REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/dt10202412211835
Jandira Ribeiro da Costa
Nívea Silva Sá
Matheus Oliveira Carvalho de Sousa
Franciele Alves de Araújo
Thecio Augusto Gomes de Moraes
Francisco Rafael da Silva
Francisco Antonio da Silva Gomes
Orientador: Dr. Guilherme Antônio Lopes de Oliveira
RESUMO
O objetivo desta pesquisa foi analisar na literatura os impactos causados pelo descarte de medicamentos vencidos ou em desuso no meio ambiente. O estudo consiste em uma Revisão Integrativa da Literatura (RI), onde ocorre o processo de busca, análise e descrição de uma área do conhecimento em busca de resposta a uma pergunta específica. A pesquisa foi feita a partir das seguintes bases de dados: United States National Library of Medicine (PUBMED), Scientific Eletronic Library Online (SCIELO) e Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES), com critério de inclusão artigos publicados entre os anos de 2014 e 2024, com acesso gratuito e disponíveis nos idiomas português e inglês. Foram selecionados 18 artigos, que evidenciaram os impactos do dispensamento incorreto de medicamentos pela população. Com a revisão, foi possível identificar que o descarte de medicamentos no meio ambiente gera inúmeros danos, pois afetam as fontes de água, os animais, os solos e as plantações, causando a bioacumulação tóxica.
Palavras-chave: Meio ambiente; Medicamentos; Contaminação;
ABSTRACT
The objective of this research was to analyze in the literature the impacts caused by the disposal of expired or disused medicines on the environment. The study consists of an Integrative Literature Review (IR), where the process of searching, analyzing and describing of an area of knowledge takes place to answer to a specific question. The research was carried out using the following databases: United States National Library of Medicine (PUBMED), Scientific Electronic Library Online (SCIELO) and Coordination for the Improvement of Higher Education Personnel (CAPES), with the inclusion criteria being articles published between the years 2014 and 2024, with free access and available in Portuguese and English. 18 articles were selected, which highlighted the incorrect disposal of medicines by the population. With the review, it was possible to identify that the disposal of medicines in the environment causes countless damages, as they affect water sources, animals, soil and crops, causing toxic bioaccumulation.
Keywords: Environment; Medicines; Contamination;
1 INTRODUÇÃO
O meio ambiente é um conjunto de elementos biológicos, influências e interações que cercam e afetam os organismos vivos em um determinado local. Isso inclui elementos naturais como ar, água, solo, flora (plantas) e fauna (animais), bem como fatores físicos e químicos. O meio ambiente desempenha um papel fundamental na sustentação da vida na Terra, fornecendo recursos essenciais para os humanos e outros seres vivos (Fernandes et al., 2020).
A conservação do meio ambiente é de suma importância para garantir um futuro sustentável para as gerações presentes e futuras. A degradação ambiental, incluindo a poluição do ar e da água, a perda de biodiversidade, as mudanças climáticas e a destruição dos habitats naturais são desafios significativos que enfrentamos (Barcellos et al., 2019).
Com o crescimento da necessidade da população em consumir medicamentos, a indústria farmacêutica tem aumentado sua produção. Com isso, há também um aumento de fármacos nas residências. O consumo de medicações é muito comum para o tratamento de várias enfermidades e, geralmente, não são consumidas totalmente. Dessa forma, acabam sendo descartados de forma inadequada no meio ambiente causando a poluição (Silva et al., 2023).
De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), o medicamento é todo produto utilizado para modificar os sistemas fisiológicos ou estados patológicos com intuito de beneficiar quem o utiliza. Por tanto, possui papel relevante na restauração e manutenção da saúde (Constantino et al., 2020).
Eles são compostos por inúmeras substâncias químicas, funções orgânicas, tratamentos e formas de uso. Ademais, o descarte é um fator muito importante para a qualidade de vida no planeta, pois alguns medicamentos possuem substâncias que não se degradam naturalmente (Rgowska; Zimmermann, 2022).
Os descartes inadequados, principalmente domiciliares, são os que mais ocorrem no mundo devido à falta de informação. Desse modo, quais os danos que o descarte inadequado de medicamentos em domicílios pode gerar ao meio ambiente? Diante disso, o objetivo do trabalho foi analisar na literatura, os efeitos do dispensamento inadequado de medicamentos no meio ambiente.
