IMPACTOS AMBIENTAIS E SOCIAIS DA GERAÇÃO EÓLICA NO ESTADO DE RONDÔNIA

ENVIRONMENTAL AND SOCIAL IMPACTS OF WIND POWER GENERATION IN THE STATE OF RONDÔNIA

REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/ar10202509040938


Angelo, M. T. S¹; De Brito, J. B²; De Souza, P. A. F. A. D³; Nascimento, G. F⁴; Araújo, L. A⁵; Matheus, Y. S. L⁶; Orientadora: Nathalia Martins da Silva Reis Pimentel⁷.


RESUMO

O artigo analisa os impactos ambientais e sociais da geração eólica no estado de Rondônia, Brasil, em um contexto de crescente busca por diversificação da matriz energética local. A pesquisa buscou responder à viabilidade técnica e aos efeitos socioambientais da implementação de parques eólicos na região, partindo da hipótese de que, embora promissora, a energia eólica enfrenta barreiras naturais e estruturais em Rondônia. O estudo adotou uma abordagem qualitativa, por meio de levantamento documental e análise bibliográfica, considerando dados atmosféricos, estudos de caso e referências institucionais. Os resultados indicam que, apesar de algumas áreas de potencial específico (como serras e planaltos), a baixa velocidade média dos ventos — cerca de 2,8 km/h — inviabiliza atualmente a geração eólica em escala industrial. Além disso, impactos ambientais, como riscos à fauna, alteração da paisagem e ruídos, exigem medidas mitigatórias rigorosas. No campo social, há potencial de geração de empregos e diversificação energética, mas também conflitos econômicos, fundiários, hídricos e de saúde relatados em outras regiões brasileiras. Conclui-se que a implementação da energia eólica em Rondônia requer estudos mais aprofundados, investimentos em infraestrutura e políticas públicas adequadas para garantir uma expansão sustentável e adaptada às condições locais.

Palavras-chaves: Energia Eólica. Impactos Ambientais. Sustentabilidade Energética. Diversificação da Matriz Energética.

ABSTRACT

This article analyzes the environmental and social impacts of wind power generation in the state of Rondônia, Brazil, within the context of an increasing pursuit of diversification in the local energy matrix. The research sought to assess both the technical feasibility and the socio-environmental effects of implementing wind farms in the region, based on the hypothesis that, although promising, wind energy faces natural and structural barriers in Rondônia. A qualitative approach was adopted, through documentary review and bibliographic analysis, incorporating atmospheric data, case studies, and institutional references. The results indicate that despite specific potential areas (such as highlands and ridges), the region’s low average wind speed — around 2.8 km/h — currently prevents industrial-scale wind power generation. Additionally, environmental impacts such as risks to wildlife, landscape alteration, and noise generation require strict mitigation measures. On the social front, while there is potential for job creation and energy diversification, similar projects in other Brazilian regions have revealed conflicts related to economic activities, land use, water resources, and public health. The study concludes that implementing wind power in Rondônia demands further research, infrastructure investments, and appropriate public policies to ensure sustainable and locally adapted energy expansion.

Keywords: Wind Energy. Environmental Impacts. Energy Sustainability. Energy Matrix Diversification.

1. INTRODUÇÃO

A crescente demanda por fontes de energia sustentáveis e de baixo impacto ambiental tem impulsionado, em todo o mundo, a busca por alternativas às matrizes energéticas tradicionais. Nesse cenário, a energia eólica se destaca como uma das principais opções renováveis, reconhecida pela sua capacidade de geração limpa, abundante e de baixo custo operacional. No Brasil, o desenvolvimento desse setor tem sido mais expressivo nas regiões Nordeste e Sul, onde as condições de vento são mais favoráveis. Entretanto, a expansão da geração eólica para outras regiões do país, como o estado de Rondônia, surge como uma possibilidade promissora, embora ainda pouco explorada.

Rondônia, tradicionalmente dependente de fontes hidrelétricas e, mais recentemente, da energia solar, enfrenta o desafio de diversificar sua matriz energética de forma sustentável. Apesar de seu imenso potencial em biodiversidade e recursos naturais, há escassez de estudos que avaliem de forma criteriosa a viabilidade técnica da energia eólica na região, bem como seus impactos ambientais, sociais e econômicos. A implementação de parques eólicos em Rondônia demanda uma análise cuidadosa, considerando não apenas os benefícios na redução de emissões de gases poluentes, mas também os possíveis efeitos sobre a fauna, a paisagem, os recursos hídricos e as comunidades locais.

