REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/ni10202412062120
Luzimaria Pereira De Souza;
Valdirene da Silva Pereira.
RESUMO
A pandemia de COVID-19 impôs desafios sem precedentes aos enfermeiros, que se viram na linha de frente do combate ao vírus. Este estudo analisou as mudanças na atuação desses profissionais, os impactos psicológicos e as estratégias de enfrentamento. A revisão da literatura revelou que os enfermeiros enfrentaram aumento da carga de trabalho, desgaste físico e emocional, falta de conhecimento inicial sobre a doença e necessidade de rápida adaptação a novos protocolos. A pesquisa constatou altos índices de ansiedade, depressão e Burnout entre os enfermeiros, evidenciando a necessidade de suporte psicológico contínuo. A escassez de EPIs adequados aumentou a vulnerabilidade à infecção, impactando a qualidade do cuidado. Apesar das dificuldades, os enfermeiros demonstraram resiliência e capacidade de adaptação, transformando a experiência em aprendizado. O estudo conclui que é crucial valorizar e proteger os enfermeiros, garantindo condições de trabalho seguras e suporte emocional. Medidas eficazes são essenciais para promover a resiliência desses profissionais e a qualidade da assistência durante crises de saúde pública.
Palavras-chave: Covid-19; Enfermeiros; Estresse.
1. INTRODUÇÃO
A pandemia de Coronavírus Disease 2019 (COVID-19) lançou desafios sem precedentes sobre os sistemas de saúde em todo o mundo, exigindo uma resposta rápida e eficaz dos profissionais de saúde¹. Entre os principais profissionais que atuaram nesse momento, os enfermeiros desempenharam um papel fundamental na linha de frente do combate ao vírus, demonstrando resiliência, dedicação e competência em meio a uma crise global².
Desde o início da pandemia, os enfermeiros estiveram na vanguarda do atendimento aos pacientes, atuando tanto na prestação de cuidados diretos quanto no apoio emocional às famílias e pacientes isolados³. A natureza do trabalho de enfermagem, que envolve contato constante e direto com os pacientes, posicionou esses profissionais como pilares fundamentais na resposta à crise de saúde pública, estando envolvidos em todos os aspectos do cuidado, desde a triagem inicial e realização de testes, até a execução de tratamentos complexos em Unidades de Terapia Intensiva (UTI’s)4.
De acordo com o Conselho Federal de Enfermagem (COFEN), no Brasil cerca de 500 dos 200.000 óbitos registrados pelo Ministério da Saúde foram de profissionais de enfermagem5. Nesse momento, a dedicação dos enfermeiros foi evidenciada pela sua capacidade de adaptação rápida às condições adversas e pela sua disposição para enfrentar riscos significativos à própria saúde6.
A pandemia de COVID-19 teve um impacto profundo na vida e no bem-estar dos enfermeiros. O aumento repentino na carga de trabalho e a necessidade de se adaptar rapidamente a novos protocolos e Equipamentos de Proteção Individual (EPI’s) representaram apenas alguns dos desafios enfrentados6. Além do esgotamento físico, a carga emocional e mental foi enorme, levando muitos enfermeiros a enfrentar níveis elevados de estresse, ansiedade e esgotamento profissional7.
Com base na evidente e exaustiva luta dos enfermeiros na linha de frente da pandemia Covid-19, o presente estudo fundamenta-se na necessidade de esclarecer e explorar as questões que tangem os impactos psicológicos em relação à atuação desses profissionais no período pandêmico.
2. JUSTIFICATIVA
Durante a pandemia de COVID-19, os enfermeiros desempenharam um papel crucial na linha de frente do atendimento de saúde, enfrentando desafios como a necessidade de se adaptar a novos protocolos e lidar com o uso intensivo de equipamentos de proteção individual8. Visto isso, o presente estudo justifica-se pela necessidade de buscar aprofundar a compreensão dos impactos psicológicos que as mudanças na atuação dos enfermeiros durante a pandemia surtiram na vida pessoal e profissional desses indivíduos.