2 METODOLOGIA
O presente estudo consistiu em uma Revisão Integrativa da Literatura (RI), onde ocorreu o processo de busca, análise e descrição de uma área do conhecimento em busca de resposta a uma pergunta específica. Para o resultado de uma revisão de literatura, definiu-se o problema da pesquisa como propósito da revisão, a busca na literatura (definição de palavras-chave, base de dados e critérios para a seleção dos artigos) e por fim, houve a análise e avaliação dos dados obtidos.
A pesquisa foi feita a partir das bases de dados: United States National Library of Medicine (PUBMED), Scientific Eletronic Library Online (SCIELO) e Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES), que trazem uma ampla quantidade de periódicos científicos nacionais e internacionais. As palavras-chaves utilizadas seguiram a descrição dos termos Descritores em Ciência e Saúde (DeCS) nos idiomas inglês e português. Foram elas: environment / Meio ambiente; medicines / Medicamentos; Contamination / Contaminação.
Como critérios de inclusão foram utilizados artigos publicados entre os anos de 2014 e 2024, com acesso gratuito e disponíveis nos idiomas português e inglês. Foram excluídos livros e as publicações que não foram encontradas em meios comprovados cientificamente como blogs ou artigos disponíveis de forma incompleta além de publicações em datas anteriores ao ano de 2014.
3 RESULTADO E DISCUSSÃO.
Fonte: próprios autores, 2024.
Quadro 1. Informações dos artigos selecionados para análise.
N | Ano | Título | Autores | Local de Publicação |
1 | 2022 | (In)segurança alimentar e agricultura familiar: políticas públicas como estratégia de superação da fome. | Maria Laís dos S. Leite eJáder F. Leite | Revista Katálysis |
2 | 2024 | O descarte incorreto de medicamentos e a falta de informação para a população. | Stéphanie A. Bogo e Fabiana S. Pugliese. | Revista Ibero-Americana deHumanidades, Ciências e Educação |
3 | 2023 | Avaliação comparativa da toxicidade de anticoncepcional na germinação de sementes de Lactuca sativa. | Caio Fabio G. Pavão. | Repositório Institucional Unesp |
4 | 2017 | Influência de antibióticos no desenvolvimento de plantas em sistemas hidropônicos. | José Arruda B. Neto, Edécio José de S. Filho e Luiza F. C. de Souza. | Revista Geama |
5 | 2018 | Panorama dos recursos hídricos no mundo e no Brasil. | Tatiana D. Cantelle, Eudes de C. Lima e Luís Antônio C. Borges. | Revista em agronegócio e meio ambiente |
6 | 2014 | Estudo do descarte residencial de medicamentos vencidos na região de Paulínia (SP), Brasil. | Gláucia Maria F. Pinto, Kelly R. da Silva, Rosana de Fátima A. B. Pereira e Sara I. Sampaio. | Engenharia Sanitária e Ambiental |
7 | 2020 | Contaminação ambiental decorrente do descarte de medicamentos: participação da sociedade nesse processo. | Izabelle C. G. Rodrigues, Ivana de F. Garcia, Vera Lucia P. dos Santos e João L. C. Ribas. | Brazilian Journal of Development |
8 | 2022 | Análise das alterações de biomoléculas causadas pela exposição ao fármaco diclofenaco sódico em peixes da espécie Brycon Opalinus utilizando a espectroscopia no infravermelho por transformada de Fourier (FTIR). | Vanessa F. Banhara, Andriele M. de O. Mello, Lucas F. Lyra, Maria R. de A. Silva e Kumiko K. Sakane. | Pesquisa, Sociedade e Desenvolvimento |
9 | 2022 | O descarte incorreto de fármacos e seus impactos no meio ambiente. | Keli da S. Fonseca e Leonardo G. de Andrade. | Revista Ibero-Americana de Humanidades, Ciências e Educação |
10 | 2022 | Resistência bacteriana aos antibióticos. | Jefferson de F. Souza, Flavia R, Dias e Haline Gerica de O. Alvim. | Revista JRG de Estudos Acadêmicos |
11 | 2014 | Contaminação ambiental por fluoroquinolonas. | Verônica Maria F. Frade, Merellen. slides, Antonio Carlos S. C.Teixeira e Mauri Sergio A. Palma. | Revista Brasileira de Ciências Farmacêuticas |
12 | 2017 | Resistência bacteriana aos antibióticos e Saúde Pública: uma breve revisão de literatura. | Anderson Luiz P. da Costa e Antonio Carlos S. S. Junior | Estação Científica (UNIFAP) |