Diante desse contexto, este artigo tem como objetivo analisar os impactos ambientais e sociais da geração eólica no estado de Rondônia, bem como avaliar sua viabilidade e os desafios relacionados à sua implementação. Como busca-se caracterizar o potencial eólico do estado, identificar e discutir os principais impactos ambientais, econômicos e sociais decorrentes da implantação de usinas eólicas, examinar os entraves técnicos, logísticos e estruturais para a adoção dessa fonte de energia na região e propor recomendações e diretrizes para uma expansão responsável e sustentável da energia eólica em Rondônia.

Por meio de uma pesquisa de caráter descritivo, com abordagem qualitativa, fundamentada na análise documental e bibliográfica, este estudo pretende fornecer subsídios para que gestores, investidores e sociedade possam tomar decisões mais informadas e alinhadas com os princípios do desenvolvimento sustentável no contexto energético amazônico.

2. REFERENCIAL TEÓRICO

Como diz Alves (2006) no Brasil, a expansão da energia eólica tem sido impulsionada por políticas públicas e programas de incentivo, como o Programa de Incentivo às Fontes Alternativas de Energia Elétrica (PROINFA) e o Programa Emergencial de Energia Eólica (PROEÓLICA). Esses programas visam aumentar a participação de fontes renováveis na matriz energética brasileira, com metas específicas para a instalação de parques eólicos.

Como foi dito pelo autor, o PROINFA, estabeleceu a contratação de 3.300 MW de energia proveniente de fontes renováveis, incluindo energia eólica, biomassa e pequenas centrais hidrelétricas. Além disso, o programa prevê incentivos financeiros e tarifários para os investidores, garantindo a viabilidade econômica dos projetos.

Em seu trabalho, Azevedo (2017) diz que, no Brasil, o potencial eólico é especialmente significativo nas regiões Nordeste e Sul, onde os ventos são constantes e de alta velocidade. O Atlas do Potencial Eólico Brasileiro estima que o país tem capacidade para gerar até 143 GW de energia eólica, dos quais apenas uma pequena fração foi explorada até o momento. 

O autor também relata que apesar de todas as tecnologias e potencial eólico no Brasil ainda há características ambientais desfavoráveis à implementação total de instalação de turbinas eólicas como ele cita em seu trabalho.

Como dito em seu trabalho Confessor et al., (2022), a implantação de parques eólicos pode trazer benefícios significativos para as comunidades locais, especialmente em regiões carentes e com economias estagnadas. Entre os principais impactos positivos estão, geração de empregos e renda, desenvolvimento local, projetos sociais e culturais.

Como apresentado no trabalho apesar dos benefícios, a implantação de parques eólicos também pode gerar impactos sociais negativos, especialmente se não houver um planejamento adequado e um diálogo efetivo com as comunidades locais. Entre os principais desafios estão, restrições durante a construção, conflitos fundiários, impactos culturais e sociais.

Como cita em seu trabalho Pinto (2017), apesar dos desafios, a energia eólica no Brasil tem um futuro promissor. O país possui um dos maiores fatores de capacidade eólica do mundo (38,1% em 2015), o que indica uma alta eficiência na geração de energia a partir dos ventos. Além disso, a previsão é que a capacidade instalada de energia eólica no Brasil atinja 24 GW até 2024, representando 11,4% da matriz elétrica nacional.

O autor relata também que a energia eólica também oferece oportunidades significativas para o desenvolvimento sustentável do Brasil. Além de reduzir as emissões de CO₂ (em 2015, a energia eólica evitou a emissão de 10,42 milhões de toneladas de CO₂), ela contribui para a geração de empregos e a diversificação da matriz energética, reduzindo a dependência de fontes não renováveis.

Como nos assegura aos benefícios Terciote (2002), a principal vantagem ambiental da energia eólica é a não emissão de gases poluentes ou dióxido de carbono (CO₂) durante sua operação. Isso a torna uma alternativa crucial para a redução das emissões de gases de efeito estufa, que são os principais responsáveis pelo aquecimento global. Além disso, a energia eólica contribui para a diversificação da matriz energética, reduzindo a dependência de combustíveis fósseis como carvão, petróleo e gás natural.