3. OBJETIVO GERAL
Identificar os impactos psicológicos a partir da atuação dos enfermeiros na linha de frente do enfrentamento da pandemia COVID-19.
4. MÉTODO
Trata-se de uma revisão da literatura. Para o levantamento bibliográfico foram utilizadas as bases de dados Scientific Electronic Library Online (SCIELO) e Google Acadêmico (Google Scholar). Esta pesquisa foi realizada dentro dos meses de agosto, setembro e outubro de 2024, obedecendo os critérios de inclusão: artigos publicados na língua portuguesa, de 2020 a 2024, relacionados ao tema e ao objetivo e disponibilizado na íntegra.
Os critérios de exclusão adotados foram: artigos que fugiam dos objetivos da pesquisa, àqueles que foram publicados em outra língua se não o português, ou àqueles disponíveis apenas como resumos, teses e dissertações. As palavras chaves utilizadas foram: Covid-19, Enfermeiros na pandemia Covid-19; Pandemia Covid-19 associado ao Boleando AND.
5. RESULTADOS
Após a leitura dos resumos de 90 artigos selecionados de acordo com os critérios de inclusão, 12 deles foram anexados no quadro 1 como melhores estudos encontrados, estes foram embasados para a sessão de resultados e discussão do presente estudo. Para atingir os resultados no presente estudo, foram encontrados 1.547 estudos no total, dos quais 1.497 através da base dados Google Scholar e 50 da base de dados SCIELO. Após a primeira busca, através dos critérios de exclusão e inclusão, da base de dados SCIELO foram selecionados 5 estudos do total de 50 e da base de dados Google Scholar, foram selecionados 7 estudos de 1.547 encontrados.
O quadro apresentado no estudo sintetiza os resultados de 12 artigos científicos selecionados para a revisão da literatura que foram elencados através de uma primordial leitura de resumos e verificação de documentos disponíveis integralmente online, seguindo os critérios de inclusão e exclusão, como foi explorado na metodologia.
Quadro 1. Relação de artigos selecionados para o processo de revisão da literatura.
Nº | Nome dos artigos | Autor/ano | Base | Objetivo | Resultado | Conclusão |
1 | Trabalho emocional de enfermeiros da linha de frente do combate à pandemia de COVID-19 | Diogo, Paula Manuela Jorge et al. (2020) | SCIELO | O estudo teve como objetivo analisar as experiênci as de enfermeiro s que trabalham diretament e com pacientes com COVID-19 em relação ao trabalho emocional. | Os resultados mostraram que esses enfermeiros enfrentam desafios e emoções intensas, mas também demonstrara m capacidade de transformar positivament e a experiência por meio da gestão emocional, resiliência e adaptação progressiva. | Apesar das enormes dificuldades enfrentadas, os enfermeiros demonstraram uma notável capacidade de elaborar o trabalho emocional necessário para enfrentar a pandemia de COVID-19. Eles conseguiram transformar positivamente uma experiência profundamente emocional e desafiadora, demonstrando resiliência e crescimento pessoal e profissional |
2 | Condições de trabalho e biossegurança dos profissionais de saúde e trabalhadores invisíveis da saúde no contexto da COVID-19 no Brasil | Machado, Maria Helena et al. (2022) | SCIELO | O estudo teve como objetivo analisar as condições de trabalho e biossegura nça dos profissiona is de saúde no contexto da pandemia de COVID- 19 no Brasil, com foco em dois grupos distintos: profissionais de saúde (com formação superior) e trabalhado res invisíveis da saúde (com formação de nível médio e auxiliar). | Os resultados do estudo evidenciaram que as condições de trabalho foram extremamente afetadas pela pandemia, especialmente devido a infraestruturas inadequadas, trabalho extenuante, falta de biossegurança, exaustão e medo de contaminação e morte entre os trabalhadores. O estudo também revelou disparidades significativas entre os dois grupos, com os “trabalhador es invisíveis” enfrentando maiores desafios e desproteção em relação aos profissionais de saúde com formação superior. | O estudo concluiu que a alta mortalidade dos profissionais de saúde brasileiros devido à COVID- 19 expôs vulnerabilidades significativas, incluindo a precarização do trabalho, sobrecarga, falta de EPIs adequados e desigualmente distribuídos, bem como impactos na saúde mental. |