13 | 2017 | Mecanismo de resistência bacteriana frente aos fármacos: uma revisão. | Camila C. Lima, Sandra C. C. Benjamim e Rosana F. S. dos Santos. | CuidArte, Enferm |
14 | 2020 | Detecção e quantificação de bactérias resistentes aos antibióticos ampicilina e cloranfenicol em estações de tratamento de esgoto doméstico. | Elayne C. Machado, Cíntia D. Leal, Bruna L. Coelho, Carlos A. de Lemos e Juliana C. de Araújo. | Engenharia Sanitária e Ambiental |
15 | 2017 | Logística reversa de pós-consumo de medicamentos em Goiânia e região metropolitana – um estudo de caso. | Alessandra F. da Silva e Vera Lúcia F. D. Martins. | Boletim Goiano de Geografia |
16 | 2019 | Revisão dos dispositivos legais e normativos internacionais e nacionais sobre gestão de medicamentos e de seus resíduos. | Nubia R. de Oliveira, Paulo S. B. de Lacerda, Débora C. Kligerman e Jaime L. da M. Oliveira. | Ciência & Saúde Coletiva |
17 | 2023 | Logística reversa no setor farmacêutico: análise dos desafios para os pequenos negócios. | Letícia A. da Silva, Jaqueline G. Santos e Fabíola Maria S. C. Pinto. | Revista de Gestão e Secretariado |
18 | 2021 | Logística reversa de medicamentos no Brasil. | Beatriz L. Souza, Karen K. F. da Silva, Leonardo M. M. da Silva e Alessandra S. A. Araújo. | Revista Brasileira de Desenvolvimento |
Fonte: próprios autores, 2024.
3.1 Impacto na agricultura familiar relacionado ao descarte de medicamentos no meio ambiente.
A agricultura familiar é uma forma de produção agrícola em que a gestão, a propriedade e a maior parte do trabalho vem de pessoas com laços familiares. A maior parte dos alimentos que chegam à mesa da população vem desse tipo de agricultura, além de garantir o trabalho e sustento de muitas famílias do campo e da cidade também tem grande relevância social, cultural e econômica para o Brasil (Leite, M.; Leite, J., 2022).
Na revisão feita, foi possível observar que o hábito de descartar medicamentos vencidos ou em desuso no meio ambiente pode trazer muitos prejuízos para a agricultura familiar, pois pode causar a bioacumulação no solo utilizado para o cultivo. Um solo contaminado afeta o desenvolvimento de muitos seres vivos, fungos e outros microrganismos que fazem parte do ecossistema terrestre (Bogo; Pugliese, 2024).
Um dos artigos trouxe um bioensaio que avaliou a toxicidade do anticoncepcional ciclo 21 na germinação de sementes de lactuca sativa (alface). Os autores utilizaram soluções com maior e menor concentração do anticoncepcional diluído e uma solução controle para fazer a comparação. Na solução de menor concentração, utilizaram filtro de carvão ativado para purificá-la. As sementes da amostra com solução controle germinaram normalmente, já nas amostras com maior concentração do medicamento, a alface não apresentou nenhum estímulo de crescimento e na amostra com menor concentração, teve um baixo índice de crescimento. Embora em uma das amostras utilizou-se o filtro de carvão ativado, o medicamento se mostrou tóxico em todas as suas concentrações (Pavão, 2023).
Outro estudo analisou a influência de quatro diferentes tipos de antibióticos no desenvolvimento da Vigna unguiculata (feijão) em sistema hidropônico, com objetivo de avaliar o crescimento do caule, a quantidade e o tamanho das folhas e o tamanho da raiz. Foram analisadas 5 amostras, uma sem antibiótico, e quatro, sendo cada uma com Amoxicilina, Norfloxacino, Cefalexina e Sulfametoxazol respectivamente. Ao comparar com o controle, observou-se que a Amoxicilina provocou um aumento no desenvolvimento da raiz e causou uma deficiência na quantidade e tamanho das folhas. O Norfloxacino, além de atrofiar a planta, impossibilitou que ela desenvolvesse o caule e as folhas. A Cefalexina afetou o desenvolvimento do caule, da raiz e no tamanho e na quantidade das folhas, impossibilitando o desenvolvimento. Já o Sulfametoxazol provocou maior toxicidade na leguminosa, provocando o atrofiamento e a morte (Neto et. al 2017).