Assim como outros benefícios importantes é a possibilidade de utilizar a área ocupada pelos parques eólicos para outras atividades, como agricultura e pastagem, minimizando o impacto sobre o uso da terra. A energia eólica também gera empregos e impulsiona a economia local, especialmente em regiões com ventos favoráveis (Pinto, 2019).

Apesar dos benefícios, a energia eólica também apresenta impactos ambientais que precisam ser considerados e mitigados. Entre os principais impactos estão, impacto sobre a Fauna, Ruídos, impacto Visual, Interferência Eletromagnética e Impactos no Clima Local. A energia eólica tem se destacado como uma das principais fontes renováveis de energia, contribuindo para a redução das emissões de gases do efeito estufa e para a diversificação da matriz energética global. No Brasil, o potencial eólico é significativo, especialmente nas regiões Nordeste, Sudeste e Sul, onde os ventos são fortes e regulares (Alves, 2010; WWF-Brasil, 2015). Apesar dos benefícios ambientais e econômicos, a construção e operação de usinas eólicas também podem gerar impactos negativos, como interferências na fauna, ruídos e impactos visuais. Este artigo tem como objetivo analisar os impactos ambientais da construção de usinas eólicas, com base no contexto brasileiro.

Impactos Ambientais Positivos

A energia eólica é uma das fontes mais importantes na redução das emissões de CO₂, contribuindo para o combate ao aquecimento global. Conforme a Associação Brasileira de Energia Eólica (Abeeólica, 2024), em 2024, a energia eólica evitou a emissão de aproximadamente 10,42 milhões de toneladas de CO₂ no Brasil, o que equivale à emissão anual de cerca de 7 milhões de automóveis. Além disso, a energia eólica pode promover a universalização do acesso à energia elétrica, especialmente em comunidades isoladas, e contribuir para a geração de empregos e renda (Abeeólica, 2024; Ferreira, 2008).

Impactos Ambientais Negativos

A construção e operação de parques eólicos podem gerar diversos impactos ambientais negativos. Um dos principais é o ruído emitido pelas turbinas, que pode causar incômodos à audição, concentração e comunicação das pessoas que vivem próximas aos parques eólicos. No entanto, o desenvolvimento tecnológico tem reduzido os níveis de ruído, e a instalação dos parques em locais distantes de zonas urbanas pode minimizar esse impacto (Salino, 2011; Ferreira, 2008).

Outro impacto significativo é o efeito sobre a fauna, especialmente os pássaros, que podem sofrer com a perda de habitat, deslocamento forçado e até mesmo colisões com as turbinas. Para mitigar esses efeitos, é importante realizar estudos prévios para evitar a instalação de turbinas em rotas migratórias ou áreas com espécies sensíveis (Salino, 2011).

Além disso, as turbinas eólicas podem causar interferências eletromagnéticas em sistemas de telecomunicações e impactos visuais na paisagem. Medidas como o reposicionamento de antenas e a pintura das turbinas com cores que se integrem à paisagem podem ajudar a reduzir esses impactos (Ferreira, 2008; Salino, 2011).

Desafios Logísticos e Infraestruturais

A construção de usinas eólicas também enfrenta desafios logísticos e infra estruturais que podem gerar impactos ambientais indiretos. O *transporte das grandes turbinas e pás eólicas* é um desses desafios, especialmente devido às condições das estradas e à necessidade de autorizações especiais para o transporte de cargas de grande porte. Conforme a Confederação Nacional do Transporte (CNT, 2016), cerca de 58,2% das rodovias brasileiras apresentam problemas de pavimentação, sinalização ou geometria, o que pode aumentar os custos e os impactos ambientais do transporte (WWF-Brasil, 2015; Morelli, 2012).

Outro desafio é a expansão das linhas de transmissão. A falta de investimentos em linhas de transmissão pode resultar em parques eólicos “ilhados”, ou seja, que não conseguem escoar a energia gerada. Isso pode levar a um aumento no uso de fontes de energia mais poluentes, como as termelétricas, para suprir a demanda (Agência Ambiente Energia, 2016; WWF-Brasil, 2015). Políticas Públicas e Incentivos. O desenvolvimento da energia eólica no Brasil tem sido impulsionado por políticas públicas e incentivos fiscais. O Programa de Incentivo às Fontes Alternativas de Energia Elétrica (PROINFA), criado em 2002, foi fundamental para o crescimento do setor, estabelecendo a instalação de 3.300 MW de energia elétrica produzida a partir de fontes limpas (Ferreira, 2008; Salino, 2011). Além disso, a concessão de benefícios fiscais, como a desoneração do ICMS e a redução de tarifas de transmissão e distribuição, tem contribuído para a competitividade da energia eólica no Brasil (WWFBrasil, 2015).