3 | Segurança dos profissionais de saúde que atuaram na linha de frente da pandemia por covid-19 no Brasil | Pavão, Ana Luiza Braz et al. (2024) | SCIELO | O objetivo do estudo foi avaliar a segurança dos profissionais de saúde que atuaram no combate à pandemia de covid19 em 2020 nos serviços de saúde brasileiros. | O estudo foi realizado por meio de uma investigação e inquérito online, conduzido entre junho e setembro de 2020, com profissionais de saúde de instituições públicas e privadas brasileiras, com base no questionário Health workers exposure risk assessment and management in the context of COVID-19 virus, da Organização Mundial de Saúde, sendo analisados 2.832 registros. | Os resultados indicaram que a raça/cor e a categoria profissional foram variáveis relacionadas ao aumento de casos de covid- 19 entre os profissionais. Os que se autodeclararam não brancos, técnicos e auxiliares de enfermagem tiveram chance maior de resultado positivo, indicando maior suscetibilidade à infecção relacionada ao nível socioeconômico e/ou categoria profissional e papel desempenhado no cuidado ao paciente. As variáveis estrutura das unidades de saúde, localização, teste e disponibilidade de equipamentos de proteção individual relacionaram-se ao grau de risco de contrair a doença. |
4 | Impacto na saúde mental de enfermeiros pediátricos: um estudo transversal em hospital pediátrico terciário durante a pandemia de COVID-19. | Robba, Hingrid; Cristiane Silva et al. (2022) | SCIELO | O objetivo do estudo foi avaliar os problemas de saúde mental de enfermeira s pediátricas durante a pandemia de COVID19. | Os resultados indicaram que a maioria das enfermeiras pediátricas atuava na linha de frente do combate à COVID-19, em condições precárias, trabalhando com equipe reduzida e enfrentando perdas expressivas de renda. A ansiedade foi um fator relevante relatado pelas enfermeiras pediátricas durante a pandemia de COVID-19. Burnout também foi uma condição mental importante para as profissionais que trabalham com adolescentes , reforçando a cultura do bom trabalho em equipe, das práticas de colaboração e do cuidado psicológico/p siquiátrico. | A maioria dos enfermeiros trabalha na linha de frente, em condições difíceis, com equipes reduzidas e enfrentando perda de renda significativa. A ansiedade era um fator relevante e o Burnout foi uma condição mental importante, especialmente para aqueles que trabalham com adolescentes. |
5 | Enfermeiros na linha de frente do combate à COVID-19: saúde profissional e assistência ao usuário | Silva, Matheus de Oliveira e Ribeiro, Antônio da Silva (2020) | Google Scholar | O objetivo do estudo foi identificar as condições impostas pela pandemia aos profissiona is de saúde, com foco em enfermeiro s, e como essas condições interferem no cuidado de pacientes com suspeita ou confirmaçã o de COVID-19. | Os resultados indicaram que os enfermeiros enfrentam um alto fluxo de atendimento s, a necessidade de maior conhecimento técnicocientífico e o desenvolvimento de novas competência s, além do risco de contaminação e transmissão da doença para si e seus familiares, o que gerou consequências na dinâmica dos cuidados. | Houve uma necessidade clara de planejamento para que os enfermeiros na linha de frente pudessem manter sua saúde integral e, assim, preservar uma assistência baseada em princípios de humanização. A implementação de estratégias para reduzir o desgaste emocional e físico dos enfermeiros e garantir o fornecimento adequado de EPIs foi destacada como essencial para melhorar a qualidade da assistência durante a pandemia. |