3.2 Impacto nos recursos hídricos relacionado ao descarte de medicamentos no meio ambiente.
Recursos hídricos são todas as fontes de águas disponíveis na natureza que podem ser utilizadas para atender as necessidades ecológicas, econômicas e humanas. Podem ser de lagos, mares, rios, entre outras fontes. São fundamentais para o fornecimento de irrigação, geração de energia, além de serem essenciais na manutenção dos ecossistemas e na biodiversidade (Cantelle et al., 2018).
Durante a análise feita na literatura, observou-se que o descarte incorreto de medicamentos domiciliares, muitas vezes, acaba chegando nos recursos hídricos, podendo ocasionar a contaminação das águas superficiais e subterrâneas, afetando a biodiversidade e qualidade da água para o consumo. Assim como no solo, no meio aquático também pode ocorrer a bioacumulação. Além de afetar as espécies aquáticas, ela também pode ser prejudicial para outros seres que dependem dessas espécies para alimentar-se (Pinto et al., 2014).
Desde a década de 1970, os micropoluentes derivados de fármacos presentes nos recursos hídricos são reconhecidos pelo seu potencial de causar alterações no material genético de várias espécies de seres vivos além de resistência bacteriana. Os hormônios descartados que vão parar no meio aquático também tem alta capacidade de alterar o sistema endócrino dos animais e seres humanos, pois afetam de forma direta a reprodução das espécies, como, por exemplo, o estrogênio que pode causar a afeminação de peixes. Além disso, as águas contaminadas por esses micropoluentes que são utilizadas na irrigação agrícola podem causar a contaminação dos alimentos e a redução da produtividade, pois os vegetais podem crescer de forma inadequada, produzir menos frutos e folhas ou até mesmo morrer prematuramente (Rodrigues et al.,2020).
Um dos artigos revisados destacou uma análise das alterações biomoleculares causadas pela exposição ao fármaco diclofenaco sódico 50 mg em peixes da espécie Brycon Opalinus (pirapitinga-do-sul) feita em laboratório. As alterações biomoleculares causadas pela toxicidade do fármaco nos peixes os levaram à morte, provando, assim, que os peixes são um dos principais seres afetados com a contaminação por medicamentos nos recursos hídricos (Banhara et al., 2022).
Outro artigo citou um estudo feito nos rios de Itapecuru (MA), Mogi Guaçu (SP) e do Rio Monjolinho e seus tributários (SP), em que foram encontrados fármacos como paracetamol, naproxeno e principalmente o metilparabeno, antimicrobiano utilizado em várias formulações farmacêuticas (Fonseca; Andrade, 2022).
3.3 Resistência antimicrobiana relacionada ao descarte de antibióticos no meio ambiente.
Antibióticos são substâncias químicas com ação bactericida ou bacteriostática, não há eficácia contra infecções virais e outras infecções. Eles são separados de acordo com sua classe, estrutura química e mecanismos de ação. Cada classe age de maneira diferente no organismo, podendo tratar vários tipos de bactérias (Souza et al., 2022).
As bactérias são microrganismos comuns no nosso meio, alguns artigos analisados destacaram a resistência bacteriana causada pelo descarte domiciliar inadequado de antibióticos no meio ambiente. Muitas prescrições destes fármacos são de curto prazo de tratamento, o que acaba fazendo com que a população descarte as sobras no lixo doméstico, esgoto ou privadas (Frade et. al., 2014).
A resistência a antibióticos ocorre quando as bactérias se modificam ao longo do tempo e deixam de responder a terapia medicamentosa aos quais anteriormente eram susceptíveis. Os resíduos químicos presentes no meio ambiente podem interferir diretamente na ecologia microbiana, fazendo com que as bactérias se tornem resistentes, aumentando a variabilidade genética e morfológica entre populações bacterianas. Com o aumento da resistência bacteriana e o risco de infecções sem tratamento específico, essa problemática é uma das maiores ameaças de saúde pública nos últimos anos (Costa; Junior, 2017).