No entanto, há a necessidade de uma nova política que valorize mais as energias renováveis e incentive a pesquisa e o desenvolvimento tecnológico, especialmente diante do cenário atual de instabilidades no atendimento da demanda energética (Gannoum, 2014).

O Brasil possui um grande potencial eólico, com ventos fortes e regulares, especialmente nas regiões Nordeste e Sul. A energia eólica já é a segunda fonte mais competitiva da matriz energética brasileira, atrás apenas das grandes hidrelétricas (Alves, 2010; Abeeólica, 2024). No entanto, para que a energia eólica se consolide como uma fonte sustentável, é necessário um planejamento adequado que minimize os impactos ambientais e maximize os benefícios socioeconômicos (Pinto, 2019).

A construção de usinas eólicas traz consigo uma série de desafios, desde os impactos diretos na fauna e na paisagem até os desafios logísticos e infraestruturais. A implementação de políticas públicas eficientes e o investimento em pesquisa e desenvolvimento são essenciais para superar esses desafios e garantir que a energia eólica continue a contribuir para a sustentabilidade energética do Brasil (Pinto, 2019).

Conflitos Econômicos

Os conflitos econômicos são aqueles gerados pela redução ou restrição das atividades econômicas e de subsistência locais. Dentre os conflitos analisados, nove foram classificados como econômicos. Esses conflitos surgiram de diferentes impactos, como alterações visuais, degradação do ambiente, dunas, supressão da vegetação, degradação do solo e subsolo, impactos na fauna, poluição sonora e atmosférica, além de interferências locais, conforme destacado por (Carvalho, Farias e Silva, 2021).

Um dos principais problemas identificados foi o prejuízo ao turismo, que impactou negativamente a economia local. A instalação de aerogeradores, por exemplo, alterou a paisagem, afetando áreas litorâneas tradicionalmente visitadas por turistas em busca de lazer e veraneio. Em alguns casos, moradores chegaram a comparar as turbinas a “monstros mecânicos” que obstruem a visão do pôr do sol, um atrativo turístico importante. Por outro lado, há relatos de que a nova paisagem pode atrair turistas interessados em observar os aerogeradores, mostrando que a percepção varia conforme a comunidade (Frate et al., 2019; Paiva; Lima, 2019; Pinto; Martins; Pereira, 2017; Sobrinho Júnior et al., 2022)

A terraplanagem de dunas também foi apontada como um fator de alteração da paisagem. O movimento intenso de caminhões e pessoas nivelou o solo, fazendo com que as dunas desaparecessem. Isso afetou atividades turísticas, como o kitesurfing, e prejudicou hotéis e negócios locais que dependiam dessas práticas (Brannstrom et al., 2017).

Além do turismo, atividades de subsistência, como a pesca e a agricultura, também foram impactadas. A degradação do solo, a supressão da vegetação e a redução da biodiversidade afetaram diretamente a produção de alimentos e a renda das comunidades. Em algumas regiões, como Serra do Mel (RN) e Caetés (PE), culturas importantes, como o caju e o milho, foram prejudicadas, levando à diminuição da produção de alimentos básicos, como leite e ovos (Santana; Silva, 2021; Sobrinho Júnior et al., 2022).

Esses impactos evidenciam questões de injustiça ambiental, já que as comunidades afetadas, muitas vezes marginalizadas, arcam com os prejuízos sem usufruir dos benefícios gerados pelos parques eólicos. Enquanto os lucros são concentrados nas mãos dos empreendedores, as comunidades enfrentam perda de renda, êxodo rural e dificuldades para manter sua subsistência (Paulino, 2023).

Conflitos Fundiários

Os conflitos fundiários são aqueles relacionados a disputas sobre o uso e a ocupação da terra. Eles decorreram de interferências locais e causado pela degradação da área afetada (Paulino, 2023).

Um dos principais problemas é a restrição de acesso a áreas antes utilizadas pela população. Com a instalação dos parques eólicos, vias públicas foram cercadas, e o acesso a serviços essenciais, como escolas, postos de saúde e coleta de lixo, foi dificultado Araújo et al., (2020); Ávila, (2018); Brannstrom et al., (2017); Gorayeb; Brannstrom, (2016); Porto; Finamore; Ferreira, (2013); Santana; Silva, (2021). Em alguns casos, como na comunidade de Xavier, no Ceará, o cercamento de áreas impediu até mesmo atividades de subsistência, como a pesca de moluscos, que era fonte de renda e alimentação para os moradores. Após pressão do Ministério Público, o acesso foi liberado, mas com restrições (Brannstrom et al., 2017).