6 | O trabalho de Enfermagem a partir da experiência de enfermeiras da linha de frente contra Covid19: na trilha da precarização | Souza et al. (2023) | Google Scholar | O objetivo do estudo foi entender o trabalho de enfermagem a partir da experiência de enfermeira s da linha de frente contra a Covid-19 em Alagoas, Brasil. | Os resultados indicaram que as enfermeiras enfrentam desvalorização, falta de estrutura e recursos para o trabalho, vínculo precário e relação entre sobrecarga, adoecimento e desgaste, compondo um processo de precarização do trabalho amplificado pela pandemia. As enfermeiras relataram a falta de estrutura física e de recursos para o trabalho, como EPIs e medicamentos, além de baixos salários e vínculos empregatício s precários. Também relataram sobrecarga de trabalho, exaustão, adoecimento por Covid-19 e desgaste físico e emocional. | O artigo conclui que os enfermeiros na linha de frente enfrentaram vários desafios durante a pandemia COVID-19. Eles tiveram que lidar com informações limitadas sobre o vírus, recursos materiais inadequados, aumento da carga de trabalho e o medo constante de contrair ou transmitir o vírus para suas famílias. No entanto, apesar dessas dificuldades, os enfermeiros demonstraram resiliência, adaptabilidade e compromisso com o atendimento ao paciente. O artigo também destaca a importância do apoio emocional para enfermeiros durante crises de saúde, incluindo apoio familiar, de amigos, colegas e espiritualidade. |
7 | Carga da infecção pelo SARS-CoV-2 entre os profissionais de enfermagem no Brasil | Silva et al. (2021) | Google Scholar | O objetivo do estudo foi estimar a carga da infecção por SARS- CoV-2 entre os profissionais de enfermagem no Brasil. | Os resultados indicaram que a infecção por SARS-CoV-2 no Brasil segue uma tendência de alta na enfermagem e tem grande impacto entre as mulheres, técnicos de enfermagem e profissionais mais jovens. O número total de anos de vida ajustados por incapacidade (DALY) foi de 5.825,35 anos, com média de 2.912,76 (IC 95% 2.876,492.948,86). A taxa ajustada por mil profissionais foi de 1.475,94 anos para os homens e 674,23 anos para as mulheres. | A conclusão do artigo destaca a necessidade de valorizar o trabalho dos enfermeiros em suas diversas dimensões, reconhecendo sua importância no enfrentamento da pandemia de COVID-19. Além disso, o artigo enfatiza a importância de fortalecer o trabalho interdisciplinar entre os profissionais de saúde, como forma de superar os desafios impostos pela crise sanitária. |
8 | Problemas éticos vivenciados por enfermeiros durante a COVID-19 em hospitais universitários | Yasin et al. (2023) | Google Scholar | O objetivo do estudo foi identificar os problemas éticos vivenciado s por enfermeiro s no atendimento a pacientes com COVID-19 e os fatores que influencia m a ocorrência desses problemas. | Os resultados evidenciaram que os enfermeiros vivenciaram problemas éticos relacionados à preocupação e ao estresse no cuidado de pacientes infectados por COVID19. Esses problemas foram influenciados pela percepção da estigmatização social e pela percepção das medidas hospitalares. O estudo também mostrou que a concordância com as medidas de controle de infecção e a percepção das medidas hospitalares contra a COVID-19 foram os fatores com maior média entre os construtos avaliados. | O estudo concluiu que a pandemia gerou uma mudança abrupta na rotina dos enfermeiros, dificultando a tomada de decisão em situações complexas, o que aumentou o risco de sofrimento moral. Os problemas éticos relacionados à gestão hospitalar, risco de infecção e estigma social foram os que mais impactaram o sofrimento moral dos enfermeiros. |
9 | O IMPACTO DA PANDEMIA POR COVID- 19 NA SAÚDE MENTAL DOS PROFISSION AIS DA SAÚDE: REVISÃO INTEGRATIVA | Bezerra et al. (2020) | Google Scholar | O objetivo do estudo foi identificar os problemas éticos vivenciado s por enfermeiro s no atendimento a pacientes com COVID-19 e os fatores que influencia m a ocorrência desses problemas. | Os resultados evidenciaram que os enfermeiros vivenciaram problemas éticos relacionados à preocupação e ao estresse no cuidado de pacientes infectados por COVID19. Esses problemas foram influenciados pela percepção da estigmatização social e pela percepção das medidas hospitalares. O estudo também mostrou que a concordância com as medidas de controle de infecção e a percepção das medidas hospitalares contra a COVID-19 foram os fatores com maior média entre os construtos avaliados. | O estudo concluiu que a pandemia de COVID-19 gerou um grande impacto na saúde mental dos profissionais de saúde, especialmente aqueles que atuam na linha de frente. Os principais fatores que contribuíram para esse impacto foram o estresse, a ansiedade, a depressão, a insônia, a angústia e o Transtorno de Estresse Pós- Traumático (TEPT). O estudo destaca a necessidade de medidas para manter a saúde mental dos profissionais de saúde, como a melhoria das condições de trabalho, o acesso a recursos para a prestação da assistência, treinamentos adequados, a otimização das jornadas de trabalho e a criação de um ambiente propício ao descanso. |
10 | POR TRÁS DAS MÁSCARAS: RECONSTRU ÇÕES DO CUIDADO DE ENFERMEIRO S FRENTE À COVID-19 | Penna e Rezende (2021) | SCIELO | O estudo teve como objetivo analisar as narrativas de enfermeiro s sobre sua prática cotidiana no enfrentamento da COVID-19 e suas implicações em sua vivência pessoal e profissional. | Os resultados indicaram que o enfrentamento da pandemia ocorre em precárias condições de trabalho e uso inadequado dos equipamento s de proteção individual, com mudanças diárias de procedimentos diante do desconhecido. Em consequência ao enfrentamento constante da morte, há relatos de agravos à saúde mental, revelando fragilidades do enfermeiro e o reconhecimento da necessidade de autocuidado. | O estudo concluiu que as experiências cotidianas dos enfermeiros no enfrentamento da COVID-19 possibilitaram ressignificar o cuidado do outro e de si mesmos. As narrativas revelaram fragilidades relacionadas às condições de trabalho, uso de EPIs, agravos à saúde mental e enfrentamento da morte. A pandemia evidenciou a necessidade do autocuidado e de melhorias nas condições de trabalho, para que os enfermeiros possam prestar assistência de qualidade sem comprometer sua própria saúde física e mental. |
11 | O estresse e a saúde mental de profissionais da linha de frente da COVID-19 em hospital gera | Horta et al. (2021) | Google Scholar | O estudo teve como objetivo investigar os efeitos da atuação na linha de frente da COVID-19 na saúde mental de profissionais de um hospital público. | Os resultados indicaram que os profissionais da linha de frente da COVID-19 apresentam evidências de sofrimento psíquico, com altos níveis de estresse, esgotamento físico e emocional (Burnout) e dificuldades relacionadas ao isolamento, longos plantões e paramentação. A união da equipe foi destacada como um fator positivo no enfrentamento da pandemia. | A realização de testes para COVID-19 não teve impacto significativo na redução do sofrimento psíquico, estresse e Burnout. O medo de contrair a doença e o medo de transmitir o vírus foram os principais estressores, por fim outros fatores, como a experiência no manejo de pacientes, o acesso a EPIs, o apoio de colegas e familiares, e o treinamento adequado, tiveram maior influência na redução do medo e do sofrimento. |
12 | Impacto psicológico da COVID-19 nos profissionais de saúde: revisão sistemática de prevalência | Sousa et al. (2021) | Google Scholar | O estudo teve como objetivo analisar o efeito da atuação na linha de frente da COVID-19 na saúde mental dos profissiona is de um hospital público. | Os resultados mostraram que esses profissionais apresentam sinais de sofrimento psicológico, com altos níveis de estresse, esgotamento físico e emocional (Burnout) e dificuldades relacionadas ao isolamento, longos plantões e paramentação. A união da equipe foi um fator positivo no enfrentamento da pandemia. | A maioria dos profissionais de saúde que contraiu COVID- 19 apresentou sintomas leves, como cefaleia, mialgia e febre. Os testes realizados (TR, RT-PCR e sorológicos) apresentaram alta taxa de positividade. O tratamento mais comum incluiu antitérmicos, analgésicos e antibioticoterapi a. A pandemia impôs grandes desafios aos serviços de saúde, com exposição dos profissionais ao adoecimento e falta de oferta adequada de EPI’s. |
6. DISCUSSÃO
A pandemia de COVID-19 impactou significativamente os sistemas de saúde em todo o mundo, e os enfermeiros na linha de frente enfrentaram desafios sem precedentes. No Brasil revelou-se um cenário preocupante, com infraestrutura inadequada, longas jornadas de trabalho, riscos à biossegurança e alto nível de exaustão física e mental entre os trabalhadores9.
O medo da contaminação e da morte se tornou constante, impactando a saúde mental desses profissionais. Além disso, os profissionais de enfermagem foram chamados de trabalhadores invisíveis, esses relataram maior insegurança no ambiente de trabalho, dificuldades no acesso a EPI’s e maior desgaste ergonômico, reforçando a necessidade de atenção às disparidades dentro do próprio sistema de saúde. Nesse contexto, a pandemia não apenas intensificou as fragilidades já existentes nas condições de trabalho na saúde, como também aprofundou as desigualdades entre os profissionais de saúde10.
Desse modo, as precárias condições de trabalho, a falta de estrutura e recursos adequados, e a sobrecarga de trabalho foram apontadas como fatores que contribuem para o desgaste físico e mental dos enfermeiros. No entanto, a pandemia também revelou a capacidade de resiliência dos enfermeiros. Observa-se que a maioria dos enfermeiros pediátricos atuou na linha de frente, adaptando-se às novas rotinas e protocolos. Além disso, a importância do trabalho em equipe e do apoio mútuo entre os profissionais foi fundamental para o momento de crise10.
Destaca-se a necessidade de um planejamento que garanta a saúde biopsicossocial desses profissionais, já outro estudo enfatiza a importância de melhores condições de trabalho e reconhecimento profissional. Pois, a escassez de recursos humanos, comprometimento da qualidade do cuidado e a sobrecarga dos serviços de saúde eram consequências diretas do adoecimento desses profissionais diante do cenário pandêmico. A maioria dos enfermeiros apresentava sintomas de ansiedade, depressão e burnout, dando destaque para os sentimentos de desproteção e o medo generalizado de contaminação relatados pelos profissionais11.
O trabalho emocional também foi um fator importante a ser considerado, os enfermeiros precisaram lidar com suas próprias emoções e com as emoções de pacientes e familiares em um contexto de crise. A necessidade de regular suas emoções e oferecer suporte emocional em situações extremas gerou um desgaste adicional para esses profissionais12.
Diante de todos os impactos psicológicos, no momento pandêmico, a carga de infecção por Síndrome Respiratória Aguda Grave Coronavírus 2 (SARS-CoV-2) entre os profissionais de enfermagem no Brasil, configurou um número alarmante de mortes e incapacidades. Assim, reforça-se a vulnerabilidade desses profissionais, especialmente mulheres, técnicos de enfermagem e os mais jovens, ao estresse, medo do contágio e exaustão emocional, e além disso, a falta de protocolos de tratamento padronizados, a perda de renda e o trabalho com adolescentes foram fatores associados ao aumento da prevalência de ansiedade e burnout13.
Os enfermeiros enfrentaram um alto fluxo de atendimentos, o que exigiu maior conhecimento técnico-científico e novas competências, com o risco de contaminação e transmissão da doença para si e para seus familiares também gerou consequências na dinâmica dos cuidados14. Além disso, a desvalorização profissional, a ausência de estrutura física e recursos para o trabalho, o vínculo precário de trabalho e a relação entre sobrecarga, adoecimento e desgaste, de modo que a precarização do trabalho emerge como um fator determinante para o aumento dos impactos psicológicos durante a pandemia15.
A partir da intensificação do trabalho, com o aumento da demanda por atendimento e a necessidade de lidar com a morte e o sofrimento dos pacientes, foram fatores que contribuíram para o desgaste físico e emocional das enfermeiras, com relatos de adoecimento e exaustão. Os dados apontam para o risco de contaminação, transmissão do vírus para familiares e as consequências na dinâmica de cuidados, incluindo o aumento do desgaste físico e emocional dos enfermeiros16.
Entretanto, um dos estudos selecionados revelou que os principais problemas de saúde mental relatados pelos profissionais de saúde foram depressão, insônia, ansiedade, angústia, Transtorno de Estresse Pós-Traumático (TEPT), síndrome de Burnout e exaustão17. Desse modo, não se pode negar que a pandemia intensificou os desafios enfrentados pelos enfermeiros, mas também propiciou reflexões sobre a ressignificação do cuidado e a importância do autocuidado17.
No entanto, a pandemia não se baseou apenas em medo ou TABU’s, mas também há de se mencionar que os profissionais enfrentavam longos plantões sem intervalos, pressão e cansaço, isolamento no hospital, medo da contaminação e culpa. Apesar das dificuldades, a união da equipe foi destacada pelos autores como um fator positivo no enfrentamento da pandemia18.
Além disso, a pandemia teve um impacto psicológico significativo nesses profissionais, especialmente aqueles na linha de frente, que se mostraram mais vulneráveis a transtornos mentais19. Sendo assim, destaca-se a necessidade de atenção e intervenção para esses profissionais, com a implementação de medidas de apoio e tratamento psicológico19.
Por fim, não pode-se reduzir os resultados da pandemia em apenas memórias, pois os enfermeiros da linha de frente, àqueles que sobreviveram à esse momento, são levantados em um estudo que é graças a esses profissionais que hoje muitos cidadãos podem viver suas vidas tranquilas após esse momento de caos. Visando isso, é urgente a necessidade de atenção e intervenção para esses profissionais, com a implementação de medidas de apoio psicológico e tratamento adequado, mesmo que a pandemia tenha passado, é necessário manter-se alinhados nessa temática20. Além disso, pode-se contribuir para o debate sobre a saúde mental dos trabalhadores da saúde em situações de crise e alertar para a importância de ações que visem proteger e promover o bem-estar desses profissionais20.
7. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Considerando os estudos analisados, torna-se evidente que a pandemia de COVID-19 impactou profundamente a saúde mental dos enfermeiros, expondo-os a níveis elevados de estresse, ansiedade, depressão e burnout. A sobrecarga de trabalho, a escassez de recursos, o medo do contágio e a constante exposição à morte geraram um desgaste físico e emocional sem precedentes nesses profissionais. As pesquisas reforçam a necessidade urgente de implementar medidas de apoio psicológico e assistência à saúde mental para os enfermeiros, visando mitigar os impactos da pandemia e promover o bem-estar desses profissionais.
Além disso, os estudos revelam a necessidade de reestruturar as condições de trabalho na enfermagem, com a garantia de EPIs adequados, melhores salários, redução da jornada de trabalho e maior reconhecimento profissional. A pandemia evidenciou as fragilidades e desigualdades existentes no sistema de saúde, tornando ainda mais urgente a implementação de políticas públicas que valorizem e protejam os profissionais de enfermagem. Investir na saúde e no bem-estar dos enfermeiros é essencial para garantir a qualidade da assistência e a sustentabilidade do sistema de saúde no enfrentamento de futuros desafios.
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