Os mecanismos de resistência são: inativação enzimática, que acontece quando as bactérias produzem enzimas que inativam os antimicrobianos – alteração do sítio de ligação, que é a modificação do sítio de ação do fármaco – alterações no sistema de transporte celular com modificações nos canais de entrada do antibiótico e a bomba de fluxo, onde o fármaco é retirado de dentro da célula. Também há os mecanismos de propagação, que são as proliferações de bactérias através de mutações espontâneas – a transformação, que pode ocorrer quando uma bactéria engloba o DNA de outra que possui genes resistentes e os incorpora – a transdução, que é a transferência de material genético feita por bacteriófagos – a conjugação, que é a transferência por plasmídeos após contato celular ou por fímbrias sexuais, e a transposição, que é a transferência de pequenos fragmentos de DNA (Lima et. al., 2017).
Um dos artigos selecionados trouxe uma análise feita em estações de tratamento de esgotos domésticos (ETEs) de Belo Horizonte para detectar bactérias resistentes aos antibióticos ampicilina e cloranfenicol. No estudo realizado, os gêneros Enterobacter, Klebsiella e Escherichia foram frequentemente detectados dentre as bactérias resistentes aos dois antibióticos. Também foram detectadas resistências nas bactérias Enterococcus faecium, Enterococcus faecalis, Bacillus cereus, Bacillus wiedmannii, Aeromonas hydrophila, Clostridium perfringens e Alcaligenes faecalis. A Salmonella enterica detectou resistência somente ao cloranfenicol (Machado et. al., 2020).
3.4 Logística reversa de medicamentos.
A logística reversa é uma área responsável por planejar, operar e controlar o fluxo econômico e social no meio empresarial, é responsável por um conjunto de ações que visam a coleta e a restituição de produtos ao setor empresarial, para o reaproveitamento ou destinação final de forma adequada de resíduos. Ela surgiu nos países da Europa nas décadas de 1970 e 1980, devido à preocupação com o descarte incorreto de produtos (Silva; Martins, 2017).
A Alemanha foi o primeiro país europeu a legislar sobre o tema em 1991. A Agência Federal do Meio Ambiente da Alemanha (Umwelt Budesamt) exige um relatório sobre a análise de risco ambiental dos fármacos para que seja liberado o seu registro e essas informações são divulgadas nas embalagens dos medicamentos de forma que conscientize a população sobre os possíveis danos ao meio ambiente. Países americanos como o México e Colômbia contam com programas de recolhimento dos medicamentos domiciliares, que são mantidos pelos fabricantes, distribuidores e importadores. Estes países também investem em campanhas educativas para conscientizar a população sobre o uso racional de medicamentos e o descarte seguro (Oliveira et al., 2019).
No Brasil, apesar de ter começado a tramitar no Congresso Nacional em 1981, foi aprovada somente em 2010. A Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS) foi instituída pela Lei 12.305/2010, que tem como objetivo regulamentar a logística reversa de resíduos sólidos. O intuito da logística reversa de medicamentos não é apenas evitar a contaminação do meio ambiente pelo descarte incorreto de medicamentos, mas também minimizar os riscos à saúde pública pelo uso indevido de medicamentos vencidos (Silva et al., 2023).
Para que este processo ocorra, é necessário que o consumidor devolva o medicamento vencido ou em desuso nos pontos de coleta, que, por sua vez, remetem ao fabricante ou contratam empresas responsáveis pela incineração. A logística reversa de medicamentos traz inúmeros benefícios para a sociedade, como a redução de resíduos químicos no meio ambiente, prevenção da contaminação da água e solo, proteção da saúde pública, prevenção de acidentes e intoxicações e conscientização sobre o uso responsável de medicamentos. Além disso, um estabelecimento que contribui com a sustentabilidade ambiental aumenta a fidelização de clientes, pois melhora a sua imagem diante da população (Souza et al 2021).
4 Considerações finais.
O presente trabalho destacou os impactos que o descarte de medicamentos no meio ambiente pode causar. Através dos estudos analisados na literatura, foi possível concluir que a agricultura familiar e os recursos hídricos podem ser afetados pela toxicidade de medicamentos. Além disso, os estudos científicos comprovaram que os antibióticos descartados de forma incorreta podem aumentar o risco da resistência bacteriana, causando também impactos na saúde pública.
Diante da pesquisa realizada, conclui-se que, embora haja formas estabelecidas de logística reversa para o descarte correto de medicamentos, ainda há uma grande dificuldade para a população conseguir fazer o descarte de forma adequada, pois há poucos pontos para fazer o recolhimento de fármacos vencidos ou em desuso. Além disso, ainda faltam informações para conscientizar a população sobre os danos que essas substâncias podem causar ao meio ambiente.
Referências
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