Além disso, a instalação de parques eólicos intensificou conflitos fundiários já existentes, especialmente em áreas habitadas por comunidades tradicionais. A perda de força política dessas comunidades dificultou o reconhecimento e a demarcação de suas terras, especialmente em regiões com potencial eólico. Um exemplo disso ocorreu na Reserva Estadual Ponta do Tubarão, no Rio Grande do Norte, onde a instalação de um parque eólico enfraqueceu a proteção da área, mesmo após décadas de luta pela sua conservação (Ávila 2018; Neri et al., 2019).

Outro aspecto relevante é a degradação de sítios arqueológicos e o desrespeito às culturas locais, que agravam os conflitos fundiários. Esses problemas evidenciam a injustiça ambiental, já que as comunidades mais vulneráveis são as mais afetadas, perdendo acesso a direitos básicos e sofrendo com a diminuição de seu poder político (Paulino, 2023).

Conflitos Hídricos

Os conflitos hídricos são aqueles que afetam a disponibilidade ou a qualidade da água na região. Eles ocorrem principalmente devido ao soterramento de rios, lagos e lagoas, causado pela terraplanagem de dunas e pela alteração do fluxo de água durante a instalação dos parques eólicos (Paulino, 2023).

Na comunidade de Xavier, no Ceará, por exemplo, lagoas interdunares foram soterradas, impedindo o acesso da população à água e prejudicando a pesca de subsistência (Gorayeb; Brannstrom, 2016). No Rio Grande do Norte, o assoreamento de rios reduziu a navegabilidade e afetou ecossistemas aquáticos, causando a morte de espécies sensíveis e a migração de outras (Araújo et al.,2020).

Esses conflitos ilustram a injustiça ambiental, já que as comunidades perdem acesso a recursos hídricos essenciais para sua subsistência e cultura. Para muitas populações, rios e lagoas têm valor sagrado e estão diretamente ligados à sua identidade cultural. A perda desses recursos gera insatisfação e conflitos, evidenciando a falta de equilíbrio entre o desenvolvimento energético e os direitos das comunidades locais.

Conflitos Relacionados à Saúde e ao Bem-Estar

Os conflitos de saúde e bem-estar estão relacionados a problemas de saúde física e mental causados pela instalação e operação dos parques eólicos (Paulino, 2023).

Um dos principais problemas é o chamado território do medo, gerado pela instalação de placas de alerta, como risco de morte e rotas de fuga, em áreas antes utilizadas para lazer. A exposição de cabos elétricos de alta tensão em locais de acesso comum também aumenta o risco de acidentes, causando ansiedade e comprometendo a qualidade de vida dos moradores (Araújo et al., 2020; Brannstrom et al., 2017).

A poluição sonora é outro fator que afeta diretamente a saúde e o bem-estar. O ruído constante das turbinas, comparado por alguns moradores a um “helicóptero que nunca pousa”, causa dores de cabeça, distúrbios do sono e estresse. Crianças, em particular, têm dificuldade para se adaptar ao barulho, o que gera incômodo constante (Araújo et al., 2020).

Além disso, o tráfego intenso de veículos pesados durante a instalação das turbinas gera nuvens de poeira que afetam a saúde respiratória da população, especialmente em áreas próximas a escolas e residências. A poluição atmosférica e as vibrações causadas pelas turbinas também podem comprometer a estrutura das casas e causar desconforto (Sobrinho Júnior et al., 2022).

Esses conflitos destacam a relação entre injustiça ambiental e saúde. Comunidades já vulneráveis, com pouco acesso a serviços de saúde, são as mais afetadas pelos impactos negativos dos parques eólicos. Enquanto isso, os lucros e benefícios da energia limpa ficam concentrados nas mãos dos empreendedores, reforçando as desigualdades sociais e ambientais (Paulino, 2023).

3. METODOLOGIA

O propósito deste estudo consistiu em analisar o impacto ambiental da geração eólica no estado de Rondônia. Trata-se de uma pesquisa por levantamento documental através de artigos, estudos de casos e consultas em sites sobre energia eólica como o ABEEÓLICA, de caráter descritivo e abordagem qualitativa.

