro clínico, sendo que os antimicrobianos, que têm a função de inibir ou destruir bactérias, são frequentemente utilizados de forma incorreta no tratamento de infecções. A facilidade de acesso a esses medicamentos, o uso indiscriminado e a venda sem receita médica são fatores que contribuem para que a população os adquira e consuma de maneira inadequada, levando ao surgimento da resistência bacteriana (Miranda; Vieira; Souza, 2022).

Os medicamentos mais comumente usados na automedicação incluem analgésicos, antiácidos, anti-histamínicos, vitaminas e laxantes. As condições mais frequentes que levam as pessoas a recorrerem a esses medicamentos são dores de cabeça, dores nas articulações, problemas digestivos, constipação, gripes, tosse, dor de garganta e congestão nasal. Esse comportamento é extremamente preocupante, pois a automedicação pode ocultar doenças ou até mesmo agravá-las. Um exemplo é um indivíduo com hipertensão que, ao se automedicar para uma dor de cabeça, pode acabar sofrendo um acidente vascular cerebral. Da mesma forma, uma pessoa que usa um antibiótico por conta própria para tratar dor de garganta de forma recorrente, além de aumentar a resistência bacteriana, pode estar mascarando um possível câncer de garganta (Araújo et al., 2019).

É fundamental que as farmácias, em conjunto com os farmacêuticos, promovam o uso racional de medicamentos. Esse processo envolve a escolha de produtos que sejam eficazes, seguros, administrados na dosagem correta e com um custo acessível. Nesse sentido, o farmacêutico deve possuir o conhecimento e a habilidade necessários para tomar as decisões mais adequadas sobre o uso de medicamentos (Qualhato, 2020).

2.3 Estratégias e práticas dos farmacêuticos nas farmácias

A atuação dos farmacêuticos inclui a prestação de serviços farmacêuticos, que compreende um conjunto de ações realizadas por esses profissionais ou sob sua supervisão, no contexto de atividades relacionadas ao campo da assistência medicamentosa para atender às necessidades da população. Essas ações são fundamentadas em normas técnico-científicas e em políticas de saúde. As responsabilidades técnicas dos farmacêuticos são respaldadas por regulamentações de saúde, como a Lei 5991/73 e a Resolução da Diretoria Colegiada da ANVISA (RDC) 44 de 17/08/09. Conforme a Comissão Federal de Farmácia, os serviços farmacêuticos abrangem tanto a gestão de medicamentos (aquisição, recebimento, armazenamento, preservação e garantia de qualidade) quanto o cuidado aos pacientes (dispensação de medicamentos, monitoramento da terapia, testes, notificação de reações adversas e educação em saúde) (Ramalho; Baiense, 2022).

Os serviços farmacêuticos foram definidos na RDC nº 44, de 2009, como procedimentos que podem ser realizados em farmácias e drogarias, com ênfase no cuidado ao paciente. Entre esses serviços estão a atenção farmacêutica e a perfuração do lóbulo da orelha para colocação de brincos. No âmbito da atenção farmacêutica, são permitidos os seguintes procedimentos: aferição de parâmetros fisiológicos (como pressão arterial e temperatura corporal) e bioquímicos (como glicemia capilar), além da administração de medicamentos (exceto aqueles de uso exclusivamente hospitalar). A aferição de parâmetros fisiológicos e bioquímicos nas farmácias tem o objetivo de apoiar a atenção farmacêutica e monitorar a terapia medicamentosa, sempre visando à melhoria da qualidade de vida, sem qualquer finalidade diagnóstica. A perfuração do lóbulo da orelha para brincos é autorizada desde que seja realizada com um aparelho específico e que utilize brincos em embalagem estéril como material perfurante (Gonçalves, 2019).

Os farmacêuticos desempenham um papel crucial no atendimento ao paciente, ajudando a minimizar erros de medicação e a reduzir os custos da terapia medicamentosa. Eles também contribuem para a continuidade dos tratamentos farmacológicos através de intervenções chave, com o objetivo de alcançar resultados concretos e mensuráveis que melhorem a qualidade de vida dos pacientes. Essas intervenções farmacêuticas são fundamentais para otimizar o processo de atendimento, garantindo o uso correto e seguro dos medicamentos e o controle de doenças. Isso destaca a importância das atividades clínicas do farmacêutico, além de suas funções tradicionais de distribuição e dispensação (Ribeiro et al., 2022).

3. METODOLOGIA

Há diversas maneiras de refletir sobre o objeto de uma pesquisa. Neste trabalho, optou- se pela revisão integrativa, uma metodologia ampla que proporciona uma visão abrangente do tema analisado, além de permitir a avaliação de estudos anteriores e relevantes (Mendes; Silveira; Galvão, 2008). Esse método possibilita a integração de pesquisas com abordagens quantitativas e qualitativas, assim como a utilização de literatura teórica e empírica, resultando em uma síntese de conhecimento baseada em vários estudos sobre o tema (Pompeo; Rossi; Galvão, 2009).

A revisão integrativa foi estruturada conforme as diretrizes do modelo PRISMA (Preferred Reporting Items for Systematic Reviews and Meta-Analyses), que orienta a sistematização da pesquisa, a seleção dos estudos e a elaboração dos relatórios, garantindo a qualidade e transparência do processo (Page et al., 2022). A definição das hipóteses foi a primeira etapa da pesquisa, estabelecendo as seguintes: O acompanhamento farmacêutico melhora a adesão ao tratamento e reduz complicações; a automedicação e o uso excessivo de medicamentos estão relacionados à falta de orientação farmacêutica; as estratégias adotadas pelos farmacêuticos nas farmácias aprimoram o atendimento.

Em seguida, foi realizada uma busca bibliográfica com base nessas hipóteses, utilizando termos booleanos como: (Uso racional) AND (Medicamento) AND (Farmácia) nas bases de dados Lilacs (Portal BVS), PubMed e SciELO. Os critérios de inclusão e exclusão levaram em consideração artigos científicos publicados nos últimos 5 anos, de 2019 a 2024, disponíveis integralmente de forma gratuita, em português, inglês ou espanhol, e que, após a leitura dos resumos e do texto completo, estivessem de acordo com o tema do estudo. Serão excluídos documentos que não atendam a esses critérios de seleção.

4. RESULTADOS E DISCUSSÕES OU ANÁLISE DOS DADOS

FLUXOGRAMA 1 – Seleção dos artigos para a revisão integrativa, baseado no modelo PRISMA

Fonte: dos pesquisadores, 2024.

Os quadros a seguir apresentam o número de artigos identificados nas bases de dados ao empregar as palavras-chave utilizadas na pesquisa.

Quadro 1– Artigos para análise da Revisão Integrativa.

ANOTÍTULOAUTORESMETODOLOGIALOCAL DE PUBLICAÇÃO
2022Prevalência de automedicação em adolescentesportuguesesAlmeida, I.; Rocha, C.; Balteiro J.Estudo transversal, questionárioSciELO
2019Perfil da automedicação em funcionários de umaindústria farmacêuticaCuevas, R. et al.Estudo observacional, descritivo, transversalSciELO
2019Prescrição de antibacterianos: prevalência, perfil e adesão de pacientes daatenção básicaPelicioli, M. et al.Estudo transversalBVS
2021Contribuição do químico-farmacêutico nos programas de gerenciamento de antimicrobianos: estudo de coortesambispectivoHolguín, H. et al.Estudo de coorte ambispectivoBVS
2021Território, significados e as potencialidades da educação em saúde para o uso racional demedicamentosCampos, H. M. N.; Mattos, M. P.Relato de experiência de projeto de extensãoBVS
2023Avaliação da prescrição de medicamentos psicotrópicos pela rede pública municipal de saúde de NovaFloresta/PBMorais Júnior, I. P.; Bezerra, K.G. D.; Oliveira,F. S.Estudo transversalBVS

Fonte: próprio autor, 2024.

Quadro 2 – Análise dos principais achados oriundos da Revisão Integrativa.

ESTUDOSPRINCIPAIS ACHADOS
Estudo 1A automedicação é um fenômeno que tem se tornado cada vez mais comum em todo o mundo. Independentemente do nível de escolaridade, do contexto histórico ou da situação econômica e social, essa prática está presente de forma generalizada. Embora existam medicamentos que podem ser comprados sem receita médica, seu uso inadequado é desaconselhado. Os jovens, especialmente adolescentes, formam um grupo particularmente suscetível ao uso impróprio de medicamentos, influenciados pela exposição a anúncios e à mídia. Dessa forma, a automedicação é considerada um comportamento de risco para a saúde entreadolescentes.
Estudo 2Erros comuns na automedicação são frequentemente observados com o uso de analgésicos, antibióticos e anti-histamínicos. Mais da metade dos medicamentos é prescrita, dispensada e vendida de forma inadequada, e metade dos pacientes não os utiliza corretamente. O uso excessivo, insuficiente ou inadequado desses medicamentos não apenas prejudica a saúde dos pacientes, mas também representa desperdício de recursos. Em mais de 50% dos países, não há políticasessenciais para promover o uso racional de medicamentos.
Estudo 3No Brasil, a implementação da Resolução da Diretoria Colegiada nº 20, de 5 de maio de 2011, pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), que regula a dispensação de antimicrobianos, ajudou a reduzir tanto o consumo inadequado de medicamentos quanto a resistência bacteriana.
Estudo 4O Programa de Gerenciamento de Antimicrobianos (PGAn) é um modelo de atenção voltado para promover o diagnóstico preciso de doenças infecciosas e a escolha do antimicrobiano mais adequado, considerando as condições clínicas do paciente e a epidemiologia local. O programa visa assegurar que cada paciente receba o antimicrobiano correto, na dose e duração adequadas, gerando um efeito positivo no tratamento.
Estudo 5Quando o uso de medicamentos ocorre sem orientações adequadas e sem o envolvimento ativo do paciente, podem surgir riscos que comprometem seu bem- estar, além de estarem relacionados a casos de morbidade e até óbitos por intoxicação. A ampla oferta de medicamentos no mercado, a publicidade desses produtos, informações farmacológicas inconsistentes na internet e a prática da automedicação contribuem para o cenário de uso irracional de medicamentos,incentivando um consumo excessivo e desnecessário.
Estudo 6Psicotrópicos são medicamentos que atuam no sistema nervoso central, alterandocomportamento, percepção, pensamento e emoções. O uso desses medicamentos tem aumentado globalmente, gerando um impacto significativo na sociedade. Assim, seu uso racional é essencial, pois esses fármacos podem causar vários efeitos adversos, levar à dependência e, quando usados por períodos prolongados, trazer sérios problemas de saúde à população. O uso excessivo desses medicamentos, além dos custos envolvidos, representa um problema relevante para a saúde mental, devido aos riscos que eles apresentam tanto em curto quantoem longo prazo.

Fonte: próprio autor, 2024.

As principais fontes de automedicação incluem familiares, amigos, vizinhos, certos profissionais de saúde, medicamentos prescritos em tratamentos anteriores e sugestões publicitárias em jornais ou revistas. A automedicação deve basear-se em informações confiáveis e contar com a orientação de profissionais de saúde para evitar o uso incorreto de medicamentos. O uso inadequado eleva o risco de efeitos adversos, pode desperdiçar recursos e contribuir para a resistência de patógenos. O comportamento de automedicação varia conforme características socioeconômicas, como níveis de educação e renda, que influenciam tanto o acesso à educação em saúde quanto a medicamentos. O aumento no nível de conhecimento, de educação, nas condições socioeconômicas e o avanço tecnológico têm impulsionado a automedicação em nível global (Almeida; Rocha; Balteiro, 2022).

É fundamental destacar que o uso de analgésicos, antipiréticos e anti-inflamatórios é facilitado pelo fácil acesso, pois são medicamentos vendidos sem receita. Os adolescentes frequentemente fazem uso desses medicamentos sem prescrição, acreditando ter o conhecimento necessário para tomar decisões sobre sua própria saúde. Assim, é essencial que eles recebam orientações e educação para o uso correto desses fármacos. É muito importante informar os jovens sobre a importância de um diagnóstico e tratamento adequados da dor, a fim de prevenir condições persistentes ou recorrentes e evitar o uso excessivo de analgésicos (Almeida; Rocha; Balteiro, 2022).

A automedicação é uma prática arriscada, cujas consequências podem incluir o mascaramento de doenças, atrasando o atendimento médico necessário, o surgimento de reações adversas e interações medicamentosas, o aumento da resistência a antimicrobianos, a escolha inadequada de medicamentos e o risco de abuso ou dependência de substâncias. Embora essa prática seja uma resposta comum a problemas de saúde, tornou-se um problema crescente, com um potencial de abuso que acarreta diversos riscos (Cuevas et al., 2019).

A automedicação responsável implica o uso de medicamentos seguros e eficazes para condições que o próprio paciente pode identificar ou para doenças crônicas e recorrentesn previamente diagnosticadas por um médico. Esses medicamentos devem trazer informações completas sobre sua administração, possíveis efeitos adversos, interações, duração do tratamento e outros dados essenciais para o uso correto pelo paciente. Nesse contexto, a OMS reconhece o farmacêutico como figura central na equipe de saúde para orientar a população sobre práticas de automedicação seguras e responsáveis. Nos últimos anos, os farmacêuticos, por meio de intervenções, têm mostrado um papel significativo na melhoria dos resultados de saúde dos pacientes (Cuevas et al., 2019).

Conforme a definição de uso racional de medicamentos estabelecida pela Política Nacional de Medicamentos, os requisitos para sua promoção são bastante complexos e envolvem várias variáveis. Para que esses requisitos sejam atendidos, é necessário o envolvimento de diversos agentes sociais, incluindo legisladores, formuladores de políticas públicas, indústria, comércio, governo, além de pacientes e profissionais de saúde. Ao longo das últimas décadas, a resistência microbiana tem se tornado uma crescente preocupação para o tratamento efetivo de um número cada vez maior de infecções provocadas por bactérias, parasitas, vírus e fungos. As consequências da resistência incluem a diminuição da eficácia de antibacterianos, antiparasitários, antivirais e antifúngicos, tornando os tratamentos mais complicados, dispendiosos ou até inviáveis. O impacto é especialmente evidente em pacientes vulneráveis, resultando em doenças prolongadas e aumento da taxa de mortalidade (Pelicioli et al., 2019).

Nos últimos anos, a resistência aos antimicrobianos aumentou de maneira alarmante, em parte devido à resposta evolutiva que ocorre sob a pressão seletiva exercida sobre os microrganismos (associada ao uso inadequado de medicamentos) e à capacidade desses organismos de se adaptarem a novos ambientes, resultando na seleção de cepas resistentes. As infecções causadas por microrganismos multirresistentes ou até mesmo panresistentes apresentam taxas de mortalidade mais elevadas, resultados clínicos desfavoráveis (como o prolongamento da internação hospitalar) e custos maiores para o sistema de saúde, se comparadas a casos de pacientes infectados com o mesmo microrganismo, mas que não possuem resistência (Holguín et al., 2021).

Diante desse cenário, é fundamental que os profissionais de saúde orientem os pacientes sobre os diversos aspectos relacionados ao uso de medicamentos e planejem intervenções educativas – seja em farmácias, postos de saúde, hospitais ou clínicas – para evitar o uso excessivo e, muitas vezes, inadequado de fármacos. Essa tarefa é desafiadora e requer um grande comprometimento por parte dos profissionais, pois a publicidade sobre medicamentos é extensa no Brasil e impacta tanto os hábitos de prescrição quanto as expectativas da população (Pelicioli et al., 2019).

Para promover o uso responsável de medicamentos e prevenir eventos indesejados durante o tratamento, a comunicação entre profissionais de saúde e pacientes é um elemento essencial para garantir cuidados adequados e alcançar resultados terapêuticos eficazes. Nesse sentido, a Educação em Saúde se apresenta como uma abordagem promissora para fomentar práticas que priorizem a saúde e o cuidado, capacitando os usuários. Dessa forma, iniciativas educativas em saúde constituem uma ferramenta que apoia as ações dos profissionais e dos serviços, respondendo às necessidades dos indivíduos com o objetivo de melhorar a qualidade de vida e incentivar o autocuidado. No entanto, a prática de uma educação dialógica, que promove uma troca de saberes de forma horizontal, ainda enfrenta consideráveis desafios (Campos; Mattos, 2021).

Para incentivar o uso responsável e racional de medicamentos, é fundamental implementar estratégias que alcancem todos os envolvidos no processo de cuidado em saúde. Isso inclui não apenas os profissionais que realizam prescrições, como médicos e enfermeiros, mas também os farmacêuticos, que desempenham um papel crucial na orientação sobre a utilização correta dos medicamentos. Além disso, é importante considerar a inclusão de balconistas e outros trabalhadores das farmácias, que frequentemente interagem com os pacientes e podem influenciar suas decisões de compra. Por fim, os próprios pacientes devem ser engajados e informados, para que compreendam a importância de seguir orientações médicas e farmacêuticas, evitando a automedicação e o uso inadequado de fármacos. Dessa forma, um esforço coletivo e colaborativo entre todos esses atores sociais pode contribuir significativamente para a promoção da saúde e a redução de riscos associados ao uso de medicamentos (Morais Júnior; Bezerra; Oliveira, 2023).

5. CONCLUSÃO/CONSIDERAÇÕES FINAIS

A atuação do farmacêutico no uso racional de medicamentos é de extrema relevância para a promoção da saúde pública e a redução dos riscos associados ao uso inadequado de fármacos. A revisão de literatura evidencia que a educação em saúde, as intervenções clínicas e o aconselhamento farmacêutico são ferramentas eficazes para melhorar a adesão ao tratamento, minimizar os efeitos adversos e combater a resistência microbiana. Além disso, a atuação proativa dos farmacêuticos contribui para a conscientização dos pacientes sobre a importância do uso responsável de medicamentos, promovendo a corresponsabilidade no cuidado à saúde. Assim, fortalecer o papel dos farmacêuticos nas equipes de saúde é essencial para garantir que os medicamentos sejam utilizados de forma segura e eficaz, refletindo em melhores resultados clínicos e na qualidade de vida da população.

REFERÊNCIAS

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1Discente do Curso Superior de Farmácia da Christus Faculdade do Piauí Campus Piripiri.
2Docente e coordenadora do Curso Superior de Farmácia da Christus Faculdade do Piauí Campus Piripiri. Doutora em Ciências farmacêuticas (UFCE). e-mail: monica.amaral83@gmail.com