IMPACTOS CAUSADOS NA SAÚDE DO TRABALHADOR COM A UTILIZAÇÃO DO CIMENTO NA CONSTRUÇÃO CIVIL

REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.7606058


Adson Antônio Ferreira Costa¹
Jádila Alves Costa²
Carolyne Amélia Assis Ávila³


RESUMO 

A indústria da construção civil é uma grande contribuinte para o desenvolvimento  socioeconômico do Brasil. Destaca-se, entre os processos construtivos mais utilizados, as de  estruturas de concreto armado. Consequentemente, o cimento, principal constituinte da mistura  do concreto, refere-se a um dos materiais mais utilizados no país e no mundo. Contudo, trata-se de um material ativo e pulverulento que ao ser misturado com a água reage quimicamente,  podendo assim causar impactos na saúde dos trabalhadores que manuseiam este material.  Visando a disseminação de medidas protetivas e preventivas aos trabalhadores da construção  civil em relação ao uso do cimento, o presente artigo tem como objetivo identificar os riscos e  as doenças inerentes aos trabalhadores ao elaborar o cimento de maneira inadequada. Para isso,  realizou-se uma pesquisa bibliográfica. Conforme os resultados apresentados, baseando-se nas  normas de segurança do trabalho, destaca-se a importância da utilização de medidas preventivas  e protetivas, a fim de evitar estes impactos na saúde do trabalhador.  

Palavras-chave: Construção civil, Cimento, Riscos ambientais, Segurança do trabalho.

ABSTRACT  

The construction industry is a major contributor to Brazil’s socio-economic development.  Among the most used construction processes, reinforced concrete structures stand out.  Consequently, cement, the main component of the concrete mix, is one of the most used  materials in the country and in the world. However, it is an active and powdery material that,  when mixed with water, chemically reacts, thus being able to impact the health of workers who  handle this material. Aiming at the dissemination of protective and preventive measures to civil  construction workers in relation to the use of cement, this article aims to identify the risks and  diseases inherent to workers when working with cement improperly. For this, a bibliographical  research was carried out. According to the results presented, based on work safety standards,  the importance of using preventive and protective measures is highlighted, in order to avoid  these impacts on the worker’s health. 

Keywords: Civil construction, Cement, Environmental risks, Occupational safety.

1. INTRODUÇÃO 

A indústria da construção civil é uma das grandes contribuintes do desenvolvimento  socioeconômico no Brasil, gerando empregos, renda, viabilizando moradias e infraestrutura (MAZUR, 2015). Responsável pelas mais diversas construções, sejam elas edificações, pontes,  túneis, barragens, rodovias, etc., a construção civil utiliza-se de diferentes materiais, mão de  obra, técnicas construtivas e tecnologia para execução das obras.  

Neste sentido, destaca-se o uso de estruturas de concreto armado, sendo o processo  construtivo mais difundido no país. Estima-se que, o cimento, constituinte principal do  concreto, é o produto mais consumido no mundo após a água (MEHTA; MONTEIRO, 1994). Referindo-se a um material ativo, o cimento resulta em reações químicas nas misturas quando em  contato com a água, podendo causar acidentes de trabalho e problemas de saúde aos  trabalhadores. Diante disso, é necessária a disseminação do conhecimento e dos cuidados necessários para a utilização e manuseio deste material.  

Com o objetivo de antecipar, reconhecer, avaliar e controlar os possíveis e iminentes  riscos existentes dentro de uma construção, aplica-se o regramento e as ordens necessárias para  que seja evitado ao máximo ou diminuído os possíveis danos acarretados aos trabalhadores,  adotando-se a segurança do trabalho (NETO WALDHELM, 2019). Dentre as medidas de  segurança, destaca-se a importância da prevenção e do uso correto e consciente dos  equipamentos de proteção, a fim de proporcionar uma melhor qualidade de vida ao trabalhador. 

Neste sentido, este estudo objetivou identificar os riscos que os trabalhadores da  construção civil estão sujeitos quanto ao uso do cimento. Visa ainda, entender as atividades que  envolvam seu uso, identificar as doenças provocadas ao se manusear o mesmo e assim, propor medidas preventivas e protetivas na busca da mitigação ou eliminação dos riscos de acidentes  ou doenças ao trabalhador.  

Nesta perspectiva, a escolha deste tema se justifica em virtude da falta de atenção em  relação ao uso do cimento na obra, a não utilização dos equipamentos de proteção necessários,  bem como o não cumprimento das técnicas que visam reduzir os riscos inerentes à atividade.  

2. METODOLOGIA  

De acordo com a metodologia utilizada na pesquisa, a mesma se classifica como  qualitativa, de natureza descritiva. Para Gil (2022) a pesquisa descritiva busca discorrer sobre  as características do objeto de estudo e estabelecer relações entre as variáveis estudadas sem  manipulá-las.

A pesquisa qualitativa tem o ambiente natural como fonte direta de dados e o  pesquisador como instrumento fundamental. Tem como preocupação o estudo e a análise do  mundo empírico em seu ambiente natural. De natureza descritiva, a palavra escrita ocupa lugar  de destaque nessa abordagem, desempenhando um papel fundamental tanto no processo de  obtenção dos dados quanto na disseminação dos resultados (GODOY, 1995). 

Para se atingir os objetivos propostos no estudo, realizou-se uma pesquisa bibliográfica,  onde foram consultados diversos acervos digitais para elaboração do referencial teórico, visando uma melhor compreensão da temática. Posteriormente, foi realizado um levantamento  dos riscos ambientais aos quais os trabalhadores da indústria da construção civil estariam  expostos e proposto medidas de proteção e prevenção.  

3. REFERENCIAL TEÓRICO  

3.1 O CIMENTO PORTLAND E SUA IMPORTÂNCIA NA CONSTRUÇÃO CIVIL 

O cimento Portland é o principal material de construção usado como aglomerante ou  ligante. Consiste em uma das principais mercadorias mundiais, servindo até mesmo como  indicador econômico (FERREIRA, 2010). Totalmente versátil em obras civis, o cimento pode  ser empregado tanto em peças de mobiliário urbano como em grandes barragens, estradas,  edificações, pontes, tubos de concreto e telhados (RODRIGUES, 2012). 

Produzido a partir de mistura, calcinação e moagem de materiais calcários e argilosos  em certas proporções, é um material pulverulento e ativo. Constituído de silicatos e aluminatos  de cálcio, ao serem misturados com a água, hidratam-se e produzem o endurecimento da massa,  podendo oferecer elevada resistência mecânica (NEVILLE, 2015; PETRUCCI, 1987). 

Para a produção de cimento podem ser utilizados minerais de origem natural, e também  produtos industriais, mas para qualquer que seja o material utilizado ele deve obedecer a  condição de conter os quatro componentes essenciais para sua produção, que são: cal, sílica,  alumínio e ferro (SANTOS, 2021). Posteriormente a obtenção do clínquer, que consiste no  processo de calcinação do calcário e argila, tem-se a adição da gipsita na produção do cimento,  cuja função básica é controlar o tempo de pega, isto é, a perda da plasticidade da pasta de  cimento (SENFF; FOLGUERAS; HOTZA, 2005). 

Quando o cimento é misturado com a água inicia-se uma série de reações químicas,  denominada hidratação do cimento, que tem como característica a liberação de calor, que pode ser muito ou pouco a depender dos constituintes da mistura (SENFF; FOLGUERAS; HOTZA,  2005).  

Neste contexto, observa-se que existem riscos inerentes ao manuseio do cimento, os  quais serão abordados neste estudo mais adiante.  

3.2 ACIDENTES DO TRABALHO  

Ao longo da história humana, muitas mortes, doenças e mutilações de trabalhadores  tiveram como causa direta ou indireta seu ambiente de trabalho. Desde as épocas mais remotas, as atividades laborais apresentam riscos em potencial, frequentemente concretizados em lesões  que afetam a integridade física e a saúde do trabalhador (MELO JÚNIOR; RODRIGUES,  2005). 

Segundo Bergamini (1997), a melhoria da segurança, saúde e meio ambiente de  trabalho, além de aumentar a produtividade, diminui o custo do produto final, pois diminui as  interrupções no processo, absenteísmo e acidentes e/ou doenças ocupacionais. 

Neste contexto, coloca-se em pauta a ocorrência dos acidentes do trabalho, definido  como: aquele que ocorre pelo exercício do trabalho a serviço da empresa, provocando lesão  corporal ou perturbação funcional que cause a morte, a perda ou redução da capacidade para o  trabalho, permanente ou temporária” (BRASIL, 1991). 

Segundo Brasil (2016) e Ferreira e Peixoto (2012), pode-se dizer que os acidentes de  trabalho se dividem basicamente em 3 grupos: Acidente típico, Acidente de trajeto e Doenças  ocupacionais, apresentados de forma sucinta no Quadro 1. 

Quadro 1 – Descrição dos acidentes de trabalho. 

Acidente Descrição
Típico É aquele que ocorre no local e durante o trabalho, sendo um acontecimento repentino, violento  e eventual, provocando no trabalhador uma incapacidade para a prestação de serviço. 
TrajetoÉ o acidente sofrido pelo trabalhador no percurso da residência para o local de trabalho ou vice-versa, qualquer que seja o meio de locomoção, inclusive veículo de propriedade do trabalhador,  em horários e trajetos compatíveis. Deixa de caracterizar-se como “acidente de trajeto” quando  o mesmo, por interesse próprio, tenha interrompido ou alterado o percurso normal. 
Doenças  ocupacionaisSão doenças decorrentes do trabalho e podem ser classificadas em “doenças profissionais” e  “doenças do trabalho”.

Fonte: Elaborado pelos autores, baseado em Brasil, 2016; Ferreira; Peixoto, 2012. 

A doença profissional é definida como aquela produzida ou estimulada pelo exercício  do trabalho, onde há exposição dos trabalhadores a agentes físicos, químicos e biológicos.  Podem servir como exemplos dessas doenças: as lesões por esforços repetitivos (inflamações em músculos, tendões e nervos, provocadas por atividades de trabalho que exigem movimentos  manuais repetitivos durante longo tempo); perda auditiva induzida pelo ruído (provocada, na  maioria das vezes, pela exposição a altos níveis de ruído durante período prolongado); dentre  outras (BRASIL, 2016; FERREIRA; PEIXOTO, 2012).  

Já a doença do trabalho, ainda de acordo com os autores Brasil (2016) e Ferreira e  Peixoto (2012) é aquela adquirida ou desencadeada em função de condições inadequadas de  trabalho, onde se torna necessária a comprovação de que foram adquiridas em decorrência do  trabalho. Cita-se como exemplos: alergias respiratórias adquiridas em ambientes  condicionados; estresse; fadiga; dores de coluna; e intoxicações profissionais agudas. 

Contudo, observa-se que, mais do que cumprir com a legislação existente, é um dever  das empresas proporcionar um ambiente de trabalho seguro e saudável aos seus colaboradores  (ALEVATO, 1999). 

3.3 SEGURANÇA DO TRABALHO E NORMAS  

A segurança do trabalho pode ser entendida como um conjunto de medidas a serem  adotadas visando minimizar os acidentes de trabalho, as doenças ocupacionais, bem como  proteger a integridade e a capacidade de trabalho do colaborador (SANTOS; VASCONCELOS,  2019). Através da Portaria 3.214/78 foi aprovado no Brasil as Normas Regulamentadoras (NR),  Normas Regulamentadoras Rurais (NRR), outras leis complementares, portarias, decretos, e as  convenções da Organização Internacional do Trabalho, relativas à Segurança e Medicina do  Trabalho (PINTO, 1997). 

Com foco na área da construção civil, cita-se as NR-1 (Disposições Gerais); NR-5 (Comissão Interna de Prevenção de Acidentes – CIPA); NR-6 (Equipamento de Proteção  Individual – EPI); NR-9 (Avaliação e controle das exposições ocupacionais a agentes físicos,  químicos e biológicos); NR-17 (Ergonomia); e NR-18 (Condições e Meio Ambiente de  Trabalho na indústria da Construção), as quais são de grande relevância para este estudo. 

Discorrendo brevemente sobre estas NR, a NR-1: 2020 tem como objetivo estabelecer  as disposições gerais, o campo de aplicação, os termos e as definições comuns às NR relativas  à segurança e saúde no trabalho, bem como as diretrizes e os requisitos para o gerenciamento  de riscos ocupacionais e as medidas de prevenção em Segurança e Saúde no Trabalho – SST. 

Ainda, estabelece as diretrizes para implementação do Programa de Gerenciamento de Riscos  (PGR) (BRASIL, 2020).

Já a NR-9:2021 tem por objetivo estabelecer os requisitos para avaliação das exposições  ocupacionais a agentes físicos, químicos e biológicos quando identificados no PGR, auxiliando  nas medidas de prevenção para os riscos ocupacionais. Além disso, a NR-9 apresenta exigências  que devem ser atendidas no PGR visando à preservação da saúde e da integridade dos  trabalhadores, como o controle de ocorrências de riscos ambientais existentes ou que venham  a existir no ambiente de trabalho (ANDRADE, 2014; BRASIL, 2021b). 

Quanto a NR-17:2022, a mesma dispõe sobre a avaliação ergonômica das situações de  trabalho que demandam adaptação às características psicofisiológicas dos trabalhadores, a fim  de implementar medidas de prevenção e adequações necessárias (BRASIL, 2022). Por sua vez,  a NR-5:2021 tem por objetivo a prevenção de acidentes e doenças relacionadas ao trabalho, de  modo a tornar compatível permanentemente o trabalho com a preservação da vida e a promoção  da saúde do trabalhador (BRASIL, 2021a). 

Por fim, tem-se uma das principais normas de segurança do trabalho que regulamentam  as atividades da construção civil, a NR-18:2020. Dentre seus principais objetivos, cita-se: garantir plenamente a saúde e a integridade física dos trabalhadores da construção; definir quais  são as atribuições e as responsabilidades dos administradores de obras; criar e operar  mecanismos para prever riscos que derivam do processo de execução de obras em canteiros;  determinar medidas de proteção e prevenção que sejam capazes de evitar ações e situações de  risco; e ainda, aplicar as técnicas de execução pertinentes a cada atividade que reduzam riscos  de doenças e acidentes. (BARSANO, 2015; BRASIL, 2020b; COELHO; GHISI, 2016; FIESP,  2003).  

Dentre as medidas de proteção e prevenção de riscos, destaca-se o Mapa de riscos.  Segundo Hall et al. (2000), o mesmo consiste em um conjunto de registros gráficos que buscam  representar os riscos existentes nos diversos ambientes, ou postos de trabalho. Seu objetivo é  reunir as informações necessárias para estabelecer o diagnóstico da situação de segurança e  saúde no ambiente e, também, informar e conscientizar as pessoas que praticam alguma  atividade naquele local dos riscos ali existentes, através de representações de fácil visualização. 

A identificação das situações e locais potencialmente perigosos é feita a partir de uma  planta baixa de cada área ou seção, onde são levantados todos os tipos de riscos, classificando-os conforme o grau de perigo em pequeno, médio ou grande. Estes riscos estão agrupados em  cinco grupos, os quais são classificados pelas cores vermelho, verde, marrom, amarelo e azul,  conforme pode ser observado no Quadro 2. Cada grupo corresponde a um tipo de agente:  químico, físico, biológico, ergonômico e acidental, os quais são brevemente definidos no  Quadro 3 (SCHWAB; STEFANO, 2008).

Quadro 2 – Riscos ambientais 

Grupo Riscos Cor de Identificação Exemplos
Físicos Verde Ruído, calor, frio, pressão, umidade, radiações ionizantes e não  ionizantes, vibração, etc. 
Químicos Vermelho Poeiras, fumos, gases, vapores, névoas, neblinas, etc.
Biológicos Marrom Fungos, vírus, parasitas, bactérias, protozoários, insetos, etc.
Ergonômicos Amarela Levantamento e transporte manual de peso, monotonia,  repetitividade, responsabilidade, ritmo excessivo, posturas  inadequadas de trabalho, trabalho em turnos, etc.
Acidentais Azul Arranjo físico inadequado, iluminação inadequada, incêndio e  explosão, eletricidade, máquinas e equipamentos sem proteção,  quedas e animais peçonhentos.

Fonte: HOKEBERG et al., 2006 

Quadro 3 – Definição dos riscos ambientais 

Riscos Descrição Autores
FísicoConsideram-se agentes de risco físico as diversas situações a que  possam estar expostos os trabalhadores, tais como: ruído,  temperaturas extremas, pressões anormais, umidade, etc.BARSANO, 2015;  BRASIL, 1978;  BRASIL, 2007;  MOTERLE, 2014.
QuímicoSão representados pelas substâncias químicas que se encontram nas  formas líquida, sólida e gasosa. Quando os agentes são absorvidos  pelo organismo podem produzir reações tóxicas e causar danos à  saúde do trabalhador, tais como: poeiras, gases, névoas, etc. VECCHIONE,  2010
BiológicoOs agentes classificados nesta categoria são os vírus, bactérias,  fungos, bacilos, parasitas, protozoários, entre outros, que podem  penetrar no corpo humano pelas vias cutânea, digestiva e  respiratória, podendo causar infecções diversas. Esses  microrganismos, em sua maioria, são invisíveis a olho nu e são  capazes de produzir doenças, deterioração de alimentos, mau cheiro,  uma vez que apresentam muita facilidade de reprodução.BARSANO, 2015;  BRASIL, 1978;  BRASIL, 2007;  MOTERLE, 2014
ErgonômicoReferem-se à adaptação das condições de trabalho, às características  psicofisiológicas do trabalhador relacionadas ao ritmo de produção,  ao processo de trabalho, às pausas e revezamentos, à jornada diária  de trabalho e às instruções operacionais. Dizem respeito ao conforto,  à segurança e à eficiência em uma atividade. Os fatores relacionados  ao trabalhador envolvem dimensões pessoais, psicossociais e  biomecânicas.FERNANDES,  2006
AcidenteSão classificados os agentes decorrentes das situações perigosas nos  ambientes e nos processos de trabalho que envolvem arranjo físico,  uso de máquinas, equipamentos e ferramentas, condições das vias de  circulação, organização e higiene dos ambientes, métodos e práticas  de trabalho, entre outros.BRASIL, 2007;  MOTERLE, 2014

Fonte: Elaborado pelos autores, 2023. 

3.4 MEDIDAS PREVENTIVAS E PROTETIVAS 

As medidas preventivas e protetivas fazem parte da prática da segurança do trabalho e  visam evitar que uma pessoa ou grupo de pessoas se contaminem, adoeçam, sofram acidentes,  traumas, etc., em função da sua prática laboral. É necessário estabelecer o método a ser usado  para a identificação e avaliação dos fatores de riscos ocupacionais e orientar a prescrição de  medidas de controle dos ambientes de trabalho, que assegure a proteção da saúde dos  trabalhadores (JUNIOR FRIAS, 1999). 

A prevenção dos acidentes deve ser realizada através de medidas gerais de  comportamento, eliminação de condições inseguras e treinamento dos empregados, devendo o  uso dos Equipamentos de Proteção Individuais (EPI) ser obrigatório, havendo fiscalização em  todas as atividades, sendo os empregados treinados quanto ao seu uso correto (PENA;  SCORTEGAGNA; UHDE, 2015). Conforme Saliba (2021), na etapa da implementação das  medidas de controle dos riscos são determinados os métodos para a prevenção, eliminação ou  minimização dos riscos ocupacionais, podendo ser dividida em três grupos: medidas de  proteção coletiva, administrativas e individuais. 

As medidas de proteção coletiva, de acordo com Rodrigues (2016) são aquelas usadas  para proteger grupos de trabalhadores durante suas atividades laborais e tem a função de  garantir a saúde e a integridade física no local e proximidades. Sugere-se para a proteção  coletiva o uso de Equipamentos de Proteção Coletiva (EPC), que são importantes como medidas  de controle perante a ação de agentes potencialmente insalubres (BARSANO, 2015; THOMÉ,  2016). 

Define-se EPC como toda medida ou dispositivo utilizado ou projetado para a proteção  de uma ou mais pessoas ao mesmo tempo, a fim de realizar uma determinada tarefa ou qualquer  atividade. São exemplos de EPC: sistemas de exaustão, sistema de enclausuramento, comando  bimanual, cabo de segurança, entre outros (BARSANO, 2015; BOZZA, 2010). 

As medidas de caráter administrativo normalmente possuem um custo inferior às medidas de proteção coletiva. De maneira geral são mudanças no processo produtivo e  necessitam do apoio da gestão da empresa para serem implementadas. Dentre essas medidas,  destaca-se a limitação do tempo de exposição do trabalhador ao agente perigoso, por meio de  rodízio de funcionários ou pausas entre as atividades. Além disso, são consideradas estratégias  eficientes, executar as tarefas de forma correta, adotando posturas adequadas e manuseando  corretamente os equipamentos (SALIBA, 2021). 

Já as medidas de proteção individual atuam especificamente em cada trabalhador, e para  isso, indica-se a utilização dos Equipamentos de Proteção Individual (EPI). De acordo com a  NR-6:2022, considera-se EPI, todo dispositivo ou produto de uso individual utilizado pelo trabalhador, destinado à proteção de riscos suscetíveis de ameaça à segurança e à saúde no  trabalho. São exemplos: capacete, capuz, óculos, protetor facial, protetor auditivo, respirador  purificador de ar, luvas, calçados, etc. 

4. RESULTADOS E DISCUSSÕES 

O cimento por ser um pó fino, abrasivo, alcalino e higroscópico sua ação sobre a pele  pode provocar dermatites, queimaduras e conjuntivite, além de infecções secundárias fúngicas  ou bacterianas (BARBOSA, 2005). Na construção civil, os trabalhadores ficam em contato com  o cimento por longos períodos, expostos aos riscos de contaminação, em alguns casos ainda,  provocam danos aos sistemas cardiovascular, respiratório, endócrino, gastrointestinal, renal,  reprodutor, imunológico e neurológico dos seres humanos (SANTI; SEVÁ, 2004).  

As rotas de exposição ao cimento incluem a via dérmica, cuja a mesma é responsável  pelo desenvolvimento de dermatites alérgicas, que são a maior causa de afastamento do trabalho  dos operários da construção civil (SANTI; SEVÁ, 2004). Ali (2001) ainda complementa que o  cimento e os produtos compostos por ele (argamassa e concreto), quando em contato frequente  com a pele pode ressecar, irritar, ou ferir as mãos, os pés, ou qualquer local da pele em contato  por determinado tempo, ou ainda, produzir reações alérgicas, dependendo do contato do  cimento com essas partes do corpo.  

Segundo Cunha (2009) o contato do cimento com as unhas torna-as mais secas e  quebradiças e também pode provocar manifestações de sensibilidade na conjuntiva ocular e,  pequenas manifestações na mucosa nasal e oral, por ser um material pulverulento, pode  propiciar o desenvolvimento de câncer de estômago e da via respiratória (SANTI; SEVÁ,  2004).  

Observou-se, portanto, que dentre os riscos ambientais que causam acidentes e doenças  de trabalho, o uso do cimento apresenta aos trabalhadores os riscos químicos, ergonômicos e  de acidente. Neste sentido, conforme instruções da NR-6:2022, é imprescindível que o mesmo  faça uso de EPI adequados, dos quais lista-se para atividades com o material cimento: luvas e  botas de borracha (impermeáveis); máscaras; óculos de proteção; além de capacete e  vestimentas adequadas resistentes à atividade.  

Quanto aos EPC, lista-se de isolamento e sinalização das áreas de riscos, ventilação  exaustora local, medidas de higiene pessoal e coletiva (lavatórios, chuveiros, vestiários e  sanitários), enclausuramento total ou parcial do processo de produção.

Destaca-se, ainda, a higiene do trabalho através de banhos obrigatórios após o trabalho  e a troca diária de roupa (limpa) por conta da empresa. É aconselhável o uso de creme hidratante  para a pele. As medidas de higiene e segurança listadas anteriormente devem ser adotadas e  praticadas no ambiente de trabalho com o propósito de melhorar a qualidade e integridade dos  operários 

 Além dos cuidados com segurança e higiene, deve se preocupar com o manuseio e  transporte do cimento. Atualmente o cimento é comercializado em sacos de 50 kg, o qual o  trabalhador necessita transportá-lo muita das vezes manualmente, sujeito aos riscos  ergonômicos, não havendo preparo e instrução correta pode acarretar em problemas de coluna,  além de lesões em tendões, músculos e articulações. 

Uma forma de evitar algumas lesões é sempre carregar e descarregar os sacos  de cimento flexionando as pernas e mantendo a coluna reta. Quanto mais próximo o material  ficar do corpo, melhor. Importante adotar medidas preventivas, dar instruções e fornecer EPI,  para uma boa execução de todo trabalho, evitando danos à saúde do trabalhador e garantindo  melhor qualidade de vida. 

Percebe-se a importância da aplicação de conceitos ergonômicos dentro do setor da  construção civil, pois são atividades árduas e de intenso esforço físico, aliadas a riscos químicos  e de acidentes que contribuem para o adoecimento do funcionário. 

Apesar da evolução tecnológica ter trazido consigo equipamentos e dispositivos  mecânicos para auxiliar o trabalho, a atividade de carregamento manual de sacos de cimento  depende do esforço físico do trabalhador, estando suscetíveis a lesões na musculatura e nas  articulações, bem como propensos a acidentes e doenças ocupacionais, afastando-os do seu  ambiente de trabalho. 

5. CONSIDERAÇÕES FINAIS 

Durante a pesquisa, evidenciou-se uma escassez de estudos que relacionasse os riscos quanto ao uso do cimento ao trabalhador. Assim, o trabalho proporciona um olhar mais crítico  sobre essa questão, oferecendo embasamento para pesquisas futuras.  

A construção civil apresenta um elevado índice de acidentes de trabalho, mesmo com  todas as normas regulamentadoras e leis existentes, no entanto, é necessária uma atenção maior das empresas, quanto a oferta e garantia de um ambiente de trabalho mais seguro.  

O estudo buscou contribuir na identificação dos impactos causados na saúde do  trabalhador com a utilização do cimento na construção civil, verificando quais riscos os mesmos estão sujeitos, quais doenças serão acometidas e sugerindo-se medidas protetivas e preventivas.  Por fim, com o intuito de compreender melhor sobre o assunto, sugere-se novos estudos relacionados ao cimento, sua produção, formas de elaborar e cuidados. 

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¹ Graduado em Engenharia Civil e Ambiental pela Universidade Vale do Rio Doce (2015). Pós-graduando em  Segurança do Trabalho pelo Instituto Federal de Minas Gerais, campus Governador Valadares. 
² Pós-graduada em Gestão de Pessoas pela PUC (2022). Pós-graduanda em Segurança do Trabalho pelo Instituto  Federal de Minas Gerais, campus Governador Valadares.  
³ Pós-graduada em Geotecnia pela Faculdade Verde. Professora no Instituto Federal de Minas Gerais, campus  Governador Valadares.