O cenário da pesquisa foi o estado de Rondônia. A escolha desse local se deu em razão de fazer uma diversificação na geração de energia elétrica no estado, uma vez que detém usinas hidrelétricas e solar.

4. RESULTADO E DISCUSSÕES

A análise dos dados obtidos e da literatura consultada demonstra que a geração eólica, embora amplamente reconhecida como uma fonte de energia limpa e renovável, ainda enfrenta desafios significativos quanto à sua implementação no estado de Rondônia. O estudo revelou que o potencial eólico da região é limitado quando comparado a outras áreas do Brasil, especialmente as localizadas no Nordeste, onde os ventos são mais constantes e intensos.

Entretanto, simulações e análises atmosféricas indicam que, em áreas específicas de maior altitude ou com corredores de vento favoráveis como os planaltos e serras, há possibilidade de instalação de aerogeradores de pequeno e médio porte, especialmente para abastecimento local e comunidades isoladas. Tais soluções podem ser viáveis como alternativa à expansão de linhas de transmissão ou uso de fontes mais poluentes, como termelétricas a diesel.

Do ponto de vista ambiental, os impactos da energia eólica são relativamente altos se comparados às usinas hidrelétricas, que têm historicamente causado alagamentos extensivos, perda de biodiversidade e deslocamento de populações tradicionais. A instalação de parques eólicos, no entanto, não é isenta de consequências: entre os impactos identificados estão a alteração da paisagem, o risco de colisão para aves e morcegos, além do ruído gerado pelas turbinas. Em Rondônia, onde a biodiversidade é extremamente rica, esses efeitos podem ser mais sensíveis, exigindo estudos prévios de impacto ambiental rigorosos.

No campo socioeconômico, destaca-se que a implantação de projetos eólicos pode gerar empregos diretos e indiretos na fase de construção e manutenção dos aerogeradores. Além disso, pode contribuir para a diversificação da matriz energética do estado, reduzindo a dependência de grandes obras de infraestrutura e promovendo o uso de tecnologias sustentáveis.

Contudo, o estudo também revelou barreiras relevantes, como limitações de infraestrutura logística, ausência de estudos regionais de viabilidade técnica e o alto custo inicial dos equipamentos. Esses fatores tornam a energia eólica inviável e de baixa prioridade no planejamento energético estadual.

Dessa forma, conclui-se que, embora a energia eólica represente uma opção ambientalmente promissora, sua implementação em Rondônia requer não apenas estudos mais aprofundados sobre o potencial eólico local, mas também investimentos em infraestrutura, capacitação técnica, criação de políticas públicas adequadas e condições ambientais favoráveis à geração. Atualmente, a velocidade média dos ventos na região não atinge o mínimo necessário para a viabilidade técnica da geração eólica, que é de aproximadamente 10 km/h. Em Rondônia, essa velocidade média é de cerca de 2,8 km/h ao longo do ano, com pouca variação entre as estações. No verão, a média gira em torno de 2,5 km/h, enquanto no inverno varia entre 2,8 e 3,0 km/h. Durante o período seco, a velocidade média dos ventos fica entre 0,50 e 2,10 m/s (48,3%), com direção predominante de sudoeste para nordeste. Esses valores estão consideravelmente abaixo do exigido para o funcionamento eficiente de turbinas eólicas convencionais, o que reforça a necessidade de um planejamento energético adaptado à realidade climática local. A superação desses desafios pode, no entanto, posicionar o estado como referência em soluções energéticas descentralizadas e sustentáveis na região Norte do Brasil.

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¹Graduando em Engenharia Elétrica. E-mail: mateustsangelo@gmail.com;
²Graduando em Engenharia Elétrica. E-mail: jacson2082@gmil.com;
³Graduando em Engenharia Elétrica. E-mail: pedroantoniofal@gmail.com;
⁴Graduando em Engenharia Elétrica. E-mail: guilherme_falcao@outlook.com;
⁵Graduando em Engenharia Elétrica. E-mail: lucamaro15@gmail.com;
⁶Graduando em Engenharia Elétrica. E-mail: yuri0sued@gmail.com;
⁷Professora Orientadora, Mestre em Ciências Ambientais. Centro Universitário São Lucas – UniSL, Porto Velho, RO, Brasil. E-mail: nathalia.pimentel@saolucas.edu